30.8.08

Tem gente que ainda tem medo de comunistas

Recebi um comentário do Bruno C., que presumo seja um ex-aluno do COC aqui de São Paulo.
Para não cometer o erro que muitos fazem, de retirar frases do contexto, vou reproduzir o texto dele integralmente e respondê-lo por partes.
Ficamos combinados assim, o texto do Bruno C. está em cinza/itálico e meu da forma convencional.


Bruno C disse...
Oi, Toni, tudo bom? Como estás?

Sim, bem, apesar de um ou outro problema de saúde. Ano passado toquei um projeto para a Revista Época (perigosa publicação esquerdista da família Marinho) e continuo dando aulas para o Ensino Médio. Espero que tudo esteja bem contigo.

De vez em quando leio teu blog e há um tempo venho pensando se deixo minha opinião ou não. Como fizeste à Veja o mesmo tipo de crítica que tenho em relação às tuas colocações, resolvi hoje escrever.

Ótimo que escreva, assim sabemos o que cada um pensa. Como este é um espaço democrático, ao contrário da maior revista do país, será sempre publicado, desde que não ofenda ninguém ou expresse opiniões racistas e preconceituosas.

Acho que tuas críticas são muito simplistas, como foram os motivos retratados pela revista para a má educação no país. Ambos agem como se houvesse o lado do bem e o do mal.

Desculpe-me, mas não tratei da educação no Brasil no texto que você comentou, apenas tratei das críticas da Veja aos professores de Geografia e História e das leituras descontextualizadas que ela fez na matéria. Então, no caso, as críticas não são simplistas, elas simplesmente não existem no texto.
Para ler um pouco sobre educação no meu blog veja as postagens:
Educação no centro do debate
Erro de planejamento desperdiça recursos públicos na educação em São Paulo
Ivan Valente critica educação em São Paulo
Que linda és Cuba - Relato de estágio educacional
A Finlândia faz sucesso na educação

Honestamente, (i) acho a educação no Brasil pífia, (ii) fiquei pasmo com os números mostrados, retratando o conformismo da população em relação a ela, (iii) não gostaria mesmo que meus filhos tivessem doutrinas comunistas na escola, (iv) gostaria que o capitalismo fosse tratado como uma verdade e não como uma possibilidade, (v) não acredito que o capitalismo signifique lucro acima de tudo - por exemplo, o meio-ambiente não pode ser permanentemente afetado pela atividade humana, e isso não se chama responsabilidade ambiental, mas, sim, capitalismo; ético, mas ainda capitalismo -, (vi) não acredito que a chamada responsabilidade social seja função das empresas (pessoas jurídicas), mas das pessoas físicas, entre outros pontos que discordo contigo sobre capitalismo e socialismo.

Embora o parágrafo não termine aqui faço, com a devida licença, uma interrupção para os comentários:
(i): concordo.
(ii): concordo.
(iii): eu também não, mesmo por que quem gosta de doutrina – neste sentido – é igreja e ditadura e não concordo nem com uma e menos ainda com outra. Por outro lado também não desejo que meu filho seja educado pela direita que baba e ainda por cima pensa na Guerra Fria como uma realidade.
(iv): bom, aqui a porca torce o rabo. O que é verdade? Qual capitalismo? O da Suécia ou do Quênia? O do Canadá ou do Paraguai? Ou seriam todos filhos da mesma?
(v): crença não se discute, mas se você olhar um pouco a sua volta verá que o capitalismo significa lucro acima de tudo, até mesmo o papinho furado da responsabilidade social da grande maioria das empresas tem por finalidade fazer bonito para os acionistas.
(vi): concordo plenamente, para mim tal responsabilidade é do Estado, que deve aplicar o princípio da justiça tributária: quem ganha muito paga muito mais impostos!


Por isso, quando te vejo tratar o comunismo como solução para qualquer coisa, fico realmente entristecido e pensando nos jovens que têm de ouvir de ti as mesmas coisas que tive que houvir há quase dez anos.

Quando você me viu ou ouviu dizer que o comunismo é a solução? O que digo e repito é que a minha formação intelectual é marxista e assim analiso os fenômenos sociais. Manja aquele papo de dialética? Então, até os mais radicais dos neocons estadunidenses conhecem essa maneira de pensar e tentam vender o seu peixe assim.

Não sei com que freqüência tu repensas tuas doutrinas e "verdades internas", mas acredito que se fosse na velocidade que se espera de um professor, tu já não mais baterias na mesma tecla repetidamente.

Qual a velocidade que você espera de um professor? E qual seria então a velocidade esperada de um gari? Mudar para onde? Não vai me ver defendendo o neoliberalismo, nem aqui nem em canto algum.

Toni, desculpa te contrariar assim, mas nem tu nem a Veja estais sempre certos ou sempre errados.

Ah! Até você curte uma dialeticazinha! Olha que vão te chamar de marxista também! Mas não se incomode em me contrariar, afinal não é o único.

O capitalismo tem suas vantagens. Por que tu não ajudas o mundo a melhorá-lo em vez de continuar batendo na tecla do socialismo? O Homem já demonstrou que o socialismo é bom apenas no papel, uma utopia.

Vou te contar um segredo: eu até gosto do capitalismo. Sabe aquele do Adam Smith? Então. Nele tudo dá certo e para os infelizes, despossuídos de ousadia e tino de vencedor o Estado garante a dignidade, olha que lindo? É assim, pois não?

Na realidade, ele não funciona com liberdade individual total. E, se um dia o Homem conseguir atingir um desenvolvimento suficiente para viver bem numa sociedade comunista, acho que o mais ideal seria viver numa sociedade anarquista, onde cada um faz apenas o que quer e todos somos geridos pelas leis morais de cada um. Afinal, é esse o grau de desenvolvimento necessário para que a sociedade viva bem "comunistamente".

Também curto o anarquismo, mas aí a utopia é demais. Se você me mostrar um mundo onde o capitalismo deu certo eu te mostro um onde o socialismo também acertou. Entendeu? Nenhum dos modelos implantados até então convenceu. No atacado continuo fechando com o velho Karl, mas no varejo tenho algumas diferenças

Espero que tenha me feito entender. Se não, entra em contato se achares válido.

Entender eu entendi. Acho que você é que não entendeu ou tem pouco tempo para ler o que escrevo. Faço-lhe um convite para ler o blog mais detidamente.

Um abraço!

Outro.

Luis Nassif narra mais uma peripécia da Veja

Luis Nassif continua mostrando os caminhos tortuosos percorridos pela revista Veja. O tema da matéria de hoje é a relação desta com Paulo Lacerda, diretor da ABIN e ex-diretor da Polícia Federal.
Nassif demonstra, de forma irretocável, mais uma vez os métodos da revista.
Veja o trecho incial da matéria:
O assassinato do intocável

Na edição de 20 de outubro de 2004, Veja veio com uma capa bombástica: “Os Intocáveis, A guerra do grupo de agentes de elite contra o crime organizado e a corrupção na Polícia Federal”.
No dia 13 de agosto de 2008, a capa “Espiões Fora do Controle”, falando da mesma PF e dos mesmos métodos elogiados anteriormente.
Para ler o restante é só clicar aqui.

27.8.08

Obama visto do Quênia

A excelência de CartaCapital ganhou cores mais fortes, agora conta com a colaboração de Luiz Carlos Azenha, também editor do site Vi o Mundo. Com ótimos textos ele vem abrilhantando as edições desta que considero a melhor semanal publicada no Brasil.
Sua última contribuição trata da família queniana de Barack Obama, o candidato dos Democratas para ocupar a cadeira de presidente dos EUA, ou, como diz um blog listado aí do lado, candidato ao cargo de “próximo porteiro” deste império moderno.
Como é bom ler jornalista que ainda honram a profissão.
Abaixo pequena amostra do texto:

Obama visto do Quênia

Luiz Carlos Azenha, de Kogelo

Diante de uma barraquinha de refrigerantes, numa rodovia do interior do Quênia, a imagem de Osama Bin Laden desperta a atenção. O chefe da Al-Qaeda é definido na mídia ocidental como o inimigo público número 1. É curioso que um pintor de placas queniano use a imagem do mentor de ataques terroristas para fazer propaganda de seu trabalho.
A imagem é surpreendente, especialmente em um país onde um atentado atribuído a Al-Qaeda matou mais de 200 em 1998, quando carros-bomba explodiram simultaneamente nas embaixadas dos Estados Unidos na capital, Nairóbi, e na vizinha Tanzânia. O mundo então mal tinha ouvido falar de Bin Laden.
Resolvo perguntar ao motorista:
– Steve, quem é mais popular aqui, Bush ou Bin Laden?
– Bin Laden.
A resposta reflete a relação de amor e ódio dos habitantes com o Ocidente. Nos maneirismos, no sotaque e nos rituais, o Parlamento do Quênia parece cópia da Casa dos Lordes, um exemplo concreto da influência que o Reino Unido ainda exerce sobre a ex-colônia.


Clique aqui para ler toda a matéria.

26.8.08

Ilha das Flores

Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.


Ilha das Flores
Gênero Documentário, Experimental
Diretor Jorge Furtado
Elenco Ciça Reckziegel
Ano 1989
Duração 13 min
Cor Colorido
Bitola 35mm
País Brasil

Clique no link abaixo para assistir:

Ilha das Flores

25.8.08

Brasil Transgênico

CTNBio libera plantio comercial de algodão da Bayer

Resistente ao herbicida glufosinato, considerado pela ANVISA como de alto risco para a saúde humana, algodão Liberty Link é aprovado na comissão. Essa já é a sexta liberação de transgênico concedida pela CTNBio, e outros oito pedidos estão na fila.

Maurício Thuswohl

RIO DE JANEIRO – De grão modificado em grão modificado, o Brasil vai enchendo o papo como um país liberal para o cultivo de transgênicos. Na contramão de recentes resoluções restritivas tomadas por União Européia, Suíça, Canadá e Japão, o governo brasileiro segue liberando novas variedades de organismos transgênicos para testes, plantio e comercialização. O trampolim de lançamento dos transgênicos no país continua sendo a polêmica Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e politicamente controlado pelo lobby pró-transgênicos.
Em sua última reunião, realizada na quinta-feira (21) em Brasília, a CTNBio aprovou para plantio comercial em solo brasileiro uma variedade de algodão transgênico conhecida como Liberty Link, que foi desenvolvida e é produzida pela transnacional do setor de biotecnologia Bayer CropScience. Com essa, já são seis as liberações de variedades transgênicas para plantio (três de milho, duas de algodão e uma de soja) concedidas pela CTNBio, ritmo intensificado desde que o quorum para aprovações na comissão foi reduzido de dois terços para maioria simples no ano passado.
Pelo menos outros oito pedidos de liberação de variedades transgênicas já estão na pauta de votações da CTNBio, e tudo indica que serão aprovadas. Além da Bayer, já se beneficiaram ou podem se beneficiar com as decisões da comissão empresas transnacionais como a Monsanto, a Syngenta e a DuPont, entre outras. A votação que liberou o algodão Liberty Link mostra a correlação de forças na CTNBio: dezoito votos favoráveis, três votos contrários e duas abstenções.
Os representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Paulo Kageyama, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Leonardo Melgarejo, e o especialista ambiental Paulo Brack apresentaram pareceres contrários e, posteriormente, votaram contra a aprovação do algodão transgênico da Bayer. Durante sua intervenção, Kageyama, que é geneticista e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), afirmou que o algodão transgênico Liberty Link “é uma grande ameaça a espécies e variedades silvestres em todos os seis biomas brasileiros”.
O algodão desenvolvido pela Bayer foi modificado geneticamente para resistir a um herbicida conhecido como glufosinato, veneno considerado altamente nocivo à saúde humana e dos animais e com grande capacidade de contaminação do solo. No Brasil, desde maio do ano passado _ quando a CTNBio liberou uma variedade de milho transgênico da Bayer resistente ao mesmo herbicida _ a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, já vem alertando o governo sobre os riscos do glufosinato.
Segundo a ANVISA, a ingestão de glufosinato, ainda que em pequenas doses, traz graves riscos à saúde de gestantes, recém-nascidos e bebês em fase de amamentação. A agência alerta também que a resistência do algodão transgênico ao glufosinato fará, como é comum nesses casos, com que cada vez sejam aplicadas doses maiores do herbicida. Isso acarretará um aumento do nível de contaminação do fio e também do óleo de algodão, que está na base de fabricação de diversos produtos industrializados.

A fila é grande
A última aprovação de uma variedade transgênica para plantio comercial pela CTNBio aconteceu em setembro do ano passado, quando foi liberado o milho bt11 desenvolvido pela transnacional Syngenta. Também em 2007, foram liberados os milhos Liberty Link, da Bayer, e Guardian, da Monsanto. O algodão bt, desenvolvido pela Monsanto, foi liberado em 2005. A primeira liberação concedida pela CTNBio foi a da polêmica soja Roundup Ready, também da Monsanto, que foi introduzida ilegalmente no país por agricultores do Rio Grande do Sul.
Segundo o presidente da CTNBio, Walter Colli, nas próximas reuniões a comissão pretende analisar os pedidos de liberação do arroz e da soja Liberty Link (Bayer), do milho e do algodão Roundup Ready e do algodão Bollgard 2 (Monsanto), do milho GA21 resistente a insetos (Syngenta), do algodão Dow (Dow Chemical) e do milho Herculex (DuPont). Se for levado em conta o desempenho da CTNBio nas últimas votações, todos esses produtos devem estar em breve “ao alcance” do consumidor brasileiro. Difícil será identificá-los, já que a rotulagem de produtos que contém transgênicos no Brasil, prevista na Lei de Biossegurança, ainda é precariamente respeitada no país.

Fonte: Agência Carta Maior – 24/8/08.

21.8.08

Medalha de lata para Pelé e de ouro para Maradona

A indignação do jornalista José Trajano é sempre saudável. Hoje, no seu vídeo-blog, ele expressa muito bem a repugnância que sinto pela campanha Rio-2016. Nosso país tem inúmeros problemas, não é lógico investir bilhões de dólares para ser a sede de uma competição desse porte.
A presença de grandes ídolos do esporte, como Pelé e Janete, nesta campanha inútil apenas desvia o foco da discussão principal: vai ser mais uma aventura para meia dúzia de espertalhões da cartolagem encherem os bolsos de dinheiro público!
Vejam o vídeo-blog do Trajano clicando aqui.

19.8.08

A revista Veja quer discutir educação

Na edição desta semana a famigerada revista da Editora Abril resolveu discutir educação.
Pasmem amigos e amigas, num grande furo de reportagem a Veja achou os responsáveis pelas mazelas do ensino no Brasil, tanto público quanto privado: os professores e autores de livros didáticos de Geografia e História!
Isso mesmo, nós somos culpados! Só faltou, ao final da matéria, pedir camburão e algemas para os “mestres”. Talvez fosse o caso de trazer de volta a OBAN, DOI-CODI, SNI etc. Desta forma seria bem mais fácil eliminar todos os comunistas infiltrados nas salas de aula, pagos com o ouro de Moscou, ou seria melhor dizer com os charutos de Cuba e a grana das FARCs?
Delírio puro!
Já imaginaram se todos os professores do país, das redes pública e privada, fossem filiados a um único partido político? Ou pelo tivessem metade do poder que a tal revista julga que temos? Só para começar a conversa ela não existiria mais, tamanha é a sua desonestidade no trato da notícia.
A análise é simplista e não se sustenta de forma alguma.
Para manter o nível do debate no padrão de ignorância da supracitada, bastaria aos pais que não toleram a “doutrinação comunista” das escolas particulares, trocarem de escola, afinal a tal empresa de jornalismo (que tipo de jornalismo?) não ardorosa defensora das leis de mercado?
Então é simples, se não gosto do serviço educacional prestado por uma instituição, troco de instituição!
No caso da escola pública seria de se perguntar como essa cambada de comunista consegue manter o emprego por tanto tempo? Percebam: independente do partido que assuma a prefeitura, governo do estado ou presidência da República.
Para conhecer um pouco do que é tal revista nada como ler uma série de matérias do Luis Nassif, que mostra com dados e exemplos como a Veja faz um jornalismo que não merece receber tal nome. Clique aqui e entenda um pouco tais mecanismos.
Prometo voltar ao tema para analisar a matéria de forma mais detida.

Ato Do Paraíso Ao Matadouro


16.8.08

José Trajano

A ESPN Brasil está fazendo uma cobertura sensacional dos Jogos de Beijing. Dentre as novidades presentes no site da emissora merece especial atenção o videoblog do José Trajano. Crítico, às vezes até mal humorado, mas sensato, correto e coerente com a linha de programação esportiva da emissora.
Clique aqui e delicie-se com a fina ironia desse grande jornalista.

14.8.08

Os EUA na geopolítica mundial depois do conflito na Geórgia

Idelber Avelar - Biscoito Fino e a Massa
Convenhamos que é meio humilhante começar a atirar e 48 horas depois implorar de joelhos por um cessar-fogo. Há algo de comovente em ver uma nação dar-se conta de que durante muito tempo acreditou num conto da carochinha. Segundo os relatos que chegam, o estado de espírito na República da Geórgia pode se resumir com uma pergunta atônita: onde estão os americanos que disseram que nos protegeriam, que eram nossos amigos? Os georgianos descobriram, na base da porrada, o que os latino-americanos minimamente informados já sabem há mais de um século: o que os EUA querem dizer quando alardeiam seu compromisso com a “liberdade e a democracia”.
As analogias históricas não funcionam muito bem para se compreender o conflito desta semana porque a Geórgia é – ou era, até a semana passada – um dos poucos lugares da galáxia onde o presidente americano goza de popularidade real. Como se sabe, a estrada que leva ao aeroporto de Tbilisi foi batizada com o tenebroso nome de George W. Bush. Ao longo dos últimos 16 anos em que predominou uma paz tensa na Ossétia do Sul e na Abkházia, e muito especialmente desde a eleição de Mikhail Saakashvili em 2004, a Geórgia tem sido a menina dos olhos do entrismo da OTAN.
Em abril deste ano, Bush defendeu abertamente a entrada da Geórgia no Tratado, sob os olhares estupefatos dos europeus, que sabiam muito bem a provocação que isso representaria para a Rússia. Logo em seguida, 1.000 marines foram enviados à base militar de Vaziani, na fronteira com a Ossétia do Sul, para treinamento do exército georgiano. Desde a visita de Bush ao país em 2005, os EUA apresentam a Geórgia como modelo de democracia, não se importando muito com as incontáveis denúncias de violações dos direitos humanos. Tudo indica que Saakashvili imaginou que contaria com algo mais que declarações verbais americanas no momento em que iniciasse a aventura militar na Ossétia do Sul (região onde, diga-se de passagem, fala-se língua da família irânica, sem relação com o georgiano, que é língua do grupo sul-caucasiano). Para piorar sua situação, as tropas russas são detestadas na Geórgia, mas são populares na Ossétia. Resumindo: a Geórgia imaginou que tinha entrado no clube.
Não é de se estranhar que a imprensa não tenha dito muito sobre as centenas de milhões de dólares em armas, treinamento, equipamento eletrônico, aviação e morteiros fornecidos por Israel para a Geórgia nos últimos anos. Por volta de 100 agentes israelenses participaram da preparação da invasão georgiana à Ossétia do Sul. O contato aqui foi via Davit Kezerashvili, ministro da defesa georgiano, ex-israelense. Outro ministro georgiano, Temur Yakobashvili, deu entrevista a uma rádio israelense no dia 11 de agosto, afirmando que um pequeno grupo de soldados georgianos foi capaz de dizimar uma divisão militar russa inteira, graças ao treinamento israelense. Tampouco é de se estranhar que depois da surra levada pela Geórgia, Israel tenha subestimado o seu papel no processo.
Mas o que salta aos olhos neste conflito é a completa desmoralização da liderança americana. Há tempos não se via os EUA espernearem tanto com tanta impotência. O vice-presidente Dick Cheney falou em não deixar a agressão russa sem resposta e os russos solenemente ignoraram. O candidato republicano John McCain, cujo principal conselheiro foi lobista do governo georgiano durante anos, batucou seus queridos tambores de guerra sem que os russos dessem o menor sinal de preocupação. O New York Times relatou que duas altas autoridades americanas chegaram ao ponto de afirmar que os EUA estão aprendendo a hora de ficarem calados. Enquanto isso, McCain declarava que no século XXI, as nações não invadem outras nações, talvez imaginando que as invasões americanas no Afeganistão e no Iraque aconteceram no século XVIII.
Se o cálculo da direita americana foi se aproveitar do episódio para reforçar um belicismo que costuma lhe render dividendos eleitorais, há bons motivos para se imaginar que o tiro pode ter saído pela culatra. Não há indicadores claros de que a atual viagem de Condoleeza Rice à região, à reboque do presidente francês Sarkozy, possa reverter esse quadro significativamente. O que é certo é que o presidente Mikhail Saakashvili – que num discurso no sábado passado chegou a evocar McCain, um candidato a uma eleição num país estrangeiro – já pode falar sobre tiros pela culatra com a autoridade de um doutor honoris causa.

Idelber Avelar é professor do Departamento de Espanhol e Português da Tulane University, New Orleans. Texto originalmente publicado no blog Biscoito Fino e a Massa.

Fonte: Agência Carta Maior – 14/08/08.

13.8.08

Eduardo Santos: um herói olímpico

A ESPN Brasil apresentou no programa Bom dia Pequim, faz alguns minutos, uma excelente matéria sobre o judoca Eduardo Santos, que chegou muito perto de uma medalha de bronze no dia de hoje.
Mostrou sua família, sua casa e sua luta para prosseguir no esporte.
José Trajano ao chamar a matéria, mostrou, como sempre, sua indignação com a estrutura política do nosso país, com a ausência de práticas esportivas como meio educacional, massivas e de qualidade, com as roubalheiras dos cartolas de sempre e com o deslumbramento do ministro dos Esportes, além da inutilidade do Ministério dos Esportes, para minha decepção nicho (ou curral?) político do PC do B.
Este moço, Eduardo Santos, é um herói! O choro e as declarações que ele deu após sua eliminação, numa decisão para lá de polêmica, diga-se de passagem, ficarão como o grande momento desses Jogos.
Mais do que perder a chance da medalha de bronze ele mostrou quem é o "brasileiro que não desiste nunca".
Eduardo Santos deveria ser recebido nos palácios com todas as honrarias possíveis!

11.8.08

O Czar está de volta

O Czar está de volta
Flávio Aguiar

A Primeira Guerra Mundial começou aparentemente quando um suposto anarquista (até hoje essa história não foi de todo contada) disparou contra o arquiduque Ferdinando José, do Império Austro-Húngaro, em Sarajevo, na Sérvia. A cadeia de alianças, algumas secretas, construída em torno da região do Mar Negro, logo levou ao conflito que destruiu impérios (entre eles o Austro-Húngaro) e que só ia parar com o fim da Segunda Guerra Mundial e o começo de outra Guerra Mundial, a Fria.
Esta última terminou, mas não terminou. O desmembramento da União Soviética levou a duas corridas armamentistas: a União Européia correu para ocupar, “manu economica”, o espaço do antigo Leste europeu, derramando nele quadros e mais quadros de formação para “preparar o capitalismo”, e quadros e mais quadros funcionais para administrá-lo. E a OTAN correu para ocupar. “manu militari”, o mesmo espaço, ainda com o mesmo objetivo de cercar seu antigo inimigo moscovita, o que só não percebe quem não quer.
O primeiro avanço foi facilitado pela “sede capitalista” (sêde) que cresceu nas sociedades emergentes de um comunismo que não só não conseguiu, de um modo geral, criar o “homem novo”, mas conseguiu a proeza de criar burocracias dirigentes que se transformaram logo em “escolares entusiastas”, mas desorganizados, do capitalismo triunfante ou em máfias extremamente ambiciosas e violentas, mas organizadas, para arrancar e conceder favores na nova ordem.
O segundo avanço, o militar, foi facilitado pelo estraçalhamento da rede de apoio soviética e sua divisão entre as máfias e novos discípulos, que passaram a combater encarniçadamente os velhos discípulos que permanecessem, por razões táticas e estratégicas, mas de modo nenhum ideológicas, aliados da antiga presença da hegemonia russa, que era quem e o que mandava de fato, sob a fachada comunista. A Rússia, durante década e quase meia, viu-se debilitada econômica, política e militarmente, sem poder se contrapor ao avanço do inimigo sobre o que fora seus domínios.
Assim a OTAN bombardeou o ocupou parte dos Bálcãs, enquanto etnias, países e partidos políticos martirizavam suas populações em nome de religiões, de demarcação de territórios, e de um nacionalismo que não recende sequer a aspirações de grandeza, antes a um sórdido conquistar de posições para negociá-las, ou com a águia de duas cabeças do lado leste (o símbolo da antiga Rússia czarista, que renasceu das cinzas da foice e do martelo), ou com a ave de rapina multicor, e de muitas cabeças, do capitalismo triunfante que vinha do lado oeste.
O último capítulo dramático dessa continuação da Guerra Fria foi a “independência” da província separatista do Kosovo, na Sérvia. Na verdade essa “independência” foi uma ocupação da província por albaneses, arquiinimigos dos sérvios, agora aliados do Ocidente. Houve atrocidades de parte a parte; como os albaneses são agora “aliados”, no Ocidente soube-se mais das atrocidades cometidas pelos soldados sérvios.
Desse episódio, saíram humilhadas a Sérvia e a Rússia. A garantia da independência do Kosovo, território logo ocupado por esquadrões de juízes, policiais, funcionários e administradores de mercado da União Européia, foi a presença das bases militares da OTAN, instaladas enquanto a Rússia ainda se recuperava das seqüelas provocadas pela hecatombe do sistema soviético.
Agora, parece que esse capítulo chegou ao fim e outro começou. Sob a política altamente centralizadora, autoritária na administração e condescendente com as “facilidades” do novo capitalismo, construída durante o primeiro czariato de Putin, a Rússia está em francas vias de recuperação econômica e militar. E parece que chegou a hora de mostrar os dentes.
O governo da Geórgia, desejoso de tornar-se alvo dos avanços militar e econômico do Ocidente, precipitou uma guerra de posições que se dava em torno da sua ex-província da Ossétia do Sul. É mais do que provável que o governo esperasse que seus promissores aliados o socorressem com dinheiro, armas e até soldados. Nada disso aconteceu.
O poderio russo voltou a se afirmar. Quando a Geórgia invadiu a Ossétia, que se proclamara independente nos anos 90 do século passado, Putin, que estava em Pequim assistindo a abertura dos jogos olímpicos, reuniu-se mais do que depressa com Bush.
O que devem ter dito os dois? Quanto às palavras, é impossível saber. Mas certamente Putin fez Bush, agora um presidente sainte, saber que chegara a hora da Rússia beber água, e da Geórgia beber fogo, inclusive em nome do sangue que, aliás, pelos relatos que se têm, seu exército fez correr abundantemente na província invadida, despertando desejos de vingança na população ossétia. E Putin deve ter acrescentado que os Estados Unidos deveria se satisfazer com protestos verbais e deveria “recomendar” o mesmo a seus aliados europeus.
Os Estados Unidos são a maior potência naval e aérea que o mundo já conheceu. Mas em terra ainda não há quem possa com os tanques russos. A única coisa que poderia talvez detê-los seria um ataque aéreo da OTAN, semelhante ao que ela despejou sobre toda a antiga Iugoslávia e em particular sobre a Sérvia, ao fim do século passado, em nome de evitar um genocídio, mas de fato abrindo caminho para a ocupação com suas tropas de terra e bases militares.
Na Europa as reações de direita, na imprensa, seguem o padrão de que o governo georgiano “se excedeu”, e “se precipitou”, mas que a contra-reação russa foi “desproporcional”. A mesma turma, que não hesita em promover a presença ianque e européia nos Iraque e no Afeganistão, condena o bombardeio russo (agora) da Geórgia, e a ocupação militar de pelo menos parte do território desta, que deve se suceder.
As reações mais para a esquerda coincidem, em boa parte, com a desta análise: Putin está mostrando – sobre, inclusive, a presidência de Medvedev – que o verdadeiro e contínuo Czar é ele, seja como presidente (antes), seja como primeiro-ministro (agora). Putin fora um tanto ofuscado pela presença de Medvedev na conferência do G8 no Japão. Agora voltou à cena, com som e fúria. Saiu de Pequim quase diretamente para a Ossétia do Norte, província russa que limita com sua co-irmã “independente” do sul. E de lá comandou ou assistiu o “show” dos tanques russos ao sul de seu império.
Uma coisa é certa: a população da Ossétia do Sul está comendo o pão que a Geórgia, os Estados Unidos, a OTAN, a União Européia e a Rússia amassaram. Os relatos sobre o comportamento do exército georgiano na Ossétia são terríveis, e foram publicados no conspícuo The Guardian. Mas isto a imprensa do Ocidente, em sua maioria, deverá logo esquecer. E se seguirá a lamentação (também justa) sobre os pobres georgianos que foram vítimas dos bombardeios e dos tanques russos. Afinal, guerra é guerra.

Fonte: Agência Carta Maior – 11/08/08.

9.8.08

Leituras selecionadas da semana

Como prometi, cá estou novamente!
Semana instigante: início das competições dos Jogos Olímpicos de Beijing, aquecimento dos debates nas presidenciais estadunidenses e também nas municipais por aqui, início da guerra entre Geórgia e Rússia e referendo revogatório na Bolívia.
Sobre este último tema a Agência Carta Maior apresenta ótimo e esclarecedor texto, basta clicar aqui para acessá-lo. Naquilo que me diz respeito estou aqui na torcida por Evo Morales e seu projeto de governo.
A Geórgia parece ter jogado pesado na invasão à Ossétia do Sul, não contava com a reação russa.
Se de um lado pode parecer contraditório o apoio da Rússia a autonomia da região da Ossétia do Sul, uma vez que nem admite discutir autonomia semelhante para a Chêchenia, por outro lado a própria Rússia havia alertado os europeus e a ONU para o risco desta fragmentação territorial a partir da secessão do Kosovo.
A BBCBrasil faz uma exposição bem didática sobre este conflito, clique aqui para ler.
Nossas eleições municipais continuam em período de aquecimento. Das capitais o quadro que mais me surpreende é o de BH. Lá, Jô Moraes do PC do B, aparece na dianteira das pesquisas e o candidato do governador Aécio Neves (PSDB) e do prefeito Fernando Pimentel (PT), Márcio Lacerda (PSB), amarga o 3º lugar nas pesquisas.
A melhor cobertura das municipais vem do site Vi o Mundo, do Luiz Carlos Azenha, é só clicar aqui e acessar.
Já sobre as eleições no império prefiro a cobertura do blog A escolha do próximo porteiro.
Nas coberturas dos grandes eventos esportivos sempre prefiro a ESPN Brasil. Profissionais ao extremo, zelosos e verdadeiros. Até torcem, afinal ninguém é de ferro, mas sem as patriotadas da TV aberta.
O Guia de Pequim 2008 preparado pela ESPN é supimpa! Clique aqui e confira.
Como sou assinante da NET tenho mais canais SporTV, com uma cobertura muito informativa e decente também.
Embora tenha clareza sobre todo o aspecto comercial e político envolvido no evento, sempre acompanho algumas modalidades: judô, ginástica olímpica, vôlei, futebol – principalmente o feminino – e handebol.
No caso da ginástica tenho uma simpatia enorme pela Jade Barbosa, tomara que tenha sucesso.

7.8.08

Álbum de Música

Segue abaixo dica de bom curtametragem, publicado pelo PortaCurtas, é só clicar no link.

Álbum de Música
Música de Pixinguinha, Almirante, Ismael Silva, Nelson Cavaquinho e Cartola. Gilberto Gil e Macalé comentam o filme. Depoimento de Nara Leão e Nelson Motta sobre a Música popular Brasileira.
Álbum de Música

De volta pra casa!

Prezados e prezadas, perdoem-me a ausência, mas não teve outro jeito!
A rede do hospital onde estive internado nos últimos dias não permitia acesso ao Blogger. Tive uma infecção renal que, felizmente, já está bem encaminhada, mas me manteve trancafiado desde sexta-feira, voltei pra casa hoje.
Ainda estou dolorido, principalmente nas mãos, parece que com a idade as veias se escondem e os furos para encontrá-las aumentam.
Se tudo correr bem no final de semana volto a atormentar a todos!