30.11.06

Notícias da Folha de São Paulo

Impressionante a capacidade do jornal Folha de S.Paulo! Ontem (29/11) estampou a seguinte manchete:
Bancos lideram doações a Lula
Isso na capa, já nas páginas internas:
Setor bancário deu maior doação à campanha de Lula
As pessoas que passaram de carro ou de ônibus nas proximidades de uma banca de jornal souberam então que os bancos deram uma grana preta à campanha de Lula.
Quem comprou o jornal e leu além das manchetes soube também:
Após lucro recorde, bancos doam R$ 10,5 mi a petista, mesmo valor que para Alckmin
A manchete de capa mais lógica seria:
Bancos lideram doações a Lula e Alckmin: R$ 10,5 mi para cada
Que tal?
Depois ainda vem o Alberto Dines, do Observatório de Imprensa, falar que tem gente enxergando uma conspiração da mídia onde só há informação...

Diversidade e Tolerância Raciais

(texto publicado no Reação Cultural)

A revista Caros Amigos deste mês entrevista a ministra da Promoção de Políticas da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro. Brilhante!
Entrevista densa, temas tratados com profundidade, uma verdadeira aula sobre a questão racial no Brasil.
Ela relata avanços e percalços neste primeiro mandato do presidente Lula, abordando de forma clara as ações afirmativas, dentre elas a questão das cotas nas universidades.

para ler o restante do texto clique: Reação Cultural.

Choveu (muito!) em São Paulo


Choveu em São Paulo como fazia tempo não chovia!
Mês de novembro com chuvas exageradas.
Nesta madrugada a chuva castigou novamente, com uma intensidade anormal.
Na saída para o trabalho mais de 19 pontos de alagamento pela cidade, intransitáveis.
Rádio ligado, procurei por alternativas, uma vez que a principal via do meu bairro estava totalmente parada em razão de um grande alagamento no CEAGESP, distante alguns quilômetros, mas essencial para chegar à Marginal do Tietê e à Paulista.
Depois de 40 minutos de espera para rodar 100 metros (isso mesmo!), consegui um retorno.
Na busca de outro caminho comecei a observar a insanidade dos “com carro”! Travessia de canteiros, fechamento de cruzamentos, uso das calçadas como ruas, buzinadas e impropérios dos mais variados calibres.
Na ansiedade de resolver o seu problema pessoal, no meio de um mar de carros e seres humanos, a insanidade da metrópole faz tudo piorar.
A dinâmica da cidade também é maluca.
As pessoas se comunicam pelos celulares indicando aos amigos os melhores trajetos. De repente o que era o melhor trajeto vira o pior possível e aquele que estava bloqueado pelos agentes do trânsito são liberados.
Por falar neles, os agentes de trânsito, com todo o caos reinante lá estavam os ditos cujos com os blocos (ou palms) em punho, multando os desavisados que ultrapassavam o horário de rodízio. Neste caso o rodízio nada tem a ver com aqueles restaurantes onde nos locupletamos de carnes, mas sim uma limitação à circulação de automóveis, de acordo com o final da placa, nos chamados horários de pico (das 7 às 10 e das 17 às 20 horas).
O trajeto que cumpro em 20 minutos, meia hora no máximo, consumiu uma hora e quarenta minutos!
Isso de carro, imaginem para a maioria da população que depende do precário sistema de ônibus da cidade!

Computador para todos


Foto: New York Times - 30/11/06.

Tem causado furor o aparecimento do laptop de U$ 100, destinado aos estudantes dos países pobres.
Como sempre, no aparecimento de novidades deste tipo, surgem os que defendem radicalmente a idéia e aqueles que também radicalmente a contestam.
Nem tanto ao mar nem tanto a terra, como diriam os velhos sábios.
É claro que como projeto de inclusão digital o projeto é válido para os países pobres, principalmente se estimular o uso de softwares livres e estimular o manuseio dessas novas tecnologias, como a Internet.
Para aqueles que conhecem a informática educacional sabem que é um ótimo instrumento na melhoria do aprendizado.
Por outro lado o laptop não pode ser encarado como a panacéia da inclusão digital. Por si só nenhum equipamento ou tecnologia resolverá os imensos problemas da nossa educação sem antes debruçar-se sobre problemas bem menos espetaculares: estruturas curriculares, condições de trabalho do professor, salários, laboratórios, limite de alunos por turma etc.
Quando discussões como estas tomam os jornais lembro-me de uma palestra que dei em 1998, em São Miguel Paulista, bairro da periferia de São Paulo, para professores que trabalhavam com educação de jovens e adultos.
Apresentei a eles, com muito entusiasmo, o trabalho que fazíamos no NEA-USP (Núcleo de Educação de Adultos da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo). Transparências, fichas coloridas, revistas para apoio e pesquisa etc.
Lá pelas tantas um mocinha levanta a mão no fundo da sala e pergunta:
- Professor, seria possível adaptar esse projeto para a minha escola? Lá nós não temos ainda retroprojetor, nem máquina copiadora, na verdade não temos nem mesmo giz...

25.11.06

Vestibular

Amanhã é dia de Fuvest, um dos vestibulares mais concorridos do país!
Deixo aqui registrado o desejo de sucesso para os meus alunos e os demais jovens empenhados nessa missão de chegar à Universidade.
Infelizmente, dentre outras inúmeras distorções existentes no nosso país, o vestibular é um momento onde se expressam as desigualdades que afligem nossa juventude.
A maior parte das vagas das universidades públicas será atribuída aos estudantes que freqüentaram as escolas particulares, as mais caras, óbvio!
Os jovens egressos das escolas públicas têm poucas chances, melhoradas nestes tempos pela inserção das propostas de cotas (raciais ou sociais), mas longe da meritocracia propalada por parte da elite.
Tal seleção baseada no mérito só seria possível se a escolarização básica fosse democrática, no acesso e na qualidade, coisa que está longe de acontecer.

Existe racismo no Brasil?

Recebi algumas contribuições de leitores e leitoras atentas sobre a pergunta acima.
Verdade que recebi também uma postagem anônima, enorme, com muitos questionamentos, típicos da pequena-burguesia brasileira, com a consciência formada nas páginas da Revista Veja. Gostaria de responder, pena que não sei para quem responder, uma vez que a postagem abriga-se nas sombras do anonimato.
Claro que ainda existem sopros de esperança na nossa mídia e a Carta Capital não me decepcionou, trouxe na edição da semana passada interessante matéria: A cor faz a indiferença. Felizmente on-line, então é só clicar no título e refletir um pouco.
Não deixe de observar com atenção o mapa e as tabelas que compõem a reportagem (clique aqui).
Eu continuo afirmando, como faço em sala de aula, que existe sim racismo no Brasil. O pior tipo de racismo, pois está escamoteado, protegido por um manto de hipocrisia e faz-de-conta.
Em parte alimentado pelo mito da “democracia racial” e a partir de então por todos os mecanismos sociais de opressão e segregação postos a funcionar em nossa sociedade.
Por não bater na nossa cara cotidianamente fica mais difícil vê-lo aqui no Brasil do que na África do Sul, EUA ou Europa, mas ele está em toda parte.

22.11.06

Vote no seu parlamentar preferido

Reproduzido do blog da Brisa do Sul:

O site Congresso em Foco está com as eleições abertas para a escolha dos parlamentares do ano. Serão escolhidos 25 deputados e 15 senadores para receber o "Prêmio Congresso em Foco".

O que eu não gostei é que já houve uma pré-seleção, ao menos é o que se deduz, pois não estão relacionados todos os parlamentares do Congresso.

Mesmo assim, para não dar o gostinho para os que eu não gosto, achei melhor votar. Não vou revelar para quem votei a fim de não infuir na escolha de vocês.

Para votar nos seus preferidos clique aqui.

Divulgando o que é bom

Como as vezes faço, segue abaixo algumas dicas de boa leitura na blogosfera.

Franklin Martins
Coluna do iG
A oposição deixou claro ontem no Congresso que está inteiramente perdida. Na Câmara, foi derrotada ao propor a elevação do índice de reajuste das aposentadorias de 5,01% para 16,67%, medida que, se levada à prática, produziria um rombo nas contas públicas de R$ 8 bilhões. No Senado, comemorou em meio a gargalhadas a aprovação do projeto de Efraim Morais (PFL-PB), determinando o pagamento de benefício natalino no “Bolsa Família”. A novidade representa um custo adicional de R$ 700 milhões para o programa.

Para ler mais, clique no link...


Luis Nassif
INSS, gestão e planilha
Coluna Econômica – 22/11/2006 +
As metas do “choque de gestão” do INSS, apresentado na semana passada ao presidente Lula, não foram calculadas de acordo com o padrão Gimabiagi de mensuração do prazer solitário – aquele que é forjado entre ele e sua planilha.
No ano passado – conforme já informei aqui – o Ministério da Previdência iniciou um programa de qualidade no INSS. O programa, comandado pelo Ministro da Previdência Social Nelson Machado, trabalhou inicialmente com recursos próprios do órgão. Secretário Executivo do Ministério. Carlos Eduardo Gabas me escreve explicando que foram utilizadas ferramentas que sempre estiveram disponíveis na casa, mas nunca antes haviam sido utilizadas. “Não existe mágica, nem milagre, é apenas ‘arroz com feijão’ bem preparado”, explica ele. Servidor concursado desde 1985, Gabas diz nunca ter participado antes de um trabalho desse porte, apesar de ser um trabalho óbvio.

Para ler mais, clique no link... não deixe de abrir a aba “Minhas Músicas”.


Luiz Carlos Azenha
Rupert Murdoch ajudou George W. Bush a tomar de assalto a mídia americana, depois da eleição do republicano em 2000.
O barão da mídia australiano, maior publisher em língua inglesa do mundo, fez isso usando suas emissoras de tevê americanas, principalmente a Fox News Network, concorrente da CNN.
Fez isso abrindo espaço para uma campanha de intimidação contra jornalistas que não concordavam com a política externa de Bush, especialmente depois dos ataques de 11 de setembro de 2001.

Para ler mais, clique no link...

A eleição acabou! E agora?

Parece mesmo disputa de futebol: acabou o campeonato, os vitoriosos se embriagam de prazer, os derrotados ficam amuados pelos cantos, curtindo a frustração, mas tudo isso por poucos dias.
Mas a pauta da vida política continua por aí, cadê a bendita imprensa para colocá-la nas manchetes?
Afinal temos a questão do orçamento, nos planos federal, estadual e municipal, coisa essencial para todos os cidadãos e ninguém esmiúça, não aparece um Infográfico, daqueles que a Folha e a Veja adoram, detalhando de maneira didática o que os governos pretendem fazer com nosso rico dinheirinho e como, ou se, podemos fiscalizar isso.
Aqui em São Paulo, como deve ser de resto nos outros estados, o candidato vencedor debruça-se sobre a montagem da sua equipe de governo e a imprensa divulga apenas o nome dos secretários, como se fosse lista de resultado de concurso público, nem uma linha sobre sua conduta política, ética etc.
O governo Lula esforça-se para montar o governo de coalizão.
Enquanto isso a grande mídia preocupa-se com as intrigas partidárias e palacianas, nada de cobrar um programa mínimo, pois havendo a tal coalizão deverão nos explicar o porquê dela, quais os pontos de aproximação entre o programa do candidato Lula e o programa do PMDB (duvido alguém encontrar isso), ou pelo menos construir um.
Como sempre o colunista Jânio de Freitas está no rol das exceções, publicou na Folha de São Paulo de hoje (só para assinantes) interessante análise sobre o processo de escolha do novo ministério, conduzido pessoalmente pelo presidente Lula.
E a patacoada do 13º salário para o “Bolsa Família”? Sim prezados e prezadas, o PFL e o PSDB conseguiram tal proeza no Senado! Onde está a coerência desta oposição, que classificou o programa do governo de “bolsa esmola”, “assistencialismo barato”, dentre outros adjetivos e agora resolve conceder abono natalino?
Vamos esperar o final de semana para vermos a indignação da revista Veja com tal descalabro com as contas pública.

18.11.06

III Marcha da Consciência Negra

Bolivia. Diario de lucha.



Ótimo site, indicação de Brisa do Sul:
http://www.diariochebolivia.cubasi.cu/

Belo registro do período de luta na Bolívia.
Diários, fotos, mapas etc.
Material muito rico, organizado pelo Centro de Estudos Che Guevara.

20 de Novembro - Dia da Consciência Negra

Segunda-feira, dia 20 de novembro é feriado municipal em São Paulo. Dia da Consciência Negra.
Um dia reservado para a reflexão da nossa sociedade sobre o prejuízo que causamos aos negros com a escravidão e com o racismo, acobertado pelo mito da “democracia racial”.
Na revista Caros Amigos deste mês a ministra chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Matilde Ribeiro, concede brilhante entrevista tratando da questão racial no Brasil.

(Clique aqui para ler um trecho disponível no site).
Ainda na Caros Amigos, mas no menu “Só no site” temos um excelente artigo, Zumbi e o feriado (clique no título para ler a matéria), uma verdadeira aula de história, principalmente para aqueles que pensam a nossa nação formada por europeus apenas ou predominantemente.

14.11.06

Diogo Mainardi, o pitbull da Veja

O texto abaixo foi publicado neste mês na revista eletrônica Nova-e.

Diogo Mainardi, o pitbull da Veja

Altamiro Borges

O presidente interino do PT e ex-coordenador da campanha presidencial de Lula, Marco Aurélio Garcia, deu a resposta que estava entalada na garganta de muitos brasileiros. Na semana passada, o “colunista” Diogo Mainardi, o pitbull da revista Veja, solicitou por e-mail uma entrevista exclusiva com o dirigente petista. “Eu gostaria de entrevistá-lo por cerca de quatro minutos para um podcast da Veja. O assunto é a imprensa. Eu me comprometo a não cortar a entrevista. Ela será apresentada integralmente”, apelou.

A resposta de Marco Aurélio foi direta: “Sr. Diogo Mainardi, há alguns anos – da data não me lembro – o senhor dedicou-me uma coluna com fortes críticas. Minha resposta não foi publicada pela Veja, mas sim, a sua resposta à minha resposta, que, aliás, foi republicada em um de seus livros. Desde então decidi não falar com a sua revista. Seu sintomático compromisso em não cortar minhas declarações não é confiável. Meu infinito apreço pela liberdade de imprensa não vai ao ponto de conceder-lhe uma entrevista”.

Reacionário e preconceituoso convicto

Há tempos que as estripulias deste badalado jornalista da mídia hegemônica mereciam este tipo de reação. Expressão do que há de mais reacionário e preconceituoso na imprensa brasileira, este direitista convicto colecionou inúmeros adversários desde que deixou de escrever banalidades sobre cultura e passou a tratar de temas políticos na sua coluna semanal da revista Veja, na qual escreve desde 1999. Seus cinco livros – um deles sugestivamente batizado de “Contra o Brasil” – e dois filmes nunca tiveram maior repercussão, mas os seus comentários rancorosos na mídia excitaram a direita nativa. Mais recentemente, ele também substituiu outro renomado elitista, Arnaldo Jabor, no programa Manhattan Connection, da Rede Globo.

Para ler o texto na íntegra, clique aqui.

Emoções que não têm preço II

O Jaime Ernesto estuda no Grupo Oficina, uma escola com uma proposta muito interessante, próxima da minha casa, em Osasco.
O espaço é encantador e os trabalhos que eles fazem com as crianças são maravilhosos.
Eles estudam um grande artista por semestre e finalizam o trabalho com releituras das suas principais obras, feitas pelos alunos.
Abaixo Jaiminho como “Moisés”, de Michelangelo.

Ensino religioso na rede pública

Li na Folha on-line hoje que o MEC está discutindo o ensino religioso na escola pública. (Clique aqui para ler a matéria).
Declara Ricardo Henriques, secretário da Secad (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade): "Queremos aproveitar o ambiente rico da educação para tentar fazer com que as várias visões de mundo conversem. O ensino religioso, a partir de uma visão ecumênica, tem a potencialidade de discutir a tolerância e o pluralismo".
Ora, para discutir tolerância e pluralismo o Estado não precisa meter-se na vida religiosa do indivíduo, isso é papel da família e do seu grupo social, bastaria estimular tal debate nas disciplinas de história, geografia, filosofia, língua portuguesa, ou ainda retomar a idéia de transversalidade do tema, abordando-o ao longo dos anos de escolarização em projetos com tais finalidades.
O ensino religioso na escola pública subverte o princípio laico do Estado. O que fazer com os ateus? Como garantir representatividade para todos os credos? Esse papel é da escola?
Claro está que a escola vem assumindo vários papéis que, em outros momentos, pertenciam à família, por exemplo, mas tais funções não estabelecem conflitos nem com a família e muito menos com o aparato constitucional do Estado.
A meu ver tal não acontece com o ensino religioso na escola pública. Ele contraria a Constituição Federal (artigo VI, Dos Direitos e Garantias Fundamentais – CAPÍTULO I
DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS)
.

12.11.06

"Desculpem a nossa falha"

Não, não é uma frase do Jornal Nacional, é uma frase do primeiro-ministro de Israel ao justificar o assassinato de crianças palestinas na última ofensiva do seu exército.
Leia, clicando aqui, as declarações de Ehud Olmert.
Os disparos de foguetes israelenses sobre as residências em Beit Hanoun, ao norte da Faixa de Gaza mataram 26 palestinos, a maioria mulheres e crianças enquanto dormiam.
O Qatar propôs uma resolução de condenação a este ato terrorista no Conselho de Segurança da ONU, mas os EUA vetaram a resolução.
Embora a aprovação tenha obtido dez votos – Argentina, China, Congo França, Gana, Grécia, Peru, Rússia, Qatar e Tanzânia – o veto dos EUA bastou para invalidar a resolução.
Registrem-se ainda as quatro abstenções de Reino Unido, Dinamarca, Japão e Eslováquia.
Claro que os países árabes deverão reagir a tal situação.

8.11.06

Esquerda e direita

Artigo de ARIANO SUASSUNA, escritor paraibano, autor de "O Auto da Compadecida"

Publicado na Folha de São Paulo de 14 de setembro de 1999

Não concordo com a afirmação, hoje muito comum, de que não mais existem esquerda e direita. Acho até que quem diz isso normalmente é de direita.
Talvez eu pense assim porque mantenho, ainda hoje, uma visão religiosa do mundo e do homem, visão que, muito moço, alguns mestres me ajudaram a encontrar. Entre eles, talvez os mais importantes tenham sido Dostoiévski e aquela grande mulher que foi santa Teresa de Ávila.
Como conseqüência, também minha visão política tem substrato religioso. Olhando para o futuro, acredito que enquanto houver um desvalido, enquanto perdurar a injustiça com os infortunados de qualquer natureza, teremos que pensar e repensar a história em termos de esquerda e direita.
Temos também que olhar para trás e constatar que Herodes e Pilatos eram de direita, enquanto o Cristo e são João Batista eram de esquerda. Judas inicialmente era da esquerda. Traiu e passou para o outro lado: o de Barrabás, aquele criminoso que, com apoio da direita e do povo por ela enganado, na primeira grande "assembléia geral" da história moderna, ganhou contra o Cristo uma eleição decisiva.
De esquerda eram também os apóstolos que estabeleceram a primeira comunidade cristã, em bases muito parecidas com as do pré-socialismo organizado em Canudos por Antônio Conselheiro. Para demonstrar isso, basta comparar o texto de são Lucas, nos "Atos dos Apóstolos", com o de Euclydes da Cunha em "Os Sertões". Escreve o primeiro: "Ninguém considerava exclusivamente seu o que possuía, mas tudo entre eles era comum. Não havia entre eles necessitado algum. Os que possuíam terras e casas, vendiam-nas, traziam os valores das vendas e os depunham aos pés dos apóstolos. Distribuía-se, então, a cada um, segundo a sua necessidade". Afirma o segundo, sobre o pré-socialismo dos seguidores de Antônio Conselheiro: "A propriedade tornou-se-lhes uma forma exagerada do coletivismo tribal dos beduínos: apropriação pessoal apenas de objetos móveis e das casas, comunidade absoluta da terra, das pastagens, dos rebanhos e dos escassos produtos das culturas, cujos donos recebiam exígua quota parte, revertendo o resto para a companhia" (isto é, para a comunidade).
Concluo recordando que, no Brasil atual, outra maneira fácil de manter clara a distinção é a seguinte: quem é de esquerda, luta para manter a soberania nacional e é socialista; quem é de direita, é entreguista e capitalista. Quem, na sua visão do social, coloca a ênfase na justiça, é de esquerda. Quem a coloca na eficácia e no lucro, é de direita.

Imprensa: o que ela aprendeu com a Escola Base?

Lembram-se do caso?
Corria o ano de 1994, o mês era março e de repente, aparece um prato excepcional para a mídia paulistana: seis pessoas envolvidas no abuso sexual de crianças, alunas da Escola Base, localizada no Bairro da Aclimação, na capital.
Tudo com respaldo da polícia, principalmente de um delegado louco pelos 15 minutos de fama, além de depoimentos de pais de alunos.
Posteriormente descobriu-se que tudo não passou de um engano da parte da mãe de um aluno e das autoridades policiais. Mas aí as vidas dessas pessoas estavam destruídas: escola depredada, professora sem emprego etc.
Recorreram à Justiça.
Vejam as informações retiradas do site Consultor Jurídico:

“Não se sustenta a tese da defesa de que, durante o episódio da Escola Base, a imprensa se limitou a divulgar uma simples e mera notícia. Na verdade, no caso em julgamento, os jornais se excederam, extrapolando o noticiário e, por isso mesmo, devem responder pelos atos praticados.
Esse foi o entendimento da 6ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, que, na manhã desta quinta-feira (4/8), condenou a empresa S/A O Estado de São Paulo – que edita os jornais O Estado de S. Paulo e Jornal da Tarde – a pagar indenização, por danos morais, no valor de R$ 250 mil a cada uma das três pessoas envolvidas no caso da Escola Base. Cabe recurso.”

“Esta é a segunda derrota da mídia no caso da Escola Base. No último dia 19, a 10ª Câmara de Direito Privado do TJ condenou a Editora Três – proprietária da revista Isto É – a pagar indenização, por danos morais, no valor de R$ 200 mil a cada um dos donos da Escola Base. A decisão foi tomada, por maioria de votos. Votaram os desembargadores Octávio Helene, Testa Marchi e Paulo Dimas Mascaretti.
Em seu voto, o relator do recurso, Octávio Helene, entendeu que nas reportagens publicadas pela revista não havia culpa grave, que os autores, posteriormente, reconheceram o erro, mas que isso não poderia excluir os danos causados às pessoas injustamente acusadas.”
4/8/05.

“O jornal Folha de S. Paulo foi condenado pela 6ª Câmara de Direito Privado do TJ paulista a pagar indenização por danos morais de R$ 750 mil aos ex-donos e ao motorista da escola. Na ocasião, os desembargadores Sebastião Carlos Garcia (relator), Isabela Gama de Magalhães (revisora) e Magno Araújo (3º juiz) reformaram sentença de primeira instância e reduziram o valor a ser pago a cada uma das vítimas de R$ 450 mil para R$ 250 mil.”
14/09/05.

Caso queiram mais detalhes sobre esse episódio leiam aqui.
Não sei se temos notícias mais atualizadas sobre os processos, fica um exemplo de como age a mídia e de como se faz necessária uma legislação eficaz contra os desmandos e os linchamentos morais efetuados por uma imprensa acostumada a adulação e bajulação por parte daqueles que buscam os holofotes.
Nestas eleições para presidente vimos casos semelhantes. Acusações sem provas, repercussão de depoimentos fabricados, bem a calhar para os interesses deste ou daquele partido e depois tudo se esquece, como se nada tivesse acontecido.
Temos que dar um paradeiro nisso.
Primeiro, quebrando os monopólios de comunicação, enfraquecendo o seu poder e depois alterando a legislação de forma eficaz.

7.11.06

Emoções que não têm preço

No dia dos pais, em agosto último, recebi um bilhete do meu filho que completará 7 anos em dezembro.
Não contive as lágrimas, foi um presente lindo.
A promessa que ele me faz no bilhete, vejam vocês mesmos, lança nossa imaginação num sonho sem fim. Temos até que pará-la para não correr o risco querer nossos sonhos como sonho dele.

Curso rápido de jornalismo


Agência Carta Maior

Horário de verão: é mesmo necessário?

Estou de péssimo humor, motivo: horário de verão!
Como isso é chato, desorganiza toda a minha vida. Estou me sentindo como se não dormisse durante dias. O cansaço é permanente, assim como a irritação e o humor semelhante ao de um tucano no dia 30/10.
Não consegui entender direito ainda a vantagem disso tudo. Os números sobre a economia com energia são sempre divergentes. Não dá pra entender se a economia é real ou acontece apenas no horário de pico, desafogando o sistema.
Penso que seria necessário quantificar também o aumento dos gastos com saúde e a queda de produtividade, comparando-os com a economia de energia elétrica para descobrir se realmente ele é vantajoso.
Talvez essa coisa com o horário de verão seja apenas ranhetice ou por razões profissionais, afinal nesta época do ano os professores do ensino básico estão chamando “urubu de meu loro”.
Para quem conhecer o histórico dessa maldição é só clicar aqui.

5.11.06

Emir Sader: uma condenação injusta e sem sentido

Numa mostra da qualidade do nosso judiciário, o professor Emir Sader foi condenado, como explica a matéria abaixo, somente por ter reagido às ofensas daquele oligarca do sul, o senador-sinhozinho Bornhausen.
O professor Emir Sader merece nossa solidariedade. Tive a honra de colocar a minha assinatura no Manifesto, ela recebeu o número 1587, espero que todos os poucos leitores deste blog também o façam.


Manifesto em solidariedade a Emir Sader
Da Redação – Carta Maior
A sentença do juiz Rodrigo César Muller Valente, da 22ª Vara Criminal de São Paulo, que condena o professor Emir Sader por injúria no processo movido pelo senador Jorge Bornhausen (PFL-SC), é um despropósito: transforma o agressor em vítima e o defensor dos agredidos em réu.
O senador moveu processo judicial por injúria, calúnia e difamação em virtude de
artigo publicado (clique no link para ler o texto na íntegra) no site Carta Maior , no qual Emir Sader reagiu às declarações em que Bornhausen se referiu ao PT como uma "raça que deve ficar extinta por 30 anos". Na sua sentença, o juiz condena o sociólogo "à pena de um ano de detenção, em regime inicial aberto, substituída (...) por pena restritiva de direitos, consistente em prestação de serviços à comunidade ou entidade pública, pelo mesmo prazo de um ano, em jornadas semanais não inferiores a oito horas, a ser individualizada em posterior fase de execução". O juiz ainda determina: “(...) considerando que o querelante valeu-se da condição de professor de universidade pública deste Estado para praticar o crime, como expressamente faz constar no texto publicado, inequivocamente violou dever para com a Administração Pública, motivo pelo qual aplico como efeito secundário da sentença a perda do cargo ou função pública e determino a comunicação ao respectivo órgão público em que estiver lotado e condenado, ao trânsito em julgado”.
Numa total inversão de valores, o que se quer com uma condenação como essa é impedir o direito de livre-expressão, numa ação que visa intimidar e criminalizar o pensamento crítico. É também uma ameaça à autonomia universitária que assegura que essa instituição é um espaço público de livre pensamento. Ao impor a pena de prisão e a perda do emprego conquistado por concurso público, é um recado a todos os que não se silenciam diante das injustiças.

Nós, abaixo-assinados, manifestamos nosso mais veemente repúdio.

(Os que desejarem assinar o manifesto podem fazê-lo através do endereço www.petitiononline.com/emir/petition.html)

O papel do professor na educação

Gente, o texto abaixo é muito interessante e fiz a cópia na íntegra, se o site reclamar eu retiro.
Ele está no Aprendiz e trata de falta de preparo do professor para lidar com dois temas muito importantes: sexualidade e cidadania.
A pedagoga Tânia Zagury autora do trabalho que deu origem à matéria, não culpa o professor pelo despreparo, mas toca em pontos fundamentais da estrutura escolar para detectar o problema.
Não é possível a quantidade de “novidades”, “modismos”, invenções burocráticas e novas funções atribuídas aos professores no seu cotidiano.
Somos profissionais da educação e como tal devemos ser respeitados, não podem, escola, estado e sociedade, exigir que nós sejamos também doadores de nosso tempo e nossas vidas para o processo educacional.
Nunca é demais lembrar que a escola é um local e um tempo específico do processo educacional e que a sociedade e a família também participam do processo, com maior presença temporal e física.


Professores não estão preparados para tratar de cidadania
Alan Meguerditchian

Mais da metade dos professores - 59% - não se sente apta a trabalhar com educação sexual em suas turmas. E 53% avaliam que também não têm condições de falar sobre drogas com seus alunos. Os dados, apresentados pela pedagoga Tânia Zagury no 1º Encontro Internacional Pátio-ISME de Educação para a Cidadania, realizado na cidade de São Paulo, foram obtidos junto a dois mil professores dos ensinos fundamental e médio de todo o Brasil.
Diante desta realidade, Zagury avalia que é complicado cobrar de um professor resultados, se a maioria nem domina assuntos que surgiram em uma discussão em sala de aula. "Como exigir competências se não damos condições aos professores?", questiona.
Para a pedagoga, o despreparo dos educadores é resultado de um processo histórico que envolve diversos aspectos da sociedade. "Família e direção cobrando resultados, são dois dos elementos. Mas o principal é o professor ficar refém de um sistema educacional que muda sucessivamente, que delega mais tarefas do que ele tem tempo de fazer", explica.
Para Zagury, um dos exemplos da interferência maléfica das políticas educacionais é a progressão continuada. Na mesma pesquisa, a estudiosa identificou que 66% dos professores concordam que o método só poderia ser aplicado se o aluno tivesse alguma garantia de um ensino de qualidade. "Implantaram o sistema sem pedir a opinião daqueles que estão na frente de batalha. Assim, o professor enxerga-se apenas como executor de decisões de políticas partidárias", disse.
Mesmo assim, a pedagoga é otimista e acredita na ação dos professores como peça fundamental para a mudança. "Perguntados sobre a motivação para tratar de sexo e drogas, 67% e 76%, respectivamente, disseram que estavam com vontade de abordar os temas".
Sem discordar da difícil situação encontrada pelos professores, a diretora da Escola Brasileira de Professores (Ebrap), Guiomar de Mello, colocou que cidadania não se ensina diretamente e que basta os educadores exercerem sua função para que os estudantes formem-se como cidadãos. "Se o conhecimento do currículo for aproveitado pelos alunos como algo significativo para as suas ações no mundo, o professor já estará fazendo a sua parte", diz.
A partir dessa idéia, Mello coloca que a biologia pode influenciar os jovens nas decisões sobre os seus corpos, a história pode influenciar nos ideais políticos, assim por diante. "Com os conhecimentos contextualizados, os nossos alunos poderão agir mais ativamente e conscientemente na sociedade. O que é o esperado de um cidadão", acredita.

Fonte: http://aprendiz.uol.com.br/content.view.action?uuid=a4e09cea0af4701000f102d3f9e67716

2.11.06

Feriado

Amigos e amigas, estarei fora de São Paulo até domingo, para alegria de vocês que não receberão nenhum novo recadinho. Em compensação, quando eu voltar...