18.9.11

O analfabeto político

Bertolt Brecht

"O pior analfabeto é o analfabeto político.
Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos.
Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão,
do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio
dependem das decisões políticas.
O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política.
Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo."

Financiamento público de campanha

Segue abaixo artigo do professor Idelber abordando a questão do financiamento público de campanha. Análise perfeita!
Assunto espinhoso, o PTB tem atacado essa ideia em sua propaganda na TV, assim como os setores mais conservadores da sociedade.
O financiamento público, a meu modo de ver, colocaria um limite ao que vemos em todas as campanhas, nas quais frequentemente o poder econômico se sobrepõe às ideias e projetos.
Limitar essa gastança toda seria uma boa oportunidade para aprimorar a democracia participativa e oferecer mais espaço ao exercício da político, diminuindo o espaço do marquetingue.
Deleitem-se!


Ataque à raiz da corrupção 

IDELBER AVELAR

O financiamento público de campanha torna mais fácil a fiscalização e, se não acaba com legendas de aluguel, complica sua existência

Pesquisa recente da agência APPM dá a medida de como se realiza a discussão sobre campanhas eleitorais no Brasil. Oitenta e quatro por cento dos consultados dizem que as doações de empresas aumentam as chances de corrupção, mas 81% são contra o financiamento público.
O eleitor sabe que o conluio entre dinheiro privado e Estado é fonte de corrupção, mas se opõe ao financiamento público, pois não lhe é visível o fato de que ele também paga a conta do financiamento privado.
As empresas, com frequência, recolhem via corrupção o que investiram no candidato. O prejuízo ao Estado só aparece se estoura um escândalo, caso em que o agente público será execrado, enquanto pouco se dirá sobre o agente privado corruptor. Nada mais brasileiro do que esquecer que corrupção é via de mão dupla.
Ouvem-se três argumentos principais contra o financiamento público: ele não elimina a corrupção, coloca dinheiro do contribuinte nas mãos de corruptos e favorece os partidos mais organizados ou "instala uma ditadura financeira dos partidos" (conforme Elio Gaspari observou em sua coluna de 24/8).
O primeiro é um patente sofisma.
Se observamos que a troca de favores com o dinheiro de campanha é fonte de corrupção, recusar o financiamento público porque ele não a elimina equivale a recusar a Lei Maria da Penha porque ela não acaba com a violência contra a mulher.
Que se estabeleçam os mecanismos de cumprimento da lei, mesmo sabendo que eles não serão perfeitos. O financiamento público não elimina a corrupção, mas ataca sua raiz e facilita a fiscalização.
O segundo se nutre da péssima imagem dos políticos e da premissa de que o cidadão comum seria moralmente superior a eles. Ora, não há indício de que as relações cotidianas não estejam tão perpassadas pela corrupção quanto as políticas. É a colocação do Estado a serviço de interesses privados que corrompe – e essa tem sido uma constante em nossa história, desde as capitanias hereditárias.
O terceiro é, na verdade, uma defesa do financiamento público. Se ele fortalece os partidos mais organizados, eis aí outra razão para adotá-lo. Ele não acabará com as legendas de aluguel, mas tornará sua vida mais difícil. A expressão "ditadura dos partidos" não faz sentido se esses são compostos de cidadãos livres e entram e saem do poder pelo voto. Oxalá o Brasil escape da situação dos Estados Unidos. Apesar de proibidas as doações de empresas a campanhas, o dinheiro doado a partidos e organizações propagandísticas (as 527s) determina todo o rumo da política. Hoje, 86% dos estadunidenses vê democratas e republicanos do Congresso negativamente, mas uma terceira opção tornou-se inviável, já que o dinheiro corrompeu o sistema político até a medula.
Cuidemos da nossa democracia: o primeiro passo é uma contabilidade equânime, à qual todos tenham acesso. Sai mais barato, inclusive.

IDELBER AVELAR é professor titular na Universidade Tulane e colunista da revista "Fórum"; é co-organizador de "Brazilian Popular Music and Citizenship" e autor de "Alegorias da Derrota" e "The Letter of Violence".

Artigo publicado na Folha de São Paulo, copiado do blog Conteúdo Livre 

13.9.11

ENEM: discussões preliminares

Estamos às portas do ENEM 2011 e o INEP divulgou o resultado do ENEM 2010 por escolas.
Neste ano com uma novidade: agrupou as escolas por percentual de alunos participantes, tentando assim driblar aquelas instituições, que selecionam apenas os melhores alunos para participarem do exame.
Temos então 4 “rankings” diferentes: escolas com 75% ou mais de participantes; entre 50 e 75% de participantes; entre 25% e 50% e aquelas com até 25% de alunos participantes. É uma tentativa do MEC de deixar o resultado mais justo, se é que é possível.
Com os dados disponíveis é possível verificar o desempenho das escolas por estado, nas capitais, no interior, por região etc.
O Estadão.com publicou duas matérias que me chamaram a atenção. Numa delas afirmava que os alunos com melhor preparo da capital paulista, não participaram do ENEM em razão da negativa da USP e UNICAMP, que optaram por não utilizar o resultado do exame para compor as notas do vestibular. Clique aqui e leia a matéria. 
Minha experiência em cursos preparatórios para o vestibular, bem como nas escolas particulares, não me permite partilhar dessa ideia. Precisaria de números mais precisos  e indicações concretas desse fenômeno.
A outra notícia diz respeito ao uso de sistemas apostilados. Clique aqui para ler a matéria.
Hoje leciono no Parthenon que ocupa a 5º colocação no grupo (escolas do interior de SP) que envolve aquelas escolas com participação entre 50% e 75% de alunos concluintes do ensino médio. Nela adotamos livro didático.
Trabalhei no Colégio Saad – de Taubaté – que ocupa a 9ª colocação entre as escolas com mais de 75% de participantes. Lá se adota o Sistema Positivo. Faz tempo. Na matéria tem uma declaração interessante do coordenador do ensino médio, mostrando que o sistema apostilado não é uma prisão pedagógica.
A matéria estabelece uma relação interessante com a questão do poder aquisitivo dos alunos, mostrando que as escolas da Capital podem e cobram mais caro, enquanto as do interior usufruem dos sistemas apostilados como forma de baratear os custos.
Tenho minhas dúvidas se esta condicionante é absoluta. Além da formação acadêmica o aluno precisa ter uma vivência bacana, conhecer a sociedade na qual vive, participar, intervir, pensar com autonomia...
Não sei se somente livros ou apostilas respondem a essas necessidades.

Vejam a tabela publicada no Estadão:

7.9.11

A corrupção não é nenhuma novidade


Consegui localiza esse texto - de minha autoria - na Internet. Ele foi publicado na revista Galileu Vestibular 2007. Ele está um pouco truncado, parece que falta uma parte, mas eu não tenho o original e nem mesmo uma edição impressa da revista.
Embora datado, em razão dos escândalos que rolavam então, ainda podemos aproveitar a ideia central do texto: corrupção é uma via de mão dupla, bandido é o corrupto e o corruptor. Não tenho notícias de um agente do poder municipal subornando um agente do poder federal. Sempre temos numa ponta a iniciativa privada e na outra o agente público.


PROBLEMA HISTÓRICO E GENERALIZADO

Prática da corrupção foi disseminada em praticamente todos os governos do país

A corrupção no País é sistêmica, atingindo todos os setores da sociedade, pautandose quase sempre pela oportunidade. 
Temos o jovem rico pagando ao segurança para furar a fila da balada, o moço pobre furando a fila na bilheteria do estádio, o bancário subornando o guarda para que ele ignore o desrespeito à lei, o deputado ou qualquer outra autoridade do poder público visando engordar seus lucros. 
Não podemos ignorar que a corrupção não é uma via de mão única: se tem um corrupto tem também um corruptor, ambos criminosos. 
Entra governo e sai governo, os escândalos se multiplicam e se renovam. 
Às vezes disfarçados de "megaobra", às vezes camuflados de caixa 2 — ou dinheiro não contabilizado. Definitivamente, a corrupção não foi inventada pelo governo Lula e muito menos é este o governo mais corrupto da história. 
Num rápido passeio por um desses sites de busca, como o Google, encontraremos referências à corrupção nos governos de Getúlio, JK, Jango, nos presidentes da ditadura militar, Sarney, Collor, FHC e Lula. Em todas as crises, a imprensa trombeteia tratar-se da maior da História. 
A sucessão de escândalos neste governo, no entanto, foi impressionante. Já a incapacidade do seu principal partido, o PT, em responder a eles de forma convincente, optando pela estratégia do silêncio e apostando no esquecimento do eleitor, parece ter sido bem sucedida.
A Polícia Federal está muito mais atuante do que em governos anteriores, é claro. 
Independentemente dessa atuação, podemos lembrar o mensalão, a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro de Brasília e agora a compra do dossiê contra o candidato ao governo de São Paulo José Serra. 
Divulgar documentos comprobatórios ou indicativos de atos de corrupção não é crime. O crime está no método usado e principalmente na origem do dinheiro para comprá-lo, quase R$ 2 milhões.
Quando pensamos que o governo e o PT encontraram fácil o caminho da reeleição do presidente Lula, eles mesmos atiram contra si.