3.6.14

Os limites das avaliações educacionais externas



Os limites das avaliações educacionais externas
O movimento Todos Pela Educação, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e a Associação Brasileira de Avaliação Educacional (Abave) promoveram em março o Seminário Internacional Devolutivas das Avaliações de Larga Escala.
Nesse seminário, o objetivo central foi discutir o aproveitamento das avaliações escolares em suas mais diversas modalidades. Estiveram presentes especialistas do Brasil, Canadá, EUA, Espanha, dentre outros.
Houve uma profusão de avaliações escolares desde a década de 1990 no Brasil, como Enem, Enade, Prova Brasil, no âmbito nacional, e Saresp, no estado de São Paulo, para citar exemplos de todos os níveis de ensino.
Inicialmente um enorme alvoroço tomou conta dos educadores: afinal, qual é o objetivo dessas avaliações? Para que elas sejam bem-sucedidas, obter tal resposta é condição essencial, inclusive para que os professores sejam convencidos de sua necessidade.
Dentre as avaliações citadas, a de maior abrangência é a Prova Brasil, denominada Avaliação Nacional do Rendimento Escolar (Anresc). Essa avaliação tem por objetivo mensurar a qualidade do ensino ministrado nas escolas públicas. Ela atinge as redes municipal, estadual e federal, sendo aplicada em escolas que possuam ao menos 20 alunos matriculados nas séries avaliadas.
Já o Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp) tem por objetivo avaliar o sistema de ensino paulista para monitorar as políticas públicas de educação.
A pergunta essencial é: realizadas as avaliações, tabulados os resultados, o que é feito com eles?
Na verdade, eles deveriam servir de base para reorientar os sistemas de ensino e as unidades escolares, suprindo eventuais deficiências. No entanto, está aí o calcanhar de Aquiles dos sistemas avaliativos. O processo parece estacionar nos gestores das secretarias de educação, pouco atingindo os professores na unidade escolar.
Aparentemente eles não são absorvidos pelos professores nas salas de aulas, então, de um lado, se tornam apenas mais uma tarefa burocrática e, de outro, desvios importantes distorcem os objetivos iniciais.
Um exemplo claro desse desvio é a utilização de resultados e índices obtidos nas avaliações para premiar os professores desta ou daquela escola com bônus de produtividade.
Outro exemplo é o estabelecimento de ranking de escolas, utilizando-se os indicadores para classificá-las e assim atribuir maior ou menor mérito a esta ou àquela equipe.
Está claro que esses não são os objetivos almejados por esses sistemas de avaliação, portanto eles tendem a ser insuficientes para tais metas, ao mesmo tempo em que os distancia dos objetivos iniciais e essenciais.
Os professores precisam ser envolvidos em cada um desses processos, desde sua elaboração, aplicação das provas e, principalmente, o trabalho com os resultados obtidos.
Já temos notícias de gestores escolares que organizam cursos preparatórios específicos para a Prova Brasil, por exemplo. Outros que estimulam os alunos com maior dificuldade de aprendizagem a não fazer a prova, evitando assim uma queda acentuada no Ideb, indicador que, no caso do estado de São Paulo, determina o pagamento de bônus salarial aos professores das escolas com melhor desempenho.
Desvios como esses têm que ser evitados, caso contrário os objetivos das avaliações serão escamoteados.
O Ministério da Educação e as secretarias de educação municipais e estaduais devem acentuar esforços, numa ampla campanha de publicidade, para esclarecer pais e alunos sobre os objetivos e a necessidade dessas avaliações.
Talvez assim aplaque o anseio da mídia por noticiar os resultados delas como se houvesse apenas competição entre os estados ou as unidades escolares.
Por outro lado, é necessário compreender que os resultados obtidos não são apenas reflexo do trabalho do professor ou da capacidade do aluno. É preciso considerar o contexto no qual a escola está inserida, bem como o aluno e sua família.
Assim, fatores como problemas familiares, violência, dificuldades de moradia, mobilidade, alimentação e outras carências podem ter um peso significativo no resultado final da avaliação.
É urgente envolver toda a comunidade escolar nos processos de avaliação externa, cada segmento cumprindo seu papel, sob pena de perdermos uma ótima oportunidade de realizar importantes correções de rumo nos sistemas de ensino e nas unidades escolares.
Também é necessário aperfeiçoá-los para que não haja sobreposição de recursos e perda de tempo, para avançar a educação no Brasil.

 
Texto publicado no portal da Edições SM, canal Somos Mestres no setor de Notícias da Educação.