30.5.09

Entrevista com o ministro Fernando Hadad

Grito da Terra

Piratas somalis: o outro lado

A história é sempre contada pelos vitoriosos ou por quem "manda". A questão dos ataques piratas na costa africana tem despertado atenção de todo o mundo ocidental. Só recebemos informações repassadas pela CNN e pelas agências de notícias europeias.
Surpreendi-me com o texto que reproduzo abaixo. É sempre bom lermos a "outra versão", só assim conseguimos formar algum juízo sobre os fatos que estão muito distantes de nós.
A leitura é imperdível, por isso resolvi reproduzi-lo em sua totalidade.
ESTÃO NOS MENTINDO SOBRE OS PIRATAS
Por Johann Hari (*)
Quem imaginaria que em 2009, os governos do mundo declarariam uma nova Guerra aos Piratas? No instante em que você lê esse artigo, a Marinha Real Inglesa – e navios de mais 12 nações, dos EUA à China – navega rumo aos mares da Somália, para capturar homens que ainda vemos como vilãos de pantomima, com papagaio no ombro. Mais algumas horas e estarão bombardeando navios e, em seguida, perseguirão os piratas em terra, na terra de um dos países mais miseráveis do planeta. Por trás dessa estranha história de fantasia, há um escândalo muito real e jamais contado. Os miseráveis que os governos ‘ocidentais’ estão rotulando como “uma das maiores ameaças de nosso tempo” têm uma história extraordinária a contar – e, se não têm toda a razão, têm pelo menos muita razão.
Os piratas jamais foram exatamente o que pensamos que fossem. Na “era de ouro dos piratas” – de 1650 a 1730 – o governo britânico criou, como recurso de propaganda, a imagem do pirata selvagem, sem propósito, o Barba Azul que ainda sobrevive. Muita gente sempre soube disso e muitos sempre suspeitaram da farsa: afinal, os piratas foram muitas vezes salvos das galés, nos braços de multidões que os defendiam e apoiavam. Por quê? O que os pobres sabiam, que nunca soubemos? O que viam, que nós não vemos? Em seu livro Villains Of All Nations, o historiador Marcus Rediker começa a revelar segredos muito interessantes.
Se você fosse mercador ou marinheiro empregado nos navios mercantes naqueles dias – se vivesse nas docas do East End de Londres, se fosse jovem e vivesse faminto –, você fatalmente acabaria embarcado num inferno flutuante, de grandes velas. Teria de trabalhar sem descanso, sempre faminto e sem dormir. E, se se rebelasse, lá estavam o todo-poderoso comandante e seu chicote. Se você insistisse, era a prancha e os tubarões. E ao final de meses ou anos dessa vida, seu salário quase sempre lhe era roubado.
Os piratas foram os primeiros que se rebelaram contra esse mundo. Amotinavam-se nos navios e acabaram por criar um modo diferente de trabalhar nos mares do mundo. Com os motins, conseguiam apropriar-se dos navios; depois, os piratas elegiam seus capitães e comandantes, e todas as decisões eram tomadas coletivamente; e aboliram a tortura. Os butins eram partilhados entre todos, solução que, nas palavras de Rediker, foi “um dos planos mais igualitários para distribuição de recursos que havia em todo o mundo, no século 18”.
Acolhiam a bordo, como iguais, muitos escravos africanos foragidos. Os piratas mostraram “muito claramente – e muito subversivamente – que os navios não precisavam ser comandados com opressão e brutalidade, como fazia a Marinha Real Inglesa.” Por isso eram vistos como heróis românticos, embora sempre fossem ladrões improdutivos.
As palavras de um pirata cuja voz perde-se no tempo, um jovem inglês chamado William Scott, volta a ecoar hoje, nessa pirataria new age que está em todas as televisões e jornais do planeta. Pouco antes de ser enforcado em Charleston, Carolina do Sul, Scott disse: “O que fiz, fiz para não morrer. Não encontrei outra saída, além da pirataria, para sobreviver”.
O governo da Somália entrou em colapso em 1991. Nove milhões de somalianos passam fome desde então. E todos e tudo o que há de pior no mundo ocidental rapidamente viu, nessa desgraça, a oportunidade para assaltar o país e roubar de lá o que houvesse. Ao mesmo tempo, viram nos mares da Somália o local ideal onde jogar todo o lixo nuclear do planeta.
Exatamente isso: lixo atômico. Nem bem o governo desfez-se (e os ricos partiram), começaram a aparecer misteriosos navios europeus no litoral da Somália, que jogavam ao mar contêineres e barris enormes. A população litorânea começou a adoecer. No começo, erupções de pele, náuseas e bebês malformados. Então, com o tsunami de 2005, centenas de barris enferrujados e com vazamentos apareceram em diferentes pontos do litoral. Muita gente apresentou sintomas de contaminação por radiação e houve 300 mortes.
Quem conta é Ahmedou Ould-Abdallah, enviado da ONU à Somália: “Alguém está jogando lixo atômico no litoral da Somália. E chumbo e metais pesados, cádmio, mercúrio, encontram-se praticamente todos.” Parte do que se pode rastrear leva diretamente a hospitais e indústrias européias que, ao que tudo indica, entrega os resíduos tóxicos à Máfia, que se encarrega de “descarregá-los” e cobra barato. Quando perguntei a Ould-Abdallah o que os governos europeus estariam fazendo para combater esse ‘negócio’, ele suspirou: “Nada. Não há nem descontaminação, nem compensação, nem prevenção".
Ao mesmo tempo, outros navios europeus vivem de pilhar os mares da Somália, atacando uma de suas principais riquezas: pescado. A Europa já destruiu seus estoques naturais de pescado pela superexploração – e, agora, está superexplorando os mares da Somália. A cada ano, saem de lá mais de 300 milhões de atum, camarão e lagosta; são roubados anualmente, por pesqueiros ilegais. Os pescadores locais tradicionais passam fome. Mohammed Hussein, pescador que vive em Marka, cidade a 100 quilômetros ao sul de Mogadishu, declarou à Agência Reuters: “Se nada for feito, acabarão com todo o pescado de todo o litoral da Somália".
Esse é o contexto do qual nasceram os “piratas” somalianos. São pescadores somalianos, que capturam barcos, como tentativa de assustar e dissuadir os grandes pesqueiros; ou, pelo menos, como meio de extrair deles alguma espécie de compensação.
Os somalianos chamam-se “Guarda Costeira Voluntária da Somália”. A maioria dos somalianos os conhecem sob essa designação. [Matéria importante sobre isso, em “The Armada is not a solution”.] Pesquisa divulgada pelo site somaliano independente WardheerNews informa que 70% dos somalianos “aprovam firmemente a pirataria como forma de defesa nacional”.
Claro que nada justifica a prática de fazer reféns. Claro, também, que há gangsteres misturados nessa luta – por exemplo, os que assaltaram os carregamentos de comida do World Food Programme. Mas em entrevista por telefone, um dos líderes dos piratas, Sugule Ali, disse: “Não somos bandidos do mar. Bandidos do mar são os pesqueiros clandestinos que saqueiam nosso peixe.” William Scott entenderia perfeitamente.
Por que os europeus supõem que os somalianos deveriam deixar-se matar de fome passivamente pelas praias, afogados no lixo tóxico europeu, e assistir passivamente os pesqueiros europeus (dentre outros) que pescam o peixe que, depois, os europeus comem elegantemente nos restaurantes de Londres, Paris ou Roma? A Europa nada fez, por muito tempo. Mas quando alguns pescadores reagiram e intrometeram-se no caminho pelo qual passa 20% do petróleo do mundo… imediatamente a Europa despachou para lá os seus navios de guerra.
A história da guerra contra a pirataria em 2009 está muito mais claramente narrada por outro pirata, que viveu e morreu no século 4º AC. Foi preso e levado à presença de Alexandre, o Grande, que lhe perguntou “o que pretendia, fazendo-se de senhor dos mares.” O pirata riu e respondeu: “O mesmo que você, fazendo-se de senhor das terras; mas, porque meu navio é pequeno, sou chamado de ladrão; e você, que comanda uma grande frota, é chamado de imperador”. Hoje, outra vez, a grande frota européia lança-se ao mar, rumo à Somália – mas… quem é o ladrão?
(*) Johann Hari é jornalista. Artigo publicado originalmente no sítio do jornal britânico The Independent no dia 05/01/2009.

Este texto foi copiado do Fazendo Media.

26.5.09

MESTRE PAULO FREIRE

Assim mesmo, com letras bem grandes.
Estava visitando minha lista de blogs favoritos e encontrei essa preciosidade, postada no Diário Gauche:

CartaCapital: 15 anos

A edição comemorativa da CartaCapital, com 15 anos de labuta no bom jornalismo está imperdível!
Para quem não é assinante é bom correr até a banca e, se o jornaleiro for daqueles que só vendem Caras e Veja, mude de jornaleiro!


24.5.09

Cenas de provincianismo explícito

Esperei a poeira baixar para escrever sobre o tema.
Já fui corintiano doente, hoje sou apenas corintiano. Nos últimos meses, com a chegada do Fenômeno, comecei a gostar de ver o jogo novamente. Com mais de trinta, acima do peso e remendado, o cara continua sendo diferenciado.


Vibrei muito com os jogos contra o São Paulo, na semifinal e contra o Santos na final.
Bons jogos. Aliás, o quadrangular final do campeonato foi muito acima da média de todo o torneio. A última partida foi eletrizante.
Longe daquela sensação da final contra a Ponte Preta em 1977, mas uma delícia de jogo, ainda mais por ver o Timão sair com a Taça.


Aí mora o problema. A premiação.
Estavam lá o prefeito e o Ministro dos Esportes. No melhor estilo provinciano, só faltou o padre e o dono do cartório.



O que me deixa mais frustrado é ver o Ministro Orlando Silva, membro do PC do B, agindo como um coronelzinho mequetrefe.
Por falar nisso o papel do PC do B à frente do dito ministério tem sido lamentável.
Associou-se ao que o esporte nacional tem de pior.
Nem mesmo prestaram contas do Pan-Rio e já começam a amealhar dinheiro público, para bolsos privados obviamente, com a Copa-2014 e a eterna palhaça da Olimpíada Rio-2016.







Novidade na FUVEST

A FUVEST apresentou as mudanças para o concurso vestibular deste ano. Algumas já estavam certas: primeira fase mantida, mas sem validar os pontos para a fase seguinte e a 2ª fase com uma estrutura inovadora. Serão três dias de provas. No primeiro dia: redação e dez questões de Português; no segundo, 20 questões de todas as disciplinas (menos Português) e no terceiro dia, 12 questões de até três disciplinas específicas para cada carreira.
Neste último dia louve-se a inclusão de Geografia em uma gama maior de carreiras, inclusive medicina. A visão da banca é correta: o candidato à Universidade precisa conhecer o seu país e o mundo, principalmente quanto à diversidade regional e as mazelas sociais.
O blog opalpiteiro relacionou as carreiras que terão Geografia na 2ª fase, clique aqui para ler.
Para ler a nota oficial da USP basta clicar aqui.
Estranhei a chiadeira de alguns cursinhos pré-vestibulares.
Se o aluno está bem preparado ele fará as provas com tranqüilidade, principalmente aquele aluno que, no Ensino Médio, não se preocupou em tornar-se especialista antes da hora.

23.5.09

AI - 5 Digital

Tenho recebido vários e-mails rechaçando o projeto de lei relatado pelo senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG).
O Observatório da Imprensa reproduz artigo de Mariana Tamari, publicado originalmente no Correio da Cidadania.
Leia um trecho do texto:

O objetivo velado do substitutivo do senador Azeredo, já conhecido também como o AI-5 digital, é, portanto, tornar suspeitas as redes P2P, impedir a existência de redes abertas e reforçar o DRM (Gerenciador Digital de Direitos, na sigla em inglês), que impedirá o livre uso de aparelhos digitais. Entre as disposições do AI-5 digital, como vem sendo chamado o PL por seus opositores, uma das mais preocupantes é a intenção de transformar os provedores de acesso em uma espécie de polícia privada. Trata-se, portanto, de um projeto que coloca em risco a privacidade dos internautas e que busca restringir o acesso irrestrito a bens informacionais de valor inestimável para o desenvolvimento da cultura. Ele instaura uma atmosfera de vigilantismo que vai contra toda a possibilidade de avanço tecnológico da rede e, se aprovado, elevará e muito o custo de comunicação no Brasil, que já é bastante alto.
Trata-se de uma matéria urgente, pois faltam poucos passos para a votação final que pode tornar lei o projeto considerado por muitos especialistas como inconstitucional, vigilantista e violador da privacidade individual. Já votado em Plenário no Senado, no dia 5 de março, o deputado conservador Regis de Oliveira (PSC-SP), ligado ao PSDB, conseguiu aprovar seu parecer favorável ao projeto do senador Azeredo na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJC) da Câmara dos Deputados. Agora, ele passa por análise das Comissões de Ciência e Tecnologia daquela casa e então será encaminhado para votação em Plenário. Falta muito pouco para a aprovação do AI-5 digital.
Caso queira lê-lo na íntegra, clique aqui.

18.5.09

Sobre o Congresso Nacional

Preferi não falar do Congresso Nacional nas últimas semanas apenas por precaução.
Temos ali um bando de picaretas, patrimonialistas e descompromissados com a coisa pública!
Todos? Creio que não, alguns, poucos, devem se salvar.
Mas não quis aderir a onda do "joga pedra na Geni", por um motivo simples: são muitas as "genis"!
Elas não são exclusividade da Câmara dos Deputados. Estão no Senado, no Executivo, no Judiciário e na iniciativa privada.
Por outro lado, como esses caras chegaram até onde estão? Pelo voto popular, pois sim!
Então tem mais coisa errada por aí.
Talvez a maneira como as campanhas são financiadas, o espírito da propaganda eleitoral, o voto obrigatório... Ou ainda todo o sistema de representação!
Então não basta substituir um nome por outro, não é possível passar uma tinta nova e fingir que tudo está bem, a reforma tem que ser geral, nosso sistema representativo tem que ser reconstruído.
Poderíamos começar pelo fim do voto obrigatório, depois o financiamento público das campanhas, fidelidade partidária, fortalecimento dos partidos políticos e, como gran finale, a extinção do Senado.
Não tem nada mais fora do prumo do que o Senado.
A Câmara dos Deputados deveria ter um número de deputados proporcional ao número de eleitores de cada unidade da federação. O Senado um número igual de representates para cada unidade. Assim o risco de uns poucos estados populosos controlarem a Repúlica seria evitado.
Ora, a Câmara já equilibra o sistema federativo ao limitar o número máximo e mínimo de deputados. Tal medida distorce a representatividade, principalmente dos estados com maior número de eleitores.
O Senado portanto é inútil, pois a Câmara já faz o que ele deveria fazer.

15.5.09

Elis Regina cantando em Portugal

Elis Regina é sublime. Esta raridade não deixa dúvidas!
Aqui ela interpreta a música Maravilha, de Chico Buarque de Hollanda.

10.5.09

Debate sobre o PIB: visão de Ladislau Dowbor

Nem sempre as 2 mais 2 resulta em 4! Basta ler esse texto, magnífico de Lasdislau Dowbor, publicado na Agência Carta Maior, para verificarmos isso.
Abaixo uma pequena amostra, para lê-lo na íntegra, clique aqui.
PIB, como todos devem saber, é o produto interno bruto. Para o comum dos mortais que não fazem contas macroeconômicas, trata-se da diferença entre aparecerem novas oportunidades de emprego (PIB em alta) ou ameaças de desemprego (PIB em baixa). Para o governo, é a diferença entre ganhar uma eleição e perdê-la. Para os jornalistas, é uma ótima oportunidade para darem a impressão de entenderem do que se trata. Para os que se preocupam com a destruição do meio-ambiente, é uma causa de desespero. Para o economista que assina o presente artigo, é uma oportunidade para desancar o que é uma contabilidade clamorosamente deformada. Peguemos o exemplo de uma alternativa contábil, chamada FIB. Trata-se simplesmente um jogo de siglas, Felicidade Interna Bruta. Tem gente que prefere felicidade interna líquida, questão de gosto. O essencial é que inúmeras pessoas no mundo, e técnicos de primeira linha nacional e internacional, estão cansados de ver o comportamento econômico ser calculado sem levar em conta – ou muito parcialmente – os interesses da população e a sustentabilidade ambiental. Como pode-se dizer que a economia vai bem, ainda que o povo va mal? Então a economia serve para quê?

9.5.09

Minha lista de blogs

A minha lista de blogs aí ao lado foi atualizada hoje.
Um pouco de nepotismo (aqui pode) com a indicação dos blogs dos primos: Blog Popular (política de Guarulhos), Cia Xamã (dança) e Sol e Água Quente (energia solar e térmica).
Tem também o Um que tenha (música de boa qualidade), Restos e fragmentos de mim (contos, poesia e etc. do Rogério Duarte - gande amigo), O Palpiteiro (do colega de labuta geográfica, Sérgio Moraes), Maria Fro (blog que já leio faz tempo, faltava jeito de colocar aqui), Ferréz (havia perdido o link numa dessas de mudar a configuração do blog, mas tá aí de novo o blog do guerreiro), Expedición donde miras (blog de ativistas culturais, excelente dica da ex-aluna Kátia Portes), Brasília, eu vi (blog do jornalista da CartaCapital Leandro Fortes) e, finalmente, o Blog do Paulinho, um dos melhores jornalistas esportivos da rede.
Tem leitura para todos os gostos! Bom proveito!

Gravidez na adolescência: um "epidemia"

Mapa das Universidades Federais que aceitarão o ENEM em 2010

O UOL Educação preparou um mapa dinâmico indicando a quais universidades federais aderiram ao novo Enem como prova do vestibular 2010. Clique aqui para vê-lo.

6.5.09

MEC propõe reformulações para o Ensino Médio

A imprensa tem noticiado ao longo da semana a intenção do MEC em promover uma reformulação no Ensino Médio.
Numa primeira olhada, uma vez que não temos nenhum documento mais completo ainda, só o noticiário da mídia, parece-me que tem a cara dos PCNs dos anos 90.
Eu mesmo participei de uma experiência que trilhava esse caminho, mas na educação de adultos, no NEA-USP (Núcleo de Educação de Adultos), por volta de 1998/99. Se assim for a novidade já tem 10 anos e a dificuldade reside em implementá-la.
Dos textos que circularam na semana, escolhi os que seguem abaixo por serem sucintos. Antes de republicá-los aqui os enviei para alguns colegas de labuta no magistério. Assim que as opiniões chegarem, vou colocá-las nos “comentários”.

Folha de São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

MEC quer trocar matérias por áreas temáticas
A intenção é eliminar a atual divisão do conteúdo em 12 disciplinas no ensino médio e criar quatro grupos mais amplos

Proposta será discutida hoje pelo Conselho Nacional de Educação; União planeja incentivos financeiros para obter adesão dos Estados

FÁBIO TAKAHASHI - DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Educação pretende acabar com a divisão por disciplinas presente no atual currículo do ensino médio, o antigo colegial. A proposta do governo é distribuir o conteúdo das atuais 12 matérias em quatro grupos mais amplos (línguas; matemática; humanas; e exatas e biológicas).
Na visão do MEC, hoje o currículo é muito fragmentado e o aluno não vê aplicabilidade no programa ministrado, o que reduz o interesse do jovem pela escola e a qualidade do ensino.
A mudança ocorrerá por meio de incentivo financeiro e técnico do MEC aos Estados (responsáveis pela etapa), pois a União não pode impor o sistema. O Conselho Nacional de Educação aprecia a proposta hoje e amanhã e deve aprová-la em junho (rito obrigatório).
O novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que deverá substituir o vestibular das universidades federais, será outro indutor, pois também não terá divisão por disciplinas.

Liberdade
Segundo a proposta, as escolas terão liberdade para organizar seus currículos, desde que sigam as diretrizes federais e uma base comum. Poderão decidir a forma de distribuição dos conteúdos das disciplinas nos grupos e também o foco do programa (trabalho, ciência, tecnologia ou cultura).
Assim, espera-se que o ensino seja mais ajustado às necessidades dos estudantes.
O antigo colegial é considerado pelo governo como a etapa mais problemática do sistema educacional. Resultados do Enem mostram que 60% dos alunos do país estudam em escolas abaixo da média nacional.
O governo Lula pretende que já no ano que vem, último ano da gestão, algumas redes adotem o programa, de forma experimental. No médio prazo, espera que esteja no país todo.
"A ideia é não oferecer mais um currículo enciclopédico, com 12 disciplinas, em que os meninos dominam pouco a leitura, o entorno, a vida prática", disse a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar.
Está previsto também o aumento da carga horária (de 2.400 horas para 3.000 horas, acréscimo de 25%).
"A mudança é positiva. Hoje, as disciplinas não conversam entre si", afirmou Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente-executivo do movimento Todos pela Educação.
"A análise de uma folha de árvore, por exemplo, pode envolver conhecimentos de biologia, química e física. O aluno pode ver sentido no que está aprendendo", disse Neves.
A implementação, no entanto, será complexa, diz o educador. "Precisa reorganizar espaços das escolas e, o que é mais difícil, mudar a cabeça do professor. Eles foram preparados para ensinar em disciplinas. Vai exigir muito treinamento."
O MEC afirma que neste momento trabalha apenas o desenho conceitual. Não há definição de detalhes da implementação ou dos custos.
O relator do processo no conselho, Francisco Cordão, disse que dará parecer favorável. "Talvez seja preciso alguns ajustes. Mas é uma boa ideia. Hoje o aluno não vê motivo para fazer o ensino médio."

Modelo de blocos já é adotado em cursos da Unifesp
DA REPORTAGEM LOCAL
A organização do ensino sem a divisão rígida de disciplinas tem sido adotada no ensino superior e em projetos especiais da educação básica no país.
No campus da Baixada Santista (litoral sul de SP) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em vez de disciplinas, foram criados quatro blocos de ensino. Um curso tradicional na instituição tem cerca de 40 matérias. A unidade foi inaugurada em 2006.
A intenção foi integrar melhor os conteúdos apresentados. No ensino superior geralmente há concentração de matérias teóricas no início do curso e práticas no final.
Nas escolas do Procentro (Programa de Desenvolvimento dos Centros de Ensino Experimental), em PE, parte do currículo une diversas matérias. Cerca de 19 mil alunos participam do programa, que une o Estado e a iniciativa privada.
A média no Enem 2007 de uma das escolas do projeto foi superior à do Rio Grande do Sul, a maior do país (62 e 58).

4.5.09

A morte de Augusto Boal

Foto publicada pela Agência Carta Maior
O Brasil perdeu um grande artista e um imenso cidadão. Como ele não estava no BBB, talvez as notícias não façam justiça a esta figura: Augusto Boal.
Nos anos 70 caiu em minhas mãos, por "acidente" e por debaixo dos panos, o livro Teatro do Oprimido. Ali encontrei o teatro que procurava e o meio de fazer política e falar para as pessoas sobre as injustiças e a opressão.
Clique aqui e aqui para ler sobre ele na CartaCapital.
Aqui um belo texto publicado na Caros Amigos. Aqui uma ótima entrevista, de fevereiro de 2008, dada à Revista Fórum.
Finalmente a matéria, excelente, do portal Agência Carta Maior, leia um trecho:

Filho de um padeiro português que chegou ao Rio de Janeiro por se recusar a servir como soldado em uma guerra com a qual não concordava e de uma certa senhora que abandonara o primeiro noivo praticamente no altar para casar, por decisão e gosto, com um “aventureiro”, Augusto Boal aprendeu desde logo que o mundo pode ser mudado, bastando para isso decisão e coragem. Toda a sua invenção no teatro parece se basear nesta fé sobre o efeito da ação do homem no mundo, que não é apenas um lance retórico, como no teatro burguês, e deve ser encontrada nos motivos da vida ordinária.


Clique aqui para ler o texto na íntegra.

A gripe e o surto de desinformação reinante

Sei que não é correto publicar textos na íntegra, mas o caso requer que seja feito assim. Abaixo segue excelente artigo do Dr. Rogério Tuma, articulista da área de saúde da revista CartaCapital, tratando de maneira sóbria, direta e bastante honesta, a "gripe suína".
Na edição desta semana a revista apresenta outra matéria sobre o mesmo tema: "Se os EUA espirram...", de autoria do Antonio Luiz M.C. Costa também imperdível, pena que não esteja disponível no site.

Epidemia de despreparo

Rogerio Tuma
A falta de preparo, o desconhecimento e a influência econômica interferem no discurso de autoridades sanitárias no mundo todo. Em vez de alertar a população, acabam por alarmá-la, provocando mais estragos que o próprio surto virótico.

A gripe suína é provocada por um tipo de vírus influenza, da mesma família que pode provocar a gripe comum e a aviária. Esta espécie é o mais frequente motivo de infecção de vias aéreas por vírus em humanos, porcos e aves, podendo causar desde um simples resfriado até uma grave pneumonia.
É provocada mais frequentemente pelo vírus influenza tipo A, subtipo H1N1. A infecção passa de um porco doente para outro por contato com secreções de espirros, gotículas de saliva e contato físico íntimo. Vez ou outra um desses vírus sofre mutação genética, o que permite a contaminação das vias aéreas de outros animais, principalmente humanos. Além de criá-los em cativeiro com pouco espaço, o que facilita a contaminação, somos muito parecidos geneticamente com os porcos.
Muitos tecidos vivos utilizados na medicina para substituir os nossos provêm de porcos. Por conta dessa semelhança e proximidade, não é raro uma epidemia de gripe suína atingir humanos e vice-versa. Outro vírus que também pode provocar a gripe suína, o influenza A H3N2, é originário de gripes humanas.
No caso da influenza suína, a morbidade é muito alta. Traduzindo: depois de passar do porco para o humano, é muito fácil a transmissão de um homem para outro, mas a sua mortalidade é baixa, isto é, o risco de uma gripe se transformar em pneumonia letal é de 1% a 4 %. Esta característica é a que melhor difere a atual epidemia da gripe aviária, em que o vírus é muito mais estranho aos humanos e atingiu mortalidade de 20%.
O mundo todo, todo ano e o ano todo tem gripe. Algumas são mais graves, pois toda infecção viral provoca uma resposta do organismo infectado com a produção de anticorpos e inflamação. Algumas vezes, a reação é tão intensa que passa a ser perigosa por si só.
Isto é mais comum quando o vírus é muito mais estranho ao organismo que infecta e, portanto, muito mais antigênico. A cepa específica que provoca a epidemia no México tem pedaços de genes da influenza aviária, humana e suína. É a primeira vez que uma mutação tão complexa é identificada. Se o fenômeno se traduz em reação inflamatória mais intensa e maior risco de morte, ainda está por ser definido.
Quando estamos diante de uma epidemia, a melhor conduta é evitar o lugar onde ela começou e onde existem mais casos clínicos. É medida errada do governo não sugerir às pessoas deixarem de viajar para os lugares por turismo até que a situação esteja controlada. Todo o prejuízo das companhias de turismo e da economia local compensa ao se poupar uma vida que seja. Além disso, como as mudanças virais são muito rápidas, ninguém colocaria um familiar na região onde um vírus com alto poder de infecção está se espalhando. Mesmo que a chance de morrer em decorrência seja muito baixa, ela não é nula.
As epidemias ocorrem por erro dos países que não vacinam seus animais e não têm programa educativo ou de orientação para os criadores de porcos e aves. Em alguns lugares o porco doente é abatido e servido na mesa do criador.
É alarmante o desserviço prestado pelos governantes e autoridades ao comentar fatos com desconhecimento e falta de bom senso. O governo dos Estados Unidos, ainda expressando o pensamento de que o mundo pertence aos americanos, reclama publicamente que já tem problemas demais com o Afeganistão e a crise econômica, e os mexicanos lhes aparecem com uma epidemia. Já faz mais de três anos que aumentou a incidência de gripe suína nos EUA.
Produtores e exportadores de carne suína no Brasil querem trocar o nome da gripe para norte-americana ou mexicana, criticando o sobrenome suíno dado para a gripe, ideia tola e errônea. O país que mais levou a sério a pandemia de influenza em 1918 e deu liberdade à imprensa para informar sua população, acabou carregando o peso de nomeá-la, pois, apesar de o vírus ter se espalhado a partir dos Estados Unidos, a gripe que matou milhões virou espanhola.
A Europa parece muito mais preparada para adequar as respostas de governo a esse tipo de ameaça, pois seus dirigentes se reservam a anunciar reuniões com seus técnicos e as precauções são dadas pelos órgãos de saúde e com bom senso. Os Estados também não vacilaram. A comissária de Saúde da União Europeia, Androulla Vassilliou, recomendou claramente aos cidadãos que evitem viagens não essenciais às regiões onde há casos confirmados da doença.
Por aqui acontece o contrário. Não houve nenhuma recomendação aos viajantes brasileiros que visitariam os locais contaminados. Eu gostaria muito de poder utilizar uma cota de passagem dos congressistas e pagar uma viagem a Cancún para o diretor de jornalismo da rede de televisão que anunciava claramente não haver perigo em viajar para o México e para o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, que fazia a mesma coisa nos dias iniciais da epidemia.
O mais ridículo foi o argumento: já que a pandemia está fora de controle, tanto faz o lugar do mundo para onde se vai viajar. Só falta agora o governo financiar as passagens em 24 vezes para que os brasileiros possam ver de perto os efeitos da gripe suína no México, ou da aviária na China. Ou, ainda, um tour pelo Saara, onde acaba de eclodir uma epidemia de meningite. Isso sem falar na dengue em nosso litoral.
Outra orientação errada é garantir que a gripe não passa pela carne de porco. É uma meia-verdade. O vírus pode estar presente na carne. Portanto, antes de ser ingerida, ela deve ser aquecida a pelo menos 70 graus.
A primeira morte ocorrida no México foi em 13 de abril, data também da ocorrência do primeiro caso americano. Até a quarta-feira 29, nove países confirmaram a presença de infectados com a gripe suína.
As chances de termos uma gripe igual à de 1918, que matou 40 milhões de pessoas, é muito menor. Não se pode negligenciar o avanço da ciência, muito menos a capacidade de nossa adaptação a situações adversas. Hoje podemos identificar se o vírus influenza está presente nas secreções de homens e animais doentes, com exames de sangue e secreções, em menos de 24 horas.
Existem antivirais que podem combater o H1N1 se o tratamento for iniciado até 48 horas do início dos sintomas: febre de 39 graus, dores de cabeça e no corpo, congestão nasal e tosse, em geral seca. Os antivirais foram deixados à disposição da Organização Mundial da Saúde. Mas não adianta nem precisa correr à farmácia para comprar o remédio. A Roche, que produz o Oseltamivir, doou 3 milhões de doses à OMS e deixou todo seu estoque no Brasil à disposição do Ministério da Saúde. A doutora Karina Fontao, diretora-médica do laboratório no Brasil, afirma ser possível produzir 400 milhões de doses em um ano.
O risco de ocorrer uma epidemia no Brasil não é baixo, por causa da intimidade que temos com o México. Precisamos estar alertas. Dos onze que foram internados por supostamente terem contraído a gripe suína, nenhum deles sequer preencheu os critérios de suspeita. Portanto, não precisamos nos alarmar. O que devemos fazer agora é ter bom senso e educação. Por exemplo, lavar as mãos e cobrir a boca ao tossir ou espirrar.


Aqui o link da publicação original.

3.5.09

Corinthians: campão paulista invicto!

Sensacional o campeonato paulista!
Eu, particularmente, prefiro os pontos corridos, mas o quadrangular deu um tempero extra ao campeonato paulista!
O Timão levou o caneco com todos os méritos.





2.5.09

Editorial da CartaCapital desta semana é supimpa

O editorial da CartaCapital desta semana está soberbo! Mino Carta sintetiza com muita felicidade, como sempre, o pensamento da maioria dos brasileiros sobre o Congresso e o Judiciário, embora seja, no meu modo ver, condescendente com Lula.
Casa-grande e senzala, sempre
Respeitados economistas europeus e americanos avisam que a crise econômica global ainda vai atingir maior gravidade nos países em desenvolvimento. Responsáveis pela saúde do mundo temem a pandemia suína. Mas não é destas crises que aqui se fala, e sim de outra, específica, de nítida marca brasileira. Nasce do descrédito das instituições democráticas, nas barbas do Pacto Republicano recentemente selado. O País tem o presidente mais popular de sua história e goza de um prestígio internacional nunca dantes navegado, graças à simpatia e à vocação diplomática de Lula, e a uma política externa inteligente, independente e assertiva. Em contrapartida, a nação não alimenta a mais pálida confiança em relação ao Legislativo e ao Judiciário. A opinião pública brasileira, por mais difícil que seja traçar-lhe os contornos, está indignada com os comportamentos dos parlamentares federais, entregues a uma mamata, como se dizia antigamente, sem precedentes. Muitos brasileiros fingem não perceber a evidência: a falta de decoro e pudor é apenas um dos aspectos de uma inesgotável trajetória de predações variadas e crescentes, a gerar uma crise moral que transcende largamente as fronteiras do Congresso Nacional. Sem grande esforço tropeçaremos em desmandos iguais nas assembleias estaduais e nas câmaras municipais de todo o País, sem excluir a possibilidade de algumas, raras, surpresas. E sem falar da leniência mais ou menos generalizada em relação a valores éticos, em nome do célebre jeitinho, praticado em quaisquer níveis com a celebração do lema: aos amigos tudo, aos inimigos a lei. Quanto ao Judiciário, é o império do presidente Gilmar Mendes, despótico não somente em Diamantino. O ministro Joaquim Barbosa não está enganado quando afirma que a Justiça está a ser “destruída”, embora nem todas as responsabilidades caibam a Mendes. Resta um fato indiscutível: o entrevero no STF, encenado ao vivo na semana passada do Oiapoque ao Chuí, teria cenário mais adequado se desenrolado em um botequim do arrabalde. Barbosa também não erra quando recomenda prestar atenção aos humores da rua.
Para ler este texto na íntegra basta clicar aqui.

1.5.09

A gripe suína e o show da notícia

O show recomeça. Outro dia era a Gripe do Frango, que, fatalmente, extirparia boa parte da humanidade, agora o bicho com gripe é outro, o porquinho!
Meu ceticismo anda em alta. Não consigo me apavorar ou entrar em pânico, mas meus alunos não falam de outra coisa.
As farmácias fizeram um caixa extra, liquidando os estoques de máscaras.
Imagino a grana que os laboratórios que fabricam antigripais estão ganhando nesse momento, não só dos consumidores “comuns, mas principalmente dos governos.
As melhores informações sobre o tema estão na BBCBrasil, clique aqui para ler.
Outra boa fonte de informação é o site Gripe Suína: prevenção, tratamento e contenção, dos pesquisadores Dr. Wladimir J. Alonso e Dra. Cynthia Schuck-Paim.

Ausência por uns dias

Pessoal, estou acompanhando alguns alunos do Pueri Domus no V Fórum FAAP de Discussão Estudantil, um projeto muito interessante, clique aqui para saber do que se trata.