29.2.08

A Finlândia faz sucesso na educação

A Finlândia tem chamado a atenção do mundo em razão dos ótimos resultados dos seus estudantes em testagens internacionais, como o PISA (clique aqui para saber o que é PISA).
É comum que de tempos em tempos aconteçam revoadas de educadores – além de empresários da educação – brasileiros até as terras finlandesas tentando descobrir os segredos do sucesso desse pequeno país europeu.
Abaixo segue matéria publicada hoje no jornal Valor Econômico. Merece ser lida.


O que torna os adolescentes finlandeses tão inteligentes?

Ellen Gamermanvia Enriquez, The Wall Street Journal, de Helsinque, Finlândia

Aqui, estudantes de nível médio raramente têm mais de meia hora de dever de casa. Para os padrões do mundo desenvolvido, o sistema parece relaxado: os estudantes não usam uniforme, não há punição por atrasos nem programas especiais para alunos brilhantes. Quase não há exames padronizados, poucos pais arrancam os cabelos pensando na faculdade e as crianças só começam a ir à escola aos 7 anos.
Ainda assim, de acordo com um ranking internacional, os adolescentes finlandeses estão entre os mais inteligentes do mundo. Eles tiraram algumas das melhores notas entre estudantes de 15 anos de idade testados em 57 países. Em vários países de sistema mais rigoroso, como os Estados Unidos, as notas foram bem mais baixas, enquanto as médias dos brasileiros ficaram entre as dez - piores. E olha que os finlandeses vão à escola de cabelo tingido, usam vestido de alça no inverno (para parecerem mais fortes), adoram sarcasmo e curtem rap e heavy metal. Mas no nono ano escolar estão à frente em Matemática, Ciências e Leitura - a caminho de se tornarem alguns dos mais produtivos trabalhadores do mundo.
Os finlandeses atraíram atenção mundial com seu desempenho em testes trienais patrocinados pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, um grupo financiado por 30 países que acompanha tendências sociais e econômicas. Na mais recente rodada de testes, estudantes da Financia ficaram em primeiro em Ciências e segundo em Matemática e Leitura, segundo resultados divulgados no fim do ano passado.
Computando-se as três notas, a Finlândia fica em primeiro lugar, embora os resultados não sejam divulgados dessa maneira, diz Andreas Schleicher, que dirige o Programa para Avaliação Internacional de Estudantes, conhecido como Pisa, sua sigla em inglês. O Brasil ficou em 49o no teste de Leitura, 52o no de Ciências e 54o no de Matemática. Cerca de 400.000 estudantes foram testados ao redor do mundo. O teste é feito com questões de múltipla escolha e redações que avaliam o pensamento crítico e a aplicação do conhecimento. Um exemplo de tema: "Discuta o valor artístico de pixações."
O desempenho escolar dos estudantes finlandeses tem atraído educadores de mais de 50 países que querem aprender o segredo do país. O que eles descobriram é simples, mas não fácil: professores bem treinados e crianças responsáveis. Logo cedo, as crianças fazem muitas coisas sem a supervisão de adultos. E os professores criam lições sob medida para seus estudantes. "Não temos petróleo ou outras riquezas. Conhecimento é o que o povo finlandês tem", diz Hannele Frantsi, uma diretora de escola.
Visitantes e professores em treinamento podem ver como isso é feito do balcão sobre uma classe na escola Norssi, em Jyväskylä, um cidade na área central do país. O que eles vêem é uma abordagem tranqüila e básica. A escola, que é um modelo, não tem adendos comuns em outros países no topo do ranking, como equipes esportivas e bandas.
Basta acompanhar a estudante Fanny Salo, de 15 anos, para ter uma idéia da simplicidade do currículo. Fanny é uma garota cheia de energia, que adora historinhas românticas, o seriado de TV "Desperate Housewives" e as lojas de roupas que visita com as amigas.
Fanny só tira nota A, e como não há classes especiais para estudantes de melhor desempenho, escreve em seu diário enquanto espera que os demais completem uma determinada tarefa. Ela costuma ajudar colegas que ficam para trás. "É bom ter tempo para relaxar um pouco no meio da aula", diz. Educadores finlandeses acreditam que obtêm melhores resultados quando se concentram nos estudantes mais fracos do que se ficarem cutucando os mais dotados para se destacarem dos demais. A idéia é que estudantes brilhantes podem ajudar os medíocres sem prejuízo de seu próprio progresso.
No almoço, Fanny e suas colegas saem da escola para comprar salmiakki, um alcaçuz salgado. Voltam para a aula de Física, que começa quando todos se aquietam. Professores e estudantes referem-se uns aos outros pelo primeiro nome. É proibido usar celular, iPods ou chapéus - e essa é praticamente a única regra da classe.
A Norssi é administrada como um hospital universitário, com cerca de 800 professores em treinamento a cada ano. Universitários trabalham com os estudantes enquanto instrutores ficam por perto, avaliando-os. É preciso mestrado para ser professor e a profissão é concorrida. Mais de 40 pessoas podem se candidatar para a mesma vaga. Os salários estão no nível do Primeiro Mundo, mas em geral eles têm mais liberdade na Finlândia.
Professores finlandeses escolhem livros e adaptam as lições para levar os estudantes aos padrões nacionais. "Na maioria dos países, educação parece uma fábrica de carros. Na Finlândia, os professores são empreendedores", diz Schleicher, da Pisa, que tem sede em Paris e começou a fazer os testes em 2000.
Uma explicação para o sucesso finlandês é sua paixão por leitura. O governo dá um pacote para os pais de recém-nascidos que inclui um livro de figuras. Algumas bibliotecas são anexas a shopping centers e há sempre uma biblioteca ambulante em todos os bairros.
A língua local só é falada aqui e até os livros em inglês mais vendidos são traduzidos muito depois do lançamento. Muitas crianças se esforçaram para ler o último Harry Potter em inglês porque tinham medo de que alguém lhes contasse o final antes que chegasse a versão em finlandês. Filmes e programas de TV têm legendas em vez de dublagem. Uma estudante universitária diz que se tornou uma leitora veloz na infância quando ficou viciada no seriado "Barrados no Baile".
Por essas e outras, o sistema finlandês é difícil de imitar. A população do país, de 5,3 milhões, é bastante homogênea e há pouca disparidade de educação e renda. O governo gasta, em média, US$ 7.500 por estudante. Os impostos são altos, mas o nível de renda permite às crianças se dedicar aos estudos sem precisar trabalhar. Faculdades são gratuitas. O padrão de vida é um dos mais altos do mundo.
Mesmo assim, os finlandeses também temem ficar para trás na economia global. Eles dependem de empresas de eletrônicos e telefonia, como a fabricante de celulares Nokia, e da indústria de celulose e papel para geração de empregos. Alguns educadores dizem que a Finlândia precisa acelerar o desenvolvimento de seus melhores estudantes, como se faz nos EUA, com programas voltados à formação de líderes.
Contudo, o sistema finlandês tem servido de exemplo ao redor do mundo. Numa palestra no Peru sobre como adotar os métodos de ensino finlandeses, o diretor de escola Tapio Erma contou a história de um estudante de nível médio que adormeceu na carteira durante uma aula de matemática avançada. O professor não o acordou. Embora cochilar na classe não seja aprovado, Erma diz: "Temos de aceitar o fato de que são crianças e estão aprendendo a viver."
Fonte: Valor Econômico - 29/2/08.

28.2.08

Chico de Oliveira e as eleições estadunidenses

Na Folha de S.Paulo (assinantes clicar aqui) de hoje, 28/2/08, Chico de Oliveira dispara sua artilharia, como sempre bem fundamentada e com alvos certos.


Obama, Tocqueville e a ilusão americana
FRANCISCO DE OLIVEIRA

Obama, com seu terninho correto que faz par com o tailleur de Hillary Clinton, é tão parecido com sua rival quanto o PT com o PSDB

TOCQUEVILLE ESTÁ entre os mais reputados teóricos da democracia, e seu livro clássico sobre a democracia na América em nada se parece com os tratados enfadonhos e formais sobre a forma de governo inventada pelos gregos da época clássica. Trata-se de investigação sobre os fundamentos, eu diria, sociológicos, da democracia nos EUA; nosso Sérgio Buarque de Holanda fez, com o também clássico "Raízes do Brasil", a explicação de por que a forma democrática é quase inviável em Pindorama.
Mais de um século depois, o belicista Churchill cunhou outro paradoxo, plagiando Tocqueville: a democracia é o pior de todos os regimes, salvo todos os outros. O velho leão britânico somente aprenderia a não incentivar guerras coloniais -"remember" a Guerra dos Bôeres- depois que o nazismo ameaçou liquidar a velha Albion e submeter o mundo ocidental a uma nova idade das trevas.
Barack Obama, parece, será o indicado pelos democratas para a disputa da Casa Branca, desbancando a chata da Hillary, coisa que talvez se defina logo no próximo dia 4. Para os leitores de Tocqueville, talvez sua eleição à mansão sem estilo da avenida Pensilvânia pareça realizar os prognósticos do nobre francês. Mas aqui entra o famoso paradoxo de Tocqueville, segundo o qual a ampla democratização torna banal a participação dos cidadãos e desinteressante a democracia.
O forte absenteísmo dos próprios norte-americanos às suas eleições presidenciais confirmaria o pessimismo tocquevilleano. Em termos schmittianos, a democracia de massas é não-agônica, onde não se decide nada. Não falta ao paradoxo de Tocqueville, como é óbvio, um certo desdém aristocrático, que o autor francês disfarça todo o tempo.
Uma crítica de direita se alinharia apressadamente ao paradoxo, desqualificando imediatamente a eleição do primeiro negro à Presidência dos EUA. Uma crítica pela esquerda vê o problema de outro ângulo: o paradoxo de Tocqueville não decorre da banalização da democracia pelo predomínio das massas, mas é um produto da colonização da política pela economia. Em outras palavras, o capitalismo, em sua fase globalitária, torna inútil a política e irrelevante a participação dos cidadãos. Nos EUA, é certo que decisões como a invasão do Iraque foram até mesmo planejadas no Salão Oval, mas antes o celerado Bush filho teve que pedir permissão a Alan Greenspan, o ex-todo-poderoso presidente do Fed; aliás, esse senhor atravessou os dois mandatos de Clinton e entrou pelo mandato de Bush adentro, somente renunciando um ano e meio atrás, e os norte-americanos nunca votaram nele para coisa alguma. E o Senado norte-americano, que ratifica as indicações presidenciais, faz-lhe uma argüição que é tão contestadora quanto os programas de Silvio Santos. Isso é a colonização da política pela economia.
Entre nós, mesmo a própria democratização brasileira, de que o PT foi co-autor importante, é hoje irrelevante: em lugar da transformação prometida pelos longos anos da "invenção democrática", o PT e Lula transformaram-se em fiadores do capitalismo globalitário no Brasil. Vejam-se, como já se salientou aqui mesmo nesta Folha, os lucros do sistema bancário brasileiro e o tratamento do social: meros R$ 8 bilhões para o Bolsa Família, o ai-jesus de Lula e do lulo-petismo, e R$ 160 bilhões de juros da dívida pública interna. Ou em 2007, os R$ 20 bilhões do lucro dos quatro maiores bancos contra os R$ 21 bilhões de todo o Orçamento social de Lula (incluindo-se seguridade social, Bolsa Família et al).
Tomara que Obama desminta o paradoxo de Tocqueville; tomara que suspenda imediatamente o odioso embargo contra Cuba, aproveitando inclusive a oportunidade da retirada de Fidel da linha de frente do governo cubano; tomara que retire as tropas do Iraque, terminando de vez com esse desastre anunciado; tomara que retome a linha de um Jimmy Carter, não apoiando as ditaduras e o descarado intervencionismo gringo; tomara que inaugure uma linha próxima do New Deal rooseveltiano e detenha o empobrecimento das classes populares norteamericanas e a crescente desigualdade; tomara que um desastre como o Katrina não possa outra vez expor a olho nu a produção desapiedada da pobreza, escondida no charme da outrora francesa Nova Orleans. Tomara. Mas que é improvável, é. Ele é tão parecido com a Hillary, com seu terninho correto que faz par com o tailleur da ex-primeira-dama, quanto o PT com o PSDB. Tocqueville ri na tumba?

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FRANCISCO DE OLIVEIRA, 74, é professor titular aposentado do Departamento de Sociologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Territórios de Cidadania

O governo federal apresenta um novo conceito de gestão na área social: Territórios de Cidadania.
O projeto parece resgatado daqueles bons tempos do PT entranhado nos movimentos sociais e grávido da mais bela e pura democracia.
Se vamos passar da idealização para a realização são outros quinhentos e só o tempo responderá.
O Valor Econômico de hoje publica excelente texto de autoria de Maria Inês Nassif. A leitura compensa:


Política vai parar de ganhar com a miséria

Nos primeiros dois anos de governo, os efeitos do Bolsa Família passaram batido. Em parte, por conta de uma reconhecida incapacidade do primeiro governo Lula de divulgar seus feitos. Mas, além disso, pela tendência dos brasileiros "de bem" de subestimarem a extensão da miséria brasileira. E o Brasil é tão pobre e tão desigual que um simples programa de transferência de renda teve enorme impacto sobre a vida das famílias pobres. O país que lê e tem emprego só entendeu a extensão dos resultados do Bolsa Família quando as pesquisas eleitorais, no auge do escândalo do mensalão, passaram a dar a dianteira ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre qualquer candidato oposicionista, apesar de ter sido mantido durante longo período sob o fogo cerrado da oposição.
Lula teve uma retumbante vitória, em 2006, nos bolsões de pobreza e nos Estados mais pobres da Federação - os mais beneficiados pelo programa de transferência de renda. Mas os efeitos políticos do Bolsa Família devem transcender uma eleição (a de 2006) e um presidente (Lula). As eleições de 2006 desarrumaram o arranjo tradicional, onde os chefes políticos locais levam o rebanho até o candidato apoiado pelo chefe estadual e este, por sua vez, negocia favores da política nacional. Esse desarranjo foi favorecido não apenas pelo Bolsa Família, mas também pela universalização do uso da urna eletrônica, guardiã do segredo do voto. Como o chefe político local não era o dono do benefício concedido ao pobre - que vinha na forma de um cadastramento feito pela prefeitura, mas que depois se tornava uma relação entre o beneficiado e o banco onde ele recebe o dinheiro - não era também aquele a quem se deveria retribuir com o voto. Aconteceu de forma bastante ampla, em 2006, uma inversão do que ocorria tradicionalmente: em vez do chefe local dizer em quem o eleitor teria que votar - e já não teria total controle sobre esse voto, que é eletrônico -, foi o chefe quem correu atrás do candidato do cidadão pobre. Lula conseguiu apoios nada desprezíveis de prefeitos de todos os partidos. E certamente não foi porque os prefeitos tinham se tornado petistas. Eles simplesmente adiaram um confronto com seus eleitores - reconciliaram-se com eles por meio de uma adesão pontual ao candidato à reeleição para a Presidência.
O efeito Bolsa Família, que foi tão desprezado até o início do processo eleitoral de 2006, é hoje um risco para os políticos tradicionais. A oposição não pode falar contra o programa de transferência de renda - isso é evidentemente impopular -, mas cristalizou uma clara aversão a programas sociais mais amplos, em especial os saídos da lavra deste governo. Não é de se estranhar a reação pronta do ex-PFL, hoje DEM, que promete sustar o programa Territórios da Cidadania na Justiça, por ter sido lançado em ano eleitoral - o que o tornaria ilegal.
O programa anunciado por Lula pode até surtir efeitos eleitorais, mas a sua única novidade - e boa novidade, aliás - é a ação integrada de programas já existentes, em bolsões de pobreza localizados na área rural. O que o governo anunciou, na verdade, foi um conceito de gerência de programas sociais que já se antevia no Bolsa Família, que agregou na sua origem vários programas dispersos, e nas ações do Ministério do Desenvolvimento Social, que articula ações de vários ministérios.
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Territórios da Cidadania são conceito gerencial
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No caso do Territórios da Cidadania, a coordenação é do Ministério do Desenvolvimento Agrário, mas até o Ministério da Cultura está envolvido. E tem uma lógica que não é simplesmente eleitoral: é voltado para as populações agrárias porque elas são as que vivem nas regiões de Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) mais baixos do país; atende localidades mais beneficiadas pelo Bolsa Família porque esse é um indicador de miséria; atendem a um planejamento local, feito por colegiados, onde estão representados também prefeitos e representantes dos governos estaduais, além das comunidades. Teoricamente, o fato de abrigar nos colegiados os prefeitos, independente do partido a que pertençam, despem o programa de caráter eleitoral. Mas, na prática, esses colegiados tiram do prefeito, ou dos deputados que são eleitos por essa população, a "autoria" do benefício à comunidade. Os colegiados são a antiemenda parlamentar. Do outro lado, podem diluir a responsabilidade do governo federal sobre os programas, já que todas as unidades da federação estão lá representadas. O jogo está zerado, portanto. O que definirá o voto desses eleitores é como os políticos se adeqüam a uma realidade onde gradativamente são trazidos ao mercado de consumo um grande número de brasileiros, que a partir de então passam a ter novas exigências que não a sobrevivência imediata.
Há um enorme ganho, inclusive fiscal, nesse conceito gerencial. Atender uma região com o Pronaf sem que a agricultura familiar tenha assistência técnica, ou infraestrutura para escoamento da produção, ou mesmo educação para trazer a economia de subsistência para o capitalismo, é jogar o Pronaf fora. Dar Bolsa Família sem viabilizar à agricultura familiar uma atividade produtiva é eternizar o Bolsa Família. Incentivar o beneficiamento da produção em cooperativa sem que a região tenha luz elétrica é jogar produção no lixo. Miríade de programas sociais que não se integram jogam dinheiro público fora e não alteram em nada a vida da população.
Fora alguns conselhos que já se reuniram para debater a prioridade de seus Territórios de Cidadania, ele ainda é uma intenção. Se o governo Lula tiver capacidade para implantar esse modelo gerencial de programas sociais, será um ganho para o país. Isso é com o Executivo. Quanto aos políticos, o que eles devem fazer, se a intenção declarada do governo tornar-se de fato um programa bem-sucedido, é repensar a forma de arregimentar eleitores. Ações que desintermediam o voto podem até beneficiar um primeiro governo, aquele que o implantou (e esse efeito pode ter ocorrido já no passado, na reeleição de Lula), mas depois passam a ser neutras politicamente. Daí, ganha votos quem fizer a melhor política.

Maria Inês Nassif é editora de Opinião. Escreve às quintas-feiras
maria.inesnassif@valor.com.br
Fonte: Valor Econômico - 28/2/08.

26.2.08

Padre Júlio Lancelotti: dois pesos e várias medidas na Folha de S.Paulo

Reproduzo abaixo parte da coluna do ombudsman da Folha de São Paulo do último domingo. Como a FSP mantém seu acesso restrito aos assinantes, o tal texto pode ser encontrado no Observatório da Imprensa, basta clicar aqui.
Particularmente no caso do Pe. Júlio Lancelotti eu já havia me manifestado aqui neste blog no texto Notícia discreta sobre Padre Júlio Lancelotti e Jornalismo de péssima qualidade, além de outros artigos dando voz à defesa do Padre e questionando o linchamento público ao qual ele era submetido.
Pois bem, quando o Ministério Público constata que ele foi vítima de crime e não autor, a Folha oculta a notícia num rodapé de página. É esse tipo de jornalismo que me enoja.
A Folha, e os outros órgãos de imprensa também, o faz por “Ibope”? Ou será simplesmente o mau-caratismo da manipulação barata?
Com vocês a palavra do ombudman da Folha de São Paulo:


FOLHA DE S. PAULO
Mário Magalhães

"Somos todos ombudsmans", copyright Folha de S. Paulo, São Paulo (SP), 24/2/08

"Ao observar o insucesso dos apelos para que a seção de cartas honre o nome, um leitor escreveu em novembro: ´A atual polêmica sobre o ´Painel do Leitor` só vem confirmar que ombudsman de jornal é igual a peito de homem, não serve para nada. Os leitores reclamam, o ombudsman encaminha, e a Redação ignora ou dá uma resposta mal-educada´.
Matutei e não vislumbrei, de fato, serventia do meu peito (a não ser para ´matar` a bola). E há jornadas em que, como ombudsman, sucumbo à síndrome do peito de homem, o sentimento de inutilidade. Como na edição de anteontem.
Eu renovara recomendações para que a Folha reencontrasse o equilíbrio na cobertura sobre acusações contra o padre Júlio Lancelotti. Notícia ruim para ele tinha destaque; boa, não. Na sexta-feira, ocultou-se em rodapé de página a conclusão do Ministério Público de que o religioso foi vítima de extorsão, e não autor de crime.

Entrevista de Evo Morales ao "Il Manifesto"

Entrevista preciosa de Evo Morales ao jornal italiano “Il Manifesto”, está traduzida no portal da Agência Carta Maior.


ENTREVISTA – EVO MORALES

“O embaixador dos EUA lidera a conspiração contra meu governo”

Presidente da Bolívia acusa embaixador dos Estados Unidos no país de conspirar contra o governo e de tentar repetir no país "o que fizeram no Kosovo". Evo Morales revela que camponeses e indígenas já pediram armas para defender o governo, mas defende revolução pelas urnas e não pelas armas.

Pablo Stefanoni - La Paz*

Às sete da manhã, o Palácio Quemado já está um formigueiro e os ministros devem ter paciência para conversar com o chefe de Estado. “É assim mesmo”, diz um embaixador com experiência na dinâmica “evista” a um ministro novato no gabinete que se impacienta com a demora de Evo Morales em chegar a uma reunião com exportadores.

Em um intervalo de alguns minutos, o líder cocalero conversou com Il Manifesto sobre temas da atualidade nacional e internacional. Enquanto tomava um suco de mamão, acusou o embaixador dos Estados Unidos, Philip Goldberg, de conspirar contra seu governo e de tentar repetir na Bolívia “o que fizeram no Kosovo”. Admite que camponeses e indígenas pediram armas para defender o governo diante das demandas autonomistas de Santa Cruz. E assinala que, se o diálogo não avançar, a saída será convocar um referendo revogatório para o presidente e os governadores, “para que o povo diga a quem apóia”.

Il Manifesto: Como é possível retomar o diálogo com os governadores opositores?
Evo Morales: Nós apostamos na autonomia. No referendo de 2006, a maioria dos bolivianos disse “Não”, mas em quatro regiões ganhou o “Sim”. Por isso garantimos autonomias na nova Constituição e sinto que é necessário criar um espaço no Poder Executivo, um ministério de Autonomias que comece a construir com os movimentos sociais uma autonomia baseada na legalidade e na solidariedade entre regiões. Mas alguns grupos confundem autonomia com separação ou independência.

Il Manifesto: Santa Cruz segue avançando direção de seu referendo autonomista de 4 de maio...
Evo Morales: Gostaríamos que parassem para que pudéssemos avançar juntos.

Il Manifesto: Se o diálogo fracassar segue valendo a proposta do referendo revogatório?
Evo Morales: Exato. Por isso dissemos que apostamos nas urnas e não nas armas.

Il Manifesto: Mas admitiu também que alguns setores campesinos pediram armas para defender o governo. Como é isso?
Evo Morales: Recebi algumas ligações telefônicas e sou transparente. Comentei com a imprensa que tergiversou sobre minhas declarações. Preocupou-me bastante receber chamadas de companheiros do campo e da cidade que me disseram textualmente: “Irmão presidente, quando era dirigente sindical você se fez respeitar, agora nós faremos respeitar, nos dê armas”. Eram fortes as chamadas. Em um certo momento tive que desativar meu celular, que atendo só de madrugada.

Il Manifesto: E qual foi sua resposta a esses pedidos?
Evo Morales: Por certo não estamos de acordo com isso. Disse que é preciso fazer uma revolução nas urnas e não com armas, e estamos cumprindo isso. Mas as agressões e humilhações causam estas reações em nossos companheiros. Inclusive houve uma marcha a La Paz pedindo-me armas. Tudo isso é provocado por uma direita racista que já me chamou de macaco. E se tratam o presidente como um animal, o que podem esperar os camponeses e indígenas?

Il Manifesto: O Senhor se referiu ao Kosovo. Crê que pode ocorrer o mesmo na Bolívia?
Evo Morales: Quero que o mundo inteiro saiba é que há uma conspiração contra minha pessoa encabeçada pelo embaixador dos Estados Unidos (Philip Goldberg). Perguntemo-nos de onde veio o embaixador estadunidense (que atuou no Kosovo). Não vamos permitir que os Estados Unidos sigam conspirando para dividir a Bolívia com grupos oligárquicos e mafiosos. Se os EUA lutam contra a corrupção e a injustiça por que não extraditam o ex-presidente Gonzalo Sánchez de Lozada? (acusado por quase uma centena de mortes, produto da repressão na “guerra do gás” de 2003). Quando os povos se levantam, estas autoridades pró-império e pró-capitalistas correm para onde isso ocorre. Quando já não podem dominar, porque há democracias libertadoras e não comprometidas, os EUA fomentam a divisão.

Il Manifesto: Considera encerrado, com as desculpas do embaixador, o caso da utilização de bolsistas como informantes?
Evo Morales: O senhor Vincent Cooper (funcionário da segurança da embaixada dos EUA) é persona non grata para a Bolívia e o assunto está sendo investigado. Hoje sabemos que utilizam seus estudantes, que vêm com vontade de aprender, para fazer espionagem. Descobrimos até que a polícia boliviana fazia espionagem e perseguições para a embaixada-norte-americana.

Il Manifesto: Acredita que uma vitória democrata nos EUA poderia melhorar as relações?
Evo Morales: Entendo que há políticas de Estado nos EUA, mas gostaríamos que começassem a respeitar os direitos humanos e os processos de libertação e as transformações profundas que estão ocorrendo na América Latina. Para isso, devem pôr fim à prática da espionagem, da tentativa de submissão e da soberba. O ex-embaixador Manuel Rocha chamava-me de Bin Laden.

Il Manifesto: Como viu a saída de Fidel Castro do poder?
Evo Morales: Como o Che, Fidel é um símbolo imbatível para toda a humanidade. É um homem histórico. Em minhas conversas de horas e horas com Fidel ele sempre me falava da vida, da saúde e da educação Hoje isso se materializou na Bolívia com a Operação Milagre, com mais de 100 mil pessoas operadas dos olhos gratuitamente. Ficará um grande vazio.

* Entrevista publicada originalmente em Il Manifesto, Itália

Tradução: Marco Aurélio Weissheimer

23.2.08

Ainda sobre Fidel

Recebi de um prezado amigo o texto abaixo. Mandou-me por e-mail, comentando o texto "Viva Fidel":
Faço meu seu pensamento e acrescento o orgulho que levo comigo por ter em 1981 cumprimentado o comandante, assim como podido conviver durante 2 meses com a realidade que, na época, foi um sonho realizado. Muito se falará a favor e, no "chamado mundo democrático" , contra Fidel Castro Ruz, entretanto, é inegável sua luta abnegada e vibrante contra as grandes injustiças da humanidade e a favor de uma Cuba sem analfabetismo, com saúde e educação de qualidade para todos.
Uma vez, lá em Cuba, cruzei com um grupo de crianças, carregando uma bola, a caminho de um campo de futebol para uma pelada. Paramos todos e conversamos um pouco, enquanto um amigo gravava os depoimentos dos garotos a respeito da vida lá. Após um tempo de perguntas e respostas, um garoto tomou o microfone e deu um depoimento com o seguinte teor: " Eu gostaria que as crianças do Brasil pudessem ter a a vida que nós temos aqui em Cuba". Emocionante pela verdade da mensagem, espontaneidade e generosidade do garoto.
Fico feliz com a aposentadoria de Fidel. Sua participação no trabalho de tentar melhorar o mundo foi realizado.
José Ricardo Marcondes Paim

21.2.08

Mensagem de Fidel Castro, como foi publicada

Mensaje del Comandante en Jefe


Queridos compatriotas:

Les prometí el pasado viernes 15 de febrero que en la próxima reflexión abordaría un tema de interés para muchos compatriotas. La misma adquiere esta vez forma de mensaje.

Ha llegado el momento de postular y elegir al Consejo de Estado, su Presidente, Vicepresidentes y Secretario.

Desempeñé el honroso cargo de Presidente a lo largo de muchos años. El 15 de febrero de 1976 se aprobó la Constitución Socialista por voto libre, directo y secreto de más del 95% de los ciudadanos con derecho a votar. La primera Asamblea Nacional se constituyó el 2 de diciembre de ese año y eligió el Consejo de Estado y su Presidencia. Antes había ejercido el cargo de Primer Ministro durante casi 18 años. Siempre dispuse de las prerrogativas necesarias para llevar adelante la obra revolucionaria con el apoyo de la inmensa mayoría del pueblo.

Conociendo mi estado crítico de salud, muchos en el exterior pensaban que la renuncia provisional al cargo de Presidente del Consejo de Estado el 31 de julio de 2006, que dejé en manos del Primer Vicepresidente, Raúl Castro Ruz, era definitiva. El propio Raúl, quien adicionalmente ocupa el cargo de Ministro de las F.A.R. por méritos personales, y los demás compañeros de la dirección del Partido y el Estado, fueron renuentes a considerarme apartado de mis cargos a pesar de mi estado precario de salud.

Era incómoda mi posición frente a un adversario que hizo todo lo imaginable por deshacerse de mí y en nada me agradaba complacerlo.

Más adelante pude alcanzar de nuevo el dominio total de mi mente, la posibilidad de leer y meditar mucho, obligado por el reposo. Me acompañaban las fuerzas físicas suficientes para escribir largas horas, las que compartía con la rehabilitación y los programas pertinentes de recuperación. Un elemental sentido común me indicaba que esa actividad estaba a mi alcance. Por otro lado me preocupó siempre, al hablar de mi salud, evitar ilusiones que en el caso de un desenlace adverso, traerían noticias traumáticas a nuestro pueblo en medio de la batalla. Prepararlo para mi ausencia, sicológica y políticamente, era mi primera obligación después de tantos años de lucha. Nunca dejé de señalar que se trataba de una recuperación "no exenta de riesgos".

Mi deseo fue siempre cumplir el deber hasta el último aliento. Es lo que puedo ofrecer.

A mis entrañables compatriotas, que me hicieron el inmenso honor de elegirme en días recientes como miembro del Parlamento, en cuyo seno se deben adoptar acuerdos importantes para el destino de nuestra Revolución, les comunico que no aspiraré ni aceptaré- repito- no aspiraré ni aceptaré, el cargo de Presidente del Consejo de Estado y Comandante en Jefe.

En breves cartas dirigidas a Randy Alonso, Director del programa Mesa Redonda de la Televisión Nacional, que a solicitud mía fueron divulgadas, se incluían discretamente elementos de este mensaje que hoy escribo, y ni siquiera el destinatario de las misivas conocía mi propósito. Tenía confianza en Randy porque lo conocí bien cuando era estudiante universitario de Periodismo, y me reunía casi todas las semanas con los representantes principales de los estudiantes universitarios, de lo que ya era conocido como el interior del país, en la biblioteca de la amplia casa de Kohly, donde se albergaban. Hoy todo el país es una inmensa Universidad.

Párrafos seleccionados de la carta enviada a Randy el 17 de diciembre de 2007:

"Mi más profunda convicción es que las respuestas a los problemas actuales de la sociedad cubana, que posee un promedio educacional cercano a 12 grados, casi un millón de graduados universitarios y la posibilidad real de estudio para sus ciudadanos sin discriminación alguna, requieren más variantes de respuesta para cada problema concreto que las contenidas en un tablero de ajedrez. Ni un solo detalle se puede ignorar, y no se trata de un camino fácil, si es que la inteligencia del ser humano en una sociedad revolucionaria ha de prevalecer sobre sus instintos.

"Mi deber elemental no es aferrarme a cargos, ni mucho menos obstruir el paso a personas más jóvenes, sino aportar experiencias e ideas cuyo modesto valor proviene de la época excepcional que me tocó vivir.

"Pienso como Niemeyer que hay que ser consecuente hasta el final."

Carta del 8 de enero de 2008:

"...Soy decidido partidario del voto unido (un principio que preserva el mérito ignorado). Fue lo que nos permitió evitar las tendencias a copiar lo que venía de los países del antiguo campo socialista, entre ellas el retrato de un candidato único, tan solitario como a la vez tan solidario con Cuba. Respeto mucho aquel primer intento de construir el socialismo, gracias al cual pudimos continuar el camino escogido."

"Tenía muy presente que toda la gloria del mundo cabe en un grano de maíz", reiteraba en aquella carta.

Traicionaría por tanto mi conciencia ocupar una responsabilidad que requiere movilidad y entrega total que no estoy en condiciones físicas de ofrecer. Lo explico sin dramatismo.

Afortunadamente nuestro proceso cuenta todavía con cuadros de la vieja guardia, junto a otros que eran muy jóvenes cuando se inició la primera etapa de la Revolución. Algunos casi niños se incorporaron a los combatientes de las montañas y después, con su heroísmo y sus misiones internacionalistas, llenaron de gloria al país. Cuentan con la autoridad y la experiencia para garantizar el reemplazo. Dispone igualmente nuestro proceso de la generación intermedia que aprendió junto a nosotros los elementos del complejo y casi inaccesible arte de organizar y dirigir una revolución.

El camino siempre será difícil y requerirá el esfuerzo inteligente de todos. Desconfío de las sendas aparentemente fáciles de la apologética, o la autoflagelación como antítesis. Prepararse siempre para la peor de las variantes. Ser tan prudentes en el éxito como firmes en la adversidad es un principio que no puede olvidarse. El adversario a derrotar es sumamente fuerte, pero lo hemos mantenido a raya durante medio siglo.

No me despido de ustedes. Deseo solo combatir como un soldado de las ideas. Seguiré escribiendo bajo el título "Reflexiones del compañero Fidel" . Será un arma más del arsenal con la cual se podrá contar. Tal vez mi voz se escuche. Seré cuidadoso.

Gracias


Fidel Castro Ruz

18 de febrero de 2008

5 y 30 p.m.

Fonte: http://www.nnc.cubaweb.cu

20.2.08

Minha terra tem palmeiras e outros falantes!

Outro dia pedi a contribuição do colega José Ronaldo, doutor nas artes do falar bem, para que ele iluminasse as trevas do debate sobre a correção no falar nossa língua pátria. Por conta da crítica do Farol de Alexandria (by PHA), também conhecido como FHC à suposta ignorância do presidente Lula e também por conta dos preciosismos que tal discussão lançou na mídia nativa.
Agradeço-lhe imensamente a contibuição.
Eis:

Não faz muito tempo que as enfadonhas aulas de português eram aulas exaustivas de exposições de conteúdos GRAMÁTICA. Ou seja, aula de análise sintática. Localizar o sujeito, o adjunto adverbial, as funções inúmeras – 23? – do quê e do se e mais uma penca de termos soltos em frases e orações escritas em manuais puramente para este fim. A hegemonia da frase, geralmente, separada e desligada do mundo, da vida, do aluno, e, claro, do bom senso. Era como se vivêssemos num tempo ainda regido pelas discretas ordenações manoelinas, joaninas ou felipinas.
Contudo, com a universalização da educação, com o desenvolvimento de pesquisas sócio-lingüísticas e com a democratização ocorrida no país pós década de 80 a prática de ensino da língua passou por profundas transformações. Sendo assim, o avanço de tais pesquisas e de outros estudos sobre conexão entre linguagem, pensamento e mundo, já no início do século 20, começaram a derrubar os seculares dogmas gramaticais comprovando os mais vivazes preconceitos lingüísticos.
Além disso, também se evidenciou que a GRAMÁTICA apresenta apenas uma variedade padronizada do português - mas não a única – e nem sempre com sustentação científica. Neste sentido, o ensino da língua materna na escola dificultou, e muito, a formação de leitores e produtores de textos competentes. Porém, se, indiretamente ou diretamente, emperrou o desenvolvimento da cidadania, nem tanto prejudicou o mercado do ensino da língua.
A última década foi promissora aos empresários do idioma pátrio. O mercado de dvds, cds e manuais ensinando “a falar bem” rendeu alguns milhões de direitos autorais bem como aplausos e honrarias às celebridades da vez. Nunca falar correto foi tão lucrativo para alguns. A mídia mais festiva inclusive publicou no ano passado a quantidade exata de palavras que cada profissional de sucesso deverá dominar a fim de alcançar a glória. Por isso, caso o cidadão comum "queira estar se encaminhando" para realização financeira, não "poderá estar abrindo" mão do vocabulário pátrio. Mesmo se no meio do caminho tiver uma pedra, remova-a e faça parte do seleto grupo de empreendedores e vencedores, não se esquecendo de adquirir, com todo conforto e segurança, o mais novo dvd interativo com músicas e questões de gramática facilmente memorizáveis.
Contra aqueles que fugiram das aulas de análise sintática ou aqueles que não freqüentaram a escola, ou ainda contra os que não aprenderam a ordem dos termos da oração, coube os mais impiedosos preconceitos. Fulano não sabe falar; ou beltrano não leu os clássicos literários; ou sicrano não concorda sujeito e predicado. Por isso, tais “cidadões” são de uma classe inferior e são inferiores por não saberem falar e escrever corretamente.
A compreensão das relações entre texto e discurso e, como já dito antes, a formação de leitores e produtores competentes de enunciados e textos articulados com a cultura contemporânea devem ser os principais objetivos da escola que queira interromper o caminho da exclusão social e promover a inclusão de fato. O reconhecimento da língua como fundamento da subjetividade humana e elemento constituinte da identidade do sujeito permanece como o alvo de qualquer programa de ensino de língua materna que leve em conta os princípios básicos de uma verdadeira cidadania. A língua pertence aos falantes e seu ensino caminha junto com a prática da escrita e da leitura, prática essa o objetivo da aula de português.


Prof. José Ronaldo

19.2.08

Viva Fidel!

Afasta-se o mito. O homem sobreviverá por quanto tempo ainda?
Fidel, Che, Camilo, Raúl e tantos outros heróis e heroínas da Revolução Cubana povoaram meu imaginário, meus sonhos e desejos de um mundo menos desigual.
Não sou daqueles que santifica ou glorifica Cuba, afinal ela é produto das batalhas de homens e mulheres e assim sendo contém erros e acertos.
Penso que mais acertos do que erros. Basta caminhar por Havana e conversar com o povo.
Estive em Cuba em 1997, estagiando na área de educação e tentando conhecer um pouco daquela realidade.
Caminhei livremente pelas ruas, sem policiais a me perseguir ou espionar meus amigos cubanos.
Um desses amigos disse-me um dia: “o povo cubano não passa necessidades, mas não pode suprir todos os seus desejos e desejos são, quase sempre, legítimos para os seres humanos”.
Falamos livremente sobre tudo: futebol, beisebol, religião, política e geografia.
Ouvi muitas piadas sobre Fidel e, confesso, adaptei algumas para usar contra o FHC.
Entrei nas escolas. Vi o que eles fizeram no seu sistema educacional.
Visitei Policlínicas e a Vila Pan-Americana.
Quando voltei, chorei muito.
Perguntava-me, e pergunto-me até hoje, como é que o nosso país, incomparavelmente mais rico do que a Ilha, não resolveu ainda os problemas básicos da população, como educação e saúde?
Claro que sabemos, todos nós, a resposta.
Fidel liderou uma revolução. De um punhado de homens e mulheres em Sierra Maestra até o poder. Ele e Ernesto Che Guevara encarnaram essa Revolução como poucos!
Enfrentou, de pé, apesar das 638 vezes que os EUA tentaram matá-lo, o grande irmão do Norte sem dobrar os joelhos ou a consciência.
O fim da URSS foi um duro golpe e muitos apostaram no fim da Revolução.
Algumas rotas foram alteradas e ela se manteve. Voltou-se para o turismo e abriu-se para o mundo.
Cuba jamais voltará a ser o que era antes da Revolução. Os estadunidenses não conseguirão produzir outro Fulgêncio Batista, mesmo que lustrado no MIT.
Qual o socialismo persistirá? Não sei.
Raúl será o provável sucessor. Não por se irmão de Fidel, mas ter combatido a luta revolucionária e ter participado de todos os momentos da construção da Cuba socialista, treinando e preparando uma das mais eficientes forças armadas da América.
O povo cubano tem treinamento militar no fim da escola básica. Os CDR – Comitê de Defesa da Revolução – possuem armas. Já imaginaram o povo brasileiro com treinamento militar e armas ao alcance das mãos?
Fidel é amado pela maioria do seu povo. A revolução é amada pela maioria do povo cubano.
O povo cubano saberá conservá-la, consertá-la e seguir adiante, sem a intromissão dos abutres do Norte ou de qualquer outro canto.
Eu o admiro, sem ignorar aquilo que considero seus erros.
Viva Fidel!

Fidel Castro renunciou

O FUTURO DE CUBA

Não haverá um substituto para Fidel

Não pode haver um substituto para Fidel. Não apenas por suas qualidades como líder, mas porque as circunstâncias históricas nunca serão as mesmas. Fidel presenciou tudo desde a revolução cubana até a queda da União Soviética, e décadas de confronto com os EUA. A análise é de Ignácio Ramonet.

Ignácio Ramonet*

A longa e extraordinária carreira política de Fidel Castro chegou ao fim - pelo menos no que se refere à presidência. Mas sua enorme influência irá continuar viva. Suas colunas regulares para o Granma, o jornal do Estado - para onde ele continuou escrevendo durante sua doença - irá continuar. Apenas agora, a assinatura será alterada - ao invés das reflexões do comandante chefe, agora será velho camarada Fidel. Os cubanos e observadores internacionais em geral continuarão lendo.
Não pode haver um substituto para Fidel. Não apenas por suas qualidades como líder, mas porque as circunstâncias históricas nunca serão as mesmas. Fidel presenciou tudo desde a revolução cubana até a queda da União Soviética, e décadas de confronto com os Estados Unidos. O fato dele se afastar em vida irá ajudar a assegurar uma transição em paz. O povo cubano agora aceita que o país ainda pode ser conduzido no mesmo caminho, mas por um time diferente. Há um ano e meio, eles estão se acostumando com a idéia, enquanto Fidel permaneceu teoricamente como presidente. Como sempre, Fidel era o mentor.
A coisa mais surpreendente que eu achei sobre esse homem, em mais de cem horas que passamos juntos em conversas para a compilação de sua memória, foi o quanto ele era modesto, humano, discreto e respeitoso. Ele tem uma enorme moral e senso ético. Ele é um homem de princípios rigorosos e existência sóbria. Ele também é – eu descobri – apaixonado pelo meio ambiente.
Ele não é nem o homem que a mídia ocidental pinta nem o super-homem que a imprensa cubana às vezes apresenta. Ele é um homem normal, ainda que um homem incrivelmente batalhador. É um estrategista exemplar, que conduziu sua vida com permanente resistência. Ele contém uma curiosa mistura de idealismo e pragmatismo: ele sonha com uma sociedade perfeita, mas sabe que as condições materiais são muito difíceis de serem transformadas.
Ele deixa seu gabinete confiante que o sistema político de Cuba está estável. Sua preocupação atual não é mais sobre o socialismo no seu país do que a qualidade de vida ao redor do mundo, onde muitas crianças são iletradas, famintas e sofrendo de doenças que poderiam ser facilmente curáveis.
Ele também pensa que seu país deve ter boas relações com todas as nações, independente de seus regimes ou orientações políticas. Agora ele está passando a responsabilidade para um time que já foi testado e no qual tem confiança. Isso não irá trazer mudanças espetaculares. Muitos dos próprios cubanos – mesmo aqueles que criticam aspectos do regime – não desejam mudanças. Eles não querem perder as vantagens que foram conquistadas, a educação gratuita até a universidade, o acesso gratuito e universal à saúde, ou o fato de que há segurança e paz, num país onde a vida é calma.

Relações com os EUA
E enquanto Fidel Castro atua em tempo integral como colunista, então, a principal tarefa de seus herdeiros políticos será a forma de enfrentar o desafio perpétuo de Cuba: as relações com os Estados Unidos. Nós devemos esperar para ver se vão ocorrer mudanças. Por duas vezes, Raul Castro anunciou que está preparado para dialogar com Washington sobre os problemas entre os dois países.
E os próprios Estados Unidos podem ter uma mudança em sua política. O democrata Barack Obama já sinalizou, por exemplo, desejo de interagir com países tidos como inimigos da América, como o Irã, a Venezuela ou Cuba. No entanto, uma imediata e radical mudança é improvável, embora exista razão para esperar que as eleições de novembro nos Estados Unidos provoquem ao menos no médio prazo uma atmosfera diferente dos anos Bush – uma gestão que Fidel considerou a mais perigosa dos 10 presidentes estadunidenses com quem ele teve experiência, não apenas para Cuba, mas também para o povo estadunidense e para o mundo.
A saída de Bush provavelmente conduzirá a uma reavaliação da política externa: aprendendo com as desastrosas lições do Iraque e do Oriente Médio e retornando o foco para a América Latina. Os Estados Unidos vão encontrar um cenário político transformado: pela primeira vez, Cuba tem verdadeiros amigos no governo na América Latina, sobretudo na Venezuela, mas também no Brasil, Argentina, Nicarágua e Bolívia, uma série de governos que não são particularmente pró-estadunidenses. É do interesse dos Estados Unidos redefinir suas relações com todos eles, de forma não-colonial, não-explorativa e baseada no respeito.
Ao mesmo tempo, Cuba tem desenvolvido estreita relações com países parceiros como a Alternativa Bolivariana para as Américas – uma organização política e econômica – e acordos com o Mercosul na área comercial. No quadro internacional maior, Cuba deixou de ser um caso único.
As mudanças mais visíveis que podem ocorrer no plano internacional são o fortalecimento dos laços com a América Latina. O socialismo será sem dúvida alterado, mas não nos moldes do que ocorreu na China ou no Vietnã. Cuba continuará seguindo o seu próprio caminho. O novo regime começará as mudanças no nível econômico, mas a perestroika cubana não a abrirá politicamente, não haverá eleições multipartidárias. Suas autoridades estão convencidas de que o socialismo é a correta escolha, mas o sistema deve ser sempre melhorado. E sua preocupação agora, mais do que o afastamento de Fidel, é ser unitário.
Mas em Cuba tudo é relacionado aos Estados Unidos: aquilo que é um aspecto global da política externa precisa ser compreendido. O afastamento de Fidel, antecipado há tempos, significa continuidade. Mas para a evolução dessa pequena nação histórica, a eleição de Obama poderia ser sísmica.

*Ignácio Ramonet é diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, faz parte da coordenação internacional do Fórum Social Mundial e é autor do livro Biografia a Duas Vozes, pela Editora Boitempo.

17.2.08

Recomendação de leitura

O blog Cidadania.com, do Eduardo Guimarães, está linkado aí ao lado, nos meus favoritos.
O Eduardo Guimarães está visitando Angola nestes dias e de lá faz belos relatos, que merecem ser lidos.

Os trotes pela Internet

Já escrevi sobre isso neste espaço, já li algumas coisas em jornais e revistas, mas não aprendemos.
Recentemente recebi e-mail sobre córneas sendo jogadas fora em Sorocaba, uma menina com defeito congênito que terá a doação de 5 centavos da AOL para cada e-mail que nós repassarmos aos amigos, outro de uma visitante que em 3 dias conseguiu fazer uma radiografia completa de Roraima e por aí vai.
Sugiro a todos que antes de repassarem e-mail com características tão “abrangentes”, que façam um breve pesquisa no site Quatrocantos (é só clicar aqui).

16.2.08

BBB: lixo puro!

Quando o Sílvio Santos passou a perna na Globo e lançou “Casa dos Artistas” nos moldes dos programas que campeavam naquele momento em outros países, pensei que a onda não durasse um semestre.
A Globo foi à luta e lançou o seu lastimável Big Brother. Tal programa teve apenas o mérito tornar a expressão conhecida, afinal o nome do programa é uma referência ao fabuloso “1984” de George Orwel.
A porcaria está na 8ª edição.
Algumas moças – poucas – que se prestaram as diversas traquinagens no programa passaram a fazer sucesso. Outros poucos foram aquinhoados com a gorda premiação.
E a Rede Globo ganhou rios de dinheiro, pois, pasmem todos, existem pessoas que pagam telefonemas para rifar alguém do programa, outros pagam canais a cabo para ter cenas exclusivas (?) e por aí vai.
Para aqueles que possuem os dois neurônios ligados fica claro que tudo não passa de armação. A começar pela escolha dos participantes.
Às vezes o programa se parece com um puteiro de luxo/lixo.
Ali o importante é ser “esperto”, se dar bem. Não importa como. Ética, cidadania, justiça? Isso é coisa para os trouxas que trabalham 8 horas por dia, que pegam ônibus lotados...
Quando vejo a programação da TV fico me perguntando se os nobres juízes, procuradores, deputados, senadores, o Excelentíssimo Senhor Presidente da República e as demais autoridades constituídas já leram a Constituição da República Federativa do Brasil e, principalmente, se prestaram atenção nos textos dedicados à comunicação social e em especial à Televisão.
Parece-me que a resposta é não, caso contrário algumas concessões já deveriam ter sido cassadas!

15.2.08

Livros online no site Domínio Público

Segue primorosa lista de livros do site Domínio Público. Elas podem ser lidas ou impressas. Foi-me enviada pelo amigo Marco Antônio.
14 de Julho na Roça -Raul Pompéia
A Alma do Lázaro -José de Alencar
A Alma Encantadora das Ruas -João do Rio
A Brasileira de Prazins -Camilo Castelo Branco
A Carne -Júlio Ribeiro
A Carta de Pero Vaz de Caminha -Pero Vaz de Caminha
A Carta -Pero Vaz de Caminha
A Carteira -Machado de Assis
A Cartomante -Machado de Assis
A Causa Secreta -Machado de Assis
A chave -Machado de Assis
A Chinela Turca -Machado de Assis
A Cidade e as Serras -José Maria Eça de Queirós
A Comédia dos Erros -William Shakespeare
A Dama das Camélias -Alexandre Dumas Filho
A Desejada das Gentes -Machado de Assis
A Desobediência Civil -Henry David Thoreau
A Divina Comédia -Dante Alighieri
A Ela -Machado de Assis
A Escrava Isaura -Bernardo Guimarães
A Esfinge sem Segredo -Oscar Wilde
A Herança -Machado de Assis
A Igreja do Diabo -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Mão e a Luva -Machado de Assis
A Megera Domada -William Shakespeare
A melhor das noivas -Machado de Assis
A Mensageira das Violetas -Florbela Espanca
A Metamorfose -Franz Kafka
A Moreninha -Joaquim Manuel de Macedo
A Mulher de Preto -Machado de Assis
A 'Não-me-toques'! -Artur Azevedo
A Pianista -Machado de Assis
A Relíquia -José Maria Eça de Queirós
A Segunda Vida -Machado de Assis
A Sereníssima República -Machado de Assis
A Tempestade -William Shakespeare
A Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca -William Shakespeare
A Vida Eterna -Machado de Assis
A Volta ao Mundo em 80 Dias -Júlio Verne
Adão e Eva -Machado de Assis
Amor de Perdição -Camilo Castelo Branco
Anedota Pecuniária -Machado de Assis
Antes que Cases -Machado de Assis
Antônio e Cleópatra -William Shakespeare
Arte Poética -Aristóteles
As Alegres Senhoras de Windsor -William Shakespeare
As Primaveras -Casimiro de Abreu
As Vítimas-Algozes -Joaquim Manuel de Macedo
Astúcias de Marido -Machado de Assis
Aurora sem Dia -Machado de Assis
Auto da Barca do Inferno -Gil Vicente
Camões -Joaquim Nabuco
Cancioneiro -Fernando Pessoa
Catálogo de Autores Brasileiros com a Obra em Domínio Público -Fundação Biblioteca Nacional
Conto de Inverno -William Shakespeare
Contos -José Maria Eça de Queirós
Coriolano -William Shakespeare
Divina Comedia -Dante Alighieri
Do Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
Dom Casmurro -Machado de Assis
Don Quixote -Miguel de Cervantes
Don Quixote. Vol. 1 -Miguel de Cervantes Saavedra
Édipo-Rei -Sófocles
Esaú e Jacó -Machado de Assis
Este mundo da injustiça globalizada -José Saramago
Eu -Augusto dos Anjos
Eu e Outras Poesias -Augusto dos Anjos
Fausto -Johann Wolfgang von Goethe
Ficções do interlúdio: para além do outro oceano de Coelho Pacheco. Fernando Pessoa
Helena -Machado de Assis
Iliada -Homero
Iracema -José de Alencar
Júlio César -William Shakespeare
Livro de Mágoas -Florbela Espanca
Livro do Desassossego -Fernando Pessoa
Macbeth -William Shakespeare
Medida Por Medida -William Shakespeare
Memórias Póstumas de Brás Cubas -Machado de Assis
Mensagem -Fernando Pessoa
Muito Barulho Por Nada -William Shakespeare
Noite na Taverna -Manuel Antônio Álvares de Azevedo
O Abolicionismo -Joaquim Nabuco
O Alienista -Machado de Assis
O Banqueiro Anarquista -Fernando Pessoa
O Cortiço -Aluísio de Azevedo
O Crime do Padre Amaro -José Maria Eça de Queirós
O Eu profundo e os outros Eus. -Fernando Pessoa
O Guarani -José de Alencar
O Guardador de Rebanhos -Fernando Pessoa
O Mercador de Veneza -William Shakespeare
O pastor amoroso -Fernando Pessoa
Obras Seletas -Rui Barbosa
Os Dois Cavalheiros de Verona -William Shakespeare
Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
Os Lusíadas -Luís Vaz de Camões
Os Maias -José Maria Eça de Queirós
Os Maias -José Maria Eça de Queirós
Os Sertões -Euclides da Cunha
Os Sertões -Euclides da Cunha
Otelo, O Mouro de Veneza -William Shakespeare
Pai Contra Mãe -Machado de Assis
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Álvaro de Campos -Fernando Pessoa
Poemas de Fernando Pessoa -Fernando Pessoa
Poemas de Ricardo Reis -Fernando Pessoa
Poemas em Inglês -Fernando Pessoa
Poemas Inconjuntos -Fernando Pessoa
Poemas Selecionados -Florbela Espanca
Poemas Traduzidos -Fernando Pessoa
Poesias Inéditas -Fernando Pessoa
Primeiro Fausto -Fernando Pessoa
Quincas Borba -Machado de Assis
Rei Lear -William Shakespeare
Ricardo III -William Shakespeare
Romeu e Julieta -William Shakespeare
Senhora -José de Alencar
Sonetos e Outros Poemas -Manuel Maria de Barbosa du Bocage
Sonetos -Luís Vaz de Camões
Sonho de Uma Noite de Verão -William Shakespeare
Tito Andrônico -William Shakespeare
Trabalhos de Amor Perdidos -William Shakespeare
Tudo Bem Quando Termina Bem -William Shakespeare

13.2.08

Luis Nassif desvenda o fenômeno Veja – III

Nassif continua sua saga, pronto a demonstrar de forma clara, sem deixar dúvida alguma, o tipo de jornalismo asqueroso praticado pela revista Veja.

No décimo capítulo da série sobre a Veja, relato a segunda tentativa de "assassinato de reputação" perpetrada pela revista, depois do advento da era Dantas. Desta vez o alvo foi o ex-presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal (clique aqui). Repare como a reportagem anunciou que Vidigal seria julgado pelo Conselho Nacional de Justiça. E, dias depois, de fato houve uma denúncia mas... tomando por base a própria reportagem - uma armação óbvia.

Para ter acesso aos “capítulos” é só clicar aqui.

12.2.08

Ainda os cartões corporativos

O Clóvis Rossi na Folha de S.Paulo de hoje faz uma análise terrível do caso dos cartões corporativos.
Como sempre ele baba de raiva do metalúrgico, acho que é um daqueles que não suporta a cadeira que já serviu ao bumbum intelectual como o de FHC, servir agora a um bumbum menos lustrado na erudição.
Ele diz, repetindo o artigo de um especialista publicado na própria Folha, que o “Estado brasileiro está fora de controle”.
Tal afirmação é uma insensatez.
Primeiro porque as descobertas da mídia – com relação aos ditos cartões – foram feitas graças ao Portal Transparência, mantido e alimentado pelo próprio governo.
Depois porque os gastos são fiscalizados pela Controladoria Geral da União, que vem fazendo um bom trabalho na área e também pelo TCU, este último sem nenhum vínculo com o executivo.
E, claro, ele só vê o descontrole na máquina federal!
O direcionamento partidário das colunas de Clóvis Rossi é tão nítido que não resiste a uma simples análise processada pelo “tico e teco”, só mesmo quem não os possui em perfeito funcionamento para ainda levá-lo a sério.
Em tempo: não coloco mais links de jornais e revistas pagos, como é o caso do “Folhão”.

10.2.08

Eleições nos EUA

O blog Individualismo, linkado ao lado, do camarada Roy Frenkiel, está apresentando uma cobertura muito interessante sobre as eleições na sede do império.
Compensa uma olhada diária para ver as marchas e contramarchas do processo.

A Guerra Fria cultural e FHC

Recebi do amigo Marco Antônio o texto que reproduzo abaixo.
O livro “Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura” pode ser encontrado aqui. Já o “Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível” aqui.
Penso que seja interessante conferir nas obras dessas pesquisadoras, esclarecem um período interessante da história do Brasil e de algumas personalidades quase que endeusadas por estas bandas.
Boa leitura!


Dinheiro da CIA para FHC

Sebastião Nery

"Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap".
Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O "inverno do ano de 1969" era fevereiro de 69.

Fundação Ford
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.

Agente da CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma "personalidade internacional" e passou a dar "aulas" e fazer "conferências" em universidades norte-americanas e européias.
Era "um homem da Fundação Ford". E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.

Quem pagou
Acaba de chegar às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem "pagava a conta" era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
"Consistente e fascinante" ("The Washington Post"). "Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA" ("Spectator"). "Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente" ("The Times").

Milhões de dólares
1 - "A Fundação Farfield era uma fundação da CIA... As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos... permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas" (pág. 153).
2 - "O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça..." (pág. 152). "A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria" (pág. 443).
3 - "A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares... Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos... com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos" (pág. 147).

FHC facinho
4 - "Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).
5 - "Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritórios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil" (pág. 119).
6 - "A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana" (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho.

Fonte: Tribuna da Imprensa Online – 09 e 10/01/08.

8.2.08

Luis Nassif desvenda o fenômeno Veja – II

O jornalista Luis Nassif continua sistematizando as denúncias contra o jornalismo praticado pela Revista Veja.
Clique aqui e tenha acesso aos primeiros capítulos desta saga, vale a pena ler com muita atenção!
Neste arquivo você encontrará:

Os momentos de catarse e a mídia
A mudança de comando
A guerra das cervejas
O caso André Esteves
O caso COC
Primeiros ataques a Dantas
Assassinatos de reputação

Caso queira acessar o blog Luis Nassif Online é só clicar aqui.

Os cartões corporativos

Novamente a mídia presta um desserviço à política ao trombetear a “farra dos cartões corporativos”.
Melhor seria se ela investigasse os desmandos, ilegalidades e ilegitimidades em todas as esferas do governo: executivo, legislativo e judiciário, bem como em todas as instâncias de governo: federal, estadual e municipal.
Acontece hoje algo semelhante ao “mensalão”. Poderia a imprensa ter, naquele momento, aprofundado a questão e realizado uma grande devasse nos caixas de campanha, escancarando as ilegalidades do sistema operado sabe-se lá desde quando.
Não fez isso. Embarcou numa ação partidária tentando legitimar o impeachment de Lula, deu com os burros n’água!
Novamente repete o erro.
Ao partidarizar a questão elimina a discussão política com “P” maiúsculo e novamente lança tudo o que pode contra o governo, talvez objetivando favorecer os seus candidatos – sim a grande mídia os tem as pencas – nas eleições municipais.
Ignora os problemas nos estados e municípios e quando os mostra, como faz a Folha de S.Paulo de ontem e hoje, só falta pedir desculpa para o seu candidato, no caso do Folhão é o José Serra.
Bem faz a OAB, que pede que todas as suas seccionais dediquem tempo e pesquisa aos cartões estaduais e gastos feitos de maneira semelhante. O pior: os estados não dispõem de um portal de transparência, como o governo federal, o que torna a missão muito mais difícil (clique aqui para acessar o Portal Transparência).
Graças ao Portal Transparência que a imprensa fez todo esse alvoroço, mas de modo classificatório.
Pegaram um ministro comprando tapioca, mas não pegaram o motorista do ex-presidente FHC abastecendo o automóvel 4 vezes no mesmo posto e no mesmo dia. Clique aqui para ver a “prova”, ou procure no Portal pelo nome do servidor.
Leia aqui o que o Blog Onipresente tem a dizer sobre o tema.
Já o Paulo Henrique Amorim, no site Conversa Afiada (clique no título para ter acesso à matéria), dedicou-se a noticiar os gastos, semelhantes aos do governo federal, do governador José Serra. A pressão de PHA deu certo e a Folha de S.Paulo teve que noticiar e tratar do tema também.
Então ficamos combinados: nada de errado com o uso de cartões corporativos e tudo de errado com as despesas ilegais, sejam elas realizadas com cartão corporativo, licitação fraudulenta ou outros meios ilícitos.

6.2.08

Eleições na sede do Império

O UOL apresenta um placar das primárias nos EUA. Clique aqui e acompanhe os resultados de democratas e republicanos estado por estado.

5.2.08

Fúria do Opus Dei na América Latina

Altamiro Borges

O jurista Ives Gandra da Silva Martins, principal expoente da seita fascista Opus Dei no Brasil, está preocupado com o avanço das esquerdas na América Latina. Num artigo raivoso na coluna Tendências/Debates da Folha de S.Paulo, ele destilou ódio e preconceito contra Hugo Chávez, Evo Morales, Fidel Castro e Lula. Ele aproveitou também para criticar a “falta de preparo” de governantes pelo mundo a fora e para oferecer seus cursinhos às novas gerações de dirigentes políticos. “Neste mundo atormentado por falsas lideranças e fantástica mediocridade, creio que valeria a pena a idéia, que propus em meu livro, de uma ‘escola de governo’... financiada pelos governos”. No meio do arrazoado direitista, um merchandising para os seus lucrativos negócios!
Na sua ótica elitista, “colhe o mundo, atualmente, uma notável safra de pseudolíderes, populistas e despreparados, que conduzem nações mais ou menos desenvolvidas exclusivamente baseados no poder de comunicação com o povo, principalmente com a parcela menos favorecida”. Nesta safra, segundo o líder da seita, estariam incluídos “o histriônico presidente venezuelano – capaz de criar desnecessárias resistências por ser incapaz de controlar seus repentes e ofensas –, que transforma o narcotráfico colombiano e sua indústria de seqüestros em ‘idealística’ guerrilha... O mesmo se pode dizer de Morales, que também pretende se perpetuar no poder e que começa, com sua enciclopédica e truculenta ignorância, a dividir a nação”.

A influência da seita fascista
Após criticar o presidente Lula por elevar impostos que atingem principalmente os bancos, Ives Gandra encerra a safra latino-americana com mais uma esquizofrenia fascistóide. “É de lembrar que os três presidentes são amigos de um ditador que fuzilou, sem julgamento – os homicídios perpetrados nos famosos ‘paredóns’ –, muito mais pessoas que Pinochet”. Além de mentir sobre a realidade dos direitos humanos em Cuba, ele não consegue esconder a sua simpatia pelo regime ditatorial do Chile, que sempre teve o ativo apoio do Opus Dei. Até quando critica a “desastrada presidência de George W. Bush”, Ives Gandra alerta para “o risco do voto num outro populista despreparado para conduzir seus destinos” – talvez numa referência doentia a Barack Obama.
As idéias direitistas e preconceituosas do Opus Dei já são conhecidas, mas é bom não subestimar a influência desta seita mundial – que goza de espaços na mídia burguesa e tem forte presença no aparato estatal. Seu interesse pela América Latina também não é novo e paira sempre ameaçador. Desde a sua chegada ao continente, nos anos 50, o Opus Dei planeja ardilosamente sua ascensão ao poder. O projeto só ganhou ímpeto com a onda de golpes militares na região a partir dos anos 60. Seus seguidores presidiram várias nações ou assessoraram inúmeros ditadores. Nos anos 90, com a avalanche neoliberal, os tecnocratas fiéis a esta seita voltaram a gozar de certo prestígio.

“Catequese” na América Latina
Nos anos 50, a seita aliciou seus primeiros fiéis entre as velhas oligarquias que procuravam se diferenciar dos povos indígenas e pregavam o fundamentalismo religioso. Mas o Opus Dei só adquiriu maior pujança com a onda de golpes a partir dos anos 60. Até então, a sua ação ainda era dispersa. Segundo excelente artigo de Marina Amaral na revista Caros Amigos, “em 1970, Josemaría Escrivá [fundador da seita na Espanha] viajou para o México dando início às ‘viagens de catequese’ pelas Américas que duraram até as vésperas de sua morte em Roma, em 1975”.
Em 1974, visitou a América do Sul, então dominada por ditaduras. “O clero progressista tentava usar o peso da Igreja para denunciar torturas e assassinatos e para lutar pelo restabelecimento da democracia. Em suas palestras, ele respondeu certa vez a um militar que perguntara como seguir o caminho da ‘santificação espiritual’ do Opus Dei: ‘Os militares já têm metade do caminho espiritual feito’”. Neste período sombrio, a seita apoiou os golpes e participou de vários governos ditatoriais, segundo Emílio Corbière, autor do livro “Opus Dei: El totalitarismo católico”.
No Chile, a seita fascista foi para o ditador Augusto Pinochet o que fora para Augusto Franco na Espanha. O principal ideólogo deste regime sanguinário, Jaime Guzmá, era um membro ativo da seita, assim como centenas de quadros civis e militares. Ela ainda apoiou os golpes e participou dos regimes autoritários na Argentina, Paraguai e Uruguai. Segundo Corbière, ela financiou o regime do ditador nicaragüense Anastácio Somoza até sua derrota para os sandinistas. Na década de 90, ainda deu “ativa assistência” à ditadura terrorista e corrupta de Alberto Fujimori, no Peru.

O fundamentalismo neoliberal
Outra fase “próspera” se dá com a ofensiva neoliberal nos anos 90. Gozando da simpatia do papa e de autonomia frente às igrejas locais, ela se beneficia da invasão de multinacionais espanholas, fruto da privatização das estatais. Muitas delas são influenciadas por numerários do Opus Dei. Segundo Henrique Magalhães, em artigo na revista A Nova Democracia, “a Argentina entregou as suas estatais de telefonia, petróleo, aviação e energia à Telefônica, Repsol, Ibéria e Endesa. A Ibéria já havia engolido a LAN [aviação], do Chile, onde a geração de energia já era controlada pela Endesa. Os bancos espanhóis também chegaram ao continente neste processo”.
“O Opus Dei é para o modelo neoliberal o que foram os dominicanos e os franciscanos para as cruzadas e os jesuítas para a Reforma de Lutero”, compara José Steinsleger, colunista do jornal mexicano La Jornada. Nos anos 90, a seita também emplacou vários bispos e cardeais na região. O mais famoso foi Juan Cipriani, do Peru, amigo intimo do ditador Alberto Fujimori. Em 1997, quando da invasão da embaixada do Japão por militantes do Movimento Revolucionário Tupac Amaru, o bispo se valeu da condição de mediador e usou um aparelho de escuta no crucifixo, o que permitiu à polícia invadir a casa e matar todos seus ocupantes.

Os tentáculos no Brasil
No Brasil, o Opus Dei fincou a sua raiz em 1957, na cidade de Marília, no interior paulista, com a fundação de dois centros. Em 1961, dada à importância da filial, a seita deslocou o numerário espanhol Xavier Ayala, o segundo na hierarquia. “Doutor Xavier, como gostava de ser chamado, embora fosse padre, pisou em solo brasileiro com a missão de fortalecer a ala conservadora da Igreja. Às vésperas do Concílio Vaticano II, o clero progressista da América Latina clamava pelo retorno às origens revolucionárias do cristianismo e à ‘opção pelos pobres’, fundamentos da Teologia da Libertação”, explica Marina Amaral.
Ainda segundo a reportagem, “aos poucos, o Opus Dei foi encontrando os seus aliados na direita universitária. Entre os primeiros estavam dois jovens promissores: Ives Gandra e Carlos Alberto Di Franco, o primeiro simpático ao monarquismo e candidato derrotado a deputado; o segundo, um secundarista do Colégio Rio Branco, dos rotarianos do Brasil. Ives começou a freqüentar as reuniões do Opus Dei em 1963; Di Franco ‘apitou’ (pediu para entrar) em 1965. Hoje, a organização diz ter no país pouco mais de três mil membros e cerca de quarenta centros, onde moram aproximadamente seiscentos numerários”.

Crescimento na ditadura
Durante a ditadura, a seita também concentrou sua atuação no meio jurídico, o que rende frutos até hoje. O promotor aposentado e ex-deputado Hélio Bicudo revela ter sido assediado duas vezes por juízes fiéis à organização. O expoente nesta fase foi José Geraldo Rodrigues Alckmin, nomeado ministro do STF pelo ditador Garrastazu Médici em 1972, e tio do candidato tucano a presidência em 2006. Até os anos 70, porém, o poder do Opus Dei era embrionário. Ele tinha quadros em posições importantes, mas sem uma atuação coordenada. Além disso, dividia com a Tradição, Família e Propriedade (TFP) as simpatias dos católicos de extrema direita.
Seu crescimento dependeu da benção dos generais e dos vínculos com poderosas empresas. Ives Gandra e Di Franco viraram os seus “embaixadores”, relacionando-se com os donos da mídia, políticos de direita, bispos e empresários. É desta fase a construção da sua estrutura de fachada – Colégio Catamarã (SP), Casa do Moinho (Cotia) e Editora Quadrante. Ela também criou uma ONG para arrecadar fundos: OSUC (Obras Sociais, Universitárias e Culturais). Esta recebe até hoje doações do Itaú, Bradesco, GM e Citigroup. Diante desta denúncia, Lizandro Carmona, da OSUC, implorou à jornalista Marina Amaral: “Pelo amor de Deus, não vá escrever que empresas como o Itaú doam dinheiro ao Opus Dei”.

Ofensiva recente na região
Na fase recente, o Opus Dei fixou planos mais ousados para conquistar poder político na região. Em abril de 2002, participou ativamente do frustrado golpe contra o presidente Hugo Chávez, na Venezuela. Um dos seus fiéis, José Rodrigues Iturbe, virou ministro das Relações Exteriores do fugaz governo golpista. A embaixada da Espanha, governada na época pelo franquista Partido Popular (PP), de José Maria Aznar – cuja esposa é do Opus Dei –, deu guarita aos seus fiéis. Outro golpista ligado à seita, Gustavo Cisneiros, é o maior empresário das comunicações no país.
Em dezembro de 2006, a seita assistiu a derrota do seu candidato, Joaquim Laví, ex-assessor do ditador Augusto Pinochet, à presidência do Chile. Já em maio de 2006, colheu nova derrota com a candidatura de Lourdes Flores, numerária do partido Unidade Nacional. Em compensação, ela festejou a vitória do narcoterrorista Álvaro Uribe na Colômbia, que dispôs de milhões de dólares do governo George Bush. Já no México, outro conhecido fiel do Opus Dei, Felipe Calderon, ex-executivo da Coca-Cola, venceu uma das eleições mais fraudulentas da história deste país.
A sua jogada mais ousada, porém, foi a tentativa de eleição de um seguidor no Brasil. Segundo Henrique Magalhães, “as esperança do Opus Dei se voltaram para Geraldo Alckmin, que hoje é um de seus quadros políticos de maior destaque. A Obra tentou fazer dele presidente para formar um eixo geopolítico com os governantes da Colômbia e do México”. A mídia e os tucanos até tentaram esconder esta sombria ligação. Numa sabatina à Folha de S.Paulo, Alckmin garantiu: “Não sou da Opus Dei; respeito quem é, mas não conheço”. Mentiu ao esconder suas estreitas relações com a seita fascista – desde seus tempos de infância, no convívio com seu pai e o tio-ministro do STF da ditadura, até às ilícitas “palestras do Morumbi”. Mas o povo não se deixou enganar. Isto explica as recentes lamúrias elitistas de Ives Gandra, o chefão do Opus Dei.

Altamiro Borges é jornalista, membro do Comitê Central do PCdoB e autor do livro “As encruzilhadas do sindicalismo” (Editora Anita Garibaldi, 2ª edição).

Texto copiado da revista Nova-e.

2.2.08

Às vezes tenho vergonha do meu país

O Brasil é um país maravilhoso, com um povo de brios, batalhador, que dá conta de sua vida como se operasse milagres diariamente.
Infelizmente temos vícios, construídos historicamente, que nos envergonham!
A matéria do excelente jornalista da Caros Amigos, João de Barros, que reproduzo abaixo é ilustrativa disso, assim como o trabalho escravo nos latifúndios Brasil adentro ou o trabalho infantil.
E ainda tem gente que estuda, à custa do dinheiro público, para dizer que a culpa da escravidão era dos escravos...


A lei e a lei do cão
por João de Barros

Valdinei de Souza Silva, o Nei da Silva, é preto e pobre. Aos 31 anos, é um dos ativistas sociais mais conhecidos na cidade do Embu, na Grande São Paulo. Escultor, poeta, professor de música, ator de teatro, coordenador da Primeira Semana Lítero-Cultural da cidade, militante do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), sempre lutou por igualdade étnica e social. Entre seus trabalhos voluntários, ele leva em conta o Índice de Vulnerabilidade Juvenil (IVJ) das comunidades mais carentes, mais propensas ao tráfico de drogas. No dia 12 de setembro passado, Nei estava de bicicleta – procurava gente para o seu grupo de teatro –, numa entrada da favela São Marcos e deu com dois rapazes, negros como ele, e começou a conversar. Entusiasmado, convidava os jovens para participar de uma peça que seria encenada dali a seis meses.
“Cadeia é um bagulho muito louco e, pior, se o Choque entrar vai sobrar pra todo mundo”
Então, surgem os policiais militares William Ricardo Pereira e Cláudio Antônio de Moraes, a pé, apontando armas e gritando: “Mão na parede! É polícia!” Nei sabia como são as batidas policiais. Reclamou da abordagem, mas afinal aceitou levar mais uma revista geral. Os policiais encontraram, dentro de uma sacola de supermercado que estava com o adolescente EAS, cem pedras de crack, vinte papelotes de cocaína, 51 porções de maconha e 312 reais em notas de pequeno valor. O menor confirmou ser dele a droga e que Nei e o menor MVO nada tinham a ver com a história. “Os três vão pro distrito”, sentenciou um policial. Nei tentou argumentar. Não tinha passagens pela polícia. Não conhecia os rapazes; arregimentava-os para levar ao teatro. Nunca mexera com drogas, portanto não era traficante, como diziam os policiais. Era um artista, que se dedicara à criação de uma casa de cultura, da biblioteca na favela do Inferninho. “Artista? Você é um negro fuleiro, corruptor de menores, um bandido filho da puta”, respondia o soldado William, também ele um negro. No Brasil, há muito tempo as PMs aboliram o princípio do direito da presunção de inocência. Todos acham que o tráfico de drogas usa os menores, para livrar a cara do adulto. Esse caso, para eles, era típico.
Preso número 494773-5
Na delegacia, os policiais contaram a seguinte versão: eles receberam “a informação do tráfico de drogas no local e depararam com Valdinei e os menores vendendo os entorpecentes, evidenciando-se considerável grau de organização e eficiente divisão de tarefas – com Valdinei fazendo a vigilância na extremidade da viela e o EAS menor revendendo as drogas”. Tratava-se, pois, de um crime hediondo, sem os benefícios da progressão de pena e reclusão de cinco a doze anos em regime fechado. O delegado Higino Grizio mandou então lavrar o boletim de ocorrência com o que lhe foi relatado. Ao ouvir as alegações de Nei, não quis saber de conversa. “Se você disser mais uma vez que o barato não é seu, eu lhe quebro na pancada”, ameaçou. E Nei foi levado para o Centro de Detenção Provisório (CDP) de Itapecerica da Serra, na tarde de 13 de setembro. Era o preso 494773-5.
Quando soube da prisão do marido, Ivanete Ferreira Barbosa, 40 anos, grávida do terceiro filho de Nei, que nascerá neste mês, ficou “em estado de choque, anestesiada, sem saber o que fazer”. Depois foi à luta. Inscreveu-se para as visitas dominicais no CDP e tratou de espalhar a notícia na cidade. Todos os que ouviam a história se solidarizavam com Nei. Jornais da região denunciavam o preconceito. Um abaixo-assinado, revelando a violência, teve mais de duzentas assinaturas. Os artistas do Embu – entre os quais Raquel Trindade, Wanderley Ciuffi, Tônia do Embu e Luiza Caetano – organizavam rifas para vender as obras por eles doadas para bancar um advogado.
“Às vezes eu pensava se eu não tinha evoluído e virado um gigantesco inseto, como o personagem do livro Metamorfose, de Franz Kafka. E desatava num choro incontrolado ao pensar na mulher, nos filhos. Porque é duro ficar na prisão sem culpa e ter de esperar ser julgado por um barato que você não fez"
Depois de uma semana trancafiado num lugar abafado, úmido, sujo e cheio de percevejos, onde se perde a noção do tempo porque mal se vê a claridade do dia, Nei foi para a cela 4, do raio 1 do presídio. Lá, viveu com até quarenta presos numa cela com capacidade para doze. “O Estado trata o preso como um aglomerado de bichos”, diz. Há presos que dormem no chão. A comida é ruim para todos. “Cadeia é um bagulho muito louco e, pior, se o Choque entrar vai sobrar pra todo mundo”, ensinaram-lhe. Por isso, não havia violência nem agressão verbal. Vigoravam o respeito, a disciplina de um com o outro, a paz forçada.
Na primeira visita que fez ao CDP, Ivanete viu que o que ela ouvia falar é, na verdade, muito pior. “Os funcionários são treinados para tratar a todos como joão-ninguém. A revista é o pior momento: você fica nua e faz três flexões de frente e de costas para as moças verem que não há nada escondido na vagina e no ânus. Depois há a passagem por várias portas de aço, quando vasculham suas coisas, furam a comida que você leva. Enfim, você entra numa cela apertada e fedorenta. Assim é o sistema carcerário.” Quando voltava ao barraco onde mora, no Jardim Idemori, em Itapecerica da Serra, ela levava um temor: o medo de uma rebelião. “Lá é um estopim. Meu medo era esse, de ele estar inocente naquele lugar e acontecer alguma coisa lá dentro.”
Cárcere de um inocente
Durante os 96 dias que ficou no CDP, Nei foi se familiarizando com o novo ambiente. Quando as trancas se abriam, ele encontrava cerca de 240 presos no pátio. Olhava para cima e via uma imensa grade. Sob os pés, cerca de 2 metros de concreto, que recobriam as mantas de aço. Ao redor do pátio, muros altíssimos, de uns 50 centímetros de espessura, igualmente permeados de telas de aço. Podia ver, ao longe, o portão de saída, numa muralha de ferros e cadeados. Pela lei, teria de ser julgado em 81 dias, portanto no dia 8 de dezembro. “Às vezes eu pensava se eu não tinha evoluído e virado um gigantesco inseto, como o personagem do livro Metamorfose, de Franz Kafka. E desatava num choro incontrolado ao pensar na mulher, nos filhos. Porque é duro ficar na prisão sem culpa e ter de esperar ser julgado por um barato que você não fez", conta Nei.
Para vencer o tédio e a revolta que sentia, passou a “ler feito um doido”. Lia os Pensamentos, de Che, Arte da Guerra, de Sun Tzu, Guerra de Guerrilhas, de Fernando Portela, obras de Graciliano Ramos, Machado de Assis, Castro Alves, Augusto dos Anjos, além de viajar na República, de Platão, com dois amigos recentes. “A gente fazia a relação entre o mito da caverna e a cadeia. Víamos uma réstia de luz que vinha de fora. Aí, imaginávamos todos nós de costas para a entrada da prisão, de onde eram projetadas sombras de outras pessoas que, adiante do muro, mantinham uma fogueira acesa. Os presos então julgavam ser uma realidade essas sombras. Contudo, um deles foge, e descobre que elas são feitas por homens como eles, assim como todo o mundo e a natureza.”
O julgamento foi marcado para 18 de dezembro. Ele foi ouvido e mandado de volta ao CDP. Já anoitecia quando perguntaram pelo preso 494773-5. “Ih, caramba, o que vão inventar agora? Será que vão forjar mais crimes contra mim”, pensou. A notícia era outra: o juiz Ítalo Fernandes concedera-lhe liberdade provisória, depois de ouvir o advogado de defesa, Tadeu Galeti, desmontar a farsa dos policiais. Agora, até o Ministério Público pede a absolvição de Nei por “falta de provas”.
No entanto, a liberdade que lhe deram transformou-o num meio cidadão. Não pode sair de casa depois das 10 horas da noite nem antes de 8 da manhã. Se precisar viajar, tem de pedir uma autorização ao juiz. Mal pode andar pelos becos onde caminhava, por temer nova prisão. Nem retomar o seu cotidiano. Para ele, filho de um índio mineiro da tribo maxacali, nômade por natureza, “ser quase livre é ser quase morto”. E resume assim a sua chaga: “A polícia vê no negro, no favelado e na periferia o perigo. Isso caracteriza uma sociedade deformada, uma anomalia social. Nós, os pobres, trabalhamos para construir a riqueza da nação e somos, ao mesmo tempo, vistos como uma ameaça”.
Enfim a sentença...
No último 25 de janeiro, aniversário de 454 anos de São Paulo, Nei foi absolvido pela Juíza de Direito do Embu, Denise Cavalcante Fortes Martins. Leia o trecho da decisão:
"Os elementos indiciários não se prestam à formação da convicção acerca da materialidade e autoria do crime imputado ao réu. Ante o exposto, e tudo mais que dos autos consta, com fundamento no artigo 386, inciso IV, do Código de Processo Penal, JULGO IMPROCEDENTE a ação e ABSOLVO o réu VALDINEI SOUZA SILVA, em relação à pratica do ato delitivo previsto no artigo 33 "caput" e artigo 35, combinados com o artigo 40, todos da Lei 11.343/06 por não existir nos autos indícios suficientes da autoria delitiva.
Transitada em julgado, procedam as anotações e comunicações necessárias. Publique-se, registre-se e intime-se.
Embu, 25 de janeiro de 2008."

João de Barros é jornalista.
Fonte: Caros Amigos – Só no site.