Professores com Dilma
Os professores que subscrevemos esta carta viemos a público com o
propósito de declarar nosso apoio à campanha pela reeleição de Dilma
Rousseff à Presidência da República. Para além desse motivo mais
imediato, subscrevemos esta carta também em defesa da liberdade de
informação, da liberdade de opinião e, por consequência, em defesa do
acesso a uma educação crítica, madura e, evidentemente, politizada.
Se é verdade que o governo Dilma, dando continuidade ao governo Lula,
não enfrentou o grande capital com a voracidade sonhada por outros
grupos de esquerda, também não é honesto negar que, de modo inédito na
História do Brasil, as gestões do PT conseguiram implementar avanços
sociais inquestionáveis.
Nesse sentido, a própria resposta raivosa dos
setores mais tacanhos de nosso pensamento conservador já é por si um
indicador irrefutável do abalo nas estruturas de privilégio, tão
arraigadas em nossa sociedade.
A visão mesquinha e repugnante
daqueles que defendem vivermos hoje uma “Ditadura das Minorias”, avessos
ao contato com “gente diferenciada”, demonstra de modo incontestável
que o ódio irracional dos setores mais à vontade com a tradicional
exclusão e o atraso resulta do aumento da igualdade e das conquistas
sociais promovidas pelo governo. Num país desigual como o nosso, os que
se consideram parte da elite, em sua maioria, não foram suficientemente
educados para viver em um Brasil onde o outro também deve ter direitos.
Para quem quer o Brasil da desigualdade, é inadmissível que o aumento
do poder de compra do salário mínimo tenha amenizado as distâncias no
acesso a bens, serviços e espaços sociais – e os tão falados aeroportos
tenham se transformado em ambientes muito mais democráticos e
representativos de nossa população.
Para quem quer o Brasil do
atraso, é inaceitável que o Poder Executivo esteja nas mãos de um grupo
que busca reverter os efeitos do racismo institucional. Os abastados
deste país, que muitas vezes fingem reconhecer a igualdade genética
entre os povos, não se sentem representados por um grupo político que
assume os séculos de omissão do Estado como única explicação para que
pretos e pardos sejam maioria entre as vítimas da violência, mas minoria
nas festas de formatura – compreensão que foi fundamental para o
implemento da política de cotas em concursos públicos.
Para quem
quer o Brasil da intolerância, é inconcebível que a Presidenta da
República defenda abertamente a criminalização da homofobia. Em seu
egoísmo, esse grupo não aceita que o poder público insista na retomada
de projetos educacionais voltados para a formação de cidadãos e cidadãs
com mais preparo para conviver com as diferenças, caso do projeto
“Escola sem homofobia”. Os chamados “defensores da família”, que tratam
os sentimentos de amor e fraternidade como inferiores aos dogmas
cegamente defendidos por grupos fundamentalistas, chegam a levantar-se
contra a candidatura de Dilma Rousseff justamente porque seu governo
apresentou manifestações de respeito a outras crenças, a outros modos de
viver, a outros modos de amar.
Nesta conjuntura de enfrentamento,
devemos lembrar ainda que a frequente postura de recusa ao diálogo por
parte dos grupos mais reacionários, bem como as manifestações de ódio a
tudo que lembre a cor vermelha e seu significado político, não nasceu
naturalmente em cada eleitor. Não bastasse nossa longa ditadura militar
ter construído meticulosamente o estigma de “subversivo” e “desordeiro” a
qualquer pensamento alinhado à democracia, temos hoje um forte aparato
midiático voltado para reforçar o estereótipo negativo que se pretende
atribuir aos que clamam por mais igualdade de condições e de direitos.
Em favor de seus interesses, a chamada “grande mídia” mostra-se
assustadoramente distante do desempenho de seu papel republicano, que
seria esclarecer a população sobre a importância do avanço no acesso a
direitos. Além disso, escondidos sob uma aparente neutralidade, esses
grandes grupos midiáticos não hesitam em divulgar apressadamente toda e
qualquer notícia ou boato que possa ter impacto negativo sobre o atual
governo federal e, ao mesmo tempo, mantêm-se estranhamente evasivos ou
nulos na apuração de episódios que envolvem o Governo do Estado de São
Paulo, ocupado há mais de 20 anos por um grupo que defende os interesses
neoliberais da classe dominante.
Para a educação do povo
brasileiro, o efeito dessa parcialidade é, obviamente, desastroso. Ou
alguém duvida de que o resultado das eleições em São Paulo seria outro
se houvesse um efetivo esforço para o esclarecimento sobre quem são os
responsáveis pelo esquema de corrupção no metrô, pela crise de
abastecimento de água ou pelo sucateamento da educação pública paulista?
Fica evidente que, submetidos aos apelos da grande mídia, mesmo entre
aqueles que se beneficiam de políticas implementadas pelos governos Lula
e Dilma, há os que vêm optando, muitas vezes sem perceber, por
candidaturas que representam um retrocesso político e social no Brasil.
Como explicar que vários beneficiários de programas como o PROUNI ou o
PRONATEC prefiram os arautos da política que conduziu o país, na década
de 90, ao desemprego? Como explicar que muitos dos pequenos e médios
empresários, beneficiados pela política de fortalecimento do mercado
interno, levantem-se com unhas e dentes contra o atual governo? Via de
regra, esses eleitores ecoam o discurso das seis famílias que, no
Brasil, comandam as grandes mídias jornalísticas e defendem os
interesses do dito “mercado”, para quem o bem-estar social jamais será
mais importante que o lucro das grandes corporações.
Por fim, não
podemos nos esquecer de que, neste cenário de luta e transformação, um
dos contragolpes desferidos pelo conservadorismo tem justamente os
professores progressistas como alvo. Sob o lema “escola sem partido”,
toma-se partido em favor da velha política, para a qual as veleidades do
mercado financeiro estão acima do respeito à vida, do combate à miséria
e de qualquer valor humanitário. Como se não bastasse a hegemonia que
esse discurso encontra nos grandes meios de comunicação, tenta-se calar
os pequenos focos que possam levantar a dúvida e a reflexão, condições
necessárias para, independentemente da direção adotada, tomar-se uma
posição madura e consciente. Dessa maneira, declarar nosso voto em
Dilma
é ainda um modo de combater a despolitização da docência, o cerceamento
da reflexão, a censura ao questionamento. Mas não só isso: declarar
nosso voto e os motivos que nos levam a ele é ainda nossa pequena
contribuição na luta por um Brasil mais justo, mais igualitário, mais
democrático e com mais acesso à educação. A caminhada é longa, mas
estamos trilhando os primeiros passos.
É por isso que votamos Dilma.
Fonte: Professores com Dilma 2014