29.11.10

O Enem no olho do furacão

As mazelas da educação no Brasil são conhecidas por todos. Elas guardam correspondência com o gigantismo do nosso território e das nossas potencialidades.
O desarranjo é de tal dimensão que aquele que conseguir colocar o sistema educacional nos trilhos passará para a história como herói nacional!
Isso explica a visibilidade que o Enem – Exame Nacional do Ensino Médio – alcançou, para o bem e para o mal.
Infelizmente as duas últimas edições deste exame trouxeram inúmeros dissabores para os estudantes, familiares, educadores e sociedade em geral.
Em 2009 ocorreu o roubo da prova e seu posterior vazamento para a mídia – um ato criminoso ainda não esclarecido. O desgaste foi imenso e os prejuízos – financeiros, pedagógicos e políticos – idem.
Já neste ano, os erros formais ganharam destaque. Cabeçalhos dos gabaritos invertidos, cadernos misturados, numeração das questões fora de ordem, dentre outros problemas, destacaram-se.
A mídia superdimensionou tais problemas e o poder Judiciário intercedeu de maneira estabanada, gerando um clima de intranqüilidade desnecessário por todo o país.
Neste momento, tudo indica que a solução encaminha-se para o bom senso, dando aos alunos e alunas prejudicados o direito de realizarem a prova novamente. Dos 3,3 milhões de candidatos que prestaram a prova, algo próximo de 2.000 deverão refazê-la.
É preciso aproveitar este momento para desencadear uma discussão acerca do Enem que envolva professores e pensadores da Educação. Não se trata, em absoluto, de negar a validade do exame ou querer extingui-lo, como desejam alguns, movidos por puro oportunismo político.
No entanto, não podemos nos negar a refletir sobre ele e buscar o seu aperfeiçoamento.
No nosso contexto – grande dimensão territorial, diversidade cultural e regional, convém perguntar: cabe um exame de caráter nacional? Não seria mais interessante sua regionalização?
E ainda, pode o mesmo instrumento ser usado para vários propósitos de avaliação?
Na forma como está o Enem, ele serve para o ingresso na universidade, assemelhando-se a um imenso vestibular nacional ou certificação do Ensino Médio, substituindo os exames de suplência e ainda para balizar os projetos pedagógicos das escolas.
Os professores precisam ser ouvidos. Cabe ao MEC criar instrumentos para que aqueles que estão na sala de aula, vivenciando o cotidiano da educação, possam manifestar-se.
É necessário explicar como a prova é elaborada, a maneira como é corrigida e deixar claro todos os critérios de avaliação.
Afinal não se pode avaliar os alunos e as alunas sem explicar-lhes o que se quer saber!

Texto publicado na Revista Weekend - nº 57 - 26/11/2010.

25.11.10

Oriente Médio - a gênese das fronteiras

Recomendo a leitura do excelente livro Oriente Médio - a gênese das fronteiras.
Trabalho feito com esmero e muita competência pelo amigo Edílson Adão C. da Silva, fruto de muita pesquisa e reflexão.
No site da editora encontramos a seguinte apresentação:

O livro
A gênese das fronteiras do Oriente Médio remonta ao início do século XX, mais precisamente, ao término da Primeira Guerra Mundial quando, fruto de um processo híbrido entre a dissolução do Império Otomano e da investida imperialista na região, em particular, da Grã-Bretanha e da França, foram se constituindo os primeiros Estados modernos. O livro faz uma rápida retrospectiva desde a constituição do Islã como catalizador da história regional, passando por vários califados, até o último, o sultanato turco, findado pelo movimento “Jovens Turcos” que encaminhou a criação da Turquia moderna. Momento capital à formação dos Estado locais, a “Revolta do Deserto” é narrada a partir da releitura da obra “Os sete pilares da sabedoria”, um depoimento de Thomas Edward Lawrence, personagem polêmica e que esteve envolvida diretamente com os bastidores do traçado das fronteiras no Oriente Médio, quando combateu ao lado de Feissal ibn Ali, da Casa Hachemita.

19.11.10

Por que todo mundo se mete a falar sobre educação?

Tal pergunta sempre me intrigou. Quando temos um problema de saúde pública no país a imprensa ouve o Ministro da Saúde e também médicos. Quando ocorrem os "deslizamentos" de terra no verão eles ouvem o prefeito e alguém da área de Geografia, Geologia ou Engenharia. Sempre buscam os especialistas.
Mas, quando o assunto é educação, até a Miriam Leitão opina!
Sobre isso o cientista Miguel Nicolelis, brilhante como sempre, concedeu uma entrevista para Conceição Lemes, registrada no site Vi o Mundo do jornalista Luiz Carlos Azenha.
Vejam a introdução da matéria:

Nicolelis: Só no Brasil a educação é discutida por comentarista esportivo
por Conceição Lemes
Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.
Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões submeteram-se às provas. O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas. Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.
No teste do sábado, ocorreram dois erros distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.
O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.
“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”
Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação parabolsa do PRO-UNI.
“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura! Como jornalistas que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!”
Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (standart admissions test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.

Para ler a entrevista na íntegra clique aqui.

10.11.10

O Enem não deve ser cancelado!

Novamente o Enem – Exame Nacional do Ensino Médio – está no meio da confusão!
Ano passado foi o roubo e vazamento da prova, aliás, as investigações sobre o episódio seguem em passo de tartaruga manca.
Desta vez uma série de erros trouxe o exame para as manchetes dos jornais.
Para alguns se trata do 3º turno da campanha presidencial! Mostrar que o governo Lula – usando o Ministério da Educação e o ministro Haddad como exemplo.
Então, vamos por partes.
Os erros são impensáveis para um empreendimento deste tipo. O INEP deveria ser mais zeloso na elaboração do Enem. Os responsáveis pelos erros devem ser exemplarmente punidos e, caso seja a empresa contratada, que pague por isso.
A troca dos cabeçalhos nas provas do primeiro dia é um erro primário e seria facilmente evitado. Pergunta-se: isso inviabilizou a realização da prova? Claro que não! No máximo um pequeno dissabor para os alunos e alunas.
Também apareceram erros na montagem do caderno amarelo. Aproximadamente 30.000 exemplares dos mesmos estavam comprometidos, destes 21.000 foram distribuídos. Isso num total de 10 milhões de provas impressas representa 0,3% de problemas.
Esse erro foi impedimento para que o candidato ou candidata fizesse a prova? Não! Foi dada a eles a possibilidade de trocar o caderno.
Aqui temos um problema maior do que o anterior, pois em razão do tempo pode não ter dado tempo de se fazer a troca. O MEC propõe que estes alunos façam uma nova prova.
A OAB alega que isso fere a universalidade do exame. Claro que ela desconhece o método de construção da prova do Enem. Ele permite que se estabeleça igual parâmetro de dificuldade para provas diferentes.
Foi esse método – desenvolvido a partir da Teoria de Resposta ao Item – que permitiu ao MEC aplicar o Enem 2009 a 160 candidatos que não puderam participar da prova em razão das enchentes no Espírito Santo.
Interessante que naquela ocasião não houve essa grita a respeito da “universalidade” da prova!
Os outros erros encontrados não comprometem ou invalidam o Enem, devemos observá-los com atenção.
Os professores devem ser consultados a respeito das próximas edições e também discutir a metodologia do exame para assim compreendê-lo melhor.
Algumas críticas que surgiram foram tão pesadas e desproporcionais que mais parecem oportunismo, eleitoral, pedagógico ou de “mercado”.

4.11.10

Gato no telhado

A cada dia que passa a vida nos reserva novas e instigantes surpresas. Hoje, por exemplo, descobri que tem um gato preso no forro da minha casa.
O barulho ocorre há dois ou três dias. Minha mulher temia por uma infestação de ratos.
Pelos ruídos que ouvi disse a ela que o rato deveria ser praticamente um Ronaldo Fenômeno, tal o barulho que fazia.
Hoje os sons se intensificaram. Disse então a minha mulher: isso só pode ser um gato!
Profunda conhecedora do idioma dos felinos, minha senhora soltou alguns miados, imediatamente respondido pelo coiso que se encontra no forro.
Constatado o problema, basta abrir um alçapão e adentrar o forro para liberar o gatinho.
Problema número 1: minha circunferência impede o acesso ao alçapão!
Problema número 2: não tem mais ninguém em casa com coragem para chegar ao telhado.
Ligamos então para os bombeiros. Fomos gentil e prontamente atendidos. Pediram que ligássemos para a Prefeitura e nos deram dois números: 151 ou 156.
Ao ligar para o Centro de Controle de Zoonoses, Ana, minha dileta companheira, travou o seguinte diálogo com a atendente:
- Boa noite!
Atendente: Boa noite, a senhora poderia está informando seu nome completo, endereço e um ponto de referência?
Foi prontamente atendida.
Atendente: Qual o problema?
Ana repetiu o relato que fiz acima.
Atendente: Como a senhora sabe que é um gato?
Ana: Por que ele miou.
Atendente: Tem certeza?
Ana: (silêncio)
Atendente: ok senhora, nós vamos estar abrindo um protocolo e num prazo de até 30 dias estaremos buscando o animal em epígrafe!
Ana: Moça, ele está no forro, onde tem a fiação elétrica, está preso, sem comida, como podemos esperar 30 dias?
Atendente: Senhora me desculpe, mas este é o prazo regulamentar.
Ana: E até lá faço o quê?
Atendente: A senhora cuide de acalmar o animal!
O imbecil no gato continua preso no forro! Sei lá até quando...