O amigo
de labuta Tiago Fuoco levantou uma questão pra lá de interessante: o que nós,
professores de Humanas, estamos fazendo das nossas aulas?
Ele
parte do princípio de que o fato dos nossos alunos e alunas externarem seus
preconceitos, destilando ódio por todos os poros nas redes sociais, é também
nossa responsabilidade, uma vez que esses jovens chegam a passar três anos, ou
até mais, conosco.
Não
quero carregar mais essa cruz para a profissão. Devo lembrar que nosso tempo de
aula é bastante restrito quando o comparamos com o tempo de convivência
familiar, comunitária e roda de amigos dos nossos alunos e alunas.
Mas que
Tiago colocou-me algumas pulgas na orelha, isso colocou. Talvez tenhamos que
repensar o currículo de Humanas. Sem consultar dados, mas apenas apelando à
memória, digo que sempre que se apresenta uma nova disciplina no Ensino Médio
sacrifica-se a carga horária de Geografia e História.
Outro
dia alguém publicou um artigo, não vou procurá-lo agora, dizendo que se todas
as “novas disciplinas” propostas pelos congressistas fossem aprovadas, o Ensino
Médio teria pelo menos 20 horas de aula por dia, seis dias por semana!
Por outro lado, lembro ao Tiago e demais colegas de
labuta, que muitos professores fazem coro aos alunos nas lamúrias racistas e
preconceituosas, inclusive nas redes sociais!
Isso é estarrecedor! Pensar que um sujeito ou sujeita
passou quatro anos numa universidade preparando-se para lecionar e sai por aí
atacando nordestinos, gays, pretos, religiões de matriz africana etc. é o fim
da picada!
Em conjunto com os colegas que ensinam Português
precisamos trabalhar com clareza a questão da liberdade de expressão, inclusive
os limites legais para o seu exercício, precisamos também trabalhar mais
política em sala de aula.
Esses jovens precisam saber o que faz um vereador, um
deputado, um senador um prefeito e assim por diante; necessitam entender a
divisão dos três poderes, sabendo o papel de cada um deles na tal democracia
representativa.
Várias vezes os alunos me lançaram perguntas fora do “programa
da FUVEST”, do tipo: “como se funda um partido político?”; “por que o prefeito
não coloca mais polícia na rua?”; “por que a Dilma não prende os corruptos
então?”; perguntas lógicas e necessárias, mas se paramos para respondê-las sempre
haverá alguém dizendo que estamos praticando “embromation”.
A escola precisa, como um corpo, tomar pra si essas
reflexões, inclusive junto aos docentes. Não é possível que um professor
racista, seja de Matemática, Física ou Geografia, esteja em sala à frente de
dezenas de jovens.
Os partidos políticos precisam fazer-se presentes no
cotidiano desses jovens, não é possível apostar tudo na propaganda de TV e
transformar projetos, quando os tem, em sabonete.
Claro que estamos diante de uma novidade. É a primeira
eleição que usamos as redes sociais com essa intensidade, com a presença forte
de uma geração que não conheceu o terror da Ditadura, o desemprego dos Planos
Cruzado, Collor e Real, que só conhece o evento das privatizações pela Veja.
Os órgãos de imprensa devem ser chamados à
responsabilidade e atuarem no combate ao preconceito, seja ele de qualquer
tipo. Não precisamos do assombro da ditadura do politicamente correto, mas não
dá pra aceitar humoristas (?) oferecendo bananas aos negros, ou diminuindo um
ser humano por causa do seu sexo ou orientação sexual!
Esse fenômeno de intolerância que aflorou agora nas
eleições, principalmente em São Paulo, tem muito o dedo da grande mídia, mas
outros fatores não podem ser desprezados, como a escola, as igrejas...