18.11.11

Vazamento no RJ: Chevron é a responsável

A mídia começou a se manifestar ontem sobre esse vazamento, se fosse a Petrobras já teria uma galera produzindo marchas com vassouras e outros fazendo vídeo do tipo "Gota de óleo"...

1.11.11

Maria Inês: Guia de boas maneiras na política e no jornalismo

Segue um brilhante texto da Maria Inês Nassif, abordando o tratamento que Lula recebeu de parte da imprensa e de seus adversários políticos, quando da divulgação do câncer que o afeta.
Fiquei entristecido com comentários, principalmente no Facebook, de ex-alunos, pessoas com elevado nível de escolarização, partidarizando a doença. Lamentável!
Fiquem com o texto:

Maria Inês: Guia de boas maneiras na política e no jornalismo
do Vermelho.org.br

A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso.

Por Maria Inês Nassif, em Carta Maior

A cultura de tentar ganhar no grito tem prevalecido sobre a boa educação e o senso de humanidade na política brasileira. E o alvo preferencial do “vale-tudo” é, em disparada, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Por algo mais do que uma mera coincidência, nunca antes na história desse país um senador havia ameaçado bater no presidente da República, na tribuna do Legislativo. Nunca se tratou tão desrespeitosamente um chefe de governo. Nunca questionou-se tanto o merecimento de um presidente – e Lula, além de eleito duas vezes pelo voto direto e secreto, foi o único a terminar o mandato com popularidade maior do que quando o iniciou.
A obsessão da elite brasileira em tentar desqualificar Lula é quase patológica. E a compulsão por tentar aproveitar todos os momentos, inclusive dos mais dramáticos do ponto de vista pessoal, para fragilizá-lo, constrange quem tem um mínimo de bom senso. A campanha que se espalhou nas redes sociais pelos adversários políticos de Lula, para que ele se trate no Sistema Único de Saúde (SUS), é de um mau gosto atroz. A jornalista que o culpou, no ar, pelo câncer que o vitimou, atribuindo a doença a uma “vida desregrada”, perdeu uma grande chance de ficar calada.
Até na política as regras de boas maneiras devem prevalecer. Numa democracia, o opositor é chamado de adversário, não de inimigo (para quem não tem idade para se lembrar, na nossa ditadura militar os opositores eram “inimigos da pátria”). Essa forma de qualificar quem não pensa como você traz, implicitamente, a ideia de que a divergência e o embate político devem se limitar ao campo das ideias. Esta é a regra número um de etiqueta na política.
A segunda regra é o respeito. Uma autoridade, principalmente se se tornou autoridade pelo voto, não é simplesmente uma pessoa física. Ela é representante da maioria dos eleitores de um país, e se deve respeito à maioria. Simples assim. Lula, mesmo sem mandato, também o merece. Desrespeitar um líder tão popular é zombar do discernimento dos cidadãos que o apoiam e o seguem. Discordar pode, sempre.
A terceira regra de boas maneiras é tratar um homem público como homem público. Ele não é seu amigo nem o cara com quem se bate boca na mesa de um bar. Essa regra vale em dobro para os jornalistas: as fontes não são amigas, nem inimigas. São pessoas que estão cumprindo a sua parte num processo histórico e devem ser julgadas como tal. Não se pode fazer a cobertura política, ou uma análise política, como se fosse por uma questão pessoal. Jornalismo não deve ser uma questão pessoal. Jornalistas têm inclusive o compromisso com o relato da história para as gerações futuras. Quando se faz jornalismo com o fígado, o relato da história fica prejudicado.
A quarta regra é a civilidade. As pessoas educadas não costumam atacar sequer um inimigo numa situação tão delicada de saúde. Isso depõe contra quem ataca. E é uma péssima lição para a sociedade. Sentimentos de humanidade e solidariedade devem ser a argamassa da construção de uma sólida democracia. Os formadores de opinião têm a obrigação de disseminar esses valores.
A quinta regra é não se deixar contaminar por sentimentos menores que estão entranhados na sociedade, como o preconceito. O julgamento sobre Lula, tanto de seus opositores políticos como da imprensa tradicional, sempre foi eivado de preconceito. É inconcebível para esses setores que um operário, sem curso universitário e criado na miséria, tenha ascendido a uma posição até então apenas ocupada pelas elites. A reação de alguns jornalistas brasileiros que cobriram, no dia 27 de setembro, a solenidade em que Lula recebeu o título “honoris causa” pelo Instituto de Estudos Políticos de Paris, é uma prova tão evidente disso que se torna desnecessário outro exemplo.
No caso do jornalismo, existe uma sexta regra, que é a elegância. Faltou elegância para alguns dos meus colegas.
* Maria Inês Nassif é colunista política, editora da Carta Maior em São Paulo

Fonte: http://www.vermelho.org.br/noticia.php?id_noticia=167668&id_secao=1

23.10.11

Caco Barcelos e o bom jornalismo

Caco Barcelos é genial! Ele não combina com a Globo, sempre que posso vejo Profissão Repórter. Vejam a aula de jornalismo que ele dá num programa da Globo News:

14.10.11

Não suporto o horário de verão

Inferno!
Santo desconforto! Será que isso compensa mesmo?
Tenho minhas dúvidas quanto à eficácia dessa mudança de horário.
Segundo li no portal Terra (é só clicar aqui para ler também), o horário de verão pode reduzir a produtividade, além de causar outros males, a depender do indivíduo. Alguém já mediu o custo disso?
Segundo nos informa a Wikipédia a ideia brilhante foi de Benjamin Franklin em 1784, mas não conseguiu convencer ninguém da utilidade da proposta – ressalte-se que nem mesmo existia luz elétrica.
Já a Divisão Serviço de Hora nos diz que a ideia foi do britânico William Willett em 1907.
Com todo respeito a ambos, deveriam ter ficado quietos!
Ainda segundo a mesma fonte, o primeiro país a usar do artifício foi a Alemanha durante a 1ª Guerra Mundial, tendo em seguida espalhado a “moda” para a Europa.
No Brasil o horário de verão foi utilizado pela primeira vez em 1931 e, pasmem, aplicado em todo o território nacional, mesmo naquela vasta porção que fica próxima a linha do Equador, portanto com ótima iluminação solar durante todo o ano.
Os defensores desse horário dos domínios das trevas usam argumentos como estes:
- 1% de economia de energia
- EUA e Europa também se utilizam
- redução significativa de consumo no horário de pico
Então por partes:
- será que os prejuízos (produtividade, acidentes de trânsitos, transtornos de saúde etc.) não são maiores do que este 1%?
- EUA e Europa estão fora da Zona Intertropical, portanto a diferença de insolação é substancialmente maior do que no nosso país, tal comparação não se justifica.
- se assim é, então por que não mudamos os horários dos diversos setores de atividade urbana, como comércio, banco, indústria etc., fazendo com haja um “descongestionamento” do tal horário de pico? Isso para sempre, e não apenas no horário de verão.
Eu não suporto tal mudança. Mais de um mês para entrar no ritmo novo e, assim que me acostumo, já está na hora de voltar ao ritmo antigo!
Além do tal horário de verão começar em plena primavera...

PS: esse texto foi publicado em 18.10.09.

11.10.11

Liberdade de expressão: valor inquestionável para o exercício da cidadania

Vagarosamente vamos-nos acostumando a democracia.
Um valor inquestionável para as práticas democráticas – e, principalmente, para o exercício da plena cidadania – é a liberdade de expressão.
Na Constituição de 1988 está escrito (Dos Direitos e Garantias Fundamentais – CAPÍTULO I – DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS):
“IV - é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;
VI - é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e a suas liturgias;”
Hoje presenciamos na mídia uma série de questionamentos quanto aos limites para esta liberdade – impostos por lei ou exigidos por parcela da sociedade para as tais liberdades.
No tocante a questão legal salta aos olhos o impedimento imposto ao jornal O Estado de São Paulo de mencionar as investigações que envolvem a família Sarney. De maneira equivocada o jornal trata o episódio como censura. É uma restrição jurídica.
Com relação às manifestações da sociedade sobre tais limites temos dois casos que considero emblemáticos: o episódio envolvendo Rafinha Bastos e a regulamentação da mídia.
Vamos tratá-los separadamente.
Rafinha Bastos, integrante da trupe que executa o tal stand up comedy – e tratam disso como se tivessem inventado a roda – foi extremamente grosseiro num comentário sobre a gravidez da cantora Wanessa Camargo (clique aqui para ver e ouvir a preciosidade). Aliás, foi apenas mais uma grosseria, dentre as várias outras cometidas por este moço, seja em rede nacional, no programa de TV ou nos seus shows. Piadas de cunho nazifacistóide são comuns no seu repertório.
Só que desta vez ele mexeu com a “minoria” errada: ricos e famosos com poder comercial na TV.
Marcus Buaiz, marido de Wanessa e sócio do Ronaldo Fenômeno, intercedeu junto à emissora de TV que emprega o boçal. Até o momento a notícia que corre é que ele se encontra afastado do programa.
Observem que o afastamento não se dá por conta da piada de mau gosto cometida pelo infante, mas sim pelo alvo que ele escolheu. Tal alvo tem poder de fogo na mídia e por isso o escarcéu.
Programas de TV como o CQC me irritam profundamente. Ora são humoristas, fazendo piadas, ora são jornalistas trabalhando com informação. A versão varia de acordo com a conveniência.
Por essas e outras, se faz necessário uma regulamentação para o funcionamento da mídia. Não é censura, é limite para o poder que a mídia tem, de maneira a garantir justiça e equidade no tratamento dos indivíduos em todos os órgãos de imprensa.
Os dispositivos constitucionais não foram suficientemente regulamentados, permanecem várias lacunas.
Basta lembrar o caso da Escola Base em São Paulo. Vidas foram destruídas, reputações destroçadas e negado o direito ao trabalho a partir da ação inconseqüente de uma autoridade – um delegado – e a divulgação feita pela TV, Rádio, Jornal e Revistas, do episódio. Para recordar o fato clique aqui.
Poderia listar vários outros exemplos, inclusive no campo da manipulação política, como foi o caso da edição do debate entre Collor e Lula na TV Globo nas eleições de 1989. Clique aqui para lembrar.
Ou ainda os artigos que pipocaram na mídia – com particular destaque para a Folha de S.Paulo e a sua colunista Eliane Catanhede – anunciando bombasticamente uma epidemia de febre amarela no país e sugerindo que as pessoas corressem ao posto de saúde mais próximo para se vacinar. Leia aqui sobre isso.
A punição no primeiro caso – Escola Base – demorou décadas. Os envolvidos pagam caro até hoje pela irresponsabilidade da mídia nativa.
Não vou nem falar da revista Veja, mas vejam aqui capas “brilhantes” desta semanal, que transforma mentira e fofoca em jornalismo.
Precisamos de intervenções legais para garantir a isonomia na liberdade de expressão, além de fazer com que descalabros como estes mencionados sejam seriamente apenados, inclusive com indenizações pesadíssimas, similares aquelas praticadas na imprensa europeia ou estadunidense.
Devem ser punidos os veículos e os executores, os profissionais não podem ficar impunes, alegando estrito cumprimento do dever e respeito à hierarquia. Tal argumento não colou nos tribunais argentinos, quando os oficiais de baixa patente tentaram usá-lo para safar-se das punições pelos crimes cometidos na ditadura.

3.10.11

Nosso racismo quer ser suave

Caros amigos e amigas – que acompanham meus textos e indicações de leituras – peço-lhes licença para republicar aqui uma postagem copiada do Vi o Mundo, que buscou no blog Maria Frô. Ela é imensa para os padrões blogueiros, mas necessário que assim seja.
Ainda hoje conversava com um grupo de alunos da 2ª Série do EM sobre a política de cotas e outras políticas afirmativas.
Falei-lhes sobre autores que cometem livros para “provar” que não existe racismo no Brasil.
Nosso racismo é mais dissimulado do que o dos outros, mas mata!
Leiam o que segue e digam-me se não é para sentirmos vergonha!



As duas mortes do Toni

Por João Negrão, especial para o Maria Frô, no blog da Conceição Oliveira

26/09/2011

Quarta-feira, 21 de setembro de 2011, 19 horas, em Jackson, capital do estado da Geórgia, Estados Unidos, Troy Davis, um negro de 42 anos, recebeu a dose letal que o levaria à morte. Condenado por assassinato, Troy Davis deitou-se na maca para receber as injeções repetindo a mesma frase de 22 anos antes, quando foi preso e condenado: “Sou inocente”.
Quinta-feira, 22 de setembro de 2011, por volta das 23 horas, em Cuiabá, capital do estado de Mato Grosso, Brasil, Tony Bernardo da Silva, um negro de 27 anos, africano de Guiné-Bissau, estudante de Economia da Universidade Federal, recebeu um pontapé na traquéia e morreu. O golpe culmina uma sessão de socos e pontapés desferidos por dois policiais e um empresário que duraria em torno de 15 minutos.
Impossível não traçar um paralelo entre as duas mortes.
A primeira foi uma condenação legal, nos moldes da justiça norte-americana, que todos conhecemos, empenhada a condenar negros, ainda que, como é o caso de Troy, haja evidências de inocência. Inclusive depoimento de outro preso assumindo a autoria do crime atribuído a ele. Em vão: Troy não recebeu perdão, não teve a clemência do governador da Geórgia e muito menos direito a recurso na Suprema Corte, dado às evidências de sua inocência.
Difícil não imaginar que se trata de mais um caso de racismo como os que pontuam a crueldade do sistema jurídico e a sociedade racista dos Estados Unidos, especialmente nos estados sulistas como a Geórgia.
Como é difícil não suspeitar que o caso do Toni foi uma expressão pura e cabal de racismo.
Uma condenação prévia: um negro que adentra a uma pizzaria freqüentada por rapagões e moçoilas de classe média alta de Cuiabá, num bairro idem, embora predominantemente de repúblicas estudantis (o Boa Esperança fica ao lado do campus da UFMT) é um bandido. E ainda mais se este negro acidentalmente esbarra na namorada de um desses fregueses.
Afinal, aquele não é um lugar para negros. Pior ainda. Que atrevimento! Um negro que deveria estar na senzala não pode adentrar a uma casa grande dos pequenos burgueses e tocar a mulher branca do sinhozinho.
Então, eis seu crime. E está decretada a pena de morte. Não se sabe se os policiais e o empresário (sinhozinho) estavam armados. Se estivessem teriam desferido vários tiros?  Tenho dúvida. Não sei se não preferiram mesmo usar como instrumentos de execução os socos e pontapés. Afinal, esta na moda uma das marcas da intolerância: matar a porradas negros, homossexuais e todos que esses “bad boys” não toleram por serem diferentes deles, supostamente bem nascidos, bem nutridos e crentes da impunidade. E com um ingrediente macabro: eles se divertem.  E não raras vezes filmam e jogam em suas redes sociais.
Seguindo o mesmo “modelito” que a imprensa em geral aplica a esses casos, todos ciosos a dar voz e vez aos assassinos da elite, tentam desqualificar o morto. Versões diversas surgem por todos lados dando conta que ele tinha passagens pela polícia, era drogado, perdeu a vaga no convênio da UFMT e outras informações nefastas. Como sempre trabalham com meias-verdades, com deturpações dos fatos e a omissão de outros.
Essas versões são disseminadas por advogados e familiares dos assassinos, que encontram voz em veículos de comunicação que, deliberadamente ou não, as propagam sem questionar o contexto da vida do Toni e os depoimentos de amigos, colegas e ex-namorada, todos, unanimemente, testemunhando sua conduta passível e respeitadora.
É compreensível que os advogados e familiares tomem tal atitude. Mas não justifica a postura dos representantes da Universidade Federal de Mato Grosso, que qualificaram o Toni como um indivíduo de má conduta.
O setor da UFMT responsável pelo convênio entre o governo brasileiro e os governos dos países africanos de língua portuguesa, que permitem jovens daqueles países estudarem no Brasil, sempre foi omisso e racista com esses estudantes. Poderia desfilar aqui uma série de descasos, dificuldades criadas e declarações preconceituosas. Não é o caso agora.
Por enquanto fica o registro de que o Toni sempre buscou desesperadamente lutar contra o vício do crack e encontrou pouco apoio na UFMT. Seus amigos se mobilizaram, igualmente seus colegas e professores. Mas a instituição se agarrou na burocracia. Por ele não conseguir mais freqüentar as aulas, o desligaram do convênio, pura e simplesmente. E ficou por isso. Contudo não pouparam declarações cruéis, insensíveis e até irresponsáveis na imprensa.
Esta é a mesma instituição que ignora que drogas como o crack estão se proliferando dentro e na periferia do campus da UFMT do Boa Esperança. Foi ali mesmo que o Toni se viciou. Nas imediações da república em que ele morava, assim como nos corredores da UFMT, a droga e traficantes transitam livremente. Que providência a instituição tem tomado acerca disso? Prefere tapar os olhos e ajudar a condenar seus jovens alunos.
Foi-se o tempo em que o romantismo e a rebeldia de fumar um baseado faziam parte do cotidiano universitário. Agora o ambiente universitário é um dos mercados de drogas pesadas, assim como seu entorno. E a tragédia do crack, a pior delas, bate à porta de todos nós. Meus amigos e colegas, muitos deles vivendo esse drama familiar, sabem do que estou dizendo. Acompanhei esses dramas quando morava ainda em Cuiabá.
Eu mesmo o vivo bem de perto. Tenho um irmão que vive a perambular pelas ruas de Goiânia se consumindo pelo crack. Gilmar, um dos sete filhos adotivos de minha mãe, era um rapaz trabalhador desde criança. Estudou, casou, formou família. Suas três filhas e esposa não agüentaram viver aquela tragédia e o abandonaram. Desde então passou a viver nas cracolândias do bairro Vila Nova, na capital de Goiás.
Minha mãe, já com seus 74 anos e morando agora em Goiânia, acompanha seu infortúnio e, dentro de suas limitações, nos mobiliza a todos para tentar salvá-lo.
O Toni tentou sobreviver. Poucos meses antes de voltar para Brasília, o recebi na minha casa, a qual ele freqüentava com os demais estudantes guineenses. Minha mulher era amiga dele, chegaram de Guiné-Bissau juntos. Ele para curso Economia e ela, Publicidade. Éramos capazes de deixar nossa casa aberta para ele, junto com meus filhos. O Toni não era um bandido. Repito: era uma pessoa amável e respeitadora.
Naquela tarde fria de julho e Cuiabá melancólica devido à carência de seu sol escaldante, o Toni chegou desesperado. Primeiro pediu dinheiro emprestado. Depois, muito envergonhado, chorou no nosso colo. Pediu ajuda, implorou para que afastássemos aquela sua vontade incontrolável de querer consumir a droga. Então começamos a mobilizar os amigos, colegas e seus professores. Ele necessitava de tratamento para poder concluir os estudos e voltar para o seu país.
Dois meses depois voltei para Brasília. Mas acompanhamos daqui a vida do Toni. Ficamos sabendo que ele havia ido para o tratamento. Depois fomos informados que havia vendido tudo que tinha e foi obrigado a entregar toda a sua bolsa de estudos para os traficantes. Quando perdeu a bolsa, foi para a rua mendigar. Foi num desses momentos que entrou na pizzaria naquela noite do dia 22 de setembro.
O Toni é filho de uma família de classe média alta em Guiné-Bissau. Seu pai é agrônomo e possui uma pequena fazenda. Idealista, sempre quis que os filhos tivessem boa formação para ajudarem no desenvolvimento do país. Tem irmãos que estudam ou estudaram na França, Inglaterra e Portugal. Parte da família fez carreira nas forças armadas, onde um tio seu é um dos comandantes.
Certa vez o Toni foi flagrado pela polícia em Cuiabá carregando um botijão de gás que ganhou de um dos colegas, pois o seu ele havia vendido para comprar crack. A polícia o abordou, o levou preso, apesar de afirmar que o objeto era dele. Passou o dia inteiro na delegacia, jogado numa sala e só saiu de lá depois que acionou a Polícia Federal, jurisdição da qual estão os estudantes africanos.
Aqui abro um parêntese. Não foram poucas as vezes que a UFMT acionou a Polícia Federal para perseguir os estudantes africanos que, por um motivo ou outro, não estavam freqüentando aulas ou haviam formado e ainda estavam no Brasil tentando pós-graduações ou empregos.
Setores da imprensa de Cuiabá, motivados por advogados e familiares dos assassinos, utilizam este caso do botijão, entre outros sem gravidade, para propagar que o Toni tinha passagens pela polícia. Como se a tal “passagem” fosse uma sentença de morte.
Antes de continuar, peço licença para contar duas histórias:
Em 1980, um rapaz que faria 20 anos dali a poucas semanas, cursava Agrimensura na antiga Escola Técnica Federal de Goiás e fazia estágio numa cidade a 20 quilômetros de Goiânia. Numa tarde, como fazia todos os dias, entrou às 17 horas no ônibus que o levaria de volta para casa, quando dois policiais o abordaram, algemaram, jogaram no camburão e levaram para a delegacia. Lavraram um boletim e mal ouviram a versão do rapaz. Em seguida, para fazê-lo confessar que havia feito um assalto, os policiais deram-lhe tapas nos ouvidos, murros, beliscões no nariz, nas orelhas, cascudos e ameaçaram quebrar seus dedos com um alicate e queimá-lo com cigarros.
As sevícias duram até que um dos policiais sugeriu ao delegado que o rapaz fosse levado para que a vítima identificasse o assaltante. Àquela altura a cidade inteira já sabia da prisão. Ao chegar à casa da senhora assaltada, de onde foram levados um televisor, aparelho de som e uma bicicleta do filho, o carro da polícia encontrou uma multidão que queria linchar o “bandido”. Os policiais com dificuldade abriram um corredor para a mulher chegar até o carro. Quando ela olhou pelo pára-brisa foi logo dizendo: “Não, não é este. O ladrão é branco!”.
Em 2004, um homem de 44 anos foi abordado pela polícia próximo à sua casa. Estranhou o fato de os policiais o obrigarem a ficar ao lado da viatura, longe do seu carro. Então um dos policiais faz uma rápida revista e aparece com um revolver e um pacote do que seriam drogas. Imediatamente o homem protesta, denuncia a “plantação” e só não vai preso porque estava com a identificação de secretário-adjunto de Comunicação Social do governo de Mato Grosso e ameaçou denunciar os policiais, que imediatamente fugiram do local.
O homem e o rapaz de 24 anos antes é a mesma pessoa: eu. Poderia aqui contar outras várias histórias de arbitrariedades e prisões às quais fui submetido.  Por ser negro, tido como ladrão, drogado e traficante, tive passagens pela polícia. Infelizmente aquela piadinha infame que de vez em quando ouvimos por aí  é de fato uma máxima entre policiais: “Preto parado é suspeito, correndo é ladrão”.
Quantas passagens pela polícia justificam uma morte?
Mereceria eu morrer por ter cometido o crime de ter nascido negro?
Mereceria eu morrer pelo crime de provocar aos policiais a sanha assassina de quem ainda nos vê como escravos, como sub-raça, como seres desprezíveis?
Mereceria eu morrer porque há cinco séculos retiraram meus antepassados da África, jogaram num navio negreiro, atravessaram o Atlântico, os leiloaram, os submeteram a ferro e fogo, os jogaram nos canaviais, minas e fazendas, os subjugaram nas senzalas, colocaram no pelourinho, humilharam, sugaram seus sangues e suores, para depois, com a abolição, os jogarem as ruas como se fossem animais, sem direito a dignidade?
Deveria eu morrer por ser filho de Clarice Laura e José Orozimbo, neto de José e Regina e de Josefa e Pedro Alves, por sua vez netos e filhos de escravos?
Este é meu crime?
Por favor, se é este o meu crime, então que me matem! Mas me matem apenas uma vez. Não façam como estão fazendo com o Toni.
Depois de ser trucidado pelos “bad boys da intolerância”,  Toni corre o risco de ser massacrado, pisoteado, sangrando até a última gota da sua dignidade.

PS: O corpo do Toni ainda está no IML de Cuiabá aguardando resultados de exames pedidos pelo delegado que acompanha o caso e a chegada da família para liberá-lo. Dona Cecília, mãe dele, me informou que um de suas irmãs, que é arquiteta na França, deve vir ao Brasil. A Embaixada de Guiné-Bissau em Brasília também está acompanhando o caso e prestando apoio à família. O governo brasileiro, por meio do Itamaraty, já se manifestou, repudiando o crime e pedindo desculpas à família e aos guineenses. Amigos e compatriotas do Toni estão se mobilizando em Cuiabá e aqui em Brasília, denunciando o assassinato e pedido para que seja tipificado como motivado por racismo.

1.10.11

Wall Street sob ocupação

Amigos e amigas o mundo virou do avesso!
Parte da Europa de pires na mão, pedindo ajuda a países que até bem pouco tempo eram chamados de “terceiro mundo”; os EUA – com um negro na presidência da república – numa crise sem precedentes em sua história e, agora, com Wall Street ocupada por ativistas que pregam valores políticos estranhos às tradições estadunidenses; o Brasil – liderado por uma mulher – dando lições de política e economia aos outros países poderosos do globo.
Chamou-me a atenção o protesto realizado em Wall Street. Buscando leituras que me fizessem compreendê-lo deparei-me com o texto que segue abaixo:

Ocupar Wall Street: o que todos querem saber sobre o movimento

É um coletivo de ativistas, sindicalistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Para muitos norte-americanos, essa ação direta não violenta é a única oportunidade que resta para que tenha alguma voz política. E isso tem de ser levado a sério pelos que ganham a vida na imprensa-empresa. Em artigo sob a forma de uma entrevista, ativista do movimento diz a que ele veio.

Nathan Schneider - The Nation

PERGUNTA: Ouvi dizer que o grupo Adbusters organizou o movimento Occupy Wall Street? Ou os Anonymous? Ou US Day of Rage? Afinal, quem juntou todo mundo lá?

RESPOSTA: Todos esses grupos participaram. Adbusters fez a convocação inicial em meados de julho, e produziu um cartaz muito sexy, com uma bailarina fazendo uma pirueta no lombo da estátua do Grande Touro [ing. Charging Bull], com a polícia antitumultos no fundo. O grupo US Day of Rage, criação da estrategista de Tecnologias da Informação, TI [ing. Information Technologies, IT] Alexa O'Brien, que existe quase exclusivamente na Internet, também se envolveu e fez quase todo o trabalho inicial de encontros e pelo Tweeter. O grupo Anonymous – com suas múltiplas, incontáveis e multiformes máscaras – agregou-se no final de agosto. Mas em campo, em New York, quase todo o planejamento foi feito pelo pessoal envolvido na Assembleia Geral de NYC.
É um coletivo de ativistas, artistas, estudantes, que se reunira antes na campanha “New Yorkers Against Budget Cuts” [Novaiorquinos contra os cortes no orçamento]. Essa coalizão de estudantes e sindicalistas acabou de levantar a ocupação de três semanas perto do City Hall, que recebeu o nome de Bloombergville, na qual protestaram contra os planos do prefeito, de demissões e cortes no orçamento da cidade. Aprenderam muito naquela experiência e estavam ansiosos para repetir a dose, dessa vez em movimento mais ambicioso, aspirando a ter mais impacto. Mas, de fato, não há ninguém, nem grupo nem pessoa, comandando toda a ocupação de Wall Street.

PERGUNTA: Ninguém manda? Ninguém é responsável? Como se tomam as decisões?

RESPOSTA: A própria Assembleia Geral tomou as decisões para a ocupação na Liberty Plaza, apenas alguns quarteirões ao norte de Wall Street. (Ali ficava o Parque Zuccotti, antes de 2006, quando o espaço foi reconstruído pelos proprietários da área, Brookfield Properties, que lhe deram o nome do presidente da empresa, John Zuccotti.) Agora, lá vai; vai soar como jargão. A Assembleia Geral é um coletivo horizontal, anônimo, sem chefia, sistema de consenso autogerido com raízes no pensamento anarquista, muito semelhante às assembleias que têm conduzido vários movimentos sociais em todo o mundo (na Argentina, na Praça Tahrir no Cairo, na Puerta Del Sol em Madrid e em outros pontos). Não é simples trabalhar para gerar consensos novos. É difícil, frustrante e lento. Mas os ocupantes estão usando o tempo e trabalhando sem parar. Quando chegam a algum consenso, o que muitas vezes exige dias e dias de discussões e de tentativas, a sensação de alegria é quase indescritível e inacreditável. Ouvem-se os gritos de alegria por toda a praça. É experiência difícil de descrever, ver-se ali, cercado de centenas de pessoas apaixonadas, empenhadas, rebeladas, criativas e todos em perfeito acordo sobre alguma coisa.

Para ler a matéria na íntegra é só clicar aqui.

18.9.11

O analfabeto político

Bertolt Brecht

"O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

Financiamento público de campanha

Segue abaixo artigo do professor Idelber abordando a questão do financiamento público de campanha. Análise perfeita!
Assunto espinhoso, o PTB tem atacado essa ideia em sua propaganda na TV, assim como os setores mais conservadores da sociedade.
O financiamento público, a meu modo de ver, colocaria um limite ao que vemos em todas as campanhas, nas quais frequentemente o poder econômico se sobrepõe às ideias e projetos.
Limitar essa gastança toda seria uma boa oportunidade para aprimorar a democracia participativa e oferecer mais espaço ao exercício da político, diminuindo o espaço do marquetingue.
Deleitem-se!


Ataque à raiz da corrupção 

IDELBER AVELAR

O financiamento público de campanha torna mais fácil a fiscalização e, se não acaba com legendas de aluguel, complica sua existência

Pesquisa recente da agência APPM dá a medida de como se realiza a discussão sobre campanhas eleitorais no Brasil. Oitenta e quatro por cento dos consultados dizem que as doações de empresas aumentam as chances de corrupção, mas 81% são contra o financiamento público.
O eleitor sabe que o conluio entre dinheiro privado e Estado é fonte de corrupção, mas se opõe ao financiamento público, pois não lhe é visível o fato de que ele também paga a conta do financiamento privado.
As empresas, com frequência, recolhem via corrupção o que investiram no candidato. O prejuízo ao Estado só aparece se estoura um escândalo, caso em que o agente público será execrado, enquanto pouco se dirá sobre o agente privado corruptor. Nada mais brasileiro do que esquecer que corrupção é via de mão dupla.
Ouvem-se três argumentos principais contra o financiamento público: ele não elimina a corrupção, coloca dinheiro do contribuinte nas mãos de corruptos e favorece os partidos mais organizados ou "instala uma ditadura financeira dos partidos" (conforme Elio Gaspari observou em sua coluna de 24/8).
O primeiro é um patente sofisma.
Se observamos que a troca de favores com o dinheiro de campanha é fonte de corrupção, recusar o financiamento público porque ele não a elimina equivale a recusar a Lei Maria da Penha porque ela não acaba com a violência contra a mulher.
Que se estabeleçam os mecanismos de cumprimento da lei, mesmo sabendo que eles não serão perfeitos. O financiamento público não elimina a corrupção, mas ataca sua raiz e facilita a fiscalização.
O segundo se nutre da péssima imagem dos políticos e da premissa de que o cidadão comum seria moralmente superior a eles. Ora, não há indício de que as relações cotidianas não estejam tão perpassadas pela corrupção quanto as políticas. É a colocação do Estado a serviço de interesses privados que corrompe – e essa tem sido uma constante em nossa história, desde as capitanias hereditárias.
O terceiro é, na verdade, uma defesa do financiamento público. Se ele fortalece os partidos mais organizados, eis aí outra razão para adotá-lo. Ele não acabará com as legendas de aluguel, mas tornará sua vida mais difícil. A expressão "ditadura dos partidos" não faz sentido se esses são compostos de cidadãos livres e entram e saem do poder pelo voto. Oxalá o Brasil escape da situação dos Estados Unidos. Apesar de proibidas as doações de empresas a campanhas, o dinheiro doado a partidos e organizações propagandísticas (as 527s) determina todo o rumo da política. Hoje, 86% dos estadunidenses vê democratas e republicanos do Congresso negativamente, mas uma terceira opção tornou-se inviável, já que o dinheiro corrompeu o sistema político até a medula.
Cuidemos da nossa democracia: o primeiro passo é uma contabilidade equânime, à qual todos tenham acesso. Sai mais barato, inclusive.

IDELBER AVELAR é professor titular na Universidade Tulane e colunista da revista "Fórum"; é co-organizador de "Brazilian Popular Music and Citizenship" e autor de "Alegorias da Derrota" e "The Letter of Violence".

Artigo publicado na Folha de São Paulo, copiado do blog Conteúdo Livre 

13.9.11

ENEM: discussões preliminares

Estamos às portas do ENEM 2011 e o INEP divulgou o resultado do ENEM 2010 por escolas.
Neste ano com uma novidade: agrupou as escolas por percentual de alunos participantes, tentando assim driblar aquelas instituições, que selecionam apenas os melhores alunos para participarem do exame.
Temos então 4 “rankings” diferentes: escolas com 75% ou mais de participantes; entre 50 e 75% de participantes; entre 25% e 50% e aquelas com até 25% de alunos participantes. É uma tentativa do MEC de deixar o resultado mais justo, se é que é possível.
Com os dados disponíveis é possível verificar o desempenho das escolas por estado, nas capitais, no interior, por região etc.
O Estadão.com publicou duas matérias que me chamaram a atenção. Numa delas afirmava que os alunos com melhor preparo da capital paulista, não participaram do ENEM em razão da negativa da USP e UNICAMP, que optaram por não utilizar o resultado do exame para compor as notas do vestibular. Clique aqui e leia a matéria. 
Minha experiência em cursos preparatórios para o vestibular, bem como nas escolas particulares, não me permite partilhar dessa ideia. Precisaria de números mais precisos  e indicações concretas desse fenômeno.
A outra notícia diz respeito ao uso de sistemas apostilados. Clique aqui para ler a matéria.
Hoje leciono no Parthenon que ocupa a 5º colocação no grupo (escolas do interior de SP) que envolve aquelas escolas com participação entre 50% e 75% de alunos concluintes do ensino médio. Nela adotamos livro didático.
Trabalhei no Colégio Saad – de Taubaté – que ocupa a 9ª colocação entre as escolas com mais de 75% de participantes. Lá se adota o Sistema Positivo. Faz tempo. Na matéria tem uma declaração interessante do coordenador do ensino médio, mostrando que o sistema apostilado não é uma prisão pedagógica.
A matéria estabelece uma relação interessante com a questão do poder aquisitivo dos alunos, mostrando que as escolas da Capital podem e cobram mais caro, enquanto as do interior usufruem dos sistemas apostilados como forma de baratear os custos.
Tenho minhas dúvidas se esta condicionante é absoluta. Além da formação acadêmica o aluno precisa ter uma vivência bacana, conhecer a sociedade na qual vive, participar, intervir, pensar com autonomia...
Não sei se somente livros ou apostilas respondem a essas necessidades.

Vejam a tabela publicada no Estadão:

7.9.11

A corrupção não é nenhuma novidade


Consegui localiza esse texto - de minha autoria - na Internet. Ele foi publicado na revista Galileu Vestibular 2007. Ele está um pouco truncado, parece que falta uma parte, mas eu não tenho o original e nem mesmo uma edição impressa da revista.
Embora datado, em razão dos escândalos que rolavam então, ainda podemos aproveitar a ideia central do texto: corrupção é uma via de mão dupla, bandido é o corrupto e o corruptor. Não tenho notícias de um agente do poder municipal subornando um agente do poder federal. Sempre temos numa ponta a iniciativa privada e na outra o agente público.


PROBLEMA HISTÓRICO E GENERALIZADO

Prática da corrupção foi disseminada em praticamente todos os governos do país

A corrupção no País é sistêmica, atingindo todos os setores da sociedade, pautandose quase sempre pela oportunidade. 
Temos o jovem rico pagando ao segurança para furar a fila da balada, o moço pobre furando a fila na bilheteria do estádio, o bancário subornando o guarda para que ele ignore o desrespeito à lei, o deputado ou qualquer outra autoridade do poder público visando engordar seus lucros. 
Não podemos ignorar que a corrupção não é uma via de mão única: se tem um corrupto tem também um corruptor, ambos criminosos. 
Entra governo e sai governo, os escândalos se multiplicam e se renovam. 
Às vezes disfarçados de "megaobra", às vezes camuflados de caixa 2 — ou dinheiro não contabilizado. Definitivamente, a corrupção não foi inventada pelo governo Lula e muito menos é este o governo mais corrupto da história. 
Num rápido passeio por um desses sites de busca, como o Google, encontraremos referências à corrupção nos governos de Getúlio, JK, Jango, nos presidentes da ditadura militar, Sarney, Collor, FHC e Lula. Em todas as crises, a imprensa trombeteia tratar-se da maior da História. 
A sucessão de escândalos neste governo, no entanto, foi impressionante. Já a incapacidade do seu principal partido, o PT, em responder a eles de forma convincente, optando pela estratégia do silêncio e apostando no esquecimento do eleitor, parece ter sido bem sucedida.
A Polícia Federal está muito mais atuante do que em governos anteriores, é claro. 
Independentemente dessa atuação, podemos lembrar o mensalão, a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro de Brasília e agora a compra do dossiê contra o candidato ao governo de São Paulo José Serra. 
Divulgar documentos comprobatórios ou indicativos de atos de corrupção não é crime. O crime está no método usado e principalmente na origem do dinheiro para comprá-lo, quase R$ 2 milhões.
Quando pensamos que o governo e o PT encontraram fácil o caminho da reeleição do presidente Lula, eles mesmos atiram contra si.

18.8.11

Como a mídia retrata a periferia

Estava colocando minhas leituras em dia quando me deparei com o texto que segue abaixo, de autoria do grande Ferréz, escrevendo diretamente do Capão Redondo.
Ele mostra a indignação com matéria veiculada no programa "A Liga" sobre o Capão. Embora trate de um caso em particular, o Capão Redondo, a grande mídia retrata a periferia de maneira a construir estereótipos medonhos.
Não tenho por hábito ver esse tipo de jornalismo. Aliás, com exceção do Profissão Repórter, não acompanho mais nada na TV aberta, só lixo, a começar pelo maior deles: CQC!
Esses programas precisam tomar uma decisão: são humorísticos ou jornalísticos? Esse limbo no qual transitam é bastante conveniente, pois quando tem que responder como jornalistas alegam estar fazendo humor e quando são rejeitados como humoristas alegam fazer jornalismo.
Fiquem com o texto do Ferréz:


A liga, liga nóis?

Assistindo o programa "jornalistico" da Bandeirantes A Liga, eu me constrangi, não só como ativista no bairro, mas como pai de família.
Conforme a matéria avançava, minha esposa saia e voltava não querendo mais ver, minha filha de apenas quatro anos perguntou, - isso é aqui pai?
Triste, muito triste mesmo, ver o que fizeram com o bairro.
Tem funk? toda periferia tem e todo salão burguês tem, tem bebida? toda porta de faculdade tem.
Tem ponto cultural? tem sarau? tem samba? tem festa popular? tem projeto cultural? tem uma área comercial gigantesca? parece que não.
O cemitério agrada mais do que o bar do Saldanha.
O assassinato agrada mais que o Ensaiaço na Grisson, o Sarau da Cooperifa, o Sarau do Binho, o Sarau da Coopermusp, o Cinema da laje, o trabalho de permacultura da Interferência.
O córrego traz mais audiência que o trabalho do Janga+Ação, o protesto dos punks da região, o movimento rock e suas bandas de garagem, a grife exclusiva do bairro, as quermesses populares, os shows de forró, o trabalho com a terceira idade, a Fábrica de Criatividade, o Capão Cidadão, A biblioteca Êxodus, a fanfarra do Euclides da Cunha, o jornal do bairro de Marcus Kawada, a cooperativa de mulheres, o trabalho do Senhor Pedrinho no jardim comercial, A oficina do espaço digital, e mais centenas de coisas positivas.
uma matéria gravada quase que totalmente de noite, com um tom de turismo, com muita ironia e despretenção de ver todos os lados, que é o que o jornalismo tinha que fazer.
Agora entendo quando entraram em contato comigo, e após eu dizer que queria falar de literatura e cultura, nunca mais voltaram.
Mentiram quando diziam que os entrevistados moravam aqui, muitos são turistas, e quem está dentro da comunidade sabe o que estou falando.
Tenho um grande orgulho, das dezenas de moradores que me procuraram e disseram: - aqui não tá assim.
A palavra na reportagem, Lugar violento, foi repetida muitas vezes, mas não engana o povo que enche os ônibus para ir trabalhar, e para voltar para um bom lugar.
Prestenção, respeita nossa quebrada, porque usuário de crack tem, mas você tem que procurar, no meio dos becos, entre homens e mulheres que ralam todo dia por uma vida melhor, você tem que vasculhar bastante para achar um meliante no meio de tanta gente escrevendo, grafitando, recitando, cantando, e produzindo um bairro melhor.
Os moradores lutam todo dia para terem orgulho daqui, pois ao contrário de quem produziu as matérias, agente não tem outra vida não, o nosso berço quando temos um é fixo.

Se você quer opiniar, faça desse blog um grito, pois muita gente do bairro entra nesse espaço.




Fonte: Ferréz

12.8.11

Piratas!

Excelente documentário! Veja aqui o que a mídia comercial não mostra, quem são os verdadeiros piratas que agem na Somália.



Duração: 23 minutos e 26 segundos
País: Espanha
Idioma: espanhol
Licença: CC - Attribution Non-commercial Não a Obras Derivadas
Gênero: Documentário
Produtor: Juan Falque
Diretor: Juan Falque
Visualizações: 100,535 (8,559 incorporado)
Postado por: juanfalque em 28/01/2011

Documental

31.7.11

Capitalismo?

Quando vemos o esforço das várias esferas de governo para fazer a Copa de 2014 e as Olimpíadas de 2016 fico pensando: vivemos ou não num país capitalista?
É muito dinheiro público rodando na mão da tal iniciativa privada!
Sábado rolou o primeiro evento da Copa de 2014, o sorteio das eliminatórias. A empresa Geo Eventos – da Rede Globo – embolsou R$ 30 milhões para realizar a festa. A dona da festa e quem mais ganha com a Copa, a FIFA, não soltou um único centavinho para sua festa. A CBF que vive dizendo que está com os cofres cheios, idem.
O dinheiro veio dos “patrocinadores”: governo estadual e municipal do Rio de Janeiro! Absurdo!
Em São Paulo o Fielzão, estádio do Corinthians, será bancado com incentivos fiscais da Prefeitura e com dinheiro do BNDES.
As reformas dos outros estádios recebem dinheiro público, seja do governo federal ou do estadual.
Por quê?
Sendo algo da iniciativa privada e que vai encher uma pequena galera de grana, por que os próprios não fazem tais investimentos?
Infelizmente no nosso país é assim: os grupos empresariais embolsam os lucros e socializam os prejuízos, no caso os lucros vão para os cofrinhos de sempre, da chamada iniciativa privada, mas os investimentos se originam nos cofres públicos – “dim dim” de todos nós.
Não penso que seja razoável, com a quantidade de problemas que temos para resolver – educação, saúde, saneamento básico, transportes públicos etc. –, que se gastem verbas públicas em iniciativas empresariais.
Melhor seria investimento maciço em educação e saúde e usar mais verbas para o esporte de massa, como política educacional.
Estádios, hotéis e centros de treinamento que fiquem para a iniciativa privada, já atendimento à saúde, estradas, aeroportos e sistema viário o governo deve tomar conta.

21.7.11

Narradores do Açu

Espaço marcado pelas mãos dos trabalhadores, que com muito suor dedicaram suas vidas a cuidar do campo é retirado sem dor. Produtores rurais do 5º Distrito de São João da Barra não tiveram tempo de contar suas histórias, só tempo para retirar seus pertences e deixar suas lembranças para trás. Suas terras desapropriadas serão utilizadas para a construção de estaleiros do Porto do Açu, com investimentos avaliados em mais de um bilhão de dólares, valor que não paga uma história de vida. Ana Paula Medeiros

Este webdoc se destina ao registro do que têm a dizer os atingidos pelas desapropriações no 5º Distrito de São Jõa da Barra.RJ.

Foi produzido por alunos do UNIFLU/FAFIC com a supervisão do professor da disciplina Narrativas e Linguagens Jornalísticas, Vitor Menezes.

As imagens contidas no webdoc estão disponíveis no YouTube e/ou foram cedidas.

Campos dos Goytacazes, julho de 2011.

19.7.11

Votei na Dilma, tenho o direito de criticar o governo?

Para alguns companheiros e companheiras de esquerda não! Votar significa passar um cheque em branco e assinar embaixo tudo que o eleito fizer.
Noção tosca essa de democracia representativa, seria por falta de práticas democráticas?
Votei no Lula em 2002 e 2006. Reconheço em seu governo vários avanços, principalmente com relação aos mais pobres, mas muito ficou por fazer, principalmente para quem teve o apoio popular que Lula teve, inigualável na história republicana.
A reforma agrária parece ter virado letra morta. Estranho, pois passamos décadas repetindo que faltava apenas vontade política para fazê-la.
A educação titubeia, embora medidas paliativas valiosas tenham sido tomadas – como o ProUni – por exemplo, ainda estamos rumando para o abismo.
O excesso de conciliação pode levar ao fracasso no médio prazo.
Basta olharmos para o caso chileno. Aumentou a desigualdade, a educação está um caco, embora os indicadores da economia, do ponto de vista neoliberal, continuem bons. Além disso, a direita assumiu a presidência nas últimas eleições, depois de sucessivos governos de centro-esquerda.
O primeiro semestre do governo Dilma assemelha-se aos 8 anos de Lula: muita conciliação e uma pauta predominantemente “empresarial”.
A capacidade do governo de comunicar-se com o público continua uma lástima! Vimos Lula encerrar seu mandato numa grande entrevista para os blogs e a campanha vitoriosa de Dilma apoiar-se na capacidade de mobilização das redes sociais.
Imaginei que começaria aí uma nova era na difusão das informações do governo. Mas que nada, foi só acabar o período eleitoral e os perfis de muitos candidatos foram desativados. Continuam na rede, principalmente no Twitter, alguns poucos, a grande maioria preferiu recolher-se ao gabinete.
A questão é: podemos criticar e discordar das ações de governo, sem que sejamos nomeados quinta coluna, desonestos ou ingênuos?

2.7.11

As fusões, o monopólio e a concorrência

A minha ignorância em assuntos econômicos não me impediu de compreender que a concorrência é essencial para que nós – os consumidores – tenhamos um pouco de vantagem dentro do capitalismo.
Assim, já nos ensinava Adam Smith, cabe ao Estado zelar pelos mecanismos que garantam a existência da dita cuja.
Pois bem, no que as fusões de empresas, como vem ocorrendo ultimamente, contribuem para o ambiente concorrencial?
Numa primeira e rápida leitura, parece-me que o governo quer patrocinar e incentiva a criação de “empresas fortes” – global players no jargão globalizante –, evitando assim que setores importantes e estratégicos repousem nas mãos de grupos estrangeiros.
Foi assim com a BrOi, com a Friboi, com a Brasil Foods (Perdigão + Sadia) etc. e tal.

Mas como garantir que essas fusões não levem ao monopólio?
Fonte: Fonte: http://convergenciadigital.uol.com.br/
Essas empresas gigantescas sufocam a concorrência e passam a dominar largas fatias do mercado, gerando sobre os fornecedores uma pressão absurda e para os consumidores uma enorme ausência de alternativas.
A mais globalizada das empresas brasileiras, segundo maior grupo privado do país e a maior do mundo em proteína animal realiza estudos regulares com a Datastore para avaliar imagem da marca, potencial de mercado e posicionamento da sua linha de produtos. Os estudos recomendam medidas para ampliar ainda mais a participação de mercado e a satisfação dos consumidores de cortes especiais de carne.(...)

Para nós simples mortais – que ignoramos os mistérios dominados pelos iniciados em Economia –, soa muito estranho a posição do governo.
Num dado instante o BNDES – banco de desenvolvimento controlado pelo Estado – incentiva as fusões e participa delas com capital, de modo a viabilizá-las.
Depois vem o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica – autarquia vinculada ao Ministério da Justiça vetando a tal fusão.
Vai entender...
No caso que agitou a semana – fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour – tratamos de um setor vital para a economia: distribuição de alimentos, além do comércio de eletroeletrônicos.
Quais as consequências para os consumidores que uma fusão de tal porte traria?
E para os trabalhadores destas empresas?
Qual a fatia de mercado abocanharia?
Por que o BNDESPar deve aportar capital nessa fusão?
As três primeiras respostas são fundamentais. A depender delas a quarta poderá ou não ser feita.

25.6.11

José Luis Fiori e a geopolítica angloamericana

José Luis Fiori traça análises excelentes e elucidativas. Sempre vai ao "x" da questão, como no artigo abaixo, copiado da Agência Carta Maior:


A geopolítica angloamericana

O que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo?”. Há, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?

José Luís Fiori
“Venho hoje reafirmar uma das mais antigas, uma das mais fortes alianças que o mundo já viu. Há muito é dito que os Estados Unidos e a Grã Bretanha compartilham uma relação especial.”

Presidente Barack Obama: “Discurso no Parlamento Britânico”, em 25 de maio de 2011. Existe uma idéia generalizada de que a Geopolítica é uma “ciência alemã”, quando na verdade ela não é nem uma ciência, nem muito menos alemã. Ao contrário da Geografia Política, que é uma disciplina que estuda as relações entre o espaço e a organização dos estados, a Geopolítica é um conhecimento estratégico e normativo que avalia e redesenha a própria geografia, a partir de algum projeto de poder específico, defensivo ou expansivo. O “Oriente Médio”, por exemplo, não é um fenômeno geográfico, é uma região criada e definida pela política externa inglesa do século XIX, assim como o “Grande Médio Oriente”, é um subproduto geográfico da “guerra global ao terrorismo”, do governo Bush, do início do século XXI. 
Por outro lado, a associação incorreta, da Geopolítica com a história da Alemanha, se deve a importância que as idéias de Friederich Ratzel (1844-1904) e Karl Haushofer (1869-1946) tiveram – direta ou indiretamente – no desenho estratégico dos desastrosos projetos expansionistas da Alemanha de Guilherme II (1888-1918) e de Adolf Hitler (1933-1945). Apesar disto, as teorias destes dois geógrafos transcenderam sua origem alemã, e idéias costumam reaparecer nas discussões geopolíticas de países que compartilham o mesmo sentimento de cerco militar e inferioridade na hierarquia internacional. Mas a despeito disto, foi na Inglaterra e nos Estados Unidos que se formularam as teorias e estratégias geopolíticas mais bem sucedidas da história moderna. 
Sir Walter Raleigh (1554-1618), conselheiro da Rainha Elizabeth I, definiu no fim do século XVI, o princípio geopolítico que orientou toda a estratégia naval da Inglaterra, até o século XIX. Segundo Raleigh, “quem tem o mar, tem o comércio do mundo, tem a riqueza do mundo; e quem tem a riqueza do mundo, tem o próprio mundo”. Muito mais tarde, quando a Marinha Britânica já controlava quase todos os mares do mundo, o geógrafo inglês, Halford Mackinder (1861-1947), formulou um novo princípio e uma nova teoria geopolítica, que marcaram a política externa inglesa do século XX. Segundo Mackinder, “quem controla o “coração do mundo” comanda a “ilha do mundo”, e quem controla a ilha do mundo comanda o mundo”. 
A “ilha do mundo” seria o continente eurasiano, e o seu “coração” estaria situado - mais ou menos - entre o Mar Báltico e o Mar Negro, e entre Berlim e Moscou. Por isto, para Mackinder, a maior ameaça ao poder da Inglaterra, seria que a Alemanha ou a Rússia conseguissem monopolizar o poder dentro do continente eurasiano. Uma idéia-força que moveu a Inglaterra nas duas Guerras Mundiais, e que levou Winston Churchill a propor – em 1946 - a criação da “Cortina de Ferro” que deu origem a Guerra Fria. 
Do lado norte-americano, o formulador geopolítico mais importante da primeira metade do século XX, foi o Almirante Alfred Mahan (1840-1914), amigo e conselheiro do Presidente Theodor Roosevelt, desde antes da invenção da Guerra Hispano-Americano, no final do século XIX. A tese geopolítica fundamental de Mahan, sobre a “importância do poder naval na história”, não tem nenhuma originalidade. Repete Walter Raleigh, e reproduz a história da Marinha Britânica. E o mesmo acontece com as idéias de Nicholas Spykman (1893-1943), o geopolítico que mais influenciou a estratégia internacional dos EUA na segunda metade do século XX. 
Spykman desenvolve e muda um pouco a teoria de Mackinder, mas chega quase às mesmas conclusões e propostas estratégicas. Para conquistar e manter o poder mundial, depois da Segunda Guerra, Spykman recomenda que os EUA ocupem o “anel” que cerca a Rússia, do Báltico até a China, aliando-se com a Grã Bretanha e a França, na Europa, e com a China, na Ásia. No cômputo final, o que diferencia a geopolítica anglo-americana é a sua pergunta fundamental: “que partes do mundo há que controlar, para dominar o mundo”. Ou seja, uma pergunta ofensiva e global, ao contrário dos países que se propõem apenas a conquista e o controle de “espaços vitais” regionais. Além disto, a Inglaterra e os EUA ganharam, e no início do século XXI, mantém sua aliança de ferro com o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia: derrotaram e cercaram a Rússia; mantém seu protetorado atômico sobre a Alemanha e o Japão; expandiram sua parceria e seu cerco preventivo da China; estão refazendo seu controle da África; e mantém a América Latina sob a supervisão da sua IV Frota Naval. E acabam de reafirmar sua decisão de manter sua liderança geopolítica mundial. 
Existe, entretanto, uma grande incógnita no horizonte geopolítico anglo-americano. Uma vez conquistado o poder global, é indispensável expandi-lo, para mantê-lo. Mas, para onde expandi-lo?

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.