16.11.13

Não houve mensalão


Basta que procurem um pouco, sem muito esforço, para encontrar várias críticas que fiz ao governo Lula neste blog.
Lembrarei algumas: o deslumbramento de alguns companheiros com o poder (na base daquele velho ditado: quem nunca comeu melado...); a ausência da reforma agrária; a lerdeza nas mudanças na educação; a pouca eficiência do sistema de saúde; os lucros dos bancos (continuam sendo recordistas – isso implica numa anomalia do sistema) e, finalmente, a ausência de uma reforma que trouxesse novas práticas políticas, fazendo com o que o antigo “é dando que se recebe” fosse substituído por algo digno no nome POLÍTICA.
Para que vocês compreendam meu atual estado de espírito faz-se necessário recordar alguns eventos. Farei isso de forma breve, sem recorrer a anotações ou pesquisas, o que poderá acarretar um ou outro equívoco de datas ou nomes, mas a essência é a que segue.
Filiei-me ao PT em 1982, no diretório de Santo Amaro. Neste mesmo ano participei ativamente da campanha eleitoral, tendo apoiado para deputado federal o senhor Genoíno, para deputado estadual o senhor Fernando do Ó e para vereadora (em São Paulo) a socióloga Caterina Koltai. Mesmo atuando na coordenação da campanha na Zona Sul de São Paulo eu era apenas um fedelho, de 20 anos, que me surpreendia com a maneira como aqueles companheiros faziam política, com alma e razão, sem dinheiro, mas com muita criatividade.
Naquele mesmo ano o grupo que apoiava Fernando do Ó em Santo Amaro rompeu com Genoíno. Não concordávamos com determinadas práticas políticas. Práticas essas restritas ao ato de fazer política, longe da corrupção ou desvios éticos.
Continuei participando das campanhas eleitorais subsequentes e algumas ações do PT em Santo Amaro e na região do M’boi Mirim (Jardim Ângela, extremo pobre da Zona Sul).
Sofri muito com a derrota para o Collor em 1989 e para FHC em 1994, mas nesta segunda oportunidade já carregava muita desilusão com os caminhos do PT e do sindicalismo petista.
A derrota para FHC em 1994 implicou numa mudança de rumos radical do PT, mudança essa que não me agradou. Em 1995 Zé Dirceu assume a presidência do PT, marcando de forma indelével a alteração de percurso do partido, várias práticas que eu considerava essenciais à formação política da juventude, foram deixadas de lado.
Desde então restringi minhas participações às campanhas eleitorais, mas sem grande entusiasmo e, a partir de 2000, convenci-me de que não mais deveria votar, enquanto o voto fosse obrigatório, uma das maiores excrescências da nossa “democracia”, juntamente com o financiamento privado das campanhas.
Mesmo relutante votei em Lula em 2002. No final de 2003 estava muito frustrado com os resultados do primeiro ano de governo. Na reeleição de 2006 fui convencido por diversos companheiros que a opção da reeleição era melhor do que a oferecida pela eleição e, num segundo mandato, Lula poderia radicalizar com algumas medidas como a reforma agrária, por exemplo.
Ante a tentativa da mídia em golpear a candidatura de Lula, cerrei fileiras com antigos e novos companheiros, pois meu caminho de participação ficou limitado à Internet.
Voltei a exercer o “direito” de voto, mesmo que de maneira relutante, e votar nas candidaturas de esquerda.
Nesse período, um pouco antes da reeleição, eclodiu o escândalo do chamado mensalão. Nunca acreditei nessa hipótese, embora tenha certeza de que houve por parte alguns crimes eleitorais, assim como houve em outros governos e em vários níveis de poder.
Para embasar a minha descrença seguem breves indagações:

1 – Mensalão, na definição dos doutos juízes supremos e da mídia de esgoto, consistiu em pagamentos mensais para parlamentares votarem a favor do governo. Então quais eram esses projetos? Se isso é verdade tais projetos devem ser anulados, bem como os seus efeitos, pois frutificaram a partir de fraudes e atos de corrupção, não acham?

2 – Por que diabos um deputado do PT, como o João Paulo, precisaria receber dinheiro (uma única vez de R$ 50.000) para votar favoravelmente em projeto do governo do seu próprio partido?

3 – Quem financiou o tal mensalão? Sim, pois a grana veio de algum lugar. O juiz sol, Joaquim Barbosa, afirma que veio da VISANET. Se isso foi feito com dinheiro público por que não foi pedida a devolução dos valores? E quem recebeu parte importante desse dinheiro, como a Rede Globo, não vai devolver o que recebeu?

4 – Cadê os sinais exteriores de riqueza de Genoíno? O cara continua com o patrimônio muito parecido com aquele de 1982. Pelo menos indiquem onde está o dinheiro que ele apurou com os desvios dos quais é acusado.

5 – Por que todos os réus foram julgados pelo STF, enquanto em caso análogo, do chamado Mensalão Mineiro (que na verdade é do PSDB), os réus comuns serão julgados pelo juiz de primeira instância e só os detentores de mandatos eletivos serão julgados pelo STF (serão mesmo?)?

6 – O juiz sol nos explicou, para os leigos em direito, que usaria o princípio do “domínio dos fatos” para julgar aqueles políticos de elevado quilate envolvidos no mensalão. Aí vem o criador do “domínio dos fatos” e diz que a coisa toda estava errada e que os juízes do STF não tinham compreendido direito o “domínio dos fatos” etc. e tal. Este princípio será aplicado em todos os casos análogos? Mesmo de forma equivocada?

7 – Por que a perícia da PF, que diz que não houve dinheiro público nas operações analisadas, foi suprimida do processo?

8 – Como é possível que juízes da mais alta Corte, digam com todas as letras, que estavam condenando este ou aquele réu, mesmo sem que houvesse provas para tal? Isso está gravado, além de ter sido transmitido ao vivo pela TV!

Não houve mensalão! Aqueles que estão condenados e neste momento levados às prisões foram julgados ao arrepio da lei.
Alguns não cometeram crime algum, como foi o caso do Gushiken que teve seu nome enlameado pela mídia e, apesar de todos os esforços, não houve descaramento suficiente para envolvê-lo até o final do processo.
Creio que o mesmo ocorre com Genoíno.
Outros cometeram crimes eleitorais, crimes estes cometidos em todas as campanhas, desde 1989, ou já esquecemos o que foi o governo Collor? Ou esquecemos a compra de votos para o projeto da reeleição de FHC? Os anões do orçamento? A máfia dos sanguessugas? Ou, para concluir, o maior de todos os escândalos da República: o programa de privatização do governo FHC, tão bem retratado e documentado no livro “A privataria tucana”?
No cerne de todos esses problemas: um sistema político remendado, com uma lógica perniciosa aos interesses públicos e financiado pela iniciativa privada!
Por isso a necessidade da reforma política, mas não aquela acertada pelas elites dominantes e carimbadas pela mídia, uma reforma amplamente discutida pela sociedade, que traga uma nova maneira de fazer política e que tenha financiamento público das campanhas.
Juntamente com tal reforma a sociedade tem que estabelecer uma regulação da mídia, que garanta pluralidade e que não censure, mas que imponha pesadas penas para a ofensa, destruição de reputações e outras iniquidades praticadas pela mídia de esgoto, que ponteia em nosso país!