21.1.14

Existem diferentes raças humanas?

Para tal questão nada melhor do que a resposta de um estudioso da área, por isso segue o texto do amigo Walter Guilherme Schatzer. A publicação original está no facebook (https://www.facebook.com/walterguilherme.schatzer/posts/208667729335043).
Gostaria de salientar que o uso da expressão "raça negra" assumiu uma conotação política, de afirmação, englobando negros e mestiços. A discussão proposta pelo texto vai no sentido de combater o sentimento racista que observamos destacar-se em determinados segmentos da nossa sociedade.
Aproveitem a leitura.



Raças Humanas.

Diante de tantos casos de racismo que a mídia tem relatado achei interessante publicar aqui no FB um pequeno resumo didático sobre a divisão da espécie humana em raças.
Os geneticistas, desde antes da 2ª guerra mundial colocaram em cheque a validade de se dividir a humanidade (considerada uma subespécie pela maioria dos especialistas) em raças (em “biologuês”, subespécies). Para simplificar a questão, peço licença para fazer uma analogia (que como toda analogia tem suas limitações).
Imagine que você resolve dividir os cães domésticos (na verdade uma subespécie) em duas raças – os brancos e os pretos. Certamente se pode perceber o quanto isso carece de sentido. Dentro da chamada raça negra teremos uma variabilidade enorme (pastor alemão, pitbull, dobermann, mastino napolitano, rottweiler, Schnauzer, poodle, etc), o mesmo ocorrendo dentro da chamada raça branca. Fica claro que não se pode classificar um grupo de indivíduos numa mesma utilizando apenas uma característica como critério.
Em ambiente natural, raças são consideradas como grupos de indivíduos de uma dada espécie em que certa combinação de características foi selecionada pelo ambiente específico desse grupo (ver "ecótipo"). Sim, é o velho Darwin e sua “Seleção Natural”. Para que a formação de raças de uma mesma espécie seja produzida é importante que por várias gerações diferentes grupos dessa espécie permaneçam geograficamente isolados, garantindo que variações genéticas peculiares de um grupo não sejam transmitidos, por migração, a grupos vizinhos. Assim, isolamento geográfico, e variações genéticas que ocorrem ao acaso, podem levar diferentes populações inicialmente de uma mesma espécie a se diferenciarem umas das outras. Em muitos casos, depois de muitas gerações, as diferenças acumuladas podem levar ao isolamento reprodutivo, isto é, chegam a ficar tão diferentes (algumas vezes as variações são sutis) que não conseguem mais combinar seus genes (não podem mais fazer sexo com produção de descendência fértil em condições naturais). Em outros casos, as variações genéticas não diferenciam o suficiente para que tal isolamento ocorra, nesse caso, mas sempre com muito cuidado, poderemos dizer que houve raciação.
Para que a espécie humana pudesse gerar diferentes raças, populações deveriam permanecer isoladas por muitas gerações (alguns especialistas calculam, no mínimo 10, outros, 22 gerações, enfim não há acordo). Nós humanos, desde nossa origem, sempre tivemos a mania de perambular, e tais isolamentos podem ter acontecido durante tempo suficiente para que algumas combinações de alelos (variações de um mesmo gene) fossem selecionadas pelo ambiente, mas não sem eliminar uma grande diversidade para a maioria das demais características. Se ainda adicionarmos a dinâmica das colonizações, guerras de conquistas, migrações por catástrofes, e a recente (?) globalização, mesmo esse pequeno número de características usadas no passado para definir raças humanas, como a cor da pele, está se dissipando (basta ver a seleção holandesa de futebol) em meio ao que alguns chamam de miscigenação.
Vários estudos foram realizados (ver texto indicado de Sérgio Pena e Wikipédia no final do texto) para medir efetivamente as variações genéticas dentro de populações restritas que eram classificadas por raça. A conclusão (ler textos indicados para mais dados) pode ser resumida no abaixo:
“... usemos um exemplo fantasioso: uma catástrofe nuclear destruiu toda a população da Terra, deixando ilesa apenas a população de uma pequena cidade de Minas Gerais. Nesse caso, 85% da diversidade humana seria preservada!”.
Sérgio Pena - A inexistência biológica versus a existência social de raças humanas: pode a ciência instruir o etos social? (http://www.usp.br/revistausp/68/02-sergio-telma.pdf)
Estudiosos de diversas áreas concluíram que a divisão em raças, não tem e jamais teve, um embasamento científico válido. A origem dessa divisão, já não é segredo, são os interesses de exploração. Povos conquistados são explorados em suas riquezas naturais e em sua força de trabalho há muitos séculos. Em alguns casos, civilizações ditas avançadas necessitavam de justificativas para validar a escravidão sem ferir preceitos morais e “espirituais”. Nada mais confortável do que classificar os povos subjugados pela força, usando os critérios que estivesses mais à mão, como diferentes e inferiores. Assim, (grande novidade) o sectarismo racial é apenas um resíduo de tempos em que a escravidão era uma política inerente aos povos ditos mais civilizados.
Há muitos outros aspectos envolvidos com esse tema, eugenia (positiva e negativa), a questão das cotas raciais no Brasil, entre outros, questões que ganham relevância no presente momento da história do Brasil e do mundo. Que esse texto possa auxiliar àqueles que desejam refletir honestamente sobre eles e provocar aos que aceitam passivamente a repetição de mentiras até que elas se tornem verdades.
Referências;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Raças_humanas (às vezes eles acertam).
• Sérgio Pena - http://www.usp.br/revistausp/68/02-sergio-telma.pdf
• Texto de Claude Lévi-Strauss – Raça e História - disponível em http://charlezine.com.br/wp-content/uploads/Raça-e-História-Lévi-Strauss.pdf
 

17.1.14

O politicamente correto e o avesso dele



Passamos recentemente por uma onda do politicamente correto. As palavras deveriam ser medidas e cuidadas com máxima atenção.
Houve uma reação a essa onda, compreensível, pois tudo estava ficando muito chato, muita patrulha. O politicamente incorreto começou a dar audiência, ficou engraçado. Publicaram até livros com esse adjetivo no título. Claro que podemos questionar a qualidade e seriedade desses livros, mas eles venderam um bocado.
Algumas celebridades e outras subcelebridades aderiram à onda. Alguns idiotas, que se dizem humoristas, mas, dependendo da conveniência travestem-se de jornalistas, exageraram na prática do politicamente incorreto e deram a esse exagero o nome de liberdade de expressão.
Vivemos um momento em que algumas pessoas acham que podem dizer qualquer coisa, sobre qualquer pessoa em nome da liberdade de expressão. Ignoram os limites da lei, da decência, da privacidade e da honra do outro.
A grande mídia ataca indivíduos impunemente, acusa sem provas, lança suspeitas e depois fica tudo por isso mesmo.
Os jovens vociferam pelas redes sociais seus preconceitos, plantando mais ódio nessa nossa terra fertilizada por tanta desigualdade.
Bradam contra os nordestinos, depois contra os pobres e, o ápice da canalhice, contra os negros.
Parece que vivemos uma onda conservadora que não tem limites! É adolescente anunciando venda de negros pelo Mercado Livre por R$ 1,00 (clique aqui para saber sobre isso), mais um jovem gay assassinado brutalmente (aqui você saberá do que estou falando), terras de índios invadidas como no velho oeste (leia aqui sobre esta barbaridade). Poderíamos gastar muitos parágrafos descrevendo atos estúpidos e desumanos. Estes bastam.
Será isso fruto da vitória do individualismo? Não temos mais práticas solidárias e colaborativas na vida? Tudo parece resumido à competição desenfreada, sem ética, com a regra única do “se dar bem”.
Qual a saída? Eu como professor batalho nas aulas para mostrar valores humanistas, solidários, cooperativos. Combato o preconceito em todos os momentos e cuido para que as coisas ocorram dentro de limites éticos. Mas em casa, qual é o balizamento que esses garotos e garotas recebem? Do Big Brother? Do Datena, Marcelo Rezende?
Estamos vendo crescer uma juventude reacionária e, talvez, fascista. Às vezes sinto neles o desencanto dos cínicos.