Sou leitor bissexto do blog Tijolaço, herdeiro da coluna jornalística mantida
durante muito tempo por Leonel Brizola.
Textos críticos e elucidativos tem a boa prática do
jornalismo de opinião calcado em fatos e dados, sempre passíveis de
verificação.
O texto que a amiga Carol Garcia me enviou, da lavra
do Tijolaço, é formidável.
Desnuda as Bolsas Famílias que nós, da chamada classe
média e até mesmo os ricos, recebemos costumeiramente e não nos ofendemos, além
de exigirmos sempre mais.
Para que todos possam usufruir do texto reproduzo-o
na íntegra:
Nós ganhamos Bolsa-Família todo ano… Muito maior, e
ninguém me xinga
Recebo um e-mail do Ângelo, um camarada que não vejo
há uns 30 anos, mas que foi um dos envolvidos
na primeira “manifestação subversiva ” que vi e entendi, depois de uns
“tios” estranhos que passaram uns dias lá por casa logo após o golpe de 64.
Ângelo, seus irmãos – filhos do velho Alberto, um
homem admirável – e outros moleques se revoltaram quando os outros moradores de
um conjunto de prédios modestos na Rua
Cabuçu, no Lins de Vasconcelos, subúrbio do Rio, decidiram fazer muros em volta
dos edifícios, separando a garotada que crescia junto e junto fazia suas
traquinagens.
E picharam os muros novinhos: “vocês estão ficando
ricos?” “Pensam que a gente é vaca para botar em curral?”
Pois o Ângelo, neste e-mail, chama-me a atenção para
algo que nunca vi ninguém dizer, embora obvio.
Que nós, classe-média – e também os ricos – também
ganhamos um bolsa família do Governo, bem maior que o dos pobres…
Pois não é que descontamos, por cada dependente,
neste ano de 2014, exatos R$ 2.156,52 no imposto de renda, por ano?
Isso mesmo, R$ 179,71 mensais.
Esta lá, na tabela da Receita
Federal.
Portanto, é dinheiro que a gente deixa de pagar de
imposto e que se soma às nossas disponibilidades, como diz o Ângelo, para
comprarmos o que quisermos, do feijão até bebidas e artigos supérfluos. Ninguém tem nada com isso e os R$ 179,
71 contam para cada filho, não importa
se eu tenha um ou 18 bacuris.
Seria dinheiro do Governo e passa a ser meu, seu,
nosso.
Mas os pobres do Bolsa-Família só levam R$ 35 por
rebento, ou R$ 42, se forem adolescentes.
Com um máximo de cinco semoventes miúdos, aliás.
Somando com o benefício básico, de R$ 77, não dá nem R$ 300 reais por mês, ou mais um
pouco, se tiver criança pequena, etc…
Menos do que eu descontaria com dois filhos, só.
Mas eu também ganhei – e muitos ganham – também o
“Bolsa-Escola”, porque
podemos abater mais R$ 3.230,46 por ano com escola particular
por cada filho, ou mais R$ 270 por filho estudando, sem limite de filhos.
Por filho, note bem.
Nem falamos no plano de saúde, aliás.
E aí, diz o Ângelo, eu posso beber umas e outras com
essa grana que deixo de pagar de imposto, e ninguém tem nada com isso.
Ninguém nos xinga por isso.
Ninguém diz que a gente se enche de filhos para ficar
com mais dinheiro, em vez de recolher impostos.
Ninguém nos chama de vagabundos, de inúteis, de
parasitas.
Mas diz dos pobres.
Como pergunta o meu amigo de tempos “imemoriais”:
“Quer dizer que bolsa família pra bacana pode, pobre é que é vagabundo e não
pode receber?”
Ângelo, você não se corrige, daqui a pouco vai querer
pichar uns muros na Rua Cabuçu.
Se me chamar, eu vou com você.
Fonte: http://tijolaco.com.br/blog/?p=22172
Um comentário:
Ponto de vista genial, que nos leva a reflexões maiores sobre nossa tributação.
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