4.7.12

É como se fosse 1977 novamente


Era quase final do ano, para ser mais preciso Outubro de 1977. O campeonato paulista era longo, turno, returno, 3ª fase e final em melhor de três partidas.
O Corinthians deve ter disputado quase 50 jogos.
Desde 1954 não era campeão. Eu nasci em 1962, tinha, portanto 15 anos e não tinha visto meu time campeão ainda.
Morava no sul de Minas Gerais, na aprazível Varginha. Naturalmente as maiores torcidas eram do Cruzeiro e do Atlético, mas todos tinham um segundo ou terceiro time, influencia do futebol nacional. E, claro, os corintianos existiam em grande quantidade também.
O Timão ganhou a primeira partida e perdeu a segunda. Fomos para o desempate. No ar aquela esperança religiosa. No time, assim como no que hoje a noite disputará a última partida da Taça Libertadores, não havia um craque de destaque absoluto.
Era um grupo de bons jogadores, alguns esforçados, mas todos com a alma do Corinthians. Garra e muita vibração, num tempo no qual o futebol não movimentava tantas somas e vestir uma camisa como a alvinegra era uma honra inenarrável.
Preferi não me juntar ao grupo de amigos. Em casa permaneci na sala, sozinho e em silêncio.
Meus pais e minhas irmãs dormindo e eu ali, olhos fixos na TV, numa ansiedade sem tamanho.
Os minutos passavam e o empate parecia ser o resultado mais óbvio.
Até que aos 37 minutos do segundo tempo, Basílio, o pé de anjo, acertou um chute indefensável, após um bate e rebate infernal na área da ponte.
A única reação que me coube no momento foi chorar. Chorava de maneira convulsiva, sem conseguir parar e, com medo de acordar meus pais, enfiei-me embaixo do sofá e lá fiquei até o apito final.
Quando o jogo acabou gritei feito louco, acordando os poucos vizinhos que teimavam em dormir e saí correndo pelas ruas. Em cada rua encontrava mais loucos gritando, correndo e chorando.
Já na Praça da Fonte encontramos centenas de outros corintianos, vários carros e passamos a desfilar pela cidade.
Tinha 15 anos! Parei de festejar com o amanhecer e trabalhei no outro dia com um sentimento de felicidade que nunca tinha experimentado.
Que hoje seja 1977 novamente! Que a garra e a emoção dos deuses do futebol estejam de bem com a nação alvinegra! Que São Jorge nos proteja!




E aqui, na voz de Osmar Santos, a tradução da emoção daquele gol!