31.7.08

Mostra Plínio Marcos 2008





Teatro da Universidade de São Paulo e Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária,

Apresentam

Mostra Plínio Marcos 2008 (Agosto a novembro)

PROGRAMAÇÃO

· Dois perdidos numa noite suja – Direção Joana Levi e Laila Garin
Em Dois Perdidos Numa Noite Suja, Tonho e Paco dividem um mesmo quarto em uma hospedaria de última categoria e trabalham juntos como carregador de caixas em um mercado. Os dois são empurrados para a marginalidade, justificando-se um deles, por não ter um sapato com que se apresentar aos outros, e o outro por ter perdido sua flauta, que seria seu ganha pão. (70 min.)

De 01 a 17 de agosto de 2008 / Sextas e Sábados às 19h, Domingos às 18h.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) / Classificação: 14 anos.


·Abajur Lilás - Cia. Independente de Teatro – Direção: Fernanda Levy

Três mulheres sobrevivem como prostitutas a beira da marginalidade. Apesar das incontestáveis dificuldades deste cotidiano, tudo está como deveria. Até que um dia, tomada por um súbito acesso de raiva e o árduo desejo de provocar o proprietário do covil, uma delas quebra um abajur. Seu ato impulsivo inicia um grande conflito que aos poucos desemboca numa terrível tragédia. (90 min.)

De 22 de agosto a 07 de setembro de 2008 / Sextas e Sábados às 19h, Domingos às 18h
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) / Classificação: 16 anos.


· A Mancha Roxa - Grupo Disritmia Cênica – Direção Alexandra da Matta
Em A Mancha Roxa, de Plínio Marcos, seis presidiárias descobrem ser portadoras do vírus HIV, cujo nome popular nos presídios nos anos 80 era justamente "a mancha roxa". A partir desta situação limite, se configuram relações de opressão, violência, solidariedade, amor e rebeldia entre estas mulheres e a carcereira. (50 min.)

De 12 a 28 de setembro de 2008 / Sextas e Sábados às 19h, Domingos às 18h.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) / Classificação: 16 anos.


· Balada de um palhaço - Cia. Orbital – Direção. Gustavo Trestini
Num velho circo, antes do início do espetáculo, o palhaço Bobo Plin ao buscar sentido para seu ofício (marcado pela repetição mecânica do fazer artístico), nega antigas formas de fazer rir a fim de preencher o vazio de uma existência que ele percebe medíocre. Sua motivação em mudar é acionada a partir do seu reencontro com sua vocação, o fazer artístico. (75 min.)

De 03 a 19 de outubro de 2008 / Sextas e Sábados às 19h, Domingos às 18h.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) / Classificação: 14 anos.


· Homens de Papel - Grupo Chão – Direção: Sérgio Audi
A história se dá em torno de um grupo de catadores de papel, que fomenta uma revolta contra o homem que, ao comprar-lhe o papel coletado pelas ruas, "rouba no peso e no preço", para revendê-lo, mais tarde, para uma fábrica. Eleva-se, assim, a partir dessa "sociedade" de catadores de papel, uma metáfora do poder pelo poder, que aprisiona explorador e explorado a um sistema desumano de luta pela sobrevivência (80 min.)

De 24 de outubro a 09 de novembro de 2008 / Sextas e Sábados às 19h, Domingos às 18h.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira), R$ 10,00 (meia) / Classificação: 16 anos.

·Fichas técnicas, imagens e mais informações: www.oautornapraca.com.br/pliniomarcos
·Sítio oficial do Plínio Marcos: http://www.pliniomarcos.com/ (se possível, citar em matéria)

Informações e reservas: TUSP - Teatro da USP / Rua Maria Antônia, 294 - Consolação
Tel.: 11 3255-7182 r. 41 e 53 http://www.usp.br/tusp%20/ tuspmkt@usp.br
A bilheteria abre duas horas antes do espetáculo

Contato Imprensa: Edson Lima – 11 3746 6938 / 9586 5577 – oanp@uol.com.br

Apoio: Cooperativa Paulista de Teatro, O Autor na Praça, Pablo Orazi Webdesigner, Cachaça Tábua, Gráfica Lançamento, Sociedade da Sucata, Cantina e Pizzaria Piolin, Studio Caverninha, Planeta's, Cantina Luna de Capri e Barão de Itararé.

29.7.08

CartaCapital já noticiava em 1998 o que a grande mídia só descobriu agora

Abaixo segue texto explicativo da própria revista CartaCapital, explicando toda a sua obra de investigação a respeito de Daniel Dantas, seus sócios, amigos e vítimas, públicos e privados.
A qualidade do texto da revista é muito superior as outras semanais brasileiras. A qualidade do jornalismo praticado também.
Não é neutra, mesmo por que não existe órgão de mídia que o seja, mas não briga com a notícia, prática tão corriqueira em Veja, por exemplo.
A quantidade e a qualidade dos textos elencados, quando nenhum outro órgão da chamada grande imprensa ousava tocar no nome do dito cujo, ou, ao contrário, fazia de acordo com os interesses do mesmo, é prova cabal da qualidade, independência e ousadia desta publicação, pena que não tenha concorrente à altura!


Conforme o prometido, CartaCapital honra o compromisso de ajudar o "jornalismo investigativo" brasileiro, que anda em polvorosa desde a deflagração da Operação Satiagraha pela Polícia Federal, que provocou o entra-e-sai de Daniel Dantas da prisão e tantas outras ebulições na república brasileira.
Para tanto, a revista deixa disponível neste dossiê todo o conteúdo que produziu sobre Daniel Dantas e seus negócios nos últimos dez anos. São mais de noventa textos, reportagens e editoriais de CartaCapital sobre o envolvimento de Dantas em transações em diversas áreas da economia nativa, em especial no setor de telecomunicações.
Elas estão compreendidas em um período que remonta às privatizações do setor de telefonia, ocorridas no fim da década de 1990, durante o governo Fernando Henrique Cardoso, e chega aos dias atuais, sob a égide do segundo mandato do presidente Lula. É material suficiente para entender como Dantas tornou-se figura tão importante nos bastidores da República, a ponto de alguns terem dito que se fosse revelado todo o conteúdo das negociatas do orelhudo, o País pararia por dois anos
Com isso, CartaCapital espera que a mídia nativa não dê ares de furo ou mesmo de material exclusivo a conteúdo que a revista publicou anos atrás. Bom proveito.

Clique aqui para ler tudo que foi noticiado em CartaCapital sobre o Daniel Dantas, desde 25/11/1998.

25.7.08

Cabral censura desenho de Latuff

É só clicar no título da postagem para ler matéria completa no Fazendo Média.

13% ao ano

A nova taxa SELIC (clique aqui para saber o que é isso) pode significar um tiro no pé do país. Mesmo que não trave o crescimento, inibe a sua velocidade, o que é muito ruim, uma vez que precisamos de crescimento para diminuir o desemprego e melhorar o padrão de renda da população.
Clique aqui para saber quem ganha com os juros altos.
Somente lastreado numa sólida política de crescimento econômico os agentes políticos poderão brigar por desenvolvimento, quanto menor ou mais lento esse crescimento, pior para os agentes menos organizados e com menor poder de “fogo político”.
O texto que segue foi retirado do blog do Luis Nassif. Como sempre uma análise clara, responsável e recheada de bom senso.


O samba do Copom

O Banco da Inglaterra tem que administrar dois problemas: a inflação e o crescimento. Esta semana, os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) de lá não conseguiram de forma alguma chegar a um consenso. Se sobem os juros, combatem a inflação mas afetam o crescimento; se reduzem os juros, estimulam o crescimento mas aquecem a inflação.
Houve um racha total entre os que propunham aumento, redução e manutenção dos juros.

***
O Copom (Comitê de Política Monetária) brasileiro tem um problema adicional, que não existe para o Banco da Inglaterra: as contas externas. A libra é moeda conversível. O câmbio tem importância para regular atividade econômica e/ou preços. Como os juros estão baixos, aumentos adicionais não trazem forte impacto sobre as contas públicas.
Mesmo assim, os sábios ingleses não conseguiram chegar a um consenso para definir os rumos da taxa.

***
No Brasil, os jovens do Copom não têm o menor vacilo: em qualquer hipótese, sobem os juros. Mesmo tendo de administrar quatro problemas: inflação, crescimento, dívida pública e contas externas. Não há avaliação da relação custo-benefício de uma pancada de 0,75 ponto na taxa Selic.

Olha o custo:

1. Em termos de dívida pública, significa R$ 4,8 bilhões adicionais em pagamento de juros. É quase meia Bolsa Família.
2. Em relação às contas externas, significará derrubar mais ainda o dólar, em um momento de franca deterioração do déficit externo.
3. Em relação ao próprio combate à inflação, significa tornar muito mais virulenta o refluxo do câmbio. Quanto maior a queda, agora, mais intensa será a desvalorização quando o mercado perceber a não sustentabilidade do déficit.

***
O terrível nessa história é a incapacidade do BC de apostar na dinâmica da economia. Suponha um doente, com uma infecção qualquer. O médico receita antibiótico e acompanha a evolução da doença. Quando sente que o pior já passou, trata de reduzir a dosagem para evitar seqüelas no organismo.
Há inúmeros sinais de que o pico da inflação já pode estar chegando ao fim.
O último dado da FGV mostra uma menor pressão do preço dos alimentos. Suponha que os preços internacionais de commodities mantenham o mesmo nível atual – já que é quase impossível supor altas adicionais nas cotações. Significará, no mínimo, que não haverá inflação de alimentos no segundo semestre.

***
Caso ocorra uma valorização do dólar, haverá tendência de queda nas commodities, reduzindo um dos principais fatores de pressão sobre a inflação.
No campo do crédito, os bancos estão trabalhando com cuidado redobrado para evitar uma explosão da inadimplência. E há indicadores da própria FGV e da Serasa mostrando menor propensão das indústrias a investimentos adicionais.

***
Se houve a senhor idade e a competência do Banco da Inglaterra, nossos jovens do Copom no mínimo manteriam a taxa Selic no nível atual. Aguardariam mais algum tempo observando o desenrolar desses processos.
Principalmente porque há uma defasagem de tempo entre alta de juros e reflexos na economia.
Mas só conhecem o samba de uma nota só: aumentar juros.

Fonte: Luis Nassif Online – 25/7/06.

24.7.08

Leituras sobre o grande irmão do Norte

Para quem deseja acompanhar as eleições presidenciais dos EUA como se lá estivesse, aconselho a leitura do blog “A escolha do próximo porteiro”, do Roy, o primeiro linkado aí ao lado.
O Luiz Carlos Azenha também apresenta matérias especiais sobre o tema no seu site “Vi o Mundo”, o último link dos favoritos.
Na Agência Carta Maior publicou matéria O declínio do sonho americano (é só clicar no título para acessar o texto), excelente para a compreensão das “benesses” do capitalismo estadunidense.

23.7.08

A mídia do banqueiro e o Conselho Nacional de Jornalismo

Marcelo Salles, do Fazendo Media (linkado aí ao lado), recoloca a discussão sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo na esteira do escândalo Daniel Dantas x Mídia Nativa.
Bem oportuno, como sempre, e excelente texto, para não fugir à regra.
Compensa a leitura atenta, pro isso reproduzo-o na íntegra.


A mídia do banqueiro
Por Marcelo Salles - salles@fazendomedia.com

21.07.2008

Vejam o que diz o jornalista Luis Nassif, em em seu blog:

O relatório do delegado Protógenes Queiroz, encaminhado ao Juiz Fausto Martin de Sanctis - que serviu de base para o pedido de prisão de Daniel Dantas e outros réus - acusa diretamente as revistas IstoÉ Dinheiro e Veja e os jornalistas Leonardo Attuch, Lauro Jardim e Diogo Mainardi de colaborarem com uma organização criminosa. Mainardi é explicitamente apontado como "jornalista colaborador da organização criminosa".
Há outros. Paulo Henrique Amorim publica matéria (leia aqui) com algumas páginas do relatório da Polícia Federal que indicam contatos freqüentes de outros jornalistas com o especulador Naji Nahas, preso junto com Dantas na Operação Satiagraha: Vera Brandimarte (Valor Econômico), Paulo Andreoli e Tomaz Talman (revista Época), Elvira Lobato e Guilherme Barros (Folha de S. Paulo), Jony Saad (Band) e Roberto D´Ávila. Este último, segundo a PF, teria recebido R$ 50 mil para divulgação de opinião favorável ao Grupo Opportunity. Fato que demonstra “a capacidade da organização criminosa em manipular as notícias que são divulgadas pela mídia” (página 226). Importante: manter contato com especuladores, bandidos, criminosos e ladrões não é crime, sobretudo em se tratando de jornalistas, que estão atrás de informações. Crime é vender espaço editorial sem avisar ao público que se trata de propaganda. Neste sentido, o delegado Protógenes assinala: “é comum os jornalistas acima citados assinarem matérias favoráveis aos interesses do Grupo Opportunity, principalmente à pessoa de Daniel Dantas”.
Este motivo seria suficiente para que o conselho da categoria abrisse processo de expulsão e cassação do diploma dos referidos jornalistas, caso existisse tal entidade. No Brasil, se um médico comete um erro ele pode ser impedido de praticar a profissão. O mesmo ocorre em outras profissões, mas não no jornalismo. Da última vez que se tentou criar um conselho, em 2005, as entidades patronais e as corporações de mídia torpedearam a proposta até derrubá-la. Lembro da Zileide Silva, da TV Globo, levantar um troféu Comunique-se e afirmar, a plenos pulmões: “Nós não precisamos de um Conselho; nós já sabemos fazer jornalismo”.
Não discuto a competência do jornalismo praticado por Zileide, mas é bom frisar que nosso entendimento de jornalismo é outro. A começar pelo juramento profissional: "A Comunicação é uma missão social. Por isto, juro respeitar o público, combatendo todas as formas de preconceito e discriminação, valorizando os seres humanos em sua singularidade e na luta por sua dignidade". Esse não é o jornalismo da Globo, que esteve ao lado da ditadura política e hoje serve à ditadura financeira que deixa 72 milhões de brasileiros em situação de insegurança alimentar – o eufemismo que o IBGE encontrou para a fome –, milhões de desempregados e outros tantos sem acesso à Saúde e à Educação de qualidade.
Não nos causa surpresa a ligação das corporações de mídia com o esquema de Daniel Dantas. Como temos insistido nos cinco anos de Fazendo Media, a mídia, hoje, é a instituição com maior capacidade de produzir e reproduzir subjetividades, ou seja, de determinar formas de agir, sentir, pensar e viver de cada indivíduo e, por conseguinte, de toda a sociedade. Não por outro motivo organizações criminosas como a liderada por Daniel Dantas, ou governos terroristas como o dos EUA, procuram apoio na mídia. Eles sabem que para tocar seus negócios e suas guerras precisam de alguma aprovação popular. Quando o delegado da Polícia Federal cita as revistas Veja e IstoÉ Dinheiro, ele aponta não apenas para o carro-chefe da editora Abril e para a publicação da editora Três. O relatório de Protógenes encaminhado ao juiz Fausto Martin de Sanctis enquadra todas as corporações de mídia, posto que o modus operandi desses veículos é exatamente o mesmo, e coincide com o das empresas capitalistas que elogiam: o lucro acima de tudo, inclusive da vida. O fato de um ou outro veículo deixar rastro importa menos que sua orientação editorial, esta sim determinante para a manutenção de um sistema que permite – e se reproduz com – a existência de máfias privadas no controle da administração pública.
Daí a importância da construção de veículos de comunicação comprometidos com o interesse público, que sejam capazes de elaborar uma narrativa própria e que possam respeitar o juramento profissional dos jornalistas. Só assim poderemos entrar na disputa das representações com alguma possibilidade de trazer a hegemonia para o lado daqueles que defendem a vida acima de tudo, inclusive do lucro.

Fonte: Fazendo Media.

22.7.08

"Lei Seca"

Algumas pessoas, inclusive vários amigos, têm vociferado contra a chamada “Lei Seca”. Este nome, dado pela mídia e pelo público, já encerra um equívoco. As pessoas não estão proibidas de beber, como nos EUA dos anos 30 do século passado, mas após beber estão proibidas de dirigir.
Claro que é uma medida radical e anti-educativa, mas a situação assim pede. Não é possível mais tantas vidas perdidas por causa da inconseqüência no consumo de álcool.
Já li críticas ao método de detecção: o bafômetro! Um especialista diz que na Europa usa-se um teste de saliva, mais eficiente, pois identifica outras substâncias ilícitas, além do álcool.
Ainda assim é preferível o bafômetro à lei da selva que vivíamos até a promulgação desta.
Claro que, como todas as outras leis, a sua simples existência não acabará com o delito, mas aqueles mais temerosos pensarão duas vezes antes de dirigir depois de beber umas e outras.

21.7.08

Não tenho mais esperanças

Os acontecimentos dos últimos dias deixaram-me perplexo!
A forma como a mídia trata os diferentes eventos impressionam. Claramente o terreno está sendo preparado para a pizza.
Nas semanais, como era de se esperar, a Época e a Veja mantêm silêncio na capa sobre Daniel Dantas e os desdobramentos da Operação Satiagraha. A CartaCapital colocou o juiz Fausto de Sanctis e o delegado Protógenes Queiroz na capa. Já a Istoé deu destaque aos desencontros entre Tarso Genro e Gilmar Mendes. Nas páginas internas apresenta a hipótese de Fábio “Lula” – o filho do presidente – ter adquirido fazendas no norte do país em sociedade com o Daniel Dantas e o seu cunhado, mas não mencionou, salvo engano, a sociedade de Verônica Dantas com Verônica Serra - filha do José Serra.
Estes crimes, do chamado colarinho branco, são mais danosos ao país e ao povo do que aqueles cometidos pelos bandidos pés-de-chinelo. O roubo do dinheiro público mata! Muito!
Mas aqui é assim. Teve até autoridade federal dizendo que algemas se aplicam aos pretos, pobres e putas. Teve senador indignado com as cenas da prisão dos mafiosos à brasileira.
A celeridade dos Habeas Corpus foi impressionante, ainda dizem que a justiça é lenta.
Só para comparar: meu pai foi “roubado” por uma empresa, que deu um senhor golpe na praça – aliás, estava ela listada entre a turma do piano, aquele escândalo malufista de velhos tempos –, ganhou o processo em todas as instâncias da justiça (?) trabalhista, depois de 10 anos de luta, mas os Oficiais de Justiça (?) não conseguem achar os antigos donos para que paguem o que meu pai tem direito de receber.
Claro, meu pai era um reles motorista, que transportou por anos os dirigentes daquela empresa, inclusive um citado no escândalo da Alstom com o governo paulista.
Consola-me a boa índole e a esperança do Eduardo Guimarães, do Cidadania.com, as notas agressivas e corajosas do Paulo Henrique Amorim, as ponderações do Luiz Nassif, os textos brilhantes do Luiz Carlos Azenha (Vi o Mundo) e do Bob Fernandes (Terra Magazine), além dos meus blogs prediletos, linkados aí ao lado.
Não sei se perceberam, mas não houve nenhum pedido de CPI, seja no Senado ou na Câmara. Nem mesmo o PSOL, nossa UDN pós-moderna, se manifestou sobre os acontecimentos, assim como o povo dos holofotes: Arthur Virgílio, Demóstenes Torres, Agripino Maia...

18.7.08

Desânimo

É o estado em que me encontro!
O Cacciola chega sorridente, dá entrevista coletiva, desqualifica um procurador e tudo bem? Só falta pedir indenização por danos morais.
Daniel Dantas parece triunfar.
A Polícia Federal é um embrulho só. Tarso Genro, o incompetente na versão do Ministro Supremo, só fala bobagens. Em entrevistas armou a defesa do Daniel Dantas ao desqualificar o delegado Protógenes Queiroz.
A divulgação dos 3 minutos da reunião da PF – que durou 3 horas – em nada contribuiu para esclarecer o episódio do afastamento do delegado. Por falar nisso Terra Magazine, em mais um texto brilhante, apresenta novidades, é só clicar aqui para ler.
É uma decepção após outra.
O envolvimento do advogado Luiz Eduardo Greenhalg - ex-deputado federal, ex-vice-prefeito etc. do PT - em transações suspeitas não é novidade, basta lembrar o episódio da Construtora Lubeca, em 1989 (clique aqui para refrescar a memória).
José Eduardo Martins Cardozo (PT-SP) é uma grande decepção. Desde denúncia feita pela CartaCapital, já faz bom tempo, indicando sua participação num jantar com Daniel Dantas, patrocinado por Heráclito Fortes (DEM) fiquei com a pulga atrás da orelha.
Dos personagens citados na imprensa e nos grampos da Operação Satiagrha, Cardozo foi o único a apresentar defesa veemente. Veja clicando aqui.
Vou-me embora deste lugar!

Pelo impeachment de Gilmar Mendes

O texto abaixo foi retirado do blog Cidadania.com, redigido pelo Eduardo Guimarães:

Cidadãos brasileiros, estamos aqui hoje para pedir o impeachment do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, de acordo com o artigo 39, item V da Constituição Federal, combinados com os artigos 41 e 52, II, da Carta Maior, pois, conforme dispõe a Constituição, qualquer cidadão, de posse de seus direitos políticos, pode solicitar o impeachment de um membro do Supremo. É o que fazemos aqui hoje.
Neste exato momento, porém, quem se manifesta não são, tão-somente, os que aqui estão fisicamente. Um abaixo-assinado que tem os mesmos propósitos que os deste ato pulsa na internet e amplifica nossos pleitos. Essa petição na internet pelo impeachment do ministro Gilmar Mendes tinha cerca de dez mil assinaturas virtuais no fim da última sexta-feira.
Ao mesmo tempo, em tantas capitais das unidades federativas da Nação, tais como Belo Horizonte, Blumenau, Curitiba, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio e São Paulo, homens e mulheres, cidadãos brasileiros em pleno gozo de seus direitos políticos recorrem ao Poder Judiciário, ao Congresso Nacional e à própria Presidência da República, aos Poderes Constituídos do Estado, para que ouçam o clamor das ruas, dos corações, das almas daqueles que em si já não cabem mais de indignação com uma Pátria em que há uma Justiça para cada estrato social.
Vejam a mulher pobre de São Paulo que roubou um vidro de xampu em um supermercado e, por esse crime, passou um ano de sua vida na prisão, tendo sido vilmente seviciada por outras almas enlouquecidas pelas masmorras medievais que são as prisões brasileiras. Tais sevícias roubaram-lhe a luz de um dos olhos, do qual ficou cega.
Vejam os garotos assustados, levados no Rio de Janeiro às garras pútridas de feras assassinas, de chefes impiedosos do crime organizado, por agentes do mesmo Estado ao qual ora apelamos.
Vejam as crianças fuziladas no mesmo Rio, de tantos horrores, na Candelária, num passado não tão distante.
Vejam os sem-terra sendo fuzilados numa estrada do Pará por pedirem terra para dela subsistirem.
Vejam o jovem desorientado, sem educação, sem esperança, sem futuro, que, aliciado pelo canto da sereia do crime, vende o veneno do traficante sediado nos Jardins ou em Ipanema e, por isso, é pendurado nos paus-de-arara da Nação para que confesse, até a última gota de sangue, quem lhe roubou a inocência.
Para esses brasileiros empurrados à criminalidade pela iniqüidade vil desta Pátria, pelo descaso daqueles todos que contribuíram por gerações para dividir o país em uma microscópica Bélgica e uma incomensurável terra de ninguém, para esses não se tira o presidente do STF da cama na calada da noite pedindo que passe por cima das instâncias inferiores da Justiça, que atropele as leis para mitigar-lhes o sofrimento.
Para aqueles brasileiros que o Estado tratou com tanta severidade, muitas vezes pisoteando seus direitos constitucionais, não haverá um doutor Gilmar Mendes para resgatá-los do inferno das prisões que os ricos, no Brasil, jamais irão pisar, cometam o crime que cometerem.
E não poderíamos deixar de apoiar a decisão do juiz federal Fausto De Sanctis sobre as prisões de Daniel Dantas e seus asseclas. Continuam sendo necessárias para que se realize a instrução criminal, conforme estabelece o Código de Processo Penal em seu artigo 312 (Art. 312 - A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, econômica, por conveniência da instrução criminal ou para assegurar a aplicação da lei penal quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. ).
Toda a Nação Brasileira viu a "montanha" de dinheiro acumulada para ser subornado um agente da lei. Todos sabem em benefício de quem a tentativa de suborno foi cometida, pois o nome do beneficiário está em prova gravada com autorização judicial e anexada à peça de investigação da Polícia Federal produzida pela Operação Satiagraha.
A saída do Ministro Gilmar Mendes do STF é condição necessária para que se estabeleça novamente o respeito que os cidadãos brasileiros devem ter por seu tribunal supremo, que o ministro desrespeitou contrariando inclusive a jurisprudência do STF e o próprio rito processual.
Queremos também externar admiração pelo juiz De Sanctis por seu trabalho. Tal admiração, extensiva ao trabalho do delegado doutor Protógenes Queiroz e a toda a sua equipe, bem como ao procurador do Ministério Público Federal doutor Rodrigo de Grandis, que, com maestria, souberam driblar toda sorte de dificuldades para encarcerar os meliantes.
Urgem o impeachment de Gilmar Mendes e o prosseguimento inabalável da investigação de crimes que afrontaram a sociedade não apenas pela ousadia e pela dimensão dos danos a ela causados, mas pela conduta imprópria daquele que deveria ser o guardião maior da lei, por ter estabelecido uma Justiça diferente para um único cidadão sem qualquer respaldo no Arcabouço Jurídico da Nação.

São Paulo, 19 de julho de 2008

16.7.08

Lula: covarde!

Não desconheço os percalços do jogo político institucional, também não acredito num presidente que tudo resolve com o toque de sua varinha mágica.
Política se joga com acordos aqui e acolá. Mas não precisa exagerar. Lula exagera na covardia e adula criminosos, os mesmos que vivem tentando detoná-lo. Será masoquismo? Ou o governo tem muito a esconder e para isso vale qualquer tipo de acordo?
Sempre considerei Lula um gênio da política e não compartilho da visão preconceituosa, difundida pela mídia e por parte dos políticos brasileiros sobre ele. Por isso considero esses acordos muito estranhos.
O trabalho realizado pela Polícia Federal poderia fazer um enorme bem ao país. Colocar na prisão figurões do mundo empresarial, bandidos de colarinhos brancos e mãos sujas do sangue no povo brasileiro seria muito educativo.
O texto de Maierovitch no Terra Magazine de hoje é esclarecedor.

O crime organizado ganhou de novo.

Quanto está a partida? Já perdi a conta. Por baixo, 500 a 2. Não adianta reclamar, pois gol com auxílio de juiz entra na contagem.
Por mera coincidência e depois de uma reunião da qual participaram Lula, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, o ministro da Defesa, Nelson Jobim e o da Justiça, Tarso Genro, veio a notícia do afastamento do presidente do inquérito, Protógenes Queiroz, e dos dois outros delegados auxiliares da Operação Satiagraha.
Para o ministro da Justiça, Tarso Genro, o inquérito está praticamente concluído; 99,9% segundo ele. Daí, o afastamento não causará prejuízos.
Consultadas as almas-penadas que não entram no céu, elas disseram que Daniel Dantas, depois do afastamento do delegado Protógenes Queiroz, teve o ego massageado pelo Planalto e não vai detonar ninguém.
A Praça dos Três Poderes está em festa. Gilmar e Tarso se reconciliaram. Jobim, sempre atento, continua na função de servir o presidente. O presidente do Senado, Garibaldi Alves, já disse que impeachment de Mendes é difícil.
Tarso Genro já deixou claro ter faltado em muitas aulas durante o curso de Direito.
Ele já chegou a afirmar que Dantas dificilmente provará sua inocência. Numa das ausências, perdeu, seguramente, a aula sobre o ônus da prova (encargo de provar) no processo penal.
Assim, não sabe - e nem desconfia pela falta de militância -, que, no processo penal, o ônus (encargo) da prova é de quem acusa (Ministério Público). O réu é presumidamente não culpável (presunção de não culpabilidade, mal chamada, no Brasil, de presunção de inocência).
Agora, ao afirmar que o inquérito policial está praticamente concluído, erra de novo. A Procuradoria da República, destinatária do inquérito policial para formar a sua "opinio delicti", pode solicitar novas diligências. Como se percebe, Tarso também não assistiu às aulas sobre inquérito policial. Pior, não leu, depois, os manuais sobre as primeiras linhas do processo penal.
Enquanto o delegado Protógenes Queiroz, segundo informa a imprensa, afirma que não pediu para ser afastado, circula a versão de que prefere sair para concluir um curso na Academia de Polícia: teria até postulado uma tutela jurisdicional para ser autorizado a terminar o curso.
Tecnicamente, o delegado, ao contrário dos juízes e promotores, não tem a garantia constitucional que assegura a inamovibilidade. Dessa maneira, pode ser substituído pelo superior hierárquico.
Meu lápis-falante, - em fase terminal pois está quase consumido por um apontador depois de tanto escrever sobre o Caso Daniel Dantas -, quer saber, antes do fim do seu grafite: Mas o tal delegado Protógenes não era messiânico, a acreditar empenhado "na luta do bem contra o mal"?

Wálter Fanganiello Maierovitch é colunista da revista CartaCapital e presidente do Instituto Giovanni Falcone (
www.ibgf.org.br).
Fonte: Terra Magazine – 16/07/08.

14.7.08

Para além de Daniel Dantas

Luis Nassif expõe com muito didatismo a gênese do processo que assola o país. Claro que a figura do político corrupto, tão presente no noticiário e no anedotário popular, é a cereja do bolo, mas é de fácil percepção que, independente dos políticos, a máquina de corrupção e de criminalidade viceja na iniciativa privada, principalmente nas rodas de finanças.
Se desejar conferir o artigo na publicação original, clique aqui, se tiver preguiça de ir até o blog Luis Nassif Online leia-a abaixo:


O Estado brasileiro contra o crime

Coluna Econômica: 10/07/2008

A operação que prendeu Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta é simbólica – até pelo perfil dos três prisioneiros. Chegou-se ao centro do crime organizado, não especificamente pelos nomes envolvidos, mas pelas inter-relações que permeiam esse mundo complexo das finanças internacionais.
A primeira vez que se chegou perto desse mundo foi na CPI dos Precatórios. Inicialmente foi montada para senadores poderem atacar inimigos estaduais. Quando evoluiu, se percebeu que estava enveredando por terras nunca antes percorridas: o grande submundo do crime. Aí, a CPI recuou. O tema voltou a ser tangenciado na CPI do Banestado e volta agora, com essa operação da Polícia Federal.
Esse mundo começou a se formar a partir da grande liberalização financeira iniciada no início dos anos 70. Ganhou corpo nos anos 80 e maioridade nos anos 90. Em meu livro “Os Cabeças de Planilha” tento descrever esse processo.
O modelo foi baseado em alguns atores. Primeiro, o livre fluxo de capitais. Depois, a disseminação de paraísos fiscal. Finalmente, a possibilidade de criação de fundos off-shore – sediados nesses paraísos – em que a propriedade do capital era escondida.
O modelo permitiu juntar de tudo no mesmo balaio. Dinheiro de narcotráfico, petrodólares, corrupção política, caixa 2, comércio de jogadores de futebol, jogadas financeiras, junto com recursos de procedência legal.
Os Estados nacionais acabaram perdendo o controle sobre esses processos. O crime organizado avançou como nunca se vira antes.
O que se viu nos anos 90 foi uma esbórnia, similar – mas com muito maior intensidade – que a ocorrida no primeiro grande processo de universalização financeira, que pega as três últimas décadas do século 19 e vai até a Primeira Guerra.
Cria-se uma cadeia com muitos agentes. Há o agente público corrupto – no caso, o ex-prefeito Celso Pitta. Depois, o operador, o homem que sabe pensar os grandes negócios e remunerar o agente – no caso, Naji Nahas. Esse processo de sair e entrar com dinheiro exige know how. Passa por doleiros, por operações financeiras sofisticadas para “esquentar” ou “esfriar” dinheiro, por conhecimentos internacionais.
Finalmente, tem a figura do banqueiro de investimento, o gestor de fundos, o sujeito que junta esse dinheiro da contravenção com dinheiro oficial e passa a buscar investimentos na economia formal. Aí entra Daniel Dantas, personagem que misturava o banqueiro que tratava com dinheiro clandestino e corruptor.
Gradativamente, os Estados nacionais começam a enquadrar esse modelo. Anos atrás, após os escândalos da Enron, o Congresso americano aprovou uma lei severíssima, que acabou inibindo o jogo nas grandes corporações. Se se lembrar, até Citigroup e IBM andaram se envolvendo com corrupção na América Latina.
Depois, os Departamentos de Receita avançaram, atuando em conjunto com as forças anti-crime organizado. Casos como da Asltom, ou a abertura de inquérito contra o UBS em Nova York marcam esse novo movimento.
A prisão dos três personagens joga o Brasil, finalmente, na linha de frente da atuação contra o crime organizado.

Fora Gilmar Mendes


13.7.08

Boa música no Café Piu-Piu

A mídia e Daniel Dantas

De repente todos os órgãos da chamada grande imprensa descobriram que Daniel Dantas não é flor que se cheire. Será?
As revistas Veja e Istoé Dinheiro esmeravam-se, não faz muito tempo, em dar páginas e capas, inclusive a primeira foi porta-voz de um dos seus dossiês, aquele no qual denunciava que figuras de proa do governo atual, incluído o próprio presidente Lula, detinham contas “secretas” no exterior.
A grande exceção nessa trama sempre foi a revista CartaCapital. A revista comandada por Mino Carta não economizou tinta para denunciar e mostrar as falcatruas que o banqueiro de ACM aparecia. De 1998 para cá conta-se, pelo menos, 20 notícias de capa sobre as artimanhas de Daniel Dantas e seus bons companheiros.
A revista eletrônica Teletime também. Assim como alguns jornalistas como Luis Nassif, Paulo Henrique Amorim e Bob Fernandes.
Destaca-se na semana a cobertura da revista eletrônica Terra Magazine para as peripécias do Daniel Dantas. Prende-solta-prende-solta. Vejam alguns textos que merecem ser lidos:
Exclusivo: PF prende Dantas e organização criminosa
Inferno de Dantas - Um Raio X do Opportunity Fund
Dantas-Nahas: Para entender a organização
PF viveu guerra e espionagem para prender Dantas
Com prisão preventiva, um xeque-mate em Dantas
Dantas: "Vou contar tudo! Detonar!"
Maierovitch: Gilmar Mendes está "extrapolando"
Para quem desejar compreender esse episódio em profundidade, recomendo algumas leituras do blog Luiz NassifOnline, especialmente as listadas a seguir:
O caso Veja (série de matérias denunciando o péssimo jornalismo de Veja, suas maquinações e estripulias, dentre elas as ligações de alguns jornalistas com Daniel Dantas)
Fogo de encontro
A luta contra os paraísos fiscais
O xadrez de Dantas
Considero estas leituras, bem como o acompanhamento do Conversa Afiada, do Paulo Henrique Amorim e do Vi o Mundo do Luiz Carlos Azenha, indispensáveis àqueles que querem compreender o imbróglio Daniel Dantas.

11.7.08

CartaCapital e o DD quase preso

Todos os leitores de CartaCapital esperavam por este dia: o início da queda de Daniel Dantas! Alguma falha ele cometeria e aí ocorreria o começo da sua desgraça.
Embora consternados com mais uma pataquada do Presidente Ministro, aquele que tudo pode e que quer todos os holofotes, a percepção é que, desta vez, a casa caiu.
Além da CartaCapital desta semana recomendo a leitura diária, se possível em mais de uma visita, da revista eletrônica Terra Magazine, clique aqui para acessá-la, nela os textos de Bob Fernandes continuam brilhando, como outrora brilharam na CartaCapital. Após o segundo Habeas Corpus concedido ao banqueiro da privatização, o juiz aposentado do Tribunal de Justiça de São Paulo, Wálter Maierovitch, publicou um texto na Terra Magazine sugerindo o impeachment de Gilmar Mendes, presidente do STF, aquele que tudo pode... Clique aqui para ler o texto de Maierovitch.

Passado o Rubicão, alea jacta est

Mino Carta

Hugo Chicarone, professor na gangue do Opportunity, disse: O problema para nós está na primeira instância, no STF e no STJ a gente tem vida fácil. A frase é recente, e certamente apressada. Confiante demais. Inegável, porém, é que a situação de
Daniel Dantas na 6ª Vara de São Paulo está destinada a um desfecho fatal, enquanto o habeas corpus concedido pelo presidente do Supremo, Gilmar Mendes, não passou de paliativo. O banqueiro já voltou à prisão. O Rubicão foi transposto. O disco rígido retirado pela PF da sede do Opportunity há quatro anos finalmente foi aberto e a nação tem o direito de conhecer seu conteúdo. Altíssima figura da República, em fins de 2005, quando perguntei em off por que o disco continuava fechado, respondeu textualmente: “Se for aberto, o Brasil pára por dois anos”. Outra personagem de primeiro plano foi além: acaba a República. CartaCapital permite-se vaticínios opostos. A nação abre os olhos e a República se fortalece. Sempre convém botar pingos nos is e dar o nome aos bois. Graças às façanhas do banqueiro do Opportunity, o Brasil tem a chance de uma mudança real, profundíssima. DD não é Sansão. Está habilitado, porém, a levar para o inferno um número expressivo de filisteus. Houve até quem supusesse que o homem tem uma abnorme orelha direita e acusasse CartaCapital de sublinhar-lhe o defeito físico. Mas o banqueiro deve seu desmesurado ouvido a uma caricatura fotográfica produzida pelo computador, de sorte a caracterizar alguém tão obsessivamente inclinado a ouvir a conversa alheia. CartaCapital, desde a época de quinzenal, faz mira insistente no orelhudo porque sabe dos seus poderes daninhos. Foi pioneira na identificação de um esquema de corrupção montado há muitos anos e de proporções e capilaridade extraordinárias, e logo ganhou a companhia de outra revista, a Teletime de Rubens Glasberg, e de dois jornalistas acostumados a remar contra a corrente, Paulo Henrique Amorim e Luis Nassif. Autor da primeira reportagem dantesca de CartaCapital foi Giancarlo Summa. Depois o então redator-chefe Bob Fernandes escreveu várias e, ao deixar a revista, manteve a mesma linha de atuação em seu freqüentadíssimo blog. Feitas as contas, trata-se de uma armata brancaleone empenhada em atirar pedrinhas sobre a avenida do império midiático nativo. O enredo é conhecido e se repete em todos os quadrantes da atividade jornalística. Os praticantes do espírito crítico, prontos a fiscalizar o poder onde quer que se manifeste, pagam caro por isso. No caso de CartaCapital, tivemos de enfrentar anos a fio a pecha de cultivar preconceitos, quando não ódio descabido, sem contar o comportamento de algumas agências de publicidade que descobriram um bom motivo para nos negar anúncios. Nem por isso recuamos. Hoje aqui estamos sem a vontade de celebrações retumbantes. Podemos ter apenas a certeza do dever cumprido. De resto, a questão ainda não chegou ao ponto de fervura. Esta operação batizada em sânscrito tende a ser, entretanto, o começo de uma mudança capital na história do País. Assim seria se o Estado provasse sua disposição e sua capacidade de debelar a corrupção e a sociedade a mesma determinação para afastar quem a envergonha. Envergonha? Cautelas e dúvidas sempre cabem. Nem tanto em relação ao governo do presidente Lula, que age agora com insólita firmeza depois de muitas tergiversações, abençoadas pela ministra do Supremo Ellen Gracie, e a despeito de claras divergências dentro da própria corporação policial. As dúvidas maiores dizem respeito ao establishment, a viver no momento entre o espanto e o pânico, na percepção de que o entrecho é muito maior e mais complexo do que parece. Não causa surpresa, pelo contrário, a reação imediata do império midiático, porta-voz dos graúdos do Brasil, dos senhores, dos barões. Está claro o empenho em conter a situação dentro dos limites do passado próximo e do presente, como se a origem da investigação remontasse apenas e tão-somente ao chamado mensalão. No entanto, é do conhecimento até do mundo mineral que o fio da meada está no primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso, na infame marmelada das privatizações, quando o Opportunity se tornou o banco do tucanato, depois de ter prestado inestimáveis serviços ao PFL. Longo período de mazelas e falcatruas, cujo fruto de recente maturação é a celebradíssima BrOi, a fusão apresentada como indispensável aos interesses do Brasil. Quanto ao valerioduto, não passa de um capítulo da história, e nem mesmo significativo. Ainda assim, a tentativa de turvar as águas, de engodar os ingênuos e os aspirantes ao privilégio em geral está em pleno andamento, com a contribuição de jornalistas (?), editorialistas, colunistas e quejandos, que até ontem tocaram seus violinos a favor do orelhudo. Do orelhudo e da sua turma, aconselhada e defendida por um exército de advogados e até por um pelotão de jornalistas (?), ou melhor, mercenários da imprensa escrita e falada. Já houve tempo em que Dantas tentou corromper CartaCapital, por meio de uma campanha publicitária. Veio a equipe do Comercial: “Aceitamos?” Por que não, se os anúncios não forem politicamente incorretos? Tudo não foi além de duas inserções. Logo saímos com mais uma reportagem de capa sobre as façanhas do orelhudo. A campanha foi cancelada, e a gente riu muito. O banqueiro moveu dois processos contra o acima assinado. O primeiro no Cível, e perdeu. O segundo, no Criminal, está em curso. Quem advoga a causa de Daniel Dantas é o escritório de Márcio Thomaz Bastos, e a ação foi iniciada durante o primeiro mandato do governo Lula. Bastos desligara-se da atividade advocatícia pelo tempo em que ocupasse a pasta da Justiça. Não engulo, contudo, este pormenor da história, decerto secundário. Bem como não engulo outro, muito mais importante: o encontro do então ministro da Justiça com Dantas, para um jantar na casa do senador Heráclito Fortes, graças à intermediação de dois deputados petistas. Pois infinitos foram os caminhos do orelhudo, para a vergonha do Brasil.

Fonte: CartaCapital

Nem parece o Jornal Nacional

Foi essa frase que o amigo Marco Antônio usou para encaminhar o link abaixo.
Em mais de 10 minutos de reportagem o Jornal Nacional mostra como é possível praticar bom jornalismo. Mostra os fatos e ouve os dois lados envolvidos no episódio, inclusive o advogado do acusado.

10.7.08

Sobre monopólios e oligopólios

Alguns comentários, de tão pertinentes, merecem outro texto como resposta.
É o caso do postado pelo Renato Couto:
“Professor, venho ao seu blog, direto das "páginas" do Jean Scharlau, leitura quase diária (e lúcida), permita-me a reflexão: Temo no caso das teles, óbvia situação de Oligopólio (poucas empresas, único produto – ou substitutos próximos, preços semelhantes, etc...), mas lembremos da ineficiência do Estado, quando esta sim, tinha Monopólio da exploração da telefônia, o quanto custava uma linha telefônica, negociada a peso de ouro anos atrás com o agravante da total incapacidade operacional da mesma... Então professor, para jogar lenha na fogueira, o que é melhor, neste caso? A ineficiência do Monopólio do Estado ou o Oligopólio destas Multinacionais?
Abraços”

Renato, não nego o quadro que você traça quanto ao período estatal. Temos aqui dois problemas de peso:
1) O sistema no qual vivemos. Nele se espera que a iniciativa privada prevaleça em quase todos os setores, mesmo naqueles países onde vigorou, ou vigora, o Estado do Bem-Estar Social, fruto da social-democracia. Claro que em alguns deles os setores estratégicos foram deixados nas mãos do Estado. França, Espanha, Portugal etc. são bons exemplos disso. Creio que o fornecimento dos serviços de telefonia não sejam estratégicos, mas o controle do sistema sim, seja por meio de agência reguladora ou legislação forte, que coloque os interesses do Estado acima dos interesses do capital, sem negligenciar este último.
2) A questão da gestão. Veja o caso de privatização das telefônicas. Elas receberam bilhões de investimentos para melhorar sua infra-estrutura, tiveram o seu quadro de pessoal enxugado, suas dívidas assumidas pelo Estado e somente depois dessas medidas, chamadas de “saneadores” ou de “reengenharia”, foram privatizadas a preço de banana e com largas vantagens para determinados grupos econômicos.
Alguém discute o sucesso da Petrobras ou da Embrapa? Ora, mas são estatais também!

Portanto não vejo a necessidade de se escolher entre o monopólio estatal ou o oligopólio das transnacionais, mas algumas coisas são indiscutíveis:
a) O povo brasileiro foi extorquido no processo de privatização, não só das telefônicas, mas de todo o patrimônio estatal construído ao longo de décadas.
b) Dentro de princípios capitalistas mais civilizados essas empresas estatais teriam as suas ações pulverizadas na Bolsa de Valores, permitindo uma maior poupança interna e algo como “capitalismo para todos”.
c) O modelo de regulamentação é falho e o último beneficiado é o consumidor, basta olhar para a concentração no setor de telefonia.
d) O controle que empresas transnacionais exercem sobre setores chave, como Internet, tornam o Estado, em suas diversas esferas, refém destas.

Aí tem mais lenha para a nossa fogueira!

9.7.08

Abaixo-assinado contra projeto de censura na Internet

Cresce a mobilização na internet contra o projeto substitutivo 89/2003, de autoria do senador Eduardo Azeredo, do PSDB. A campanha já conta com um abaixo-assinado na rede com 7.759 (contando com a minha em 09/7/08.) assinaturas desde que foi criado, no domingo, 6. O projeto cria um marco regulatório para crimes na internet, mas acaba considerando ilícitas operações como redes P2P e pode criar um sistema de vigilância na rede.
Aqui uma apresentação do próprio senador Eduardo Azeredo a respeito do seu substitutivo.
Veja aqui as críticas do professor Sérgio Amadeu (Professor da Cásper Líbero) sobre tal projeto e aqui matéria crítica publicada no Observatório da Imprensa.
Participe do abaixo assinado em: http://www.petitiononline.com/veto2008/

8.7.08

CartaCapital tinha razão

Alguns alunos me perguntam, às vezes, por que insisto tanto na indicação de leitura da CartaCapital. A prisão de Daniel Dantas explica boa parte das minhas razões.
Abaixo reproduzo matéria do site da revista. Nela são relembradas as matérias e as capas que CartaCapital dedicou ao banqueiro das privatizações.
A revista do portal Terra, Terra Magazine, dá ampla cobertura ao episódio, por intermédio de seu editor, Bob Fernandes, autor de várias matérias sobre o dono do Opportunity para a respeitada publicação semanal.
Para quem não tem o hábito de ler a CartaCapital e foi apanhado de surpresa pelas prisões de hoje, recomendo a leitura dos links relacionados na matéria abaixo.
Dantas atrás das grades

Daniel Dantas e a cúpula de seu banco Opportunity foram presos em uma operação da Polícia Federal, denominada Satiagraha.
Além de Dantas, a ação da PF também prendeu o investidor Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.
A operação é o ponto final de investigações que começaram há quatro anos e remontam ao esquema de desvio de verbas públicas, corrupção e lavagem de dinheiro que seria comandado pelo publicitário Marcos Valério.
Segundo informações da assessoria de imprensa da Polícia Federal, cerca de 300 agentes cumprem 24 mandados de prisão e 56 de busca e apreensão nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Salvador.
O mesmo comunicado da PF faz referência à “existência de uma grande organização criminosa, comandada por um banqueiro, envolvida com a prática de diversos crimes”. A julgar pelas prisões efetuadas, o banqueiro em questão é Daniel Dantas.
A Polícia Federal ainda explica que, para cometer os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro, evasão de divisas, sonegação fiscal e formação de quadrilha o grupo de acusados “possuía várias empresas de fachada”.
Todos os acusados presos pela operação Satiagraha permanecerão na carceragem da Superintendência Regional da PF em São Paulo, no bairro da Lapa, zona oeste da capital.
Confira algumas das matérias de capa que CartaCapital fez sobre Daniel Dantas:
Relatório parcial da Polícia Federal aponta o banqueiro como mentor e líder de uma “quadrilha” de espionagem internacional (reportagem originalmente publicada na edição 330, de 23 de fevereiro de 2005)
Os segredos da esfinge A Justiça autoriza a quebra do sigilo do computador do Opportunity (reportagem originalmente publicada na edição 424, de 20 de dezembro de 2006)
Para ler a matéria na fonte: Dantas atrás das grades

A prisão de Daniel Dantas e Celso Pitta

Acabo de ler no Terra Magazine a notícia que compartilho abaixo.
Estou paralisado!
Jamais, em tempo algum, imaginei que tal fosse acontecer neste nosso Brasil, país do futuro.
Se não for feita a justiça no presente, podemos adiar o futuro para sempre.
Resta agora torcer para que o Judiciário não empane o brilho do trabalho da PF e que este tenha sido realizado com cautela e de forma zelosa, para que não restem dúvidas sobre a lisura desta ação.
Apreciem o texto, o melhor do jornalismo brasileiro em minha opinião, de Bob Fernandes e o belo trabalho que Terra Magazine realizou.


PF prende Dantas e organização criminosa

Bob Fernandes
Daniel Dantas está preso.

Comandados pelo delegado Protógenes Queiroz, quase 300 agentes da Polícia Federal iniciaram, às 6 da manhã desta terça-feira 8 de julho, a Operação Satiagraha. A PF cumpre 24 mandados de prisão - além de 56 ordens de busca e apreensão. Na ação deflagrada nos estados do Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e em Brasília, foram presos, além do banqueiro Daniel Dantas, dono do grupo Opportunity, sua irmã Verônica e seu ex-cunhado e dirigente do OPP, Carlos Rodenburg, o também diretor Arthur de Carvalho, o presidente do grupo, Dório Ferman, o especulador Naji Nahas e o ex-prefeito de São Paulo Celso Pitta.

Clique aqui para ler a notícia na íntegra.

4.7.08

Ingrid Betancourt não me comove

Quem me conhece sabe que não suporto modismos, principalmente essas ondas midiáticas novelescas.
Irritam-me profundamente os assuntos que se tornam moda, assim como não suporto filme com filas de bilheteria que dobram quarteirões ou livros que todos lêem.
Às vezes penso que sou muito chato, outras tantas tenho certeza!
Pois bem a nova onda é saudar a libertação de Ingrid Betancourt!
Não entro nessa.
Viram como ela estava serelepe?

Quando da libertação da Clara Rojas o mundo pensou que a morte de Ingrid era questão de dias, ou mesmo de horas. As últimas notícias davam conta de ela estava muito debilitada, com uma verdadeira coleção de doenças, além do maltrato do cativeiro.

O resgate também está mal explicado.
Como as temidas FARCs deixam os seus reféns mais importantes com um grupinho de guardas de meia tigela?
Um resgate desses sem uma gota de sangue derramado? Tudo funcionando direitinho? Ora, militares são incapazes disso! Seria o caso dos EUA contratar esse comando, a peso de ouro, e leva-los para capturar o Bin Laden ou colocar fim nos conflitos do Oriente Médio.
Penso que as táticas terroristas das FARCs são equivocadas, assim como imagino a organização em seu estado terminal. Parece-me que não existem lideres a altura desta geração que está perecendo.
Mas que nesse resgate tem história mal contada, isso tem!

O Estado refém do monopólio privado

Demorou!
Ontem São Paulo viveu uma pane no sistema de Internet da empresa Telefônica. Clique aqui para ler mais sobre isso.
Uai, mas não é só o setor público que não funciona? Cadê os neoliberais, defensores da perfeição do deus mercado?
Serviços públicos, bancos, empresas, além de residências, ficaram sem o serviço ao longo do dia.
Delegacias de Polícia tiveram que recorrer à velha e boa bic, já a NossaCaixa, banco estatal, ficou fora do “ar", o mesmo acontecendo com várias agências lotéricas e serviços de vários bancos.
O Estado tornou-se refém de um monopólio privado. É inconcebível que um governo, ainda mais do estado mais rico da federação, seja prisioneiro de uma empresa estrangeira num setor essencial para a população.
Já imaginaram se “El Rey” resolve dizer um “por que não te calas” ao estado de São Paulo? Ainda mais, se passasse da retórica à ação, usando o poder monopolista da empresa espanhola que controla a telefonia fixa e boa parte da Internet no estado?
Para minha felicidade consegui escapar das garras infames desta empresa. Senti-me um consumidor realizado, quase de primeiro mundo, quando pude, finalmente, trocar esta porcaria por outra empresa, de acordo com meu desejo.

2.7.08

A Europa bandeia-se para o fascismo

A Europa mostrou seus dentes fascistas nas recentes eleições nacionais e nas medidas supranacionais também.
Não bastassem as vitórias de Sarkozy – na França – e Berlusconi na Itália, a UE aprovou uma severa lei para punir os imigrantes ilegais residentes nos 27 países que a integram. Estima-se que 8 milhões de seres humanos encontrem-se em tal situação.
A xenofobia pura e simples dos anos 80 transformou-se em lei no século XXI.
Certo é que a aprovação da lei não foi tranqüila, mas contou com a adesão majoritária do europarlamento e com manifestações importantes de autoridades nacionais.
Espanha, Itália e França já haviam tomado medidas muito duras contra os imigrantes.
Para saber mais sobre a Diretiva de Retorno clique aqui.
O Mercosul expressou forte repúdio a tal lei. Segundo matéria de Altamiro Borges, publicado no site da Agência Carta Maior, cogita-se em medidas drásticas, baseadas no direito à reciprocidade. (Clique aqui para ler a matéria)
Leia o especial Brasileiros sem fronteiras na BBCBrasil, basta clicar no título.

1.7.08

O tempo e o horizonte da agricultura familiar

A fome está posta no horizonte da humanidade de forma assustadora. Não se trata da realização das previsões de Malthus (clique aqui para saber sobre ele) ou dos neomalthusianos (para saber mais sobre isso clique aqui).
Desta vez o mercado e a especulação são os responsáveis diretos pela ameaça insana.
Continuo pensando que mais cedo do que imaginamos o próprio sistema colocará freio na sede e desejo dos lucros criminosos que vicejam no mundo todo.
Não é possível que tenhamos nos desumanizado a tal ponto!
Nas minhas leituras de férias encontrei o belo texto abaixo, a propósito do pronunciamento de Paul Singer na 1ª Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário (clique aqui para ler sobre ela), de autoria de Katarina Peixoto.
Deliciem-se:


O tempo e o horizonte da agricultura familiar

Paul Singer compara o modo como o agronegócio empresarial e a agricultura familiar se relacionam com o tempo: para o primeiro, a relação com o tempo é medida pelos prazos de envios dos relatórios à bolsa de valores a cada três meses. Já para a agricultura familiar, o horizonte são as gerações, os filhos e os netos. Essa diferença diz muito sobe os conceitos de desenvolvimento e progresso em debate hoje.

Katarina Peixoto

Falando sobre agricultura familiar e economia no campo brasileiro, Paul Singer, Secretário Nacional de Economia Solidária fez uma platéia de quase mil pessoas poder refletir sobre tempo, natureza humana e temporalidade das ações, na relação com o meio ambiente. O fôlego e a densidade do debate aberto pelo professor titular em macroeconomia da USP, contudo, não assustaram os participantes desta I Conferência Nacional. Nem poderiam. Com a simplicidade que lhe é característica, o professor analisou alguns dos problemas que têm contribuído para que a relação entre a humanidade e o planeta tenha tomado a forma de uma contradição manifesta. E a aparência de um destino.
Um desses problemas é o modo como as atividades econômicas produtivas e lucrativas se relacionam com o tempo. Para o agronegócio empresarial que transformou a agricultura num dos braços do mercado de commodities, a relação com o tempo é medida pelos prazos de envios dos relatórios e balanços financeiros à bolsa de valores, em regra, a cada três meses. Já para a agricultura familiar, anotou Paul Singer, “o horizonte são as gerações, dos seus filhos, dos seus netos”.
Um horizonte mais largo é por si só uma diferença importante? A destruição da natureza pelo homem é medida somente pelo tempo? Não, mas a qualidade das mudanças provocadas pelas atividades econômicas determinam, pelo menos ao longo dos últimos séculos, a temporalidade da vida na sociedade e, por conseguinte, da relação dos homens com a exploração, dominação e uso dos recursos da natureza. E é nessa qualidade que reside a diferença entre o potencial predatório do mercado de commodities em relação, por exemplo, à atividade econômica da agricultura familiar.
Porque essa diferença evidencia que a qualidade das mudanças nos preços de commodities não depende de contrapartidas ou referências reais para se constituir, de modo que pode nunca deixar de ser uma mera arbitrariedade, não à toa chamada por Marx de fetiche. No reino da troca absoluta, nada se mede na realidade e a mudança deixa de ser categoria determinante da inteligibilidade dos fenômenos sociais.
E é assim, despedindo-se da realidade, que a lógica capitalista se permite destruir recursos naturais como fosse uma conseqüência, se assim se pode dizer, natural. Em contrapartida, marcar o tempo na duração de gerações constitui uma qualidade completamente distinta de mudança na natureza, sobretudo na atual quadra histórica. Entender essa diferença, contudo, não requer compromissos com versões finalistas da história: não é o progresso versus o atraso o que explica a diferença entre a temporalidade do mercado de commodities e a temporalidade marcada nos rostos e na carne das pessoas que vivem de, com e através dos recursos naturais, como é o caso da agricultura familiar, exemplarmente.
Disso se segue que não se trata de julgar a velocidade do mercado de commodities em oposição, puramente ideológica, à atividade produtiva das populações que produzem alimentos, segundo padrões sustentáveis, mas de levar o tempo a sério, como uma das características que determinam o estado das coisas no mundo, entre elas, a da atual crise de alimentos.
Pode parecer evidente que a velocidade de uma colheita não é comparável à avaliação de preços numa tarde da Bolsa de Mercadorias Futuras. Então, o que é mesmo que torna essa velocidade um problema sério, inclusive quanto ao meio ambiente? Paul Singer responde a essa pergunta possível com um olhar prudente sobre a construção de modelos de sociedades, sobretudo a partir de “postulados” a respeito da natureza humana, isto é, a partir de abstrações; um olhar, vale dizer, que vê no diagnóstico das teorias neoclássicas da natureza humana um problema: se a medida do tempo não é única, quando tomada com referência às coisas que mudam e que são mudadas na natureza, faz sentido referir-se aos homens como indivíduos prontos e acabados?
Com que autoridade se deduz e pretende legitimar um sistema econômico e político a partir de postulações sobre a natureza humana? Não estaria ela, a própria natureza humana, submetida ao tempo? Ou seria um conceito estático, caído no planeta recentemente, vindo sabe-se lá de onde? Para Singer, nós não apenas não conhecemos a natureza humana e não podemos pensá-la a despeito do fato de que ela está sempre mudando.
Qual ou quais as contrapartidas às marchas do tempo de que se fazem as histórias, do capitalismo e das suas resistências? Qual o pressuposto metodológico que autoriza o marxismo a, desde sempre, sustentar a sua crítica à economia política em todas as suas variantes? O pressuposto é uma unidade entre pensamento e experiência, entre sujeito e objeto, entre intenção e extensão, que tornou a história e o pensamento do tempo histórico elementos centrais para o entendimento e a superação das contradições incontornáveis do capitalismo, que hoje ganham a dimensão de ameaça climática e alimentar, no planeta.
É um pressuposto de que a prática ensina, à medida que a intenção organiza, e que autorizou Marx a ratificar a tese de que o conceito sem a intuição é vazio e de que a intuição sem o conceito é cega. É assim que as idéias e o exemplo de Paul Singer ganham, devidamente, força. Com a defesa de que o papel dos que pensam é observar, entender, examinar e experimentar, e não postular sociedades e homens fictícios.
“Portanto”, disse enfaticamente o professor, “não temos modelo, e eu gostaria de afirmar isso com muita convicção a vocês”. Na autocrítica ao método, se assim se pode dizer, socialista, de que Singer se disse herdeiro, ele acrescenta o compromisso de tentar fazer empiricamente, segundo o velho método da tentativa e erro. Assim não se corre o risco, hoje mais evidente que nunca, de destruir, devastar e matar de fome. Assim não se perde a medida real do tempo, para se submeter ao espaço e ao poder que o delírio fetichista tem imposto às economias e estômagos do mundo, sobretudo do mundo pobre e já faminto.
A medida real do tempo se faz de quê, afinal? Da vida das pessoas, de gente e do Planeta. Pode-se considerar a economia solidária como uma utopia; ou uma das iniciativas ingênuas e evasivas que caracterizaram a história da resistência moral à miséria que o avanço do capitalismo deixa como rastro. O problema dessa acusação não é tampouco só de natureza moral – ainda que também o seja -; nem é o preço que ela tem a pagar – que já está pagando; o problema dessa acusação é o destino de Baixio das Bestas, para o campo e as cidades brasileiras.
Na abertura do mais vigoroso e bem dirigido filme brasileiro dos últimos anos, Baixio das Bestas, de Cláudio Assis, pode-se ler uma referência que talvez esclareça esse lembrete: “O tempo vai consumir os engenhos, a usina, a mim e a você”, porque, ao contrário do delírio das variantes da economia política do século XIX, cada vez mais capengas e autoritárias, nem o mercado, nem a natureza humana são eternos. Talvez seja isso, afinal, o que a atual crise global de preços e de abastecimento deixe como evidência, empiricamente verificável: a contradição entre humanidade e planeta não é destino.

Fonte: Agência Carta Maior – 26/6/08.

Novidades mirabolantes do mundo árabe

Nos últimos meses tenho recebido e-mails com imagens espetaculares dos Emirados Árabes.
São fotos maravilhosas, parecendo coisa de ficção científica ou filme do Spielberg!
Fico sempre ressabiado, hábito dos tempos de Minas Gerais.
Desta feita me deparei com uma matéria de um jornalista excelente, que “in locum” verificou tais avanços tecnológicos e nos manda um bom texto, recheado com algumas imagens significativas.
Clique aqui para ler “No século 21, tecnologia se descola da fé”, de Luiz Carlos Azenha.