24.6.10

Entrevista com Raquel Rolnik para o "Isso não é normal"


!sso não é Normal - Raquel Rolnik from !sso não é Normal on Vimeo.

Operação chumbo impune

Para se justificar, o terrorismo do Estado fabrica terroristas: semeia ódio e colhe álibis. Tudo indica que esta carnificina de Gaza, que segundo seus autores quer acabar com os terroristas, conseguirá multiplicá-los.
Desde 1948, os palestinos vivem condenados à humilhação perpétua. Não podem nem respirar sem permissão. Perderam sua pátria, suas terras, sua água, sua liberdade, seu tudo. Sequer tem o direito de escolher seus governantes. Quando votam em quem não devem votar, são punidos. Gaza está sendo punida. Converteu-se em uma ratoeira sem saída, desde que o Hamas ganhou de forma justa as eleições no ano de 2006. Algo semelhante ocorreu em 1932, quando o Partido Comunista ganhou as eleições em El Salvador. Banhados em sangue, os salvadorenhos expiaram sua má conduta e desde então viveram submetidos às ditaduras militares. A democracia é um luxo que nem todos merecem.
São filhos da impotência, os foguetes caseiros que os militantes do Hamas, encurralados em Gaza, disparam com pouca pontaria sobre as terras que eram palestinas e que a ocupação israelense usurpou. E o desespero, à beira da loucura suicida, é a mãe das bravatas que negam o direito à existência de Israel, gritos sem nenhuma eficácia, enquanto a muito eficiente guerra de extermínio vem negando, há anos, o direito à existência da Palestina.
Pouca Palestina resta. Passo a passo, Israel a está exterminando do mapa.
Os colonos invadem, e atrás deles os soldados vão consertando a fronteira. As balas consagram os restos mortais, em legítima defesa.
Não há guerra agressiva que não diga ser guerra defensiva. Hitler invadiu a Polônia para evitar que esta invadisse à Alemanha. Bush invadiu o Iraque para evitar que este invadisse o mundo. Em cada uma das suas guerras defensivas, Israel engoliu outro pedaço da Palestina e, os almoços seguem. A comilança se justifica pelos títulos de propriedade que a Bíblia outorgou, pelos dois mil anos de perseguição que o povo judeu sofreu, e pelo pânico gerado pelos palestinos na espreita.
Israel é o país que jamais cumpre as recomendações nem as resoluções das Nações Unidas, e que nunca acata as sentenças dos tribunais internacionais, que zomba do direito internacional, e é também o único país que legalizou a tortura dos prisioneiros.
Quem lhe deu o direito de negar todos os direitos? De onde vem a impunidade com que Israel está executando a matança de Gaza? O governo espanhol não poderia bombardear impunemente o País Basco para acabar com o ETA, nem o governo britânico poderia devastar a Irlanda para liquidar ao IRA. Por acaso a tragédia do Holocausto implica uma apólice de eterna impunidade? Ou esse sinal verde provêm da potência manda chuva que tem em Israel o mais incondicional dos seus servos?
O exército israelense, o mais moderno e sofisticado do mundo, sabe quem mata. Não mata por erro. Mata por horror. As vítimas civis são chamadas de danos colaterais, segundo o dicionário de outras guerras imperiais. Em Gaza, de cada dez danos colaterais, três são crianças. E somam-se os milhares de mutilados, vítimas da tecnologia do esquartejamento humano, que a indústria militar está testando com êxito nesta operação de limpeza étnica.
E como sempre, sempre o mesmo: em Gaza, cem a um. A cada cem palestinos mortos, há um israelense.
Gente perigosa adverte outro bombardeio, a cargo dos meios massivos de manipulação, que nos chamam a acreditar que uma vida israelense vale tanto quanto cem vidas palestinas. E esses meios também nos chamam a crer que são humanitárias as duzentas bombas atômicas de Israel, e que uma potência nuclear chamada Irã foi a que devastou Hiroshima e Nagasaki.
A chamada comunidade internacional existe?
É algo mais que um clube de mercadores, banqueiros e guerreiros? É algo mais que o nome artístico que os EUA se autodenominam quando fazem teatro?
Diante da tragédia de Gaza, a hipocrisia mundial aparece mais uma vez. Como sempre, a indiferença, os discursos vazios, as declarações ocas, as declamações bombásticas, as posturas ambíguas, rendem tributo à sagrada impunidade.
Diante da tragédia de Gaza, os países árabes lavam suas mãos. Como sempre. E como sempre, os países europeus esfregam as mãos.
A velha Europa, tão capaz de beleza e de perversidade, derrama uma que outra lágrima enquanto secretamente celebra esta jogada de mestre. Porque a caça aos judeus foi sempre um costume europeu, mas há meio século essa dívida histórica está sendo cobrada dos palestinos, que também são semitas e que nunca foram, nem são, anti-semitas.
Eles estão pagando, com sangue, uma conta alheia.

*Eduardo Galeano é escritor e jornalista uruguaio, autor de As Veias Abertas da América Latina e Memórias do Fogo.

Artigo publicado em Diário Liberdade
Eu encontrei esse texto no Opera Mundi.

15.6.10

Sobre a Copa do Mundo da África do Sul

A histeria da Copa do Mundo tomou as ruas! Ora uma festa bonita e interessante, ora estressante e irritante.
As vuvuzelas me irritam profundamente. Hoje o trânsito de São Paulo também! Por volta das 15 horas o congestionamento ultrapassava os 200 km e as pessoas dirigiam - ou tentavam - como tresloucadas. O número de acidentes foi assutador!
Não torci pelo Brasil contra a Coréia e nem torcerei. Ao menos enquanto persistir esse futebol medíocre, burocrático e "de resultados".
Isso não tem a nada a ver com ser brasileiro ou não, isso tem a ver com gostar de um jogo bem jogado e também com o privilégio de ter visto a seleção de 1970 e a de 1982. Na minha modesta opinião a de 82 jogava mais bonito que a de 70, embora a de 70 tivesse mais craques (do meio de campo para a frente).
Dunga é um excelente técnico, mas para times como o Juventude, Avaí ou outros desses intermediários, ou ainda aqueles que estão desesperados para não cair de divisão no campeonato, mas para a Seleção Brasileira falta-lhe experiência.
Com a safra de boleiros que temos hoje no país, ver um meio de campo como a da Seleção dá até tristeza.
Neste time a defesa me parece a coisa mais sólida. Colocaria apenas o Roberto Carlos no lugar do Michel Bastos.
Já no meio campo gostaria de ver Ganso, Elias e Hernanes.
No ataque, se a formação fosse com 2 atacantes, poderiam ser o Robinho e o Nilmar ou o Diego Tardelli. Se com três atacantes teria que entrar o Ronaldinho Gaúcho na parada.
Li outro dia que o Brasil foi a seleção que menos levou atacantes para esta Copa, isso é emblemático!
Acompanho os jogos, quando possível, pela ESPN Brasil. O time de comentaristas é muito bom e não tem o ufanismo tonto do Galvão Bueno e do Luciano do Valle.
Neste evento o slogan deles me desagradou: Copa do Mundo na ESPN: nada mais importa.
Achei a frase infeliz! Tem muita coisa que importa: o povo que sofre, a política (afinal estamos em ano de eleições), os conflitos pelo mundo ...
Então ficamos assim: Copa do Mundo é apenas um torneio esportivo, não temos obrigação de torcer por ninguém, posso torcer livremente pela seleção que mais me agrada, sem renunciar à cidadania brasileira ou ter que me refugiar no Kosovo.

4.6.10

Sobre as eleições que se aproximam (Parte II)

1989 - Uma derrota inesquecível

Não há como negar que as eleições de 1989 marcaram a vida de todos que dela participaram.
A última vez que o povo brasileiro havia escolhido seu presidente fora em 1960, sendo eleitos Jânio Quadros – que renunciaria 8 meses após a posse – tendo como vice-presidente João Goulart, derrubado por uma quartelada cívico-militar em 1964.
Era, portanto a primeira vez que eu poderia, e toda uma geração, escolher livremente o presidente da República.
Desde a minha primeira eleição, em 1982, aos vinte anos votei no PT e nos seus candidatos.
Além disso, sempre estive ao lado das candidaturas mais à esquerda dentro do Partido.
Vendi camisetas, broches, fiz rifas entre os amigos, ajudei a vender convites para almoços, bailes e shows.
Era assim, de maneira apaixonada e entregue que fazíamos as campanhas.
Aquela eleição era por demais especial. Tinha claro que a simples conquista do Executivo não faria nada mudar, mas pensava no poder de educação política que tal conquista nos traria. Na fantástica mobilização dos militantes e eleitores, isso sim capaz de forjar um novo tempo, mesmo que a luta fosse dura e demorada.
A Rede Globo fabricou o caçador de marajás, Fernando Collor, obscuro político alagoano. Teve até Globo Repórter para ele. Claro que rendeu capa de Veja.
Brizola era um candidato forte, bom de palanque e bom de TV, mas ainda com um discurso à moda antiga.
Lula representava o novo nesse cenário todo. Sindicalista de origem, com um Partido vigoroso, ainda imune as denúncias de corrupção, recheado de intelectuais, artistas e lideranças sindicais.
As armadilhas foram imensas, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Mas a campanha era feita com garra e mesmo os profissionais que trabalhavam nela eram, antes de tudo, militantes, ativistas e acreditavam no que faziam.
Dentre os artistas famosos lembro-me de Marília Pera, para minha decepção, alinhando-se com Collor. Eu estava na passeata que ladeou o teatro onde ela estava em temporada, se não me engano era o Jardel Filho. Lembro-me também que nós mesmos organizamos um cordão de proteção para que não houvesse nenhum ato mais atabalhoado ou de provocação.
O golpe mais duro foi o aparecimento da Miriam Cordeiro no programa do Collor. Lula ganhou minha admiração quando não permitiu a exposição da filha na contrapropaganda.
E, finalmente, para nossa tristeza veio o desempenho pífio no último debate. Nada demais, pois o Collor era muito ruim de cena, mas claro que a Rede Globo deu uma força, editou o debate para os jornais e transformou um empate em terrível derrota.
A frustração com a derrota foi imensa. Meu desejo era ir embora desse país, não conseguia entender como o povo pode escolher Collor, um ser artificial, produzido pela mídia como nos pastelões do cinema, típico ator charlatão, em detrimento do operário.
Naquela eleição o projeto que fez nascer o PT foi sepultado, dali em diante guinadas pragmáticas levaram-no ao governo, vagarosamente.
Mas tenho saudade daqueles tempos. As discussões políticas eram freqüentes, a campanha muito politizada, as pessoas se expressando livremente, um desejo imenso de participar e de se fazer ouvir.
Eram outros tempos.

Rede Povo


Sem medo de ser feliz


2º Turno

Netanyahu, Bloodthirsty pirate