22.3.15

Impeachment não é a resposta à atual crise

Ao sugerir que a solução para a corrupção endêmica seja a saída de Dilma, manifestantes evidenciam seu raso entendimento do regime democrático no país, opina editor-executivo da DW Brasil
por Deutsche Welle — publicado 16/03/2015 10:27
*Por Rodrigo Rimon Abdelmalack, editor-executivo da DW Brasil

Centenas de milhares de pessoas foram às ruas participar das manifestações convocadas para este domingo 15 por organizações diversas em dezenas de cidades do Brasil e do exterior. O objetivo da maioria: cobrar o impedimento da presidente, acusando-a de envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.
E não pode ter sido coincidência a escolha desta data para exercer este precioso direito garantido pela Constituição, já que neste dia nossa jovem democracia completou seus 30 anos, após a posse de José Sarney na Presidência, em 1985.
Juntos, os três maiores grupos organizadores dos protestos têm apenas pouco mais de um milhão de seguidores no Facebook. Mas, nos dias que precederam os protestos, estes foram ganhando atenção, justamente por se tratar de um produto das redes sociais, oriundo de diversos setores da sociedade, diferentes entre si e, a princípio, independentes também de partidos políticos.
Em tempo, políticos de oposição correram a se pronunciar contra um impeachment. Por provocar um "aprofundamento do caos", como disse Marina Silva. Ou por ser comparável a uma bomba atômica, como polemizou FHC: "É para dissuadir, não para usar".
Fato é que a principal exigência formulada pelos manifestantes deixa um gosto amargo justamente nessa data simbólica. Ao concentrar as críticas apenas em Dilma Rousseff, mostram que pouco ou nada entendem do sistema político. E, ao sugerir que a solução para a corrupção endêmica seja um impeachment, evidenciam seu raso entendimento do regime democrático no país.
Não que não haja motivos para protestar. Os brasileiros têm toda razão ao achar que o enorme potencial do país está sendo desperdiçado. O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos, mas não consegue eliminar a fome. Conta com um território de dimensões invejáveis, mas é incapaz de realizar uma reforma agrária. Possui grandes reservas de petróleo, mas a reputação da Petrobras está arruinada. Tem algumas das maiores bacias hidrográficas do mundo, mas falta água nos centros urbanos. Minorias, entre elas indígenas e homossexuais, lutam por garantias elementares. Obras urgentes para garantir a infraestrutura nacional são interrompidas ou nem saem do papel.
Sobre esse cenário espalha-se ainda, como uma sombra, o novo moralismo, que carrega o debate político com discursos de ódio, potencializados, entre outros, pelo avanço da fração religiosa intolerante e pela falência do sistema educacional. E a corrupção, sempre a corrupção.
Agora, protestar contra a corrupção generalizada de olho apenas no Executivo e na figura da presidente ou é muita ingenuidade política ou faz parte de um jogo sujo condenável e nocivo ao desenvolvimento da democracia brasileira. Pois é no Legislativo que estão os principais acusados de tirar proveito dos esquemas de corrupção. Por que eles não são, também, alvos dos protestos?
Diante disso, só há uma resposta: Dilma Rousseff venceu eleições livres e diretas. E não há nenhuma prova de que tenha cometido irregularidades ou enriquecido ilicitamente.
Isso não significa que o eleitor deva baixar a cabeça e acatar seu distanciamento de muitas das promessas que a presidente fez durante a campanha para seu segundo mandato. É mais que justificado o ímpeto de tomar as ruas para cobrar o que foi vendido como programa de governo.
No entanto, o que me parece ser o objetivo oculto desses protestos é reverter o resultado recente das urnas. Não é para isso que existe o recurso do impeachment. Esse respeito Dilma merece, como presidente eleita.
Não esqueçamos que, se hoje todos podem ir às ruas protestar pacificamente, é porque muitos corajosos, como a própria Dilma Rousseff, lutaram pelo fim da ditadura militar. Lançar mão de um recurso tão drástico, que desestabiliza as estruturas democráticas e em última instância pode até expor o país novamente aos riscos de um golpe de Estado, é um gesto irresponsável, seja por convicção, seja por mera inocência política. 

Texto disponível no site da CartaCapital: http://www.cartacapital.com.br/politica/impeachment-nao-e-a-resposta-a-atual-crise-1191.html

 

16.3.15

54 milhões de votos não podem ser desprezados

Conforme já me manifestei aqui inúmeras vezes, tenho muitas críticas ao governo Dilma, assim como tinha ao governo Lula, mas eles são incomparavelmente melhores do que os anteriores.
Lula não ter investido pesado na Reforma Agrária e Política, logo em 2003 quando tinha amplo apoio popular e restava ao PT algum enraizamento nos movimentos populares, foi um grande erro.
Não ter revolucionado a educação foi um erro colossal, e a tal pátria educadora é outra patacoada. O segredo é transformar as políticas educacionais em políticas de Estado (e não de governo), investir em infraestrutura (prédios, laboratórios, tecnologia etc.) e pessoal qualificado, com melhores salários e condições de trabalho.
Outro equívoco monumental foi não atentar para uma política de comunicação mais eficiente. Isso passa por estratégia de comunicação mais competente - por parte do aparato de governo - e pela regulamentação da mídia. É inadmissível que a República seja refém de meia dúzia de famílias que controlam a comunicação de massa no país.
Tais medidas poderiam ser tomadas dentro dos marcos legais vigentes e com forte pressão popular sobre o Congresso, principalmente no primeiro mandato de Lula. Não são medidas revolucionárias, pois países europeus e mesmo a Meca dos liberais, os EUA, já fizeram tais coisas, alguns ainda no século XIX, outros no século XX.
            Reparem que são críticas fortes, mas diferentes daquelas dos revoltados online que ficam por aí pedindo a volta da ditadura ou a anexação aos EUA.
            Tenho certeza de que alguns que me conhecem pouco estarão perguntando: com todas essas críticas ainda apoia esse governo?
            Sim, apoio.
Para clarear os motivos copiei esse decálogo alinhavado pelo Pablo Villaça, de quem me tornei leitor assíduo, para além de suas críticas de cinema.

“1) Defendo este governo pelo fato de o salário mínimo ter o maior poder de compra dos últimos 50 anos (fonte: http://exame.abril.com.br/economia/noticias/salario-minimo-tem-maior-poder-de-compra-em-quase-50-anos).

2) Defendo este governo por ter tirado 42 milhões de pessoas da miséria.

3) Defendo este governo por ter tirado o Brasil do mapa da fome da ONU (fonte: http://www.mds.gov.br/saladeimprensa/noticias/2014/setembro/brasil-sai-do-mapa-da-fome-das-nacoes-unidas-segundo-fao).

4) Defendo este governo porque a inflação anual no governo Dilma ainda é MUITO menor, na média, do que a inflação nos períodos FHC e mesmo Lula (6,14 x 9,71 e 6,43).

5) Defendo este governo porque, apesar da imprensa pintar a Petrobrás como um desastre, ela acabou de se tornar a maior empresa petrolífera de capital aberto DO MUNDO (fonte: http://br.reuters.com/article/topNews/idBRKBN0KH23L20150108).

6) Defendo este governo porque, apesar de a imprensa pintar a Petrobrás como um desastre, ela acaba de bater recordes de produção (fonte: http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN0L72FH20150203).

7) Defendo este governo porque, apesar de a imprensa pintar a Petrobrás como um desastre, a produção de petróleo cresceu 20,3% em janeiro em comparação ao ano anterior (fonte: http://oglobo.globo.com/economia/petroleo-e-energia/producao-de-petroleo-no-brasil-cresce-203-em-janeiro-ante-um-ano-antes-15488558).

8) Defendo este governo porque pela primeira vez a corrupção está sendo investigada em vez de varrida para debaixo do tapete - tanto que o país MELHOROU de posição no ranking internacional da corrupção (fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/12/141202_ranking_transparencia_internacional_brasil_df_lgb).

9) Defendo este governo porque o acesso de estudantes pobres à universidade pública cresceu 400% entre 2004 e 2013 (fonte IBGE: http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2014/12/acesso-de-estudantes-pobres-a-universidade-publica-cresce-400-entre-2004-e-2013-diz-ibge).


10) E defendo este governo, enfim, porque foi eleito democraticamente com 54 milhões de votos e não cresci numa família que carrega no corpo as marcas da tortura na ditadura apenas para ver, em 2015, um movimento direitista tentando derrubá-lo por interesses econômicos.”