20.5.23

Governo Lula 3

Desde 1 de janeiro de 2023 vivemos momentos de esperança e desejos de mudanças na sociedade brasileira.


O caminho será longo, uma vez que foi interrompido pelo golpismo de 2016, e teve um grande estrago nos quatro anos de governo do inominável.

Esse governo Lula é fruto de um grande acordo, envolvendo um leque enorme de forças políticas e sociais. Vai do MST, o maior movimento social de luta pela terra nesse país, até acenos ao agronegócio, na figura de Simone Tebet ocupando um ministério.

É preciso entender esse contexto para elaborar uma crítica assertiva, que contribua para o entendimento desse momento histórico.

São inúmeras frentes de atuação. Podemos destacar, no âmbito social, o combate às fake News, que tanto mal tem nos causado, ao preconceito – racial, homofobia, transfobia etc. –, à violência contra a mulher, enfim, inúmeros desafios de reconstrução de padrões civilizatórios para o Brasil.

Precisamos ainda de especial atenção às questões ambientais, sejam elas referentes à preservação e conservação de recursos e buscar o “desmatamento zero” a todo custo, além de especial atenção às energias renováveis.

No campo econômico temos que enfrentar as desigualdades sociais, construídas ao longo de pouco mais de 500 anos de história. A recuperação do salário-mínimo é urgente, além de mudanças no sistema tributário, cobrando impostos sobre a propriedade e os rendimentos elevados e aliviando a carga tributária para os mais pobres, principalmente nos impostos indiretos.

Mas como fazer isso com um Congresso da qualidade que foi eleito? Com tantos políticos desonestos e de péssima índole, conseguiremos chegar numa sociedade justa, tolerante e menos desigual?

Alguns amigos da esquerda precisam compreender que não se trata de um processo revolucionário, nos moldes da URSS ou Cuba. Não temos o controle das armas e nem a hegemonia da sociedade para fazer valer a “justiça revolucionária”.

Para alcançarmos um país melhor precisamos do Congresso, Judiciário e do Executivo, mas, antes de qualquer outra coisa, precisamos de consciência de classe, de entender o que é melhor para a maioria das pessoas.

Nesse contexto se conseguirmos melhorar substancialmente a saúde e educação pública, construir uma política de melhoria habitacional e do ambiente e recuperar a renda dos mais pobres, diminuindo a desigualdade salarial, já poderemos nos considerar razoavelmente felizes.

No entanto o governo Lula poderia ser mais austero com relação às despesas nas viagens internacionais. Embora em nada pareçam com as viagens do governo anterior, uma vez que tem se traduzido em investimentos e importantes acordos de cooperação com os países visitados, ainda assim os gastos parecem um tanto extravagantes. Uma boa dose de parcimônia nesses gastos teria um efeito positivo.

9.5.23

Aílton Nunes Júnior

 O amigo Ailton, companheiro dos tempos de USP, de quando me apaixonei por estudar a educação, se foi.

Deixou saudades e, de certa forma, uma grande interrogação: como assim?

Vao fazer uma falta danada

Segue texto do Tarcisio, que escreve lá do sul da Bahia, sobre esse companheiro que se foi. 


O crítico…

Parece fácil um apelido pegar, mas difícil é ele pegar e ao mesmo tempo sincronizar com o perfil da pessoa. Aqui no sul da Bahia os que pegam, são justamente aqueles que a pessoa não gosta!! Mas neste caso nosso amigo Osvaldo Camilo acertou em cheio: “O Ailton é muito crítico!”…

A criticidade é, antes de mais nada, um elemento essencial a produtividade, qualidade e outros, então não vamos confundir, de antemão, o sujeito crítico com o sujeito problemático. Mas ele não perdoava, em seus ácidos comentários, a ninguém: da executiva nacional de estudantes aos próprios professores doutores da faculdade. E caso você que ache que não cabe críticas aos professores universitários eu sei bem as dificuldades hercúleas para trocar copos descartáveis por xícaras definitivas, junto aos titulares e livre-docentes da faculdade de educação.

E sobrou até pra mim, julgado como o “redundante” por ele. Bom, fazem bem uns vinte anos que ele disse isso e, se até hoje não me esqueci, é porque serviu para me policiar a todo tempo sobre a arte de escutar melhor antes de sair falando, ou a “escutatória” como diria Rubem Alves.

Mas ele sempre complementava os seus comentários com aquele bordão que buscava suavizar a crítica: “é uma figura complicada”… Que figura era ele também. Nunca foi assíduo em nossos rolês de happy hour ou escapadas no bar porque costumava dizer: “não é minha turma”. E qual era a turma dele? Quem sabe… Tinha amigos em todos os cantos, mas espalhados, pois frequentava a faculdade há tempos… Fora o famoso Jorge, não se sabe muito sobre sua galera, mas o fato é que ele não se encaixava em turmas, tribos e movimentos. O lobo solitário só foi agregado a turma com a vivência no NEA que envolveu muita gente, inclusive nós do 505D.

Aliás, foi no 505 que os papos rolavam noite a dentro… Sem ter como voltar a casa na zona leste, restava a ele o “sofá” da sala para dormir, em meio aos perrengues da moradia estudantil. Questionávamos todas as mazelas da universidade e o embate teórico, versava sobre tudo. Até me vendeu um carro que era dele com o irmão e passei então a me esconder, porque ter carro e vaga na moradia, à época, eram coisas incompatíveis na cabeça de muitos, até de alguns que coordenavam o processo… A falta de consciência de classe já fazia vítimas desde aqueles tempos!

E por falar em consciência de classe, éramos todos vindos da periferia da cidade eu, ele e Ney e desta clareza que tínhamos, as nossas conversas sempre foram construtivas e auxiliaram o entendimento das desigualdades e da importância da universidade pública. Que figura!!

Mais um fato ainda lembro: foi ele que me acordou de madrugada, certa vez, para dizer que nosso colega de quarto, Flávio, estava em crise de epilepsia. Debati-me alguns instantes até ele retomar a consciência e eu terminar com o rosto cheio de sangue. Depois do ocorrido ele passou a me considerar mais.

Aquele apê tem muitas histórias, Ailton foi uma delas, com sua fixação por cabelos e seu famoso rabo de cavalo… Chegou a virar resenha nas palavras das cursistas de Alagoas, no programa alfabetização solidária.

Bem, agora que ele se foi. e precocemente, deixo cá essas lembranças das milhares de desventuras que a universidade nos impõe e a forma de cativar de Ailton, o crítico!!!

 

Aperto na mente!