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Os limites das avaliações educacionais externas
Os
limites das avaliações educacionais externas
O
movimento Todos Pela Educação, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Associação Brasileira de Avaliação
Educacional (Abave) promoveram em março o Seminário Internacional Devolutivas
das Avaliações de Larga Escala.
Nesse
seminário, o objetivo central foi discutir o aproveitamento das avaliações
escolares em suas mais diversas modalidades. Estiveram presentes especialistas
do Brasil, Canadá, EUA, Espanha, dentre outros.
Houve
uma profusão de avaliações escolares desde a década de 1990 no Brasil, como
Enem, Enade, Prova Brasil, no âmbito nacional, e Saresp, no estado de São
Paulo, para citar exemplos de todos os níveis de ensino.
Inicialmente
um enorme alvoroço tomou conta dos educadores: afinal, qual é o objetivo dessas
avaliações? Para que elas sejam bem-sucedidas, obter tal resposta é condição
essencial, inclusive para que os professores sejam convencidos de sua
necessidade.
Dentre
as avaliações citadas, a de maior abrangência é a Prova Brasil, denominada
Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc). Essa avaliação tem por
objetivo mensurar a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas. Ela
atinge as redes municipal, estadual e federal, sendo aplicada em escolas que
possuam ao menos 20 alunos matriculados nas séries avaliadas.
Já
o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp)
tem por objetivo avaliar o sistema de ensino paulista para monitorar as
políticas públicas de educação.
A
pergunta essencial é: realizadas as avaliações, tabulados os resultados, o que
é feito com eles?
Na
verdade, eles deveriam servir de base para reorientar os sistemas de ensino e
as unidades escolares, suprindo eventuais deficiências. No entanto, está aí o
calcanhar de Aquiles dos sistemas avaliativos. O processo parece estacionar nos
gestores das secretarias de educação, pouco atingindo os professores na unidade
escolar.
Aparentemente
eles não são absorvidos pelos professores nas salas de aulas, então, de um
lado, se tornam apenas mais uma tarefa burocrática e, de outro, desvios
importantes distorcem os objetivos iniciais.
Um
exemplo claro desse desvio é a utilização de resultados e índices obtidos nas avaliações
para premiar os professores desta ou daquela escola com bônus de produtividade.
Outro
exemplo é o estabelecimento de ranking de escolas, utilizando-se os indicadores
para classificá-las e assim atribuir maior ou menor mérito a esta ou àquela
equipe.
Está
claro que esses não são os objetivos almejados por esses sistemas de avaliação,
portanto eles tendem a ser insuficientes para tais metas, ao mesmo tempo em que
os distancia dos objetivos iniciais e essenciais.
Os
professores precisam ser envolvidos em cada um desses processos, desde sua elaboração,
aplicação das provas e, principalmente, o trabalho com os resultados obtidos.
Já
temos notícias de gestores escolares que organizam cursos preparatórios
específicos para a Prova Brasil, por exemplo. Outros que estimulam os alunos
com maior dificuldade de aprendizagem a não fazer a prova, evitando assim uma
queda acentuada no Ideb, indicador que, no caso do estado de São Paulo,
determina o pagamento de bônus salarial aos professores das escolas com melhor
desempenho.
Desvios
como esses têm que ser evitados, caso contrário os objetivos das avaliações serão
escamoteados.
O
Ministério da Educação e as secretarias de educação municipais e estaduais
devem acentuar esforços, numa ampla campanha de publicidade, para esclarecer
pais e alunos sobre os objetivos e a necessidade dessas avaliações.
Talvez
assim aplaque o anseio da mídia por noticiar os resultados delas como se houvesse
apenas competição entre os estados ou as unidades escolares.
Por
outro lado, é necessário compreender que os resultados obtidos não são apenas reflexo
do trabalho do professor ou da capacidade do aluno. É preciso considerar o
contexto no qual a escola está inserida, bem como o aluno e sua família.
Assim,
fatores como problemas familiares, violência, dificuldades de moradia, mobilidade,
alimentação e outras carências podem ter um peso significativo no resultado
final da avaliação.
É
urgente envolver toda a comunidade escolar nos processos de avaliação externa,
cada segmento cumprindo seu papel, sob pena de perdermos uma ótima oportunidade
de realizar importantes correções de rumo nos sistemas de ensino e nas unidades
escolares.
Também
é necessário aperfeiçoá-los para que não haja sobreposição de recursos e perda de
tempo, para avançar a educação no Brasil.
Texto publicado no portal da Edições SM, canal Somos Mestres no setor de Notícias da Educação.
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