25.4.09

Ajudando a entender os assuntos "quentes" da semana

Claro que tem o clássico de domingo, assunto que não pode faltar, afinal decisão do Campeonato Paulista de Futebol envolvendo Corinthians e Santos é conversa para mais de metro, como se diz lá em Minas Gerais.
Mas teve o bate-boca no STF. A grande mídia ficou do lado do Gilmar Mendes, assim como se coloca sempre ao lado do Daniel Dantas. Já a blogosfera fechou, majoritariamente, com o ministro Joaquim Barbosa.
Quer entender a razão?
Veja a seguir cenas de denúncias explícitas:



A Veja condena o ministro Joaquim Barbosa e ainda por cima usa de preconceito da sua manchete, clique aqui (se tiver estômago para suportar a leitura do panfletão da Abril) e leia o máximo do pensamento da mídia de esgoto.
Desta vez, pelo menos, não culparam o Lula e o PT pelas desavenças.
No site do Luis Nassif Online tem até poesia sobre o tema, clique aqui e leia.
O Luiz Carlos Azenha, no Vi o mundo, abre para apoios, inclusive o de Nita Freire (é só clicar aqui para ir até o texto). Aqui o Azenha reproduz um texto, brilhante, do Mauro Santayana, publicado no JB do dia 24/4/09, imperdível!
A CartaCapital dá capa para o ministro Joaquim Barbosa. Um texto muito equilibrado e, como sempre, coloca os pingos nos “is”, ou seja, trata o fato como fato e opinião como opinião. Clique aqui e leia o editorial desta semana, assinado por Mino Carta.
Mudando de assunto temos o escândalo da vez: as passagens usadas pelos senhores deputados e senadores da república (assim mesmo, com letras pequenas).
É cortina de fumaça!
Não que a discussão não seja merecida, é claro que é!
Mas o problema é bem maior, a discussão verdadeira deveria ser ética e ter como centro a distinção entre as coisas públicas e as coisas privadas.
Esse é um problema que assola toda a sociedade. Não sabemos distinguir o que é público e o que é privado.
A cultura política do nosso país propiciou este descalabro.
Eu diria mais, esse negócio das passagens aéreas é troco miúdo!
Não custa lembrar que temos vários assuntos pendentes:
- a constituição da BrOi: empresários compram empresa de telefonia sem desembolsar um tostão! Vejam o que diz o site especializado Teletime (é só clicar no link);
- o episódio da Alstom (leiam aqui a coletânea de matérias feita por um blog petista sobre o tema).
Em temas como estes temos os verdadeiros assaltos ao erário público!
Sem contar os vários outros "negócios" que cercam as doações para partidos políticos (de oposição e situação nas varias esferas de governo), por exemplo.
Discutir cada escândalo serve apenas aos interesses momentâneos, tanto é que a mídia, com raras exceções, dificilmente dá seguimento às denuncias.

A Folha de S. Paulo aderiu ao padrão Veja de contar a sua "verdade"

Recentemente a Folha de S.Paulo reproduziu uma ficha da ministra Dilma como se fosse um documento do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) - temido órgão da repressão que muito atuou na Ditadura Militar.
Soube-se depois que o documento não era verdadeiro.
O jornal teve uma atitude sensata, mas, como no epsiódio da "ditabranda", não reconheceu o erro por completo. Leiam o trecho de matéria da Folha de hoje sobre o acontecido:

"Autenticidade de ficha de Dilma não é provada
Folha tratou como autêntico documento, recebido por e-mail, com lista de ações armadas atribuídas à ministra da Casa Civil

Reportagem reconstituiu participação de Dilma em atos do grupo terrorista VAR-Palmares, que lutou contra a ditadura militar

DA SUCURSAL DO RIO

A Folha cometeu dois erros na edição do dia 5 de abril, ao publicar a reprodução de uma ficha criminal relatando a participação da hoje ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no planejamento ou na execução de ações armadas contra a ditadura militar (1964-85).
O primeiro erro foi afirmar na Primeira Página que a origem da ficha era o "arquivo [do] Dops". Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não pode ser assegurada -bem como não pode ser descartada.
A ficha datilografada em papel em tom amarelo foi publicada na íntegra na página A10 e em parte na Primeira Página, acompanhada de texto intitulado "Grupo de Dilma planejou sequestro de Delfim Netto". "
Quer dizer: não temos prova de que seja verdadeira, mas também não temos prova de que seja falsa.
Então publique-se assim mesmo e danem-se os fatos e os leitores!
O descaramento não tem limite!

20.4.09

Feridas abertas da fome

A apresentação que segue é de doer!
Soco na cara!
Recebi do amigo e colega de labuta André Guibur e, pesquisando, descobri que já circula na rede faz algum tempo.
Antes tarde do que nunca.
Neste tempo em que tantas pessoas não têm causa para lutar eis aí uma ótima e justa!
Para quem é assinante do UOL e só clicar aqui para ter acesso ao caderno especial, que serviu de base para a apresentação, publicado no Jornal do Commercio da cidade de Recife (PE).
Parabéns ao autor da apresentação!

19.4.09

A vitória da garra sobre a soberba

O futebol apaixona por que não tem lógica. Tentam construir modelos matemáticos para explicá-lo, mas todos são, invaravelmente, contrariados.
Desta vez os torcedores do São Paulo contavam com o "fator campo".
A diretoria fez a sua parte: manteve conta de mandante, deixando poucos ingressos para o visitante e um diretor boquirroto chamou Ronaldo - o Gordo - de ex-jogador em atividade.
A torcida do Corinthians era mesmo inferior, fato raro em se tratando de jogo em território nacional e inusitado em se tratando de semi-final do campeonato paulista.
Muricy Ramalho, o rei da retranca, também fez seu show: os jogadores subiram para o gramado vestindo uma homenagem ao Rogério Ceni - goleiro recém aposentado do tricolor do Morumbi - escondendo assim a escalação, até segundos antes do início da partida.
Mas ao São Paulo faltou alma, garra e desejo de ganhar. Isso sobrou para a galera do Terrão de Itaquera, ainda que somados de estrelas.
No gramado do Morumbi desfilaram Felipe; Alessandro, William, Chicão e André Santos ; Cristian, Elias e Douglas; Jorge Henrique, Dentinho e Ronaldo.
Diego entrou no lugar do André Santos e jogou igual gente grande! Morais e Boquita também participaram da festa!
Impagável mesmo foi o grito de olé da fiel torcida, naquele cantinho do Morumbi, enquanto o time tocava bola, de pé em pé, e o time do São Paulo em desacanto desmoronava em campo.
Deliciem-se:

17.4.09

Reportagem sobre o Vietnã

Existem jornalistas que ainda valem a pena ler, ver ou ouvir.
Dentre o seleto grupo de brasileiros nesta área, Luiz Carlos Azenha é nome certo.
A Rede Record tem mostrado uma série de matérias que ele fez no Vietnã.
Compensa!
Abaixo a primeira parte, existem outras no Youtube:

Eldorado dos Carajás: ainda a impunidade

O assassinato dos trabalhadores do campo e de suas lideranças continua ato de rotina Brasil adentro.
Claro que o Presidente Supremo, Gilmar Mendes, assim como outras autoridades da República, e a grande mídia não demonstram o mesmo assombro e a mesma pressa de justiça como quando se trata de um rico, ou a vítima é do lado dos latifundiários.
O Brasil segue sendo destaque no noticiário internacional por conta desses episódios e eles se repetem indefinidamente.
Ainda vivemos numa terra de pistolagem e, se a serviço dos poderosos, eles, os pistoleiros, podem dormir todos os dias com a certeza da impunidade. Sejam pistoleiros que fazem uso do "38" e das automáticas, seja pistoleiros sediados em confortaveis escritórios de lavagem de dinheiro, a turma do "colarinho branco".
A seguir transcrevo parte da matéria da Agência Brasil sobre o "aniversário" do massacre de Eldorado dos Carajás. Compensa uma visita ao artigo, com especial atenção ao menu lateral, com uma série de bons links sobre o tema.

Movimentos ainda cobram punição de agentes públicos pelo Massacre de Carajás
Marco Antonio Soalheiro Repórter da Agência Brasil


Brasília - Passados 13 anos, uma das ações policiais mais violentas registradas no meio rural ainda deixa seqüelas e sentimentos contrastantes para quem a vivenciou. Em 17 de abril de 1996, a Polícia Militar do Pará entrou em confronto com um grupo de 1.500 trabalhadores sem terra acampados no sul do estado. O objetivo era tirá-los do local e desobstruir a Rodovia PA-150, ocupada em um protesto do movimento contra a demora na desapropriação de terras para reforma agrária . Até hoje, ninguém foi efetivamente responsabilizado pela ação que resultou na morte de 19 militantes, centenas de feridos e que ficou conhecida como Massacre de Eldorado dos Carajás.
Dos 144 policiais que responderam a processos, 142 foram absolvidos e apenas dois condenados. Estes ainda estão em liberdade. São eles o coronel Mário Collares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira, condenados a mais de 100 anos de prisão. Um recurso está há alguns anos sob avaliação da ministra Laurita Vaz , do Superior Tribunal de Justiça (STJ).
Cerca de 90 policiais que participaram da ação foram, em setembro do ano passado, promovidos a cabo. O governador do estado à época, Almir Gabriel, o secretário de Segurança Pública, Paulo Sette Câmara, e o comandante-geral da Polícia Militar, Fabiano Lopes, não responderam judicialmente pela atuação policial. A ausência de responsabilização mais ampla gera o inconformismo dos movimentos sociais.
“Infelizmente, a impunidade tem sido a marca principal da atuação da Justiça em relação aos crimes no campo no estado do Pará. O Massacre de Carajás é um exemplo típico. Desde que foi instaurado o processo criminal, houve dificuldades impostas pelo Estado no sentido de fazer uma investigação como deveria, para individualizar responsabilidades e levar aos autos as provas necessárias para a condenação de todos aqueles que participaram do massacre”, criticou, em entrevista à Agência Brasil, o advogado da Comissão Pastoral da Terra (CPT) no Pará, José Batista Afonso, que acompanhou a tramitação do caso na Justiça.

Clique aqui para ler o restante da matéria.

14.4.09

Cimento, cocaína e um colunista ensandecido - do OI

Estou devendo mais postagens e reflexões de próprio punho (ou seria teclado?). Mas, compreendam, é fechamento de trimestre (sim, algumas escola optaram por trimestre, ao invés do bimestre) e o aperreio tá demais da conta.
Por isso vou repassando leituras e alguns momentos de deleite com boa música que estou garimpando no Youtube.
Aliás, gostaria de recomendar aqui o blog www.umquetenha.blogspot.com, sensacional! Música de excelente qualidade!
Hoje gostaria de reproduzir um texto na íntegra, que acabo de ler no Observatório da Imprensa.
Aí está:

LEITURAS DE VEJA
Cimento, cocaína e um colunista ensandecido
Por Luiz Antonio Magalhães em 14/4/2009
Diogo Mainardi adora provocar polêmica. Nem sempre é feliz: algumas vezes consegue criar enorme barulho, em outras passa apenas despercebido. Ironia e sarcasmo são algumas das armas que o colunista da revista Veja sempre utiliza para tentar obter o efeito desejado. Quem acompanha os escritos de Mainardi conhece bem suas posições políticas, tão explicitamente alardeadas e que podem ser sintetizadas na confissão do próprio colunista, em um texto publicado em agosto de 2005: "Quero derrubar Lula". É simples assim, não tem jeito de não entender.
Na edição corrente de Veja (nº 2108, com data de capa de 15/04/2009), Mainardi volta a citar o presidente da República no título de sua coluna, reproduzida ao final deste artigo. "O Lula shakespeariano" poderia ser apenas um texto cômico, uma piada meio sem graça, dessas que nem todo mundo entende. Talvez a melhor coisa seja não levar a sério o que diz o colunista, como se faz com as brincadeiras às vezes bem agressivas dos palhaços de circo. Em certos casos, porém, vale a pena entrar no jogo de Mainardi – por trás das ironias e das palavras bem escolhidas está uma ideologia consumida pelos milhões de brasileiros que assinam ou compram Veja nas bancas.
No texto em questão, a ironia de Mainardi é dirigida ao corte do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados) em alguns produtos, em especial o cimento, que o jornalista considerou pequeno. Tal ironia pode ser compreendida na comparação feita entre a medida tomada por Lula em relação ao IPI e o esforço de Barack Obama para recuperar a economia dos Estados Unidos – segundo Diogo Mainardi, o presidente norte-americano "está aumentando o déficit público, num prazo de dez anos, em cerca de 6 500 000 000 000 de dólares (com todos os zeros)", ao passo que Lula teria conseguido reduzir "o custo do saco de 25 quilos de cimento em cerca de 40 centavos (com todos os zeros)".
Até aqui, nenhum problema, certos analistas econômicos meio chinfrins que se lêem por aí devem até concordar com a mui justa comparação de Mainardi. IPI brasileiro e déficit público americano, tudo a ver. Mas vamos em frente.
O que vem na sequência de tão estapafúrdia comparação é que realmente choca no texto de Mainardi: "No Brasil, ao contrário, o corte do IPI do cimento ajudará, indiretamente, uma indústria próspera: a do comércio de drogas. Em primeiro lugar, estimulando o crescimento das favelas. Encasteladas nos morros, elas correspondem, para os traficantes, às fortalezas medievais: Comando Vermelho e William Shakespeare. Em segundo lugar, subsidiando a cocaína. Algumas semanas atrás, o Globo mostrou que os traficantes da Rocinha (o rei do tráfico – o Henrique IV da Rocinha – é conhecido como Nem) misturam cimento à cocaína. O que fez o governo? Zerou o IPI da cocaína por três meses, garantindo uma economia de 40 centavos a cada 25 quilos. Isso sim é uma medida anticíclica", escreveu o colunista de Veja.
Favelado é traficante
É muito raro ver tanto preconceito junto em um só parágrafo. Na verdade, é realmente incrível que tamanha sandice tenha sido publicada. Sim, trata-se de um texto humorístico e no humor vale qualquer coisa, mas o que vai acima não chega a ter muita graça, lembra as piores e mais infames piadas racistas. Em menos de dez linhas, Mainardi reforça as idéias de que quem mora na favela é traficante, de que é preciso conter o crescimento das favelas e o de que o problema do tráfico de droga está no traficante, e não na sociedade. Tudo isto para não falar da risível acusação ao governo Lula, qual seja a de subsidiar o tráfico por meio da redução de impostos para... cimento. Aí realmente não dá nem para levar a sério, é apenas uma piada nonsense.
Analisando um pouco mais a fundo, estão presentes no texto de Mainardi alguns dos chavões que a classe média brasileira mais gosta, porque jogam no colo do governo problemas sociais bastante complexos e de difícil solução – a questão da droga e da favelização dos grandes centros urbanos. Diogo Mainardi reforça sutilmente a idéia de que a solução é "jogar uma bomba nos morros e acabar com os favelados", tão presente no discurso nem sempre tão envergonhado de certa classe média ultradireitista. Também com a mesma "sutileza" o colunista procura vincular o presidente Lula aos dois pólos negativos de seu texto – drogas e favelas –, apresentando-o como um aliado dos traficantes e dos pobres habitantes dos morros. Assim, fecha-se o círculo: ideal mesmo seria "jogar uma bomba nos morros com o Lula e toda a sua corja lá dentro" – mata-se os traficantes e de quebra devolve-se o país ao governo dos homens bons.
Mainardi gosta de fazer graça e há quem ria das suas brincadeiras, mesmo sem entender direito o que conduz o tipo de humor que o colunista é (bem) pago para fazer. A liberdade de expressão evidentemente comporta este tipo de texto, como suportava, em priscas eras, os editoriais ("Basta!" e "Fora!", no Correio da Manhã) que pediam exatamente o que Diogo Mainardi já pediu em 2005: a derrubada de um governo – constitucionalmente eleito, diga-se de passagem. Se é para rir, melhor pelo menos entender a piada.

10.4.09

Parece que o novo ENEM virá...

A notícia abaixo foi publicada ontem na Agência Brasil.
Num primeiro olhar parece-me positiva, a unificação torna a vida do estudante mais fácil, ao mesmo tempo em que aproveita melhor as vagas das federais.
Tomara que a boa intenção se transforme em boa prática e diminua a tortura do vestibular, pelo menos para aqueles que almejam uma universidade federal.


Prova que vai substituir vestibular das universidade federais será aplicada em outubro

Amanda Cieglinski
Repórter da Agência Brasil

Brasília - O novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que deverá fazer o papel de vestibular unificado para as universidades federais, já tem data marcada: 3 e 4 de outubro. O cronograma apresentado ontem (8) aos reitores das instituições prevê a divulgação dos resultados da prova objetiva em 2 de dezembro e da redação em 8 de janeiro de 2010. Pelos cálculos do Ministério da Educação (MEC), o novo exame deverá ter a participação de 4 a 5 milhões de estudantes, em vez dos atuais 3 milhões.
A partir da divulgação dos resultados, o aluno irá se inscrever em um sistema online a partir do número do CPF. O sistema que será semelhante ao usado na seleção de bolsas do Programa Universidade para Todos (ProUni). O estudante deverá escolher cinco opções de cursos, que podem ser em uma mesma universidade ou em instituições federais diferentes. A partir dessa inscrição, o candidato poderá monitorar diariamente como está a concorrência para os cursos escolhidos. Ele poderá alterar, a qualquer momento, a opção que pretende disputar.
“Na prática, o estudante concorre a todas as vagas das universidades federais. A partir do momento que ele percebe que suas chances são menores em um curso específico, ele pode migrar”, explicou o ministro da Educação, Fernando Haddad. Caso o estudante não seja selecionado para o curso que marcou como prioridade, ele pode ser aprovado para a sua segunda opção, de acordo com a sobra de vagas.
Segundo o ministro, esse sistema só poderá ser utilizado pelas universidades que adotarem o Enem como prova única de seleção. Ou seja, aquelas que quiserem aplicar uma segunda fase além do exame nacional não incluirão as suas vagas nesse sistema. “Se a primeira opção do aluno é um curso em que é exigida mais uma fase, ele poderá ser prejudicado, porque, se ele não passar na segunda fase, aquela vaga que ele marcou na segunda opção já terá sido preenchida”, disse.
Haddad ressaltou que os modelos de avaliação seriada adotados por algumas instituição, como a Universidade de Brasília (UnB), não ficam impedidos de existir com o sistema unificado. A universidade poderá reservar parte das vagas para essas formas de seleção, bem como para as políticas afirmativas de cotas. O sistema permitirá ainda que a instituição atribua pesos distintos às notas do aluno nas diferentes provas do Enem. O mecanismo já é usado por algumas seleções que dão maior peso ao resultado das provas da área de exatas, por exemplo, ao selecionar um aluno para o curso de engenharia.
O novo Enem será formado por quatro provas e uma redação que devem ser aplicadas em dois dias. A idéia é que sejam realizados testes de linguagens e códigos, matemática, ciências naturais e ciências humanas, cada um com 50 itens.
Um termo de referência com todos detalhes técnicos foi entregue ontem aos reitores que irão discutir nas universidades se vão aderir ao novo Enem como forma de seleção em substituição ao vestibular. De acordo com Haddad, o ministério ainda não contabilizou quantas instituições manifestaram esse interesse. Mas ele voltou a afirmar que a proposta tem sido bem aceita.
“As instituições têm toda a liberdade para não aderir, aderir como unificado ou aderir parcialmente. Acho que o debate amadureceu nos últimos anos ”, avaliou. Também já foi criado um comitê de governança que será responsável pela criação desse novo modelo de vestibular. Fazem parte do grupo as universidades federais, os secretários estaduais de Educação e o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo Enem.
Ontem o ministro se reuniu com a presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Maria Auxiliadora Seabra, para apresentar o novo modelo. Segundo ele, a proposta foi recebida com “satisfação” porque as mudanças pensadas para o ensino médio não podiam sair do papel, uma vez que a etapa era muito voltada ao atual modelo de vestibular. “Finalmente será possível fazer a reestruturação do ensino médio, que hoje é completamente subordinado a um processo [os vestibulares] de que eles [secretários de Educação] não participam”, afirmou.
Na próxima semana, Haddad se reunirá mais uma vez com os reitores das universidades federais para acompanhar a aceitação da proposta.
É esperar para ver, parece ser boa notícia para os estudantes do Ensino Médio.

6.4.09

Cartas da Mãe

Filme no PortaCurtas
Cartas da mãe é uma crônica sobre o Brasil dos últimos 30 anos contada através das cartas que o cartunista Henfil (1944/1988) escreveu para sua mãe, Dona Maria.
Estas cartas, publicadas em livros e jornais, são lidas pelo ator e diretor Antônio Abujamra enquanto desfilam imagens do Brasil contemporâneo.
Política, cultura, amigos e amor são alguns dos temas que elas evocam, criando um diálogo entre o passado recente do Brasil e nossa situação atual. Artistas, políticos e amigos de Henfil, entre eles o atual Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva, o escritor Luis Fernando Veríssimo, os cartunistas Angeli e Laerte e o jornalista Zuenir Ventura, falam sobre a trajetória do cartunista dos anos da ditadura militar até sua morte.
Animações inéditas de seus cartuns complementam o documentário.

Assista clicando no título: Cartas da Mãe

4.4.09

Os muros agora são para as favelas

CartaCapital -nº 540

Acabo de ler um texto na CartaCapital - Favelas no paredão (clique no título para ir até ele) - sobre os muros que isolarão as favelas cariocas.
Um pouco depois, no Fazendo Média, deparo-me com texto - brilhante - da professora Adriana Facina (UFF), vejam um trecho:

A recente cobertura da grande mídia sobre as favelas cariocas tem me chamado à atenção. Pauta obrigatória e diária, as favelas aparecem ora como ameaça ecológica, ora como alvo de políticas públicas que são consideradas bem sucedidas e, nesta semana, como focos da violência que se expande pelo asfalto e assusta os moradores de bairros tradicionais da Zona Sul. Em todas as notícias, muitas mentiras são continuamente reiteradas, demonstrando, ao mesmo tempo, uma intenção ideológica clara de criminalizar a população favelada e defender soluções coercitivas para seu controle (vide as ocupações policiais do Dona Marta e da Cidade de Deus), bem como um olhar de classe média que informa a cobertura jornalística. Os repórteres e editores possuem um estranhamento tão profundo em relação ao mundo dessas populações que raramente aguçam ouvidos e olhos para perceber essas realidades sob outros ângulos. Desse modo, vários clichês são repetidos como verdades inquestionáveis.

Leiam o restante aqui.





3.4.09

A lista

Às vezes uma canção, um livro ou um filme sacodem a poeria dos nossos pensamentos e agitam nosso cotidiano.
Outro dia ouvi uma música cantada por Osvaldo Montenegro e gostei da letra. Estava no trânsito - infernal diga-se de passagem - de São Paulo e não prestei atenção ao nome.
Hoje, quando voltava de São José dos Campos, na calmaria da rodovia Carvalho Pinto, ouvi-a novamente e redobrei a atenção.
Linda a letra e bonita melodia!
Em casa corri no Youtube e achei a preciosidade:


Veja a letra e minhas interferências:


A Lista

Oswaldo Montenegro

Faça uma lista de grandes amigos
Quem você mais via há dez anos atrás

Podem ser 30 anos?
Eram amigos de todos os dias e todas as horas
Inseparáveis!

A lista era enorme...


Quantos você ainda vê todo dia

Hoje, apenas por e-mail, orkut ou msn
Assim mesmo, poucos e raros

Quantos você já não encontra mais


Quase todos..

Faça uma lista dos sonhos que tinha


Apenas mudar o mundo e, depois, mudar o mundo mudado (Brecht)

Quantos você desistiu de sonhar


Todos aqueles que não possam contribuir com o cotidiano

Quantos amores jurados pra sempre

Alguns, importantes e para todo o sempre

Quantos você conseguiu preservar


Nenhum, mas consquistei novos...

Onde você ainda se reconhece

Na foto passada ou no espelho de agora

Hoje é do jeito que achou que seria?


Não é não! Queria um outro mundo para o meu filho
Muito melhor do que aquele que eu tive

Quantos amigos você jogou fora


Perdi-os pelos caminhos e descaminhos

Quantos mistérios que você sondava

Quantos você conseguiu entender


Faltam alguns:
As mulheres!

A origem da vida
Por que amamos?
Por que sonhamos?
Por que existe a injustiça?

Quantos segredos que você guardava

Hoje são bobos ninguém quer saber


Muitos e depois partilhados com os amigos
Motivo de muito riso


Quantas mentiras você condenava


Todas as das relações humanas

Quantas você teve que cometer

Algumas poucas

Quantos defeitos sanados com o tempo

Eram o melhor que havia em você


Isso é o pior
Minha espontaneidade foi-se com a maturidade
A coragem diminuiu por força das necessidades
A capacidade de doação por força do egoísmo da vida

Quantas canções que você não cantava


Isso eu não mudei...

Hoje assobia pra sobreviver


Continuo conservador nesse campo

Quantas pessoas que você amava

Hoje acredita que amam você

Então...

O marxismo e o século XXI: debate na Carta Maior



Carta Maior lança debate: o Marxismo e o Século XXI

A Carta Maior lança a partir de hoje um seminário virtual sobre a obra de Karl Marx e os problemas que afetam a humanidade neste início do século XXI. Diante da grave crise econômica, política e social, decorrente das políticas do modelo neoliberal implementado nas últimas décadas no mundo, o pensamento do autor alemão voltou à ordem do dia. A nova editoria terá a curadoria do professor Francisco de Oliveira, que escreverá e convidará, mensalmente, intelectuais para abordar o tema num debate que se estenderá até o final do ano e procurará oferecer respostas à pergunta: o que Marx tem a dizer sobre os problemas do século XXI?

Francisco de Oliveira - Texto de apresentação

O marxismo seguramente foi a doutrina mais importante do século XX, no amplo sentido de um “campo” (Bourdieu) ou ainda no sentido de ideologia (Gramsci) e não no dos próprios Marx e Engels. (como doutrina dominante da classe dominante.) A tal ponto que se pode dizer que o século XX foi o século do marxismo.
A partir das formulações originais da dupla Marx-Engels, o marxismo foi se constituindo numa concepção de história, numa visão de mundo, numa prática de luta, numa política, diretamente na crítica ao capitalismo, seu inimigo figadal. Desde o século XIX, formações partidárias nitidamente operárias criaram-se inspiradas nas idéias da dupla, tais como o prestigioso Partido Social-Democrata alemão, do qual o próprio Engels foi militante e dirigente, e o Partido Socialista Operário Espanhol. Todos os demais partidos de origem operária na Europa Ocidental, e mesmo na Índia, tinham o marxismo como sua orientação teórico-prática mais consistente.
Deve-se dizer, sem apologia acrítica, que esse vasto campo construiu-se cheio de contradições, que fizeram sua riqueza, até que a mão pesada do Partido Bolchevique, vitorioso na Revolução de 1917, em seguida Partido Comunista da URSS, converteu o marxismo num dogma, e matou, em grande medida, sua capacidade criadora, que requer, antes de tudo, sua própria autocrítica. O marxismo havia chegado à Rússia pelas mãos de teóricos do calibre de Plekhanov, e deu origem imediatamente a um movimento político que tomou explicitamente a forma de partido lutando pela Revolução e pelo poder, com seus dirigentes que se transformaram em condotiere mundiais, Lênin e Trotsky, para citar apenas estes.
Todos os partidos de origem operária o tinham como sua referência principal, salvo, talvez, e ironicamente, o Partido Trabalhista britânico onde o fabianismo e a rejeição à revolução logo dominaram a cena trabalhista inglesa, na contramão de Marx que havia pensado que o crescimento do operariado faria aparecer um pensamento e uma prática revolucionárias. Mas nunca deixou de haver não só uma fração de trabalhistas ingleses marxistas, como uma tradição teórica, sobretudo na área da História, como o prova até hoje, Hobsbawm, e ontem, Laski, na teoria política. Mas a contribuição do velho Labour para a formação das políticas do Estado do Bem-Estar talvez tenha sido a mais importante. Esse vasto movimento chegou até as ex-colônias. O Brasil conheceu a formação de seu Partido Comunista já em 1922.
Mesmo refluindo das posições revolucionárias, os partidos de origem social-democrata mais que influenciar, de fato, inseriram as lutas sociais para sempre na política. Todo o vasto movimento do Estado do Bem-Estar radicou na capacidade de operação dos partidos de origem operária, a socialização da política a que aludia Gramsci, o que elevou o nível de vida nos países do Ocidente capitalista a níveis que deixaram o programa inicial de Lênin como mero exercício teórico. Aliás, o “pequeno grande sardo” é um dos marxistas mais originais e criativos, que contribuiu poderosamente para que o próprio marxismo entendesse e explicasse as democracias ocidentais.
Recusando-se a fazer da política uma dedução da economia – o que, infelizmente, ocorre hoje – Gramsci, nos cárceres do fascismo mussolinista, deu as diretrizes que tornaram o então Partido Comunista Italiano o mais original e o mais capacitado a dirigir a nova Itália democrática. Aqui, mais uma vez, a história pregou uma peça: o progresso italiano, de que o partido de Gramsci foi o avalista em parceria – o “compromisso histórico” – com os cristãos do Partido da Democracia Cristã, terminou por solapar as bases sociais de ambos, e o PCI mergulhou numa longa decadência da qual há apenas vestígios em meio às ruínas das grandezas de Roma.
Mas o marxismo carrega nas costas o pesado fardo do estalinismo e do terror soviético, sem que os marxistas tenham, até hoje, revelado a capacidade de explicar, marxisticamente, a tragédia em que desembocou a revolução mais radical da era moderna. Não é suficiente a explicação materialista-vulgar de que todas as grandes revoluções comeram seus próprios filhos; tampouco justificar a cruel ditadura do georgiano – que na verdade já se ensaiava sob Lênin - pelas realizações técnico-científicas da ex-URSS: todos os marxistas nunca deveriam esquecer a lição do próprio Marx e dos frankfurtianos de que “progresso e barbárie” sempre formaram na história universal uma terrível unidade.
A partir de certo momento, ficou muito evidente que o “marxismo soviético” (a expressão é de Marcuse) não era outra coisa senão uma doutrina de grande potência arrogantemente usurpadora das tradições marxistas. Mesmo a crítica trotkysta, que cedo viu a “degeneração burocrática” do Partido, e a também ainda mais precoce crítica de Rosa Luxemburgo, junto com a postura de Kautsky, não foram suficientes – nem o poderiam ser, já que o terror estalinista mal havia mostrado suas garras já sob a criação da temível e terrível Cheka sob Lênin.
Nos fins do século que acabou, talvez nas pegadas da explicação de Perry Anderson para o que ele chamou de “marxismo ocidental”, a combinação da desestruturação produtiva, com a revolução técnico-científica e paradoxalmente o próprio progresso levado a cabo pelo Estado do Bem-Estar desbarataram a própria classe operária e seus partidos social-democratas e comunistas; o “marxismo ocidental” descolou a reflexão teórica da perspectiva revolucionária. Deixou de influenciar a política e, pois, a luta de classe organizada, e refugiou-se nos trabalhos acadêmico-científicos. Mesmo assim, na universidade, que apenas durante um curto período – uns 40 anos, se tanto – abriu-se para o marxismo, o movimento também refluiu.
Mas, surpreendentemente, a força criadora do marxismo abriu novas fronteiras, mesmo em terrenos que lhe eram anteriormente hostis e com os quais, ele mesmo, teve relações conflitivas e lhes dirigiu anátemas dogmáticos. É o caso das religiões- antes o “ópio do povo”, da psicanálise, - uma ciência do inconsciente da justificação burguesa dos seus próprios crimes -, da própria literatura (nos caminhos já originalmente pensados por Lukacs), na critica da cultura e da modernidade – os frankfurtianos – da hegemonia norte-americana, Gramsci e seu “americanismo e fordismo”. Esses terrenos todos foram imensamente fecundados pelo marxismo, que lhes ampliou os horizontes.
A pergunta que essa curadoria quer fazer é direta: e o século XXI e no século XXI? O que o marxismo pode vir a ser, o que o marxismo tem a dizer? O século abriu-se com a maior crise econômica, mundial, global, desde os dias da Grande Depressão de Trinta. Mesmo sobre esta, o que o marxismo disse “no calor da hora” não honrou muito as tradições da economia política marxista, que é seu terreno e sua certidão de nascimento. Economistas como Ievguin Varga passaram a certidão de óbito do capitalismo na crise de 1929. E agora, que crise é esta? François Chesnais tem dado orientações teóricas muito férteis, sobre a transição para um regime de acumulação à dominância financeira. E que mais?
Não há marxismo sem marxistas; estes não são muitos, hoje, no Ocidente. No Brasil, às vezes tem-se a impressão de que o marxismo floresce, sobretudo na universidade, na área de humanas, e ilumina muitos nichos da crítica. Mas nos partidos de esquerda, o marxismo é quase sempre um indesejado e no operariado ele é mais, é desconhecido. Operariado, aliás, hoje multifacetado, reduzido nos locais produtivos, abundante nos locais de serviço, milhões nos trabalhos informais, uma grande classe não-classe. Será possível combinar reflexão criadora, novas interpretações do mundo, descoladas do trabalho?
As explorações sobre essas intrigantes questões não se farão com um marxismo ensimesmado, sectário e doutrinário; mas não se trata de proclamar um ecletismo despolitizado: as interrogações partem da tomada de posição de que o marxismo pode ainda alimentar as lutas pela transformação social e política, senão com a transcendência e abrangência mostradas no século XX, pelo menos com uma postura crítica que não se deixará seduzir nem pelo apocalipse nem pelo conformismo. Em suma, um marxismo dialógico e dialético.
Clique aqui para ler na fonte.