29.5.14

Brasil: ame-o, fique, lute e transforme-o!



Amar o Brasil não é ser ufanista ou exageradamente otimista. Não! Amar o país traduz-se na nossa capacidade de lutar por um país melhor, mais justo e igualitário.
Também significa construir estruturas de acordo com nossa cultura e tradição. É reconhecer o poder e a beleza da miscigenação do nosso povo, para isso precisamos combater com todas as nossas forças o racismo e o preconceito.
Não precisamos negar ou ignorar os processos bem sucedidos em outros países, mas não podemos e nem devemos copiá-los, sejam eles originários em Cuba, EUA, Japão, França ou Alemanha.
Devemos estudar e pesquisar, devemos prestar atenção às experiências internacionais, sejam elas asiáticas, africanas ou americanas. Também as europeias é claro. Mas, repito, nunca copiar.
Temos qualidades imensas. Produzimos cultura, ciência, tecnologia e entretenimento de muita qualidade. Nosso povo é criativo, trabalhador e alegre.
Na economia estamos entre as maiores do mundo, mas o nosso índice de desenvolvimento humano é muito ruim, se comparado ao desempenho econômico.
Então o que está errado?
Respondo sem pestanejar: a elite. Essa elite que tem o país nas mãos desde 1500! Produziu uma desigualdade imensa, uma concentração da renda e das riquezas sem igual. Herdou da economia escravagista o senso de superioridade que muito nos atrapalha.
Os dissabores produzidos por essa elite tacanha e medíocre fez com que ela se voltasse para a Europa como modelo e padrão. A partir daí disseminou-se a ideia de que tudo que é feito aqui não presta, para ser bom tem que ser europeu ou estadunidense, dependendo do contexto histórico que se examina.
Nos dias que correm a facilidade das comunicações, promovida pelos modernos meios de comunicação, nos aproximaram ainda mais desses modelos. Assim as TVs mostram os modelos de organização esportiva da Europa, mas não dão destaque às formas como esses modelos foram criados. Custou a exploração e expropriação de nossas riquezas e, ainda que sejam belos espetáculos, como os campeonatos de futebol, também tem corrupção, lavagem de dinheiro, manipulação de resultados e muito racismo.
Digo isso em razão do sentimento exageradamente pessimista que toma conta de parte do país as vésperas da realização da Copa do Mundo.
Quando o Brasil candidatou-se e foi escolhido para sediar, poucas vozes foram contrárias. Era um momento de grande popularidade do Lula – apesar do “mensalão” – e muitos queriam seus 15 minutos de fama.
A grande mídia viu a possibilidade melhorar seu faturamento, principalmente as TVs (abertas e a cabo).
Alguns críticos fizeram ponderações corretas, a meu juízo, como afirmar que o país tinha outras prioridades para se dedicar como melhorar a saúde, educação, moradia, infraestrutura de comunicação e transporte, por exemplo, mas alguns recorreram ao velho lema da elite, dizendo que “nós não seríamos capazes de realizar um evento de tal envergadura”.
É desse segundo grupo que eu gostaria de falar agora, que estamos a 14 dias do início das competições. Essa visão de incapacidade geral foi absorvida e reverberada pelo que temos de pior na nossa mídia, que, estranhamente, aliou-se aos grupos de extrema esquerda e tentam, de qualquer maneira, inviabilizar o governo socialdemocrata encabeçado pelo PT.
Essa onda de pessimismo, que esconde os progressos realizados pelo Brasil nos últimos anos, tais como maior acesso dos pobres e pretos ao sistema educacional, avanços significativos no campo da saúde pública, redução do desemprego, acesso a moradia para o povo mais pobre, melhoria no desempenho econômico de forma geral, preocupou-se apenas em ressaltas os dados negativos ou, pior ainda, potencialmente negativos.
A mídia contribuiu sobremaneira para a desinformação, alimentando o que Nelson Rodrigues – grande intelectual e cronista brasileiro, de matiz conservadora – chamou um dia de complexo de vira-latas.
Não vou entrar no mérito dos dados, mas existem inúmeros sites que contemplam os gastos governamentais e privados com a Copa, assim como eventuais expectativas de retorno com incremento da economia em razão do evento.
Recorre-se então ao lugar comum: todos roubam, tudo é superfaturado, tudo é mal feito...
Com base em experiências recentes é de se esperar muitos problemas na construção dos estádios para a Copa, mas a maioria deles é privado. Então é caso de se perguntar: todos quem cara-pálida? Eu, você que me lê? Claro que não. Todos os políticos... Então dê os nomes, os fatos, chame a polícia, conte o que você sabe sobre a roubalheira, pois caso contrário o seu silêncio será cúmplice dos desmandos.
Eu fui contra a realização da Copa no Brasil. Era daqueles que pensava que outras prioridades deveriam ser atendidas antes disso. Agora o fato está consumado, os estádios estão prontos, ou quase, parte das obras de mobilidade será entregue, outras só serão concluídas após a Copa, mas VAI TER COPA. Para que não tenhamos prejuízo é importante que ela transcorra da melhor maneira possível.
Quando acabarem os festejos vamos as investigações e denúncias! Quem roubou, quanto roubou, onde está o dinheiro?
Mais ainda, vamos continuar a luta por educação decente, com professores valorizados socialmente e bem pagos. Melhorar a estrutura de saúde, ampliar o “Minha casa, minha vida”,  etc. e tal.
Mas eu não quero educação e saúde padrão FIFA. A FIFA não nos serve como modelo. É uma estrutura corrupta, antidemocrática e, que acima de qualquer outra coisa, busca o lucro desenfreado. Quero saúde e educação padrão Brasil, o Brasil da gente honesta e trabalhadora que dá um duro danado para sobreviver, gente que faz valer a dignidade acima de qualquer outro valor!
Clicando aqui veja o documentário "O Complexo de Vira-latas", muito bom para ajudar a entender o momento pelo qual passamos.
Para obter dados oficiais sobre os gastos com a Copa do Mundo clique aqui para ter acesso ao portal Copa Transparente do Senado Federal. 
Aqui você acessa o Portal da Transparência da Controladoria Geral da União.
Vários problemas ocorreram nesse período, dentre eles reputo como o mais chocante a remoção da população que estava "atrapalhando as obras". Clique aqui para ler um texto sobre o que ocorreu com a "Aldeia Maracanã".
E aqui, para finalizar, você acessa o Portal Popular da Copa, um site bastante crítico quanto a realização da Copa do Mundo no Brasil.

20.5.14

Que escola é essa?

           Ontem um ex-aluno publicou no seu Facebook um texto, na verdade um desabafo sobre as angústias que a escola lhe apresenta.
O texto é provocativo e desafiador, apesar de singeleza de um desabafo. É muito verdadeiro, pois se trata de um estudante de verdade, muito curioso, que vai além dos manuais, que sabe fazer perguntas.
O pior é que não sei como respondê-lo. Quer dizer, acho que até sei, pois os professores respondem às exigências das empresas para as quais trabalham que, por sua vez, devem responder ao “mercado”, ou seja, garantir bons índices de aprovação nos melhores vestibulares e excelente pontuação no ENEM.
Mas é só isso? Infelizmente é. Alguns professores conseguem fazem desses limões limonadas digeríveis, outros nem isso, pois tem uma programação a cumprir e, além disse, devem correr de uma escola para outra visando garantir o “leitinho das crianças”.

Leiam o texto do Gui Cechet.
“A escola está matando minha vontade de aprender.
É o cansaço, acumulado da obrigação de acordar antes do sol nascer sem dormir o necessário para assistir a aulas de professores metódicos, sistemáticos, arrogantes e egocêntricos, que também estão de saco cheio de acordar cedo e repetir seis vezes por manhã os mesmos exercícios em que o "x" dá o mesmo resultado há 30 anos.
É a obrigação de ler livros descritivos demais que tomam o tempo em que poderia ler livros de minha preferência.
É a obrigação de fazer redações engessadas, acabando com minha vontade de escrever. É a obrigação decorar fórmulas, tabelas e nomes, ocupando tempo e memória que poderiam ser utilizadas em tantas outras tarefas.
É a imposição de que você tem de fazer seus 200 (número sem exagero) exercícios diários, ir a todas as aulas à tarde, à noite e aos sábados, fazer todos os simulados senão você não terá chances de passar numa prova que justamente o libertará a longo prazo desse sistema que mais se parece com uma prisão.
Talvez tudo isso só valha a pena para quando eu realizar meu sonho de ser educador, eu possa tentar fazer diferente, como vemos tantos professores e pedagogos tentando, incentivando o senso crítico, adequando-se aos alunos e não os tratando como números e/ou robôs feitos para passar no vestibular que propiciam lucros.
Enquanto isso, minha vontade de entrar naquele prédio quadrado, de janelas opacas, sem verde algum mingua cada vez mais. A escola está matando minha vontade de aprender.”