30.4.10

Quando o 1º de Maio era um dia de luta

Alguns amigos me tem como bom contador de histórias e por isso chegam a duvidar de algumas que conto.
Dentre elas costumo lembrar com saudosismo das várias comemorações do 1º de Maio – Dia do Trabalhador. Algumas na Praça da Sé, outras em São Bernardo.
Lembro-me de uma em São Bernardo. Corria o Governo Sarney. Uma multidão no Paço Municipal.
No palanque alternavam-se artistas do quilate de Zé Geraldo e grupos como o Galo de Briga. Eles estavam conosco, todos trabalhadores, não eram contratados com cachês milionários.
Lula prepara-se para o discurso.
A multidão aplaude e canta palavras de ordem.
Sarney tinha acabado de lançar o “tíquete do leite”. Funcionava assim, você se cadastrava numa associação de moradores e recebia um talão com vários tíquetes que eram trocados na padaria por um litro de leite “C”.
Lula disse que isso era desrespeitoso. Que o trabalhador deveria ter salário suficiente para beber o leite da vaca a, b ou c.
Que voltas o mundo dá.
Em São Paulo, no ano de 1989, o comício foi ameaçado por um grupo de skinheads. Os militantes da CUT armaram um excelente esquema de segurança e pegamos os caras, com a ajuda providencial dos punks, na saída do Metrô Sé.
No palanque as críticas eram direcionadas a festa da Força Sindical, que no seu papel histórico de âncora do peleguismo, levava os trabalhadores para o CERET-Tatuapé e sorteava carros entre os presentes.
As coisas estão mais calmas agora, as Centrais até combinaram um discurso unificado: redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
A CUT fará comemorações sofisticadas, mas mais politizadas do que nos anos anteriores.
A Força Sindical continuará com o sorteio de automóveis, quase duas dezenas.
Veja um resumo da programação das Centrais clicando aqui.
Enquanto isso continuo contando as histórias de um tempo de líderes combativos, de tentativas de levar adiante um movimento de educação política e emancipação dos trabalhadores...

21.4.10

Algumas escolhas nós fazemos, outras são feitas para nós...

Ainda não é o fim do ano, mas aquela nostalgia do que não fizemos e a sensação de que precisamos arrumar um montão de coisas já bate à porta.
Fui golpeado no final do ano passado com a demissão da escola onde lecionava havia quase cinco anos. Pior, o novo dono, na apresentação geral que aconteceu no meio do ano, sugeriu que os colegas buscassem informações comigo, sobre a idoneidade e correção da empresa no trato com os “colaboradores”, uma vez que eu já trabalhara para o grupo em tempos idos.
Nesta apresentação ele – o novo dono – prometeu uma escola “Premium”, com profissionalização e projeto pedagógico de excelência. E eu acreditei! Infelizmente a escola que tinha até “experimental” no nome está sendo transformada numa escola tradicional, aos poucos e sem os requisitos necessários às boas escolas tradicionais.
Uma página virada.
Comecei numa nova escola neste ano, distante de casa. Voltei a enfrentar o trânsito de São Paulo e uma realidade que ainda não tinha vivenciado: condomínio fechado.
Estou tateando ainda, o projeto é interessante, mas como tudo que é novo essa experiência também amedronta.
Os novos colegas – alguns conhecidos de outras frentes de labuta – são ótimos e estou adorando retomar as aulas no Fundamental II. Fazia já 12 anos que não trabalhava com 6º ano (antiga 5ª série).
Mas sinto falta de algo mais no campo profissional. Alimento um sonho, já faz um tempo, de enveredar pela área de tecnologias educacionais e educação à distância. Talvez seja o momento de começar a me preparar para essas possibilidades.
Quando esse sentimento me ataca eu ataco as coisas acumuladas.
Limpo a caixa de e-mail, falo e escrevo sobre as coisas que me deixam tristes...
Resolvi arrumar os contatos do MSN. Lá criei grupos para facilitar minha vida.
Tenho “alunos e ex-alunos”, “colegas de trabalho”, “Família” e “Amigos”.
Quando meus alunos terminam o ensino médio, ou mudam de escola, eu desloco o sujeito ou a sujeita do grupo de “alunos e ex-alunos” para o de “Amigos”. Às vezes simplesmente apago o contato.
O mesmo faço no grupo de “colegas de trabalho”. O duro foi perceber que alguns colegas de trabalho, que eu pensava em transferir para o “Amigos” tiveram que ser apagados.

O vulcão Laki e a Revolução Francesa

Leiam abaixo o texto do portal R7 sobre vulcões na Islândia. Trata da hipótese, refutada pelo especialista citado no texto, da erupção do vulcão Laki ter influenciado a Revolução Francesa.

Revolução Francesa sofreu influência de vulcão islandês

Cinzas de outro vulcão, o Laki, causaram fome na Europa e provocaram convulsão social

Não é a primeira vez que um vulcão na pequena e desolada Islândia causa estrago no continente europeu. Há 227 anos, o vulcão Laki entrou em erupção e, segundo registros históricos, espalhou ainda mais cinza que o Eyjafjallajokull, responsável pelo fechamento do espaço aéreo do continente.
O rastro de fome e morte teria ajudado a motivar camponeses da França a aderir à Revolução Francesa (1789), que cortou a cabeça dos reis e derrubou a monarquia no país.
O episódio foi lembrado pelo deputado francês Philippe Vittel, em conversa com o R7.
- Não sei se é verdade, mas dizem que um vulcão islandês levou à Revolução Francesa. É interessante, temos que ver ao que esse vai nos levar.
Segundo reportagem publicada no jornal Le Monde nesta terça-feira (20), as erupções do Laki em junho de 1783 e fevereiro de 1784 foram bem mais potentes que as do Eyjafjallajokull, em atividade desde a semana passada.

Cinzas do Laki levaram 20% dos islandeses à morte
O jornal cita o historiador Emmanuel Garnier, da Universidade de Caen. O autor do livro Les Dérangements du temps : 500 ans de chaud et froid en Europe (Os desarranjos do tempo: 500 anos de frio e calor na Europa) diz que as cinzas mataram 80% dos ovinos, a maioria das vacas e dos cavalos na Islândia. Cerca de 20% da população islandesa acabou morrendo de fome.
- Alguns historiadores contam que um casal de homossexuais chegou a ser morto como forma de expiação [penitência].
Garnier cita outros estudos mostrando que a mortalidade no Reino Unido e na França cresceu 30% acima da média, já que muita gente morreu intoxicada pela fumaça. Na Europa, 160 mil pessoas morreram.
O historiador, no entanto, é cético quanto ao vulcão ter motivado a Revolução Francesa de 1789, quando o povo foi às ruas e derrubou o regime aristocrático dos monarcas franceses, cortando a cabeça de Luis 14 e de sua, mulher Maria Antonieta, na guilhotina.
Garnier lembra que, pela primeira vez, o governo socorreu as vítimas em grande escala na França e que o rei conseguiu até mesmo construir uma imagem de "benfeitor" na época. Apesar da ajuda, o pesquisador também lembra que um dos motivos da revolução foi a crise agrícola no campo, que sofreu invernos rigorosos e depois um período de fortes chuvas - o impacto climático foi culpa do vulcão islandês.

Fonte: R7

9.4.10

Meus queridos e minhas queridas leitoras. Sim, refiro-me a todos os quatro ou cinco viventes que ainda tem a paciência de me ler.
Segue um excelente texto de Ladislau Dowbor, um intelectual acostumado a colocar a mão na massa, portanto merecedor do nosso respeito, pois aqueles outros que adoram títulos “honoris causa” e se encantam com os trololós não quero nem mesmo compartilhar do ar que respiram.
O texto foi abreviado por mim, mantive só a introdução, ainda assim está num tamanho um tanto quanto grande para um blog.
Surrupiei o danado da Agência Carta Maior, uma das minhas leituras diárias – ou quase. Querendo deleitar-se com o texto integral é só clicar aqui.

Os Dez Mandamentos

Os Mandamentos abaixo elencados têm um denominador comum: todos já foram experimentados e estão sendo aplicados em diversas regiões do mundo, setores ou instâncias de atividade. São iniciativas que deram certo, e cuja generalização, com as devidas adaptações e flexibilidade em função da diversidade planetária, é hoje viável. O artigo é de Ladislau Dowbor.

Ladislau Dowbor

Como sociedade, desejamos não somente sobreviver, mas viver com qualidade de vida, e porque não, com felicidade. E isto implica elencarmos de forma ordenada os resultados mínimos a serem atingidos, com os processos decisórios correspondentes. Os Mandamentos abaixo elencados têm um denominador comum: todos já foram experimentados e estão sendo aplicados em diversas regiões do mundo, setores ou instâncias de atividade. São iniciativas que deram certo, e cuja generalização, com as devidas adaptações e flexibilidade em função da diversidade planetária, é hoje viável. Não temos a ilusão relativamente à distância entre a realidade política de hoje e as medidas sistematizadas abaixo. Mas pareceu-nos essencial, de toda forma, elencar de forma organizada as medidas necessárias, pois ter um norte mais claro ajuda na construção de uma outra governança planetária. Não estão ordenadas por ordem de importância, pois a maioria tem implicações simultâneas e dimensões interativas. Mas todos os mandamentos deverão ser obedecidos, pois a ira dos elementos nos atingirá a todos, sem precisar esperar a outra vida.
Considerando que a obediência à versão original dos Dez Mandamentos foi apenas aleatória, desta vez o Autor teve a prudência de acrescentar a cada Mandamento uma nota de explicação, destinada em particular aos impenitentes.

I – Não comprarás os Representantes do Povo
Resgatar a dimensão pública do Estado: Como podemos ter mecanismos reguladores que funcionem se é o dinheiro das corporações a regular que elege os reguladores? Se as agências que avaliam risco são pagas por quem cria o risco? Se é aceitável que os responsáveis de um banco central venham das empresas que precisam ser reguladas, e voltem para nelas encontrar emprego?

II – Não Farás Contas erradas
As contas têm de refletir os objetivos que visamos. O PIB indica a intensidade do uso do aparelho produtivo, mas não nos indica a utilidade do que se produz, para quem, e com que custos para o estoque de bens naturais de que o planeta dispõe. Conta como aumento do PIB um desastre ambiental, o aumento de doenças, o cerceamento de acesso a bens livres. O IDH já foi um imenso avanço, mas temos de evoluir para uma contabilidade integrada dos resultados efetivos dos nossos esforços, e particularmente da alocação de recursos financeiros, em função de um desenvolvimento que não seja apenas economicamente viável, mas também socialmente justo e ambientalmente sustentável. As metodologias existem, aplicadas parcialmente em diversos países, setores ou pesquisas.

III – Não Reduzirás o Próximo à Miséria
Algumas coisas não podem faltar a ninguém. A pobreza crítica é o drama maior, tanto pelo sofrimento que causa em si, como pela articulação com os dramas ambientais, o não acesso ao conhecimento, a deformação do perfil de produção que se desinteressa das necessidades dos que não têm capacidade aquisitiva. A ONU calcula que custaria 300 bilhões de dólares (no valor do ano 2000) tirar da miséria um bilhão de pessoas que vivem com menos de um dólar por dia. São custos ridículos quando se considera os trilhões transferidos para grupos econômicos financeiros no quadro da última crise financeira. O benefício ético é imenso, pois é inaceitável morrerem de causas ridículas 10 milhões de crianças por ano. O benefício de curto e médio prazo é grande, na medida em que os recursos direcionados à base da pirâmide dinamizam imediatamente a micro e pequena produção, agindo como processo anticíclico, como se tem constatado nas políticas sociais de muitos países.

IV – Não Privarás Ninguém do Direito de Ganhar o seu Pão
Universalizar a garantia do emprego é viável. Toda pessoa que queira ganhar o pão da sua família deve poder ter acesso ao trabalho. Num planeta onde há um mundo de coisas a fazer, inclusive para resgatar o meio ambiente, é absurdo o número de pessoas sem acesso a formas organizadas de produzir e gerar renda. Temos os recursos e os conhecimentos técnicos e organizacionais para assegurar, em cada vila ou cidade, acesso a um trabalho decente e socialmente útil. As experiências de Maharashtra na Índia demonstraram a sua viabilidade, como o mostram as numerosas experiências brasileiras, sem falar no New Deal da crise dos anos 1930. São opções onde todos ganham: o município melhora o saneamento básico, a moradia, a manutenção urbana, a policultura alimentar. As famílias passam a poder viver decentemente, e a sociedade passa a ser melhor estruturada e menos tensionada. Os gastos com seguro-desemprego se reduzem. No caso indiano, cada vila ou cidade é obrigada a ter um cadastro de iniciativas intensivas em mão de obra.

V – Não Trabalharás Mais de Quarenta Horas
Podemos trabalhar menos, e trabalharemos todos, com tempo para fazermos mais coisas interessantes na vida. A subutilização da força de trabalho é um problema planetário, ainda que desigual na sua gravidade. No Brasil, conforme vimos, com 100 milhões de pessoas na PEA, temos 31 milhões formalmente empregadas no setor privado, e 9 milhões de empregados públicos. A conta não fecha. O setor informal situa-se na ordem de 50% da PEA. Uma imensa parte da nação “se vira” para sobreviver.

VI – Não Viverás para o Dinheiro
A mudança de comportamento, de estilo de vida, não constitui um sacrifício, e sim um resgate do bom senso. Neste planeta de 7 bilhões de habitantes, com um aumento anual da ordem de 75 milhões, toda política envolve também uma mudança de comportamento individual e da cultura do consumo. O respeito às normas ambientais, a moderação do consumo, o cuidado no endividamento, o uso inteligente dos meios de transporte, a generalização da reciclagem, a redução do desperdício – há um conjunto de formas de organização do nosso cotidiano que passa por uma mudança de valores e de atitudes frente aos desafios econômicos, sociais e ambientais.

VII – Não Ganharás Dinheiro com o Dinheiro dos Outros
Racionalizar os sistemas de intermediação financeira é viável. A alocação final dos recursos financeiros deixou de ser organizada em função dos usos finais de estímulo e orientação de atividades econômicas e sociais, para obedecer às finalidades dos próprios intermediários financeiros. A atividade de crédito é sempre uma atividade pública, seja no quadro das instituições públicas, seja no quadro dos bancos privados que trabalham com dinheiro do público, e que para tanto precisam de uma carta-patente que os autorize a ganhar dinheiro com dinheiro dos outros. A recente crise financeira de 2008 demonstrou com clareza o caos que gera a ausência de mecanismos confiáveis de regulação no setor.


VIII – Não Tributarás Boas Iniciativas
A filosofia do imposto, de quem se cobra, e a quem se aloca, precisa ser revista. Uma política tributária equilibrada na cobrança, e reorientada na aplicação dos recursos, constitui um dos instrumentos fundamentais de que dispomos, sobretudo porque pode ser promovida por mecanismos democráticos. O eixo central não está na redução dos impostos, e sim na cobrança socialmente mais justa e na alocação mais produtiva em termos sociais e ambientais. A taxação das transações especulativas (nacionais ou internacionais) deverá gerar fundos para financiar uma série de políticas essenciais para o reequilíbrio social e ambiental. O imposto sobre grandes fortunas é hoje essencial para reduzir o poder político das dinastias econômicas (10% das famílias do planeta é dono de 90% do patrimônio familiar acumulado no planeta). O imposto sobre a herança é fundamental para dar chances a partilhas mais equilibradas para as sucessivas gerações. O imposto sobre a renda deve adquirir mais peso relativamente aos impostos indiretos, com alíquotas que permitam efetivamente redistribuir a renda.

IX – Não Privarás o Próximo do Direito ao Conhecimento
Travar o acesso ao conhecimento e às tecnologias sustentáveis não faz o mínimo sentido. A participação efetiva das populações nos processos de desenvolvimento sustentável envolve um denso sistema de acesso público e gratuito à informação necessária. A conectividade planetária que as novas tecnologias permitem constitui uma ampla via de acesso direto. O custo-benefício da inclusão digital generalizada é simplesmente imbatível, pois é um programa que desonera as instâncias administrativas superiores, na medida em que as comunidades com acesso à informação se tornam sujeitos do seu próprio desenvolvimento.

X – Não Controlarás a Palavra do Próximo
Democratizar a comunicação tornou-se essencial. A comunicação é uma das áreas que mais explodiu em termos de peso relativo nas transformações da sociedade. Estamos em permanência cercados de mensagens. As nossas crianças passam horas submetidas à publicidade ostensiva ou disfarçada. A indústria da comunicação, com sua fantástica concentração internacional e nacional - e a sua crescente interação entre os dois níveis - gerou uma máquina de fabricar estilos de vida, um consumismo obsessivo que reforça o elitismo, as desigualdades, o desperdício de recursos como símbolo de sucesso. O sistema circular permite que os custos sejam embutidos nos preços dos produtos que nos incitam a comprar, e ficamos envoltos em um cacarejo permanente de mensagens idiotas pagas do nosso bolso. Mais recentemente, a corporação utiliza este caminho para falar bem de si, para se apresentar como sustentável e, de forma mais ampla, como boa pessoa.

Nesta época interativa, o Altíssimo declarou-se disposto a considerar outros Mandamentos. Sendo o Secretariado do Altíssimo hoje bem equipado, os que por acaso tenham sugestões ou necessitem consultar documentos mais completos, poderão se instruir com outros Assessores, em linha direta sob www.criseoportunidade.wordpress.com. Críticas, naturalmente, deverão ser endereçadas a Instâncias Superiores. Apreciações positivas e sugestões de outros Mandamentos poderão ser enviadas ao blog acima citado, ou no e-mail ladislau@dowbor.org

7.4.10

Os professores são tratados assim pelas autoridades de São Paulo

Hotel Transamérica transforma a zona sul de SP num inferno

O Hotel Transamérica fica localizado na Marginal Pinheiros, artéria viária fundamental para os moradores da Zona Sul de São Paulo.
Hoje tem dois eventos ocorrendo neste hotel, por conta disso a CET - órgão municipal responsável pelo trânsito da capital - interditou um dos acessos ao citado, transformando nossa vida num verdadeiro inferno.
O congestionamento ultrapassa 10 km e não se limita à Marginal, mas compromete todas as vias secundárias que, de algum forma, dão acesso ao local.
Será que a Prefeitura vai multa o Hotel? Os organizadores do evento? Não tem um único tópico na capa dos principais portais falando do assunto, mas se fosse uma manifestação de trabalhadores, aí a conversa seria outra.
Clique aqui para conferir os eventos no Hotel.

2.4.10

Líder camponês é morto com 5 tiros no Pará

A notícia abaixo não deu no Jornal Nacional. Também não será manchete dos sites de notícias, ou das revistas semanais. Capa de Veja? Só as laranjas da Cutrale ou os maquinários dos latifundiários. Afinal, o que é a vida de um agricultor se comparada ao agrobusiness? Mas se fossem os eucaliptos da Monsanto, aí a conversa seria outra. A mídia gritaria contra a impunidade, uns tais filósofos denunciariam a cumplicidade do presidente Lula...
Nessas horas dá um desânimo desse país...
Enquanto isso tem gente comemorando os 150 milhões de telefonemas que a Globo recebeu na final do BBB10. Somos realmente uma geração da globodiotas! Saudades do Brizola: “enquanto a Rede Globo detiver o monopólio da informação, não teremos democracia neste Brasil!”.
Leiam o artigo abaixo, vale a pena:

Líder camponês é morto com cinco tiros no Pará.

Pedro Alcântara de Souza, um dos líderes da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Pará, foi assassinado com cinco tiros na cabeça em Redenção, Sul do Estado (67 mil pessoas, 162 mil cabeças de gado, quase 30% de adultos analfabetos, cerca de 40% de pobres). Ex-vereador, ele era um dos marcados para morrer devido à sua militância pelo direito das populações do campo e foi morto quando andava de bicicleta com a esposa no final da tarde de anteontem por dois homens em uma motocicleta. A polícia acredita que pode ter sido executado a mando de fazendeiros da região insatisfeitos.
Perdi as contas de quantos assassinatos iguais a esse na Amazônia noticiei nos últimos anos. E tenho medo de imaginar quantos mais ocorrerão, em vista das centenas de camponeses, trabalhadores rurais, sindicalistas, indígenas, ribeirinhos, quilombolas que ainda estão marcados para morrer por lutar por um pedaço de chão.
Já disse aqui mais de uma vez que a Justiça no Pará fracassou há muito tempo. Ou podemos considerar um sucesso um sistema que, há décadas, ignora o direito dos excluídos? Se fosse elencar todos os casos de mortos cujos carrascos nunca foram punidos, teríamos o maior post de todos os tempos. A Comissão Pastoral da Terra (CPT) contabiliza a morte de mais de 800 pessoas em função de disputas por terra no estado desde 1971. Punição? Nem.
E a História vai se repetindo como tragédia. Na década de 80 e 90, fazendeiros resolveram acabar com o Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, no Sul do Pará, um dos mais atuantes na região, e assassinaram uma série de lideranças. De acordo com frei Henri des Roziers, advogado da Comissão Pastoral da Terra em Xinguara (PA), foi assassinado o primeiro presidente em 1985. “Depois, foi a vez de um dos líderes em 90 e seus dois filhos, que eram do sindicato. Foi assassinado, em 90, um diretor. E, em 91, mataram seu sucessor dele, além de outros que foram baleados. Passei da região do Bico-do-Papagaio para aqui a fim de ajudar na apuração desses crimes.” Os casos foram a julgamentos, houve condenações, mas os pistoleiros fugiram. Henri é ele mesmo um dos mais de 200 marcados para morrer no Pará e vive sob escolta policial 24 horas por dia.
O Massacre de Eldorado dos Carajás, no Sul do Pará, que matou 19 sem-terra e deixou mais de 60 feridos após uma ação violenta da Polícia Militar para desbloquear a rodovia PA-150, vai completar 14 anos no próximo 17 de abril. A rodovia estava ocupada por uma marcha do MST que se dirigia à Marabá para exigir a desapropriação de uma fazenda, área improdutiva que hoje abriga o assentamento 17 de Abril. Os responsáveis políticos pelo massacre, o governador Almir Gabriel e o secretário de Segurança Pública, Paulo Câmara, não foram nem indiciados. Quantos aos executores há um longo caminho até que a Justiça seja feita.
Em fevereiro de 2005, a missionária Dorothy Stang foi assassinada com seis tiros – um deles na nuca – aos 73 anos. Ela foi alvejada numa estrada vicinal de Anapu (PA). Ligada à Comissão Pastoral da Terra, Dorothy fazia parte da Congregação de Notre Dame de Namur, da Igreja Católica. Naturalizada brasileira atuava no país desde 1966 e defendia os Programas de Desenvolvimento Sustentável como modelo de reforma agrária na Amazônia. Um dos fazendeiros acusados de ser o mandante chegou a ser julgado e condenado, mas depois foi absolvido em segundo julgamento. Outros estão na fila do tribunal. Ainda.
Frei Henri, 80 anos bem vividos e há quase três décadas morando na região, viu de perto o poder econômico chegar e esmagar a população rural: “Há uma cultura da violência. O problema da posse da terra se tornou mais forte a partir dos anos 70, quando entrou muita gente nesta região pioneira. Daqui [Xinguara] até Conceição do Araguaia era mata virgem, Xinguara nem existia. Entrou gente de todo o tipo, fazendeiros, madeireiros. Entraram também muitos sem-terra da época, posseiros. A terra era de todo mundo. Mas chegaram empresários com incentivos fiscais do governo, que incentivavam a produção agropecuária através de seus bancos de financiamento.
Isso provocou um conflito entre os posseiros legítimos, com mais de um ano de posse, e as empresas recém-chegadas, que queriam pilhar tudo. Com o Estado totalmente ausente, as coisas se solucionavam necessariamente a partir da própria força de arma de cada um. Acompanhamos, por exemplo, toda a apuração, o processo e o julgamento dos assassinos dos sindicalistas da região de Rio Maria nos anos 80 e 90. Vários foram condenados. Todos fugiram”.
Na prática, com louváveis exceções como a de juízes com coragem de condenar escravagistas ou de procuradores que não têm dado trégua a quem mata e desmata, a Justiça tem servido para proteger o direito de alguns mais ricos em detrimento dos que nada têm. Mudanças positivas têm acontecido, mas muito pouco diante do notório fracasso até o presente momento. A se confirmar o crime de mando no caso de Pedro, será mais um tento marcado pela barbárie na disputa com a civilização na Amazônia.

Israel bombardeia Faixa de Gaza