31.7.10

O papel do professor frente a mídia empresarial

O trabalho do professor em sala de aula enfrenta um desafio constante: como ser crítico – e alimentar essa criticidade no aluno – sem ser parcial?
Várias vezes me deparei com essa questão e vi colegas recorrendo ao discurso panfletário, confundindo o papel do professor – que não é de fazer cabeça – com o de guru.
Durante alguns anos fui professor de Atualidades de um cursinho pré-vestibular aqui em São Paulo. Os alunos e as alunas eram originários das melhores escolas de ensino médio de São Paulo e também de outros estados do país. Estudiosos – quase todos – enfrentavam o desafio de buscar uma vaga no prestigioso curso de Administração da Fundação Getúlio Vargas.
Também lecionava a mesma disciplina para jovens interessados em ingressar na ESPM – outra instituição de prestigio –, mas na área de comunicação.
Pois bem, a tarefa era selecionar notícias pertinentes a estes exames e trabalhá-las em sala com os alunos e alunas.
Ora, os jovens tinham em casa a Veja, Folha de S. Paulo, Estadão, O Globo e outras publicações do gênero. Eram raros aqueles que conheciam a CartaCapital, Le Monde Diplomatique ou sites com a qualidade do Luis Nassif Online.
Ao mesmo tempo os blogs ainda eram utilizados apenas como diários pessoais, poucas interferências políticas existiam nesse mundo.
Luiz Carlos Azenha, do Vi o mundo ou Paulo Henrique Amorim do Conversa Afiada, davam os primeiros passos nesse mundo virtual.
Cuidei primeiro de mostrar essas fontes desconhecidas e, quando era o caso, identificar sua origem ou posição ideológica, como é o caso do portal Agência Carta Maior, claramente de esquerda.
Levava para a sala de aula o confronto das visões dessas fontes com aquelas que eles estavam acostumados em casa.
Claro que gerou um grande desconforto e, à primeira vista, minha ideia não bem compreendida, pois alguns entenderam que eu queria fazer “a cabeça da moçada”.
Foi por volta de 2005 que comecei a usar o blog com mais freqüência para estes debates, principalmente por ocasião do tal “mensalão do PT”.
Sempre tive o cuidado de franquear a palavra no blog para todos, desde que se identificassem e fossem respeitosos.
A partir desse episódio percebi que devemos oferecer todas as opções de fontes informativas aos alunos. Claro que não precisamos levar até eles aquilo que eles já têm.
Precisamos mostrar o outro lado. Precisamos alimentá-los de informações e conhecimento.
Eles que decidam o que fazer com estas informações e conhecimento, não nos compete direcioná-los.
Por isso penso ser importante divulgarmos matérias como esta que está no Fazendo Média:
Documentos recentemente desclassificados do Departamento de Estado dos Estados Unidos através da Lei de Acesso à Informação (FOIA, por suas siglas em inglês) evidenciam mais de US$ 4 milhões em financiamento a meios e jornalistas venezuelanos durante os últimos anos.
Clique no título acima para ler a matéria na íntegra.
Ou ainda o Blog da Cidadania que nos oferece esta notícia:
Clique no texto para ler a matéria inteira.
São dois exemplos inquestionáveis do poder de informação e de análise dos blogs e sites fora do circuito comercial.
Assim cumprimos nosso papel de professores: abrimos portas e janelas que dificilmente nossos alunos e alunas teriam acesso sem o nosso auxílio.

29.7.10

Sabatina com os candidatos ao governo de SP

O UOL realzou sabatina com os candidatos ao governo de São Paulo melhores posicionados nas pesquisas. O estudante de jornalismo Diego S. Moura acompanhou dois: Mercadante e Alckmin. Vejam suas observações no Blog do Disimo, é só clicar aqui e aqui.

28.7.10

Os resultados do ENEM

Entra ano, sai ano e a ansiedade provocada pelos resultados do ENEM coloca meio mundo com os nervos à flor da pele.
A divulgação dos resultados transforma-se em elaboração de rankings que servem tanto a escola privada quanto a escola pública.
Foram vários comentários no Twitter, por exemplo, dando conta que os melhores resultados das escolas públicas estavam entre as federais, ou seja, por essa linha de raciocínio, o governo federal seria mais eficiente na gestão da educação do que os governos estaduais e municipais.
Erro grosseiro, pois nas escolas federais existe uma disputadíssima concorrência pelas vagas disponíveis. Só entram os melhores alunos, portanto, capacitá-los para o ENEM ou para outros exames externos, torna-se tarefa bem mais tranquila do que no restante da rede pública.
As escolas privadas também lançam mão de concurso de entrada, principalmente aquelas que aparecem nos primeiros lugares, quando não praticam uma seleção pré-exame.
Tal seleção pode ser escancarada, embora dentro das regras propostas pelo MEC, como a criação de uma escola, com o mesmo nome fantasia da “matriz”, onde só entram os melhores alunos. Mas pode ser também disfarçada, como, por exemplo, marcar uma prova de recuperação para o mesmo dia do exame do ENEM.
A publicação dos dados do ENEM tem um mérito: trazer a educação para o centro das discussões!
Mídia, empresários, ONGs, Educadores, o pessoal do bar da esquina, enfim, todos discutem, com mais ou menos propriedade, as mazelas da educação no país.
Surgem também exemplos de boas práticas pedagógicas em vários cantos do país.
Mas a receita para o sucesso no ENEM não é nenhum segredo: professores bem pagos e motivados, estrutura acadêmica de forte apoio ao aluno, valorização do conhecimento, leitura, produção de texto, acesso aos bens culturais etc.
Do lado das escolas privadas não existe mágica possível, é só investir e criar o ambiente que citei no parágrafo acima, já na escola pública dependemos das políticas governamentais e de um papel mais ativo da sociedade, principalmente da presença forte e marcante das famílias dentro do universo escolar.
Um grave problema que vejo neste exame é não termos um currículo nacional mínimo. Dessa maneira o aluno não sabe o que será avaliado, afinal é impossível um exame nacional abranger as diferenças regionais de um país do tamanho do nosso.
O debate está aí, nas manchetes e inúmeros artigos da mídia. Será que vai produzir avanços? Ou voltaremos a ele na publicação dos resultados do próximo ENEM?

23.7.10

Apesar de progresso, Brasil permanece um dos mais desiguais do mundo, diz ONU

Apesar dos progressos sociais registrados no início da década passada, o Brasil continua entre os países mais desiguais do mundo, segundo atesta um relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que será divulgado nesta sexta-feira.
O índice de Gini - medição do grau de desigualdade a partir da renda per capita - para o Brasil ficou em torno de 0,56 por volta de 2006 – quanto mais próximo de um, maior a desigualdade.
Isto apesar de o país ter elevado consideravelmente o seu índice de desenvolvimento humano – de 0,71 em 1990 para 0,81 em 2007 – e ter entrado no grupo dos países com alto índice neste quesito.
O cálculo do indicador de desigualdade varia de acordo com o autor e as fontes e a base de dados utilizados, mas em geral o Brasil só fica em melhor posição do que o Haiti e a Bolívia na América Latina – o continente mais desigual do planeta, segundo o PNUD.
No mundo, a base de dados do PNUD mostra que o país é o décimo no ranking da desigualdade.
Mas os dados levam em conta apenas 126 dos 195 países membros da ONU, e em alguns casos, especialmente na África subsaariana, a comparação é prejudicada por uma defasagem de quase 20 anos de diferença.
Na seleção de países mencionada no relatório do PNUD, os piores indicadores pela medição de Gini são Bolívia, Camarões e Madagascar (0,6) e Haiti, África do Sul e Tailândia (0,59). O Equador aparece empatado com o Brasil com um indicador de 0,56.
Colômbia, Jamaica, Paraguai e Honduras se alternam na mesma faixa do Brasil segundo as diferentes medições.

Desigualdade e mobilidade
O relatório foca no problema da desigualdade na América Latina, o continente mais desigual do mundo, segundo o PNUD. Dos 15 países onde a diferença entre ricos e pobres é maior, dez são latino-americanos.
Em média, os índices Gini para a região são 18% mais altos que os da África Subsaariana, 36% mais altos que os dos países do leste asiático e 65% mais altos que os dos países ricos.
O documento traça uma relação entre a desigualdade e baixa mobilidade social, caracterizada pelo círculo de aprisionamento social definido pela situação familiar de cada indivíduo.
No Brasil e no Peru, por exemplo, o nível de renda dos pais influencia a faixa de renda dos filhos em 58% e 60%, respectivamente.
No Chile esse nível de pré-determinação é mais baixo, 52% - semelhante ao da Inglaterra (50%).
Já nos países nórdicos, assim como no Canadá, a influência da situação familiar sobre os indivíduos é de 19%.
Alemanha, França e Estados Unidos (32%, 41% e 47%, respectivamente) se incluem a meio do caminho.
No campo educacional, os níveis de educação dos pais influenciam o dos filhos em 55% no Brasil e em 53% na Argentina. No Paraguai essa correlação é de 37%, com Uruguai e Panamá registrando 41%.
A influência da educação dos pais no sucesso educacional dos filhos é pelo menos duas vezes maior na América Latina que nos EUA, onde a correlação é 21%.
"Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso à educação superior foram os elementos mais importantes na determinação da mobilidade socioeconômica entre gerações", afirma o relatório.
Para o PNUD, a saída para resolver o problema da desigualdade na América Latina passa por melhorar o acesso das populações aos serviços básicos – inclusive o acesso à educação superior de qualidade.
O relatório diz que programas sociais como o Bolsa Família, Bolsa Escola e iniciativas semelhantes na Colômbia, Equador, Honduras, México e Nicarágua representaram "um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social" na América Latina, sem que isso tenha significado uma deterioração fiscal das contas públicas.
"No que diz respeito à distribuição (de renda), as políticas orientadas para o combate à pobreza e à proteção da população vulnerável promoveram, na prática, uma incidência mais progressiva do gasto social, que por sua vez resultou em uma melhor distribuição da renda."

Fonte: BBCBrasil

20.7.10

Documentário reconstrói o crash da Bolsa de 1929 com imagens raras

Al Capone, Ku Klux Klan, Cotton Club, todos símbolos históricos de um período misto de ascensão e queda financeira dos EUA, ressurgem no filme 1929: O ano da quebra da Bolsa de Nova Iorque. Vai ao ar nesta quarta (21/7), às 22h, na TV Cultura
Há 81 anos, o mundo financeiro desmoronou diante da quebra da Bolsa de Valores de Nova Iorque. Cerca de US$ 20 bilhões viraram pó, nove mil bancos fecharam as portas, investidores endinheirados faliram, ruas e vielas se amontoaram de sem-teto. Até uma onda de suicídios encobriu a capital econômica do planeta.
Para relembrar esse momento, a TV Cultura resgata o panorama da vida norte-americana antes e depois da crise no documentário 1929: O ano da quebra da Bolsa de Nova Iorque. Vai ao ar nesta quarta (21/7), às 22h, na faixa Cultura Mundo.
O destaque do vídeo é o número incontável de imagens de arquivo usadas para reconstruir diversos períodos históricos que entremearam o crash da Bolsa. Elas recuperam, em frames, o fordismo, Al Capone, a vida agitada do Cotton Club, antigo reduto do jazz, o momento áureo do cinema mudo de Charles Chaplin e o do sonoro, debutado por Al Johnson, a Ku Klux Klan, entre outros símbolos históricos.
O documentário é tão rico no quesito pesquisa que até resgata um pronunciamento do então presidente americano Franklin Delano Roosevelt, responsável por insuflar de esperança a população do seu país ainda atormentada pela grande depressão de 1929.
1929: O ano da quebra da Bolsa de Nova Iorque é da produtora britânica HTI e distribuído aqui, no Brasil, pela Synapse.

18.7.10

CPMI conclui que não foi desviado recurso público para ocupações de terra

Letra Viva MST

Depois de oito meses de boicote à CPMI contra a Reforma Agrária, os parlamentares dos setores conservadores liderados por Kátia Abreu (DEM-TO) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS) declararam ser necessária a continuidade das investigações das entidades sociais que atuam em assentamentos.
Nesse período, as entidades da Reforma Agrária e os ministérios do governo federal participaram de audiências públicas na comissão, prestaram todos os esclarecimentos e demonstraram a importância dos convênios para a execução de políticas públicas no meio rural.
Mesmo sem participar da maioria das sessões, os ruralistas insistem que a comissão está prorrogada por mais seis meses. Kátia Abreu, por exemplo, não participou de nenhuma sessão, embora tenha sido a maior defensora da sua instalação.
O relatório final do deputado Jilmar Tatto (PT-SP) aponta a improcedência das denúncias contra o MST e as entidades de apoio à Reforma Agrária. Enquanto a comissão funcionava plenamente, com dezenas de audiências, os ruralistas estavam ausentes. Dinheiro público foi gasto em uma CPMI criada como dispositivo de criminalização dos movimentos sociais e contra avanços na Reforma Agrária.
Para forçar a sobrevida dessa CPMI, os representantes do latifúndio apelaram e criaram um imbróglio jurídico, depois de levantarem assinaturas para prorrogação. Em comissões parlamentares mistas de inquérito, onde participam deputados e senadores, as decisões devem ser tomadas em sessões do Congresso Nacional. Como não conseguiram, Kátia Abreu e Onyx Lorenzoni lançaram mão de uma manobra não prevista no regimento e argumentam que basta o Senado fazer a leitura do requerimento.
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) questiona o método usado para prorrogar a comissão e recorreu à Comissão Constituição e Justiça do Senado. Depois, o deputado José Genoíno (PT/SP) fez o mesmo questionamento na Câmara, que resolveu encaminhar a decisão para o presidente do Congresso.
De dezembro a julho, foram feitos todos os esclarecimentos ao Congresso Nacional em relação às denúncias, com base em jornais e revistas contra a Reforma Agrária. Nesse período, as entidades sociais provaram que os objetos dos convênios foram cumpridos, o trabalho realizado melhora a qualidade de vida dos trabalhadores rurais e não houve desvio de recursos públicos, de acordo com o relatório final da CPMI (clique aqui e leia o relatório final).
De acordo com o plano de trabalho, assegurado pelo regimento do Congresso Nacional, a CPMI acaba em 17 de julho. O relatório final foi apresentado, mas não foi votado porque os ruralistas impediram. Se eles conseguirem atropelar o regimento do Congresso Nacional, senadores e deputados serão coniventes com a criação de um fato político, que será utilizado pelos setores conservadores nas eleições contra a Reforma Agrária e os movimentos sociais.
Por isso, denunciamos a utilização dessa CPMI pelos ruralistas para barrar qualquer avanço da Reforma Agrária, fazer a criminalização dos movimentos sociais, ocupar espaços na mídia e montar um palanque para a campanha eleitoral.

Fonte: MST

16.7.10

Articulação apresenta lista países que mais respeitam os direitos das mulheres

Natasha Pitts * - Adital

Desde o dia 13, cerca de 200 mulheres latino-americanas e caribenhas estão reunidas em Brasília, capital federal do Brasil, para participar da XI Conferência Regional sobre a Mulher da América Latina e do Caribe (Cepal). O evento, que segue até amanhã (16), teve em sua programação a apresentação do ISOQuito.
A cada três anos, a Cepal realiza uma Conferência Regional da Mulher a fim de avaliar a situação da garantia de direitos da população feminina na América Latina e Caribe e definir novas propostas que devem ser colocadas ao Governo de cada país. Ao final do evento, é construído um documento com os compromissos assumidos pelos governos dos países participantes para garantir os direitos das mulheres em sua totalidade.
A última Conferência, realizada em 2007, no Equador, resultou no ‘Consenso de Quito’. O documento, entre outros compromissos, concorda em adotar medidas de ação positiva para garantir a plena participação das mulheres nos cargos públicos e representação política, em formular programas integrais de educação pública não sexista, promover o respeito aos direitos humanos integrais das mulheres indocumentadas, esforçar-se para firmar, ratificar e difundir a Convenção para a eliminação de todas as formas de discriminação contra a mulher e seu Protocolo Facultativo, entre outras decisões.
Apesar da disposição demonstrada pelos governantes e seus representantes durante a X Conferência, muitos países não cumpriram com o que foi acordado. No intuito de identificar quais nações efetivamente avançaram na garantia dos direitos integrais das mulheres, a Articulação Feminista Marcosul realizou o ISOQuito, um levantamento que mediu os avanços nos compromissos firmados em 2007.
"O ISOQuito é uma ironia, pois é um mecanismo que faz um ranking dos países da América Latina e do Caribe que estão mais perto e dos que estão mais longe dos compromissos firmados durante a Conferência da Mulher no Equador", esclareceu Luci Garrido, representante da articulação Feminista Marcosul.
De acordo com Luci, uma equipe técnica analisou dados qualitativos e quantitativos cedidos pelos próprios países e dados oficiais do Observatório Regional de Paridade de Gênero da Cepal para detectar quais nações mais se aproximaram da execução dos seus compromissos.
Neste ranking, a Argentina ficou no topo, e foi nomeado o país latino-americano que mais respeita os direitos das mulheres. Costa Rica, Chile, Uruguai, Panamá e México também ficaram em posições elevadas por cumprirem parte das promessas. Já o Brasil ficou em penúltimo lugar por não haver avançado nas dimensões básicas fundamentais para a garantia do exercício dos direitos das mulheres. O país só ficou abaixo da Guatemala.
Índice de bem-estar das mulheres, índice de paridade econômica e índice de paridade na tomada de decisões foram os aspectos que guiaram a avaliação e a construção do ranking. Nestes três eixos, o Brasil se encontra em pior situação no que diz respeito à autonomia política feminina, o que quer dizer que a desigualdade nas tomadas de decisões continua sem grandes avanços.
"Esperamos que o ISOQuito tenha servido para chamar a atenção e para que os governos da América Latina e Caribe concretizem suas promessas e as traduzam em mudanças e não apenas em palavras. Esperamos ainda que ao construir o Consenso de Brasília possamos segui mais adiante de Quito", encerrou Luci.

Fonte: Adital

12.7.10

Sobre as eleições que se aproximam (Parte III)

No texto que tratava da Parte II escrevi sobre as eleições de 1989. Um marco na vida dos jovens e adultos daquele tempo, principalmente daqueles que ainda sonhavam com o socialismo, mas também daqueles que apenas esperavam um Brasil melhor, mais justo e com oportunidades iguais para todos.
Depois de 89, o PT começou uma guinada rumo ao pragmatismo, buscando ocupar cargos no executivo, mais até do que no Legislativo.
Lembro-me que um grande grupo de companheiros considerava que ocupar os cargos no Legislativo seria mais importante, considerando este um espaço de educação e propaganda política. Nossa visão foi derrotada seguidamente nas disputas internas. Até mesmo o espaço destas disputas sofreu restrições, até chegar a proibição, fato que culminou com a expulsão das “tendências” que não aceitaram a submissão à burocracia partidária.
Neste tempo ganha força no Partido a figura do Zé Dirceu. Senti que era a hora de buscar outros caminhos.
Em 1992 deixei de ser bancário e abandonei a militância sindical. Alguns anos depois a partidária.
Embora afastado do Partido, participei das campanhas de 1994 e 1998. Sempre votei nos candidatos do PT aos cargos executivos e para aqueles do Legislativo votava apenas na legenda.
Já não me movia a esperança, mas sim a escolha do menos pior.
Nas eleições de 2002 o quadro ficou muito confuso, por causa da profusão de alianças. Forças conservadoras se aliavam à candidatura petista. Veio então a Carta ao Povo Brasileiro (clique aqui se desejar lê-la).
Também circulou a notícia que parte da cúpula petista havia se reunido com os Marinho, buscando, pelo menos, uma posição equidistante da Rede Globo com relação à eleição que viria. Parece que tais reuniões funcionaram.
Aí caiu a ficha! A expressão socialismo foi eliminada do programa de governo. As lideranças petistas curvavam-se ao deus mercado e, com a tal carta, tranqüilizava as oligarquias, tanto a agrária quanto a urbana, de que todas as mudanças viriam para que nada mudasse.
Ainda assim a escolha que tínhamos: Lula ou Serra. A candidatura Lula tinha um fiador importante na minha forma de ver as coisas: o MST!
Votei em Lula e na legenda para o Legislativo.
Passei a pensar, a partir daí, na importância da liberdade de votar. O PT começou a atuar como os outros partidos convencionais. Todas as apostas estavam colocadas no horário eleitoral e no marketing. Não mais se pensava em educar para a política ou renovar as lideranças.
Prova disso são os políticos profissionais – que o PT nasceu criticando – que a legenda formou. Temos indivíduos com mais de 25 anos dentro do parlamento!
Por isso a importância do voto livre! Não podemos conviver com o voto obrigatório se quisermos chamar nosso país de democracia. Onde já se viu o cidadão ser obrigado a exercer um direito?
O voto livre faria com que os partidos políticos buscassem nos convencer que votar é importante. Isso não seria possível apenas com o horário eleitoral! Os partidos precisariam atuar cotidianamente, construir programas, vincularem-se aquela parte da sociedade a qual representam.
Em 2004 e 2008, nas eleições municipais simplesmente não votei. Também justifiquei, só deixei de comparecer à Seção Eleitoral.

10.7.10

Código Florestal: alterações não servem para o Brasil

Raul Silva Telles do Valle*

Em 6 de julho foi aprovado, por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, um projeto que altera o Código Florestal brasileiro em seus pontos principais. Embora ainda tenha que ser aprovado no plenário da casa e passar pelo Senado para se transformar em lei, preocupa o fato de que tenha contado com o apoio da maioria expressiva dos deputados da comissão, mesmo sabendo que era dominada por ruralistas.
O projeto parte do princípio que a conservação de florestas é um ônus ao produtor e à produção agropecuária e que, como tal, deve ser afastado, pois o país precisa se “desenvolver”. Nesse sentido, permite que governos estaduais criem programas de “regularização ambiental” por meio dos quais os proprietários estariam desobrigados de recuperar áreas ilegalmente desmatadas, como exige a legislação atual. Basta que se reconheça que a ocupação está “consolidada”, ou seja, foi feita até julho de 2008. Uma vez regularizadas as ocupações, deixam de estar ilegais.
Mas como as leis da natureza não podem ser modificadas por caprichos humanos ou interesses corporativos, elas continuarão sendo imprudentes. Assim, por exemplo, as plantações de cana e as vilas residenciais situadas às margens do rio Mundaú, em Alagoas, vão continuar sendo alagadas nas fortes chuvas. Sem um mínimo de cobertura florestal na paisagem, as águas continuarão escorrendo rapidamente às calhas dos rios, que, cada vez mais assoreados, terão menos capacidade de abrigar a água que recebem sem transbordar e, uma vez transbordando, levam tudo o que encontrarem pela frente.
A lei atual proíbe a ocupação de áreas de risco e ainda exige que em todos os lugares exista um mínimo de vegetação nativa. Se tivesse sido cumprida, seguramente seriam muito menores os estragos ocorridos em Alagoas, em Angra dos Reis, no Vale do Itajaí, no Jardim Pantanal e em todos os outros lugares que entram e saem rapidamente dos noticiários quando começam as temporadas de chuva.
Grande parte dos produtores rurais do país está irregular com relação à legislação florestal, ou seja, não respeitaram a preservação das áreas determinadas pela legislação. Isso significa que há um grande número de pessoas que estão, nesse momento, prestando um “desserviço ambiental” à sociedade, assoreando rios, matando nascentes, derrubando encostas, extinguindo a biodiversidade. Muitos não fazem porque querem, mas porque foram levados a essa situação por uma longa sequência de equívocos e omissões do Poder Público e da sociedade como um todo. Todos queremos que essas pessoas deixem de estar na ilegalidade, ou seja, que por um lado estejam de acordo com as determinações do Código Florestal e que, por outro, e como consequência, protejam os recursos naturais vitais ao bem estar da sociedade e delas.
O deputado Aldo Rebelo, insuflado pelos ruralistas, não se preocupou em criar meios para que os proprietários hoje irregulares possam cumprir a lei protegendo os bens ambientais que ela visa tutelar. Se tivesse tido essa preocupação, teria proposto novas formas para apoiá-los a recuperar as áreas irregularmente desmatadas, ou seja, colocaria sobre a mesa instrumentos para fazer a lei “pegar” e, assim, o país proteger seus recursos naturais.
Adotou, no entanto, o caminho mais fácil, embora enganoso. Simplesmente enfraqueceu a lei para que, mesmo praticando um mau uso da terra, qualquer proprietário possa estar de acordo com ela e, portanto, formalmente regularizado. Assim, caso venha a se tornar lei, as enchentes, os rios secos, as áreas desertificadas, as florestas desmatadas passarão a ser “legais”. Você acha isso legal?

*Advogado e coordenador adjunto do Programa de Política e Direito do Instituto Socioambiental.


Publicado em 9/7/2010.

9.7.10

Nuvens negras sobre o Irã

Que o Irã não tem uma política agressiva nem pretende avançar para a bomba nuclear, até o Pentágono reconhece em um relatório ao Congresso dos EUA de abril passado. No entanto, isso não impede os EUA de ameaçarem o país com uma invasão devastadora, recorrendo até ao armamento nuclear.

Por Noam Chomsky (08 de julho de 2010 - 15h00)

A grave ameaça do Irã é a mais séria crise da política externa que enfrenta a Administração Obama. O Congresso acaba de endurecer as sanções contra aquele país, com penas mais pesadas às companhias estrangeiras que ali negociarem. A Administração expandiu a capacidade ofensiva dos EUA na ilha africana Diego Garcia, reclamada pelo Reino Unido, que expulsou a população a fim de que os EUA pudessem construir uma grande base para atacar o Médio Oriente e a Ásia Central.
A Marinha estadunidense informou que tinha enviado para a ilha equipamento para apoiar os submarinos dotados de mísseis Tomahawk, com capacidade para transportar ogivas nucleares. De acordo com o relatório de carga da Marinha, apanhado pelo Sunday Herald, de Glasgow, o equipamento militar inclui 387 destruidores de bunkers para fazerem explodir estruturas subterrâneas reforçadas. "Estão ativando a engrenagem para destruir o Irã", disse a esse jornal o diretor do Centro de Estudos Internacionais e Diplomáticos da Universidade de Londres, Dan Plesch. "Os bombardeiros e os mísseis de longo alcance dos EUA estão preparados para destruir 10.000 objetivos no Irã em poucas horas". A imprensa árabe informa que uma frota estadunidense (com um navio israelense) passou recentemente o canal do Suez a caminho do Golfo Pérsico, com a missão de fazer "aplicar as sanções contra o Irã e supervisionar os barcos que entram e saem desse país". Alguns meios de comunicação britânicos e israelenses informam que a Arábia Saudita está a providenciar um corredor aéreo para um eventual bombardeamento israelense ao Irã (o que os sauditas negam).
No seu regresso de uma visita ao Afeganistão para tranquilizar os seus aliados da OTAN depois da demissão do general Stanley McChrystal, o almirante Michael Mullen, responsável máximo da Junta de chefes de Estado-Maior, visitou Israel para se encontrar com o chefe de Estado-maior das Forças de Defesa israelenses, Gabi Ashkenazi, e continuar um diálogo estratégico anual. A reunião centrou-se na "preparação de Israel e dos Estados Unidos perante a possibilidade de um Irã com capacidade nuclear", de acordo com o Haaretz, que, além disso, informou que Mullen tinha enfatizado: "Procuro sempre ver os desafios numa perspectiva israelense".
Alguns analistas descrevem a ameaça iraniana em termos apocalípticos. "Os EUA deverão enfrentar o Irã ou entregar o Oriente Médio" adverte Amitai Etzioni. Se o programa nuclear se concretiza, disse, a Turquia, a Arábia Saudita e outros Estados "mover-se-ão" em direcção á nova "superpotência" iraniana. Numa retórica menos acalorada, isso significa que poderia dar forma a uma aliança regional independente dos EUA.
No jornal do Exército estadunidense Military Review, Etzioni pressiona os EUA para um ataque não só contra as instalações nucleares do Irã, mas também contra os seus ativos militares não nucleares, incluindo infra-estruturas – isto é, sociedade civil. "Este tipo de ação militar é semelhante às sanções: provocar danos com o objetivo de mudar posturas, ainda que por meios mais poderosos", escreve.
Uma análise autorizada sobre a ameaça iraniana é dada pelo relatório do departamento de Defesa dos EUA apresentado ao Congresso em abril passado. Os gastos militares do país são "relativamente baixos em comparação com o resto da região" sustenta o documento. A doutrina militar do Irã é estritamente "defensiva (…) concebida para atrasar uma invasão e forçar uma solução diplomática das hostilidades". O relatório diz ainda que "o programa nuclear do Irã e a sua vontade de manter aberta a possibilidade de desenvolver armas nucleares (são) uma parte central da sua estratégia de dissuasão".
Para Washington, a capacidade dissuasória do Irã é um exercício ilegítimo de soberania que interfere nos desígnios globais dos EUA. Concretamente, se ameaça o controlo estadunidense dos recursos energéticos do Oriente Médio. Mas a ameaça do Irã vai mais além da dissuasão. Teerã também está procurando expandir a sua influência na região, o que é visto como um fator de "desestabilização", presumivelmente em contraste com a "estabilizadora" invasão e ocupação militar estadunidense dos vizinhos do Irã. Para além desses crimes – prossegue o relatório do Pentágono –, o Irã está apoiando o terrorismo com o seu apoio ao Hezbollah e ao Hamas, as maiores forças políticas do Líbano e da Palestina (se é que as eleições contam).
O modelo de democracia no mundo muçulmano, apesar dos seus sérios defeitos, é a Turquia, que tem eleições relativamente livres. A Administração Obama indignou-se quando a Turquia se aliou ao Brasil na procura de um compromisso com o Irã para que restringisse o seu enriquecimento de urânio. Os EUA minaram rapidamente o acordo promovendo uma resolução do Conselho de Segurança da ONU com novas sanções contra o Irã, tão carentes de sentido que a China logo as apoiou alegremente, assumindo que, quando muito, impediriam os interesses ocidentais de concorrer com a China nos recursos do Irã. E sem qualquer surpresa, a Turquia (tal como o Brasil) votou contra a iniciativa dos EUA. O outro membro do Conselho de Segurança da região, o Líbano, absteve-se.
Estas atuações provocaram ainda maior consternação em Washington. Philip Gordon, o diplomata mais prestigiado da Administração Obama em assuntos europeus, advertiu a Turquia que as suas ações não são compreendidas nos EUA e que deveria "demonstrar o seu compromisso de parceiro do Ocidente", segundo informou a Associated Press. Uma admoestação rara a um aliado crucial da OTAN. A classe política também assim pensa. Steven A. Cook, um perito do Conselho de Relações Exteriores, defende que a pergunta crítica é: "Como manter os turcos dentro dos carris?" - ou seja, como bons democratas obedecerem às ordens.
Não há indícios de que outros países da região sejam mais favoráveis às sanções promovidas pelos EUA que às posições da Turquia. O Paquistão e o Irã, reunidos em Ancara, assinaram recentemente um acordo para um novo gasoduto. O mais preocupante para os EUA é que o gasoduto possa estender-se à Índia. O tratado de 2008 entre os EUA e a Índia, apoiando os seus programas nucleares, pretende evitar que este país se una ao gasoduto, de acordo com Moeed Yusuf, um assessor em assuntos subasiáticos do Instituto da Paz dos EUA.
A Índia e o Paquistão são dois dos três países que recusaram assinar o Tratado de Não Proliferação (TNP). Israel é o terceiro. Todos eles desenvolveram armamentos nucleares com o apoio dos EUA, e continuam a fazê-lo.
Ninguém de bom senso quer que o Irã, ou qualquer outro país, desenvolva armas nucleares. Uma maneira óbvia de mitigar ou eliminar esta ameaça consiste no estabelecimento de uma zona livre de armas nucleares no Médio oriente. Este tema foi levantado (uma vez mais) na conferência do TNP nas Nações Unidas no início de março passado. O Egito, como presidente do Movimento dos Não Alinhados – constituído por 118 países – propôs que a conferência apoiasse um plano de início das negociações em 2011 propôs um Oriente Médio livre de armas nucleares, como foi acordado pelos países ocidentais, incluídos os EUA, na conferência do TNP de 1995. Formalmente, Washington ainda está de acordo, mas insiste que Israel fique isento – e não há qualquer elemento que permita dizer que as deliberações do pacto se apliquem aos EUA.
Em vez de dar passos efetivos para a redução da escaldante ameaça de proliferação de armas nucleares no Irã ou em qualquer outra parte, os EUA movimentam-se no sentido do seu controle das vitais regiões produtoras de petróleo do Médio Oriente, de forma violenta, se não puder ser de outra maneira.

* Noam Chomsky é professor de linguística do MIT (Massachusetts Institute of Technology).
Este texto foi publicado no diário espanhol Público e pode ser consultado em http://blogs.publico.es/noam-chomsky/10/nubes-de-tormenta-sobre-iran/
Tradução de José Paulo Gascão para http://odiario.info/
Fonte: http://www.revistaforum.com.br/noticias/2010/07/08/nuvens_negras_sobre_o_ira/

8.7.10

Algumas leituras e algum desânimo

Estava fazendo algumas leituras via Twitter e me deparei com algumas atrocidades.
A primeira delas é uma charge do humorista Nani. Ele compara Dilma a uma prostituta. Não vou reproduzir isso aqui. De extremo mau gosto, preconceituosa e machista a tal charge encontrou guarida no Blog do Josias de Souza, jornalista da Folha de São Paulo.
Depois encontrei um “Manifesto São Paulo Para os Paulistas”. Nunca vi tanta ignorância concentrada num único texto! Erros histórico-geográficos do tamanho do Everest! Querem ler com seus próprios olhos? Então é só clicar aqui.
E o caso Bruno? A TV e os jornais estavam sedentos por uma nova Isabela Nardoni, principalmente depois da eliminação do Brasil na Copa da África do Sul.
Tenho certeza de que vários jornalistas se feriram ontem, na chegada do goleiro do Flamengo à delegacia. Sem contar as expressões tresloucadas dos mesmos. Tanto esforço para fazer aquelas perguntas bárbaras, elucidativas: “Bruno, como você está se sentindo agora?”.
É de ficar enojado!
Mas, felizmente, ainda existe vida inteligente na mídia, até mesmo na grande mídia.
A ESPN Brasil deu um show com um especial “Vozes da África”, reapresentando em bloco as matérias feitas durante a Copa que terminará domingo.
Cantores e cantoras, músicos, gente anônima, hábitos e cultura, tudo com muita sensibilidade, com humor fino e elegante. É de encher os olhos.
Agora, na fila das leituras do feriado a Revista Fórum, Le Monde Diplomatique e os blogs que tanto aprecio, vejam-nos listados aí ao lado.
Aos habitantes de São Paulo um bom feriado!

6.7.10

Retomando as mal traçadas

Cá estou novamente!
Agora tentando impor uma constância a tarefa de escrever para importuná-los.
Nos últimos meses estive bastante ocupado com o trabalho e com o trânsito.
Agora estou ocupado somente com o trabalho: procurando um!
O Brasil está fora da Copa e acompanhei tudo pela ESPN, a meu ver a melhor emissora de esportes, somando sempre às competições muito de informação e cultura. Os comentaristas conseguem equilibrar-se muito bem no binômio informação – muita – e torcida sempre discreta.
Hoje a campanha eleitoral começou oficialmente. Meu primeiro compromisso será concluir minhas lembranças eleitorais. Farei isso ainda nesta semana.
Continuo defendendo o voto livre e considerando o voto obrigatório uma aberração, mas algumas questões conjunturais farão com que eu participe mais ativamente da campanha deste ano.
Amanhã – quarta-feira – vou palestrar pela manhã para uma turminha do SENAC. Falar sobre escolhas profissionais, ENEM, PROUNI etc. O período da tarde está reservado para o jogo Alemanha x Espanha. Torço para que o Mick Jagger não apareça no estádio e, se aparecer, que prefira a Espanha, assim poderemos assistir a final entre Holanda e Alemanha.
É isso, até amanhã!