31.3.08

Acorda Amor

(Julinho de Adelaide / Leonel Paiva - 1974)
Intérprete: Chico Buarque
Acorda amor
Eu tive um pesadelo agora
Sonhei que tinha gente lá fora
Batendo no portão, que aflição
Era a dura, numa muito escura viaturaminha nossa santa criatura
chame, chame, chame, chame o ladrão
Acorda amor
Não é mais pesadelo nada
Tem gente já no vão da escada
fazendo confusão, que aflição
São os homens, e eu aqui parado de pijama
eu não gosto de passar vexame
chame, chame, chame, chame o ladrão
Se eu demorar uns meses convém às vezes você sofrer
Mas depois de um ano eu não vindo
Ponha roupa de domingo e pode me esquecer
Acorda amorque o bicho é bravo e não sossega
se você corre o bicho pegase fica não sei não
Atenção, não demora
dia desses chega sua hora
não discuta à toa, não reclame
chame, clame, clame, chame o ladrão
______________________________________________________________
Histórico: Após as canções “Cálice” e “Apesar de Você” terem sido censuradas pelo sistema repressivo, Chico Buarque achou que seria mais difícil conseguir aprovar alguma música sua pelos agentes da censura. Escreveu então “Acorda Amor” com o pseudônimo de Julinho de Adelaide para driblar a censura. Como ele esperava, a música passou. Julinho ainda escreveria mais 2 músicas antes de uma reportagem especial do Jornal do Brasil sobre censura, que denunciou o personagem de Chico. Após esta revelação, os censores passaram a exigir que as músicas enviadas para aprovação deveriam ser acompanhadas de documentos dos compositores.
Acorda Amor é um retrato fiel aos fatos ocorridos no período que teve seu ápice entre 1968 (logo após a decretação do AI-05) e 1976 quando, teoricamente, a tortura já não era mais praticada pelos militares. Diversas pessoas sumiram durante este período após terem sido arrancadas de suas casas a qualquer hora do dia ou da noite, e levadas para DOPS e DOI-CODI´s espalhados pelo Brasil. A falta de confiança era tão grande que as pessoas tinham mais medo dos policiais (que seqüestravam, torturavam, matavam e, muitas vezes sumiam com corpos) do que de ladrões. A ironia do compositor é tão grande que, quando os agentes da repressão chegam a casa chamam-se os ladrões para que sejam socorridos.

Fonte: http://ditaduranobrasil.wordpress.com/

Essa eu copiei do Desabafo País

Ditadura Militar

Embora o ano de 2004 tenha sido pródigo em eventos relacionados ao golpe militar de 1964 tal episódio parece fadado a desaparecer da nossa história.
Tendo implantado uma feroz ditadura militar que perdurou até 1985, pelo menos, tal golpe não consta dos programas oficiais de história do ensino básico e, de forma assustadora, não se faz presente na memória da juventude, mesmo na semana da data maldita.
A revista CartaCapital que chegou às bancas nesta semana – Uma história fuzilada, nº. 438 de 4/4/07, páginas 22 a 28 – trouxe uma importante denúncia: os documentos dos “serviços de inteligência” militares – os órgãos que mais torturaram e mataram durante o período ditatorial – foram destruídos! Nas outras três grandes revistas semanais temos o mais completo silêncio!
Como podemos pensar nossa história recente se aquilo que foi escrito sobre ela está nas mãos de imbecis, com farda é verdade, que não querem que a sociedade saiba de suas atrocidades?
Por outro lado, parece-me que os programas de ensino de história estão compactuando com esse crime contra o país. Como os jovens poderão conhecer o Brasil se fatos marcantes e recentes de nossa história são atirados na lata do lixo?
Às vezes tenho a impressão de que tudo que sei, além do pouco que vivi da Ditadura Militar no Brasil não existiu, é tudo fruto da minha imaginação e da de mais alguns tresloucados!
Poderia ficar aqui por páginas e páginas a falar das atrocidades que os milicos cometeram, da sua covardia na tortura, nos desaparecimentos, mas prefiro indicar algumas leituras para auxiliar aqueles que não conhecem essa mancha da nossa história recente.
Com ótimos textos e fac-símiles de documentos de época o site da FGV-CPDOC é indispensável! Clique aqui e leia com atenção! Outro site interessante é Mortos e Desaparecidos Políticos (clique aqui para acessá-lo). Nele você encontrará os relatos das atrocidades da ditadura com os nomes das vítimas, além de matérias atuais sobre o tema. Compensa também uma olhada no site oficial do jornalista, agora ministro do governo Lula, Franklin Martins (clique aqui).
A Agência Carta Maior também dedica uma parte de seu portal para tratar da ditadura militar no Brasil e notícias correlatas. Clique aqui para acessar a página.
O cinema também escolheu o tema nestes últimos anos, embora sem grande sucesso de público. Filmes como Cabra-cega, Zuzu Angel, O ano em que meus pais saíram de férias, Quase dois irmãos, dentre outros tiveram como cena principal ou de fundo a ditadura militar e seus desdobramentos (clique nos títulos para ler crítica ou sinopse).
Caso o obstinado leitor tenha propensão ao sadismo recomendo a leitura do “outro lado”, torturadores e mentecaptos que agiam em nome da defesa da “pátria, deus e liberdade”:
Mídia sem máscara e Terrorismo nunca mais (clique nos títulos para ter acesso aos trecos). Ambos afirmam que a imprensa brasileira está tomada por forças de esquerda que manipulam as mentes em favor do “comunismo internacional”, leve-os a sério somente se desejar ardentemente.

Texto publicado no blog Reação Cultural – abril 2007

CartaCapital: Jornalismo, daqueles com “J” bem grande!

A CartaCapital desta semana está ótima!
Vejam como trata a questão da dengue no RJ no ótimo texto de Rogério Tuma:

O prefeito do Rio de Janeiro parece um algarve. Não viu o perigo que a cidade corria quando deixou de investir em higiene básica, não ouviu ninguém nem soube aprender a lição das epidemias de 2001 e 2002, quando uma briga política fez o município perder 7 mil mata-mosquitos. César Maia não abre a boca para pedir ajuda. Com discurso mudo, tenta convencer aos que esperam na fila para ser atendidos em um sistema hospitalar falido que a culpa é de outro.
É triste enxergar que tudo isso poderia e deveria ser evitado, pois não é preciso ser um sanitarista para saber que é sempre melhor prevenir. Também é exponencialmente mais barato do que tratar a doença, isso sem contar o valor da vida humana.

Clique aqui para ler o artigo na íntegra.
Ainda apresenta uma série de sites para ajudar o leitor a se informar melhor.
Apresenta ainda uma matéria sobre os problemas políticos de José Serra, que enfrenta tempestade dentro do seu próprio partido.
Analisa também o “suposto dossiê” contra FHC, ajudando-nos a entender a fraude, mais uma, do PIG (Partido da Imprensa Golpista – segundo Paulo Henrique Amorim) e da oposição em desespero.
Nirlando Beirão e Márcio Alemão também estão impagáveis!
A reportagem sobre o Vale do Ribeira é coisa para guardar na hemeroteca! Clicando aqui dá para ler na íntegra.
Compensa uma corridinha até a banca mais próxima, mas procure bem, como é coisa de boa qualidade costuma ficar escondida, ao contrário de outras publicações, que vivem de aparência e marquetingue!

28.3.08

Leituras de outros cantos do Brasil

Um dos encantos da blogosfera é a possibilidade de diálogo franco e aberto com outros cantos do país.
Fica bem mais fácil lembrar que o Brasil não é restrito ao eixo Rio – São Paulo e a diversidade de pensamento e paisagem estão entre as coisas mais bonitas que temos.
Recomendo para o final de semana:
Mundo em Movimento – de Maceió – Alagoas, Sérgio Coutinho escreve um pouco sobre cada coisa, com ótima trilha sonora.
Alcinéa Cavalcante – jornalista do Amapá, um blog franco e corajoso, com um texto direto, nocauteando alguns políticos famosos pelo país afora.
Bahia de Fato – nem precisa falar de onde é este. Ótimos textos.
Blog da Glória – lá de Leopoldina – MG, Glória Reis, uma grande batalhadora dos Direitos Humanos, escreve sobre educação.
Acerto de Contas, o blog – lá de Pernambuco ótimo blog tratando de economia, política e atualidades.
Blog Ribamar Aragão – o Piauí, mais precisamente a cidade de Parnaíba, se faz representar pelo blog do Ribamar Aragão.
Diário Gauche – este é do Rio Grande do Sul, o editor é Cristóvão Feil, com textos diretos, tratando de política, ambiente, economia etc. e tal.
Soco na costela – Ricardo Aoki escreve direto de Balneário Camboriú – SC, bons textos tratando de política, ensino e mais um monte de coisas.

26.3.08

Ex-agente da CIA conta as armações dos EUA

No site www.viomundo.com.br o Luiz Carlos Azenha reproduz excelente entrevista:
EX-AGENTE DA CIA: COMO OS ESTADOS UNIDOS FINANCIAM A DERRUBADA DE GOVERNOS QUE ATRAPALHAM
É só clicar aqui!

25.3.08

PHA coloca Daniel Dantas no centro do mensalão

Paulo Henrique Amorim de endereço novo da rede (clique aqui para acessar) resolveu chutar o pau da barraca.
Sobra pra todo mundo, Citibank incluso, mas principalmente sobra para Daniel Dantas.
Parece que agora os podres virão à flor da terra, é esperar para ver.
Segue amostra do texto, recomendo a leitura da obra na íntegra, é só clicar aqui para ter acesso:


FALTA ALGUÉM NO MENSALÃO: DANTAS
Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 1035

. O Procurador Geral da República, Dr. Antônio Fernando de Souza, tem o hábito de procurar o que quer achar.

. Ele enviou ao Supremo Tribunal Federal a denúncia contra os 40 ladrões do mensalão e se esqueceu do Ali Baba.

. O Ministro do Supremo, Ministro Joaquim Barbosa, que enobrece a campanha publicitária da Veja (um órgão de imprensa – a última flor do Fascio – que, segundo Luis Nassif, adota práticas de corrupção ao “noticiar”), acolheu a denúncia.

. E o Ministro Barbosa, ao se tornar herói do PiG, também não perguntou pelo Ali Babá.

. Documentos obtidos de uma auditoria que os Fundos (Previ, Petros e Funcef) e o Citibank fizeram na Brasil Telecom, logo após a saída de Daniel Dantas da administração da empresa, mostram luminosamente como Dantas financiou Marcos Valério e sua empresa de publicidade SMP&B.

24.3.08

O preconceito da mída contra a periferia

Não gosto de reproduzir textos longos, mas este é didático e representativo do atual estágio de segregação social que vivemos em São Paulo, assim como nas cidades grandes e médias do país.
Com o título “Funk do tráfico invade a escola” (clique aqui para ler), o Jornal da Tarde colocou a periferia em destaque, negativo como sempre.
Sobra preconceito. São duas lentes, uma para as festas da periferia e outra para as festas da classe média paulistana. Não se trata de defender uma ou outra, mas de combater o preconceito e enxergar a periferia como algo mais do que um caso de polícia.
O 4º poder quer tirar dos jovens pobres – e quase todos pretos – o que lhes restou de espaço de lazer: a rua.
Se é certo que a coletividade deve ser respeitada, também é certo que lazer é um direito de todos, sejam pretos pobres ou não.
Fiquem com o artigo:



CULTURA PERIFÉRICA
As festas deles e as nossas

Num texto preconceituoso, jornal de São Paulo "denuncia" agito na periferia e revela: para parte da elite, papel dos pobres é trabalhar pesado. Duas festas são, no feriado, opção para quem quer celebrar direito de todos ao ócio, à cultura, à criação e aos prazeres da mente e do corpo
Eleilson Leite

Na sexta-feira passada, dia 14 de março, o Jornal da Tarde, de São Paulo, estampou, em manchete de primeira página: “Funk do tráfico invade escola”. A matéria abordava a realização de uma festa de rua no Parque Primavera, periferia da Zona Sul de São Paulo. Na foto, jovens, quase todos negros, divertiam-se ao som do funk estilo carioca, conhecido como pancadão. Na página interna, o título da matéria dava mais detalhes: “Garotada dança, bebe, usa drogas e transa na EMEF (Escola Municipal de Ensino Fundamental)”. De acordo com o relato da jornalista Marici Capitelli, que freqüentou o baile de rua por duas sextas-feiras, passando-se por funkeira, a escola — EMEF Isabel Vieira Ferreira — está instalada na esquina onde se realiza a balada. Seu portão fica aberto e a galera entra no local para, na penumbra da quadra, usar drogas e cutir “namoros apimentados”. Tudo isso patrocinado, segundo a matéria, pelos grupos de traficantes organizados das favelas das imediações. A notícia repercutiu. O diretor da escola foi pressionado, autoridades se mexeram e providências foram tomadas. O próprio prefeito encarregou- se de botar cadeado no portão da EMEF e a PM prometeu acabar com a festa, mantendo um policiamento ostensivo na região, sobretudo no dia e horário da balada.
Fiquei muito perplexo com o tratamento dado ao fato pelo jornal. Passei os últimos dias refletindo sobre o tema, buscando entender por que esse tipo de abordagem. Sim, estamos cansados de saber que os veículos da grande imprensa são a voz das elites endinheiradas e constituem-se como o 4º Poder. Mas nem tudo é absoluto, e a imprensa tem exercido, também, um importante papel para a manutenção da democracia. Às vezes, coloca-se ao lado da maioria, principalmente quando há um esforço dos jornalistas para exercer sua profissão com dignidade e buscar a verdade dos fatos.
Certamente, a repórter foi ao Jardim Primavera com a melhor das intenções e fez uma matéria que pretende tera virtude da denúncia (o tráfico, os jovens envolvidos com bebidas e drogas, uma escola mal-cuidada etc). Mas o enfoque sensacionalista e a conseqüente reação das autoridades só acabaram por piorar as coisas. Os três mil jovens, que tinham na festa às sextas-feiras sua única oportunidade de diversão, perderam a balada. A escola que, aberta à comunidade, cumpria muitas outras funções além de servir de refúgio para a rapaziada na madrugada, acabou sendo fechada. O funk carioca, que vem ganhando espaço na periferia de São Paulo, novamente foi tratado com preconceito e desprezo. E o crime organizado local ficará sob tensão constante com o policiamento, acendendo um pavio que pode causar uma grande explosão. Resultado: revolta, ódio, violência e frustração.
Se a própria rua, que serve de pista para seus embalos de sexta-feira à noite, lhes é retirada, o que vão fazer? E se esses jovens viessem “invadir” a balada do Mackenzie?
A questão, caro leitor, é que festa de pobre na periferia é tratada como caso de polícia. Quando o público é de classe média e de bairros centrais, o tratamento é outro. Vou contar um caso que evidencia isso. Tem uma balada que rola toda sexta-feira à noite (às vezes de dia também) nas imediações da Universidade Mackenzie, no centro da cidade. Reúne centenas de estudantes. O pessoal ocupa duas esquinas, obstrui ruas e incomoda os vizinhos. A trilha sonora é variada: rock, MPB, samba, axé e, até mesmo, o Pancadão, dependo do estado de embriaguez. Os jovens universitários consomem muita bebida alcoólica e usam drogas à vontade. Na hora de fazer sexo, o chamego rola dentro de seus carros de vidros escuros, estacionados no local. A polícia quando vai lá, segundo testemunhas, é para retirar do recinto sujeitos maltrapilhos, pouco condizentes com o perfil social dos freqüentadores. E na Periferia? Ah, polícia na quebrada não tem meio termo. Chega para acabar com a alegria da rapaziada que se diverte na rua.
Os jovens universitários do Mackenzie estão se divertindo. E têm mais é que curtir o fim de uma semana de estudo e, para muitos deles, de trabalho. Esse direito nunca lhes foi negado e devem continuar exercendo-o, sem desrespeitar a coletividade. Mas estou do lado dos que foram historicamente desfavorecidos, e que se amontoaram nas bordas da cidade. Por que essas pessoas também não podem se divertir na rua? No Parque Primavera não existem equipamentos públicos de lazer, nem praças, como relata a própria reportagem do JT. Será que não resta outro destino ao povo preto e pobre da periferia, senão a condenação irremediável ao desencanto? Se a própria rua, que serve de pista para seus embalos de sexta-feira à noite, lhes é retirada, o que vão fazer? E se esses jovens viessem “invadir” a balada do Mackenzie? A rua é deles tanto quanto dos universitários. Será que a PM viria retirá-los, estando eles aos montes?
O dramaturgo e poeta alemão, Bertold Brecht, falava o seguinte: “Dizem violentas, as águas do rio, mas não dizem violentas, as margens que o comprimem”. Essa analogia do rio de margens comprimidas é perfeita para pensar o processo de amontoamento das pessoas nos fundões da periferia. Nesses mais de 500 anos de história do Brasil, a violência contra os pobres foi, muitas vezes, justificada pelo incômodo que a própria existência dessa gente causa aos ricos que sempre estiveram no poder. O Racionais MC’s em seu belíssimo DVD 1000 trutas, 1000 tretas, traz um documentário que mostra como os negros foram expurgados do centro e empurrados para a periferia, em São Paulo. No vídeo, Mano Brown lê um texto retirado de relatório assinado por Whashington Luiz, em 1919. O então secretário de Segurança, depois governador de São Paulo e presidente da República falava o seguinte, referindo-se aos negros e miscigenados que ficavam na Várzea do Carmo, atual Parque Dom Pedro:
A Festa Umoja vai agitar a Zona Sul, no sábado: exposições, dança, culinária, teatro, poesia e muita música. No domingo, rola o Samba na Ponte, no Socorro. É uma grande festa das rodas de samba de Sampa
“É aí que, protegida pelas depressões do terreno, pelas voltas do Tamanduateí, pelas arcadas das pontes, pela vegetação das moitas, pela ausência de iluminação, se reúne e dorme e se encachoa, à noite, à vasa da Cidade, numa promiscuidade composta de negros edemaciados pela embriaguez habitual, de uma mestiçagem viciosa, de restos inomináveis e vencidos de todas as nacionalidades, todos perigosos. É aí que se cometem atentados que a decência manda calar, é para aí que se atraem jovens estouvados e velhos concupiscentes para matar e roubar como nos dão notícia os canais judiciários, com grave dano à moral e para a segurança individual, não obstante a solicitude e a vigilância de nossa polícia. Era aí que quando a polícia fazia o expurgo da cidade, encontrava a mais farta colheita”.
Leiam as matérias no JT sobre o baile funk do Parque Primavera e comparem com o texto acima. Verão que as coisas não mudaram muito. A criminalização da pobreza está enraizada na sociedade brasileira. Senhores e senhoras jornalistas, editores, donos de jornal, autoridades policiais, judiciárias e administrativas, dêem a devida atenção à periferia. Percebam a complexidade da dinâmica social do subúrbio. Não atribuam ao tráfico tudo que rola nas quebradas para, com este argumento, justificar atos de repressão. Não façam da indevida utilização de uma escola motivo para fechá-la à comunidade. Deixem os jovens da periferia se divertir como podem os universitários do Mackenzie. Não tirem dos pobres o pouco que têm. Não desprezem o funk. Boa parte da elite já entendeu o rap. Tá na hora de sacar o pancadão. É música feita e apreciada pelo pessoal da favela. Só por isso, merece consideração. Não precisa gostar. Mas, por favor, vamos respeitar. Deixem a galera curtir sua balada no Parque Primavera e por toda a periferia.
E festa nas quebradas é o que não falta. Temos duas excelentes opções noticiadas na Agenda Cultural da Periferia para o final de semana prolongado da Páscoa. A Festa Umoja vai agitar a Zona Sul no sábado. O evento reúne exposições, dança, culinária, teatro, poesia e muita música. Além do grupo Umoja, vão se apresentar o DJ Maurício Alves, Band’ Doido e Fabiana Cozza, entre outras atrações. No domingo, rola o Samba na Ponte, lá na Ponte do Socorro, também na Zona Sul. É uma grande festa das rodas de samba de São Paulo. Terá o ritual de batismo no samba e contará com a presença de bambas de todas as partes. É animação e lazer garantidos. Paz, amor e liberdade. É isso que se quer na periferia. Parodiando o Moraes Moreira: “ Nas trincheiras da periferia, o que explodia era o amor…”

Serviço:
Festa Umoja
Sacolão das Artes – Av. Cândido José Xavier, 577 – Parque Santo Antonio
Dia 22 de março, sábado, a partir das 18h, Grátis
Contato: 5891 2564 / www.institutoumoja.blogspot.com

Samba da Ponte
Rua Eloi Chaves s/n, Socorro (ao lado da ponte do Socorro, sentido Santo Amaro)
Dia 23 de março, domingo a partir das 14h – Grátis
Contato: 8636-2209 e 7724-2159

Eleilson Leite é colunista do Caderno Brasil de Le Monde Diplomatique
Fonte: Le Monde Diplomatique

21.3.08

Boas leituras neste feriadão

Leituras do feriado:

Essas leituras você não encontrará na mídia grande, só aqui mesmo:

Para Belluzzo, crise mudará padrões econômicos e políticos
Em defesa dos Territórios da Cidadania
Favela sitiada
Chávez vence a Exxon
A raça de Obama
Barack Obama e o racismo: o sonho de alguns não precisa ser conquistado à custa do sonho dos diferentes
Bioética e concepções religiosas
O que é a Globalização?
Por onde anda a famosa "mão invisível" do mercado global?

Erro de planejamento desperdiça recursos públicos na educação em São Paulo

Reproduzo abaixo matéria publicada no portal da Folha Online de hoje. Quem quiser conferir basta clicar aqui.
A Folha de S.Paulo é pródiga em opinar e destacar na manchete aquilo que lhe interessa politicamente, mas quando a crítica deve ser dirigida ao seu partido, o PSDB, ela se omite. E mais: blindagem total do Serra, reparem no texto que o governador citado é Geraldo Alckmin, como se não houvesse governo estadual hoje em São Paulo! Só faltou culpar o Lula e o bolsa-família!
O texto está fora da ordem.
No corpo do texto está diagnosticado o problema, portanto a manchete não deveria ser “Em São Paulo, ensino integral não melhora nota de alunos”, mas sim algo como “Erro de planejamento desperdiça recursos públicos na educação”.
Como alertaram vários especialistas e já sabiam todos os professores, a questão não é apenas de quantidade, mas sim da qualidade da educação oferecida na rede pública.
Faltou planejamento, faltou ouvir os professores!
É óbvio que a escola de período integral é desejada, mas de nada adianta deixar o garoto e a garota dia e noite na escola se não houver estrutura física para atendê-los, se não houver planejamento de como atendê-los e, principalmente, se não houver quem atendê-los!


Em São Paulo, ensino integral não melhora nota de alunos
da Folha Online

Mais tempo na escola não resultou em melhores notas dos estudantes na rede estadual de São Paulo, de acordo com reportagem de FÁBIO TAKAHASHI publicada na edição desta sexta-feira da Folha de S.Paulo (íntegra disponível para assinantes do jornal ou do UOL).
Levantamento realizado pela Folha com base nos dados do Saresp 2007 (exame aplicado pelo governo paulista) mostra que, das 60 escolas com período integral na capital, apenas quatro tiveram notas superiores às médias das demais unidades de suas regiões.
Esses resultados referem-se à prova de matemática de 4ª e 8ª séries. O panorama foi semelhante em língua portuguesa. Clique aqui para ver a comparação entre as notas.
Conforme a reportagem, o programa Escola de Tempo Integral foi lançado no início de 2006 pelo então governador Geraldo Alckmin (PSDB) e elevou a jornada diária de cinco para nove horas. Ele é elogiado pelos educadores, porém é criticado pela forma como foi implementado. A principal reclamação é a de que não houve planejamento para as atividades extras nem uma melhoria da estrutura física das escolas.
"Esse resultado no Saresp não é uma surpresa. Os alunos ficam mais tempo nas escolas, mas sem atividades articuladas com as disciplinas", disse o presidente da Udemo (sindicato dos especialistas da rede estadual), Luiz Gonzaga Pinto. Já para o presidente da Apeoesp (sindicato dos professores), Carlos Ramiro de Castro, as dificuldades refletem problemas da rede. "Há, por exemplo, falta de recursos humanos. Além disso, 70% das bibliotecas estão fechadas. Como deixar as crianças na escola o dia todo nessas condições?" disse.

20.3.08

Não assine o Valor Econômico – a empresa não cumpre o contratado

Criou-se um mito que somente o serviço público presta atendimento ruim aos consumidores ou ao contribuinte.
Dia após dia convenço-me que há uma epidemia de gestores ruins e atendimentos péssimos espalhados pelo país, democraticamente distribuídos entre os setores público e privado.
Já narrei aqui minhas desventuras com empresas como o Ponto Frio e Fiat. Sem contar os fatos inenarráveis envolvendo a Telefônica.
Agora o problema surge de onde menos eu esperava: o jornal Valor Econômico!
Isso mesmo! Este prestigioso jornal, com ótimo noticiário do mundo econômico e político, estruturado por duas grandes empresas de mídia, Globo e Folha de S.Paulo, não é capaz de cumprir um pequeno contrato feito comigo, vejam só.
Fiz uma assinatura desse jornal em junho passado e ganhei 6 meses de CartaCapital. Como já sou assinante da revista passei o “brinde” para o meu sobrinho imediatamente.
Isso foi no meio do ano passado!
Desde então tento receber o brinde e nada! Vários contatos por e-mail e telefone, tempo e paciência desperdiçados.
Hoje consegui uma vitória: a assinatura foi cancelada! Mas, segundo a moça que me atendeu, ainda terei de aguardar 72 horas para a confirmação do setor responsável.
O jornal perdeu um assinante, que, pela maneira como me trataram não fará falta, mas também um leitor, pois não posso confiar no noticiário de uma empresa que não cumpre o que promete.
Por isso recomendo: não assine e não leia o Valor Econômico.

19.3.08

Uma outra visão sobre a questão do Tibete

O Tibete tem merecido destaque na mídia nos últimos dias por conta de manifestações dos separatistas locais e da forte reação do governo chinês.
Os EUA patrocinam uma ampla campanha de solidariedade à autonomia do Tibete.
Interessante observar que o apoio aos movimentos autonomistas são altamente seletivos: Tibete, Montenegro, Kosovo e agora Santa Cruz, na Bolívia. E o País Basco? Ou a questão belga?
O jornal Vermelho – órgão de imprensa do PC do B – publicou um texto mostrando o “outro lado da questão tibetana”, lado este que a grande imprensa não divulga.
Para acessá-lo na íntegra clique aqui.
Do texto destaco algumas passagens:

“Em 1954, o décimo quarto Dalai-Lama participou da primeira Assembléia Nacional Popular da China, que elaborou a Constituição da República Popular, tendo sido eleito como um dos vice-presidentes do Comitê Permanente dessa Assembléia.
Na ocasião, pronunciou um discurso afirmando: ''Os rumores de que o Partido Comunista da China e o governo popular central arruinariam a religião do Tibete, foram refutados. O povo tibetano tem gozado de liberdade em suas crenças religiosas''.
Em 1956, o dalai-lama assumiu a presidência do comitê provisório encarregado de organizar a região autônoma do Tibete. As relações entre os governos central e local estavam, portanto, normalizadas.
O conflito ressurgiu quando se cogitou em promover a reforma democrática do Tibete, separando a religião do Estado, abolindo a servidão rural e a escravidão doméstica e redistribuindo a propriedade das terras e dos rebanhos, monopolizada pela aristocracia civil e pelos mosteiros. ”
...
“Traindo seus princípios religiosos, em novembro passado, o dalai-lama propôs que, em vez de esperar que os sábios religiosos encontrassem a próxima encarnação após sua morte, ele escolhesse sua própria encarnação. Geralmente, depois da morte do dalai-lama, autoridades budistas tibetanas, orientadas por sonhos e sinais, identificam uma criança que vai substituir o líder morto.”

Penso que de posse dos artigos da grande mídia, produzidos em sua maioria pela imprensa estadunidense, e com artigos como este do Vermelho possamos ter uma quadro mais completo sobre o Tibete.

Todo meu respeito ao Mino Carta

Por estas e outras que admiro tanto esse jornalista de nome Mino Carta. Embora reconheça nele às vezes uma teimosia chata, beirando a ranhetice, vejo-o como símbolo do bom jornalista, do tipo que eu sonhava ser antes de me tomar de paixão pela Geografia e pelo ensino.
Vejam o último post dele no blog que mantinha hospedado no Portal IG:
O último post
Meu blog no iG acaba com este post. Solidarizo-me com Paulo Henrique Amorim por razões que transcendem a nossa amizade de 41 anos. O abrupto rompimento do contrato que ligava o jornalista ao portal ecoa situações inaceitáveis que tanto Paulo Henrique quanto eu conhecemos de sobejo, de sorte a lhes entender os motivos em um piscar de olhos. Não me permitirei conjecturas em relação ao poder mais alto que se alevanta e exige o afastamento. O leque das possibilidades não é, porém, muito amplo. Basta averiguar quais foram os alvos das críticas negativas de Paulo Henrique neste tempo de Conversa Afiada.
Parabéns ao Mino Carta!
Ah, e o blog do PHA já está de endereço novo, devidamente linkado aí nos favoritos, no menu ao lado.

18.3.08

IG tira o Conversa Afiada do ar

O portal IG rompeu unilateralmente o contrato com o jornalista Paulo Henrique Amorim do site Conversa Afiada.
Crítico contumaz da grande mídia, PHA formava coluna com outros jornalistas do porte de Mino Carta e Luis Nassif no questionamento ao papel da mídia grande - revista Veja e Rede Globo à frente - no momento que atravessa nosso país, em especial no tocante às críticas preconceituosas e infundadas contra o governo Lula.
PHA também vinha atuando, assim como a CartaCapital e o blog do Luis Nassif, na questão da fusão das empresas de telefonia no sentido de desvendar para o público os negócios e negociatas do tema, inclusive com petardos contra Daniel Dantas, essa figura soturna que nasceu para o mundo dos negócios milionários embalado pelas privatizações tucanas.
O pior é a falta de transparência para com os leitores do PHA e do próprio IG, pois o portal não faz nenhuma referência ao fato.
A notícia está sendo veiculada no site Vi o Mundo, clique aqui para lê-la.
Muito em breve os leitores do Paulo Henrique Amorim, como este que vos escreve, poderão acessá-lo no endereço www.paulohenriqueamorim.com.br.

A mídia como arma de guerra - do Correio Caros Amigos

O texto abaixo se encontra no Correio Caros Amigos de 7/3/08 e pode ser acessado clicando aqui.

A mídia como arma de guerra - por Izaías Almada

Se alguma dúvida existia, para muitos de nós, do papel da mídia no jogo internacional do poder, na estratégia adotada pelo capitalismo neoliberal em manter suas conquistas a qualquer preço e subjugar aqueles que não lêem na sua cartilha, essa dúvida deixa de existir quando se analisa friamente os últimos acontecimentos desta semana na fronteira entre o Equador e a Colômbia.
Um país conturbado há sessenta anos por uma luta político-militar interna, onde mais de 20 mil insurgentes em armas, FARC e ELN, disputam o poder com os sucessivos governos eleitos pela oligarquia.
A Colômbia viu, em poucas horas, cair por terra a máscara de país democrático e legalista. E como sua política é determinada fora de suas fronteiras ou, provavelmente, em algumas embaixadas de Bogotá, deixou a nu a estratégia adotada por todos aqueles que não querem a paz interna no país. Ou, pior ainda, que precisam conflagrar a região, ampliar o conflito, com propósitos diversionistas, desviando a atenção para encobrir aquilo que interessa ao Departamento de Estado norte-americano.
Senão vejamos trecho de um relatório feito ao presidente Bush em 30 de julho de 2001 pelo National Energy Police Report e publicado pelo jornal The Nation: “os EUA necessitam garantir para os próximos anos o fornecimento seguro, estável e barato do petróleo”. O relatório avalia que três regiões no mundo têm que ser consideradas nessa perspectiva: o Golfo Pérsico, a Ásia Central e o Arco Amazônico andino, leia-se Venezuela, Colômbia e Equador.
Há, contudo, um significativo parágrafo na recomendação a Bush: “Caso não se consiga o petróleo por meios diplomáticos, devemos introduzir na matéria o nosso aparato militar”. Golfo Pérsico, Irã e Iraque; Ásia Central, Afeganistão.
Aqui, como se sabe, falharam os “meios diplomáticos”. O Arco Amazônico andino, contudo, está localizado no “quintal”, o que não deveria causar maiores embaraços, mas surgiram aqui dois empecilhos: o primeiro, Hugo Chávez, e mais recentemente Rafael Correa. O tradicional golpe de estado foi tentado contra Chávez em 2002, mas também não deu certo. Idéias de soberania, independência, mercados comuns e construção de alternativas energéticas vão ganhando força entre países como Argentina, Brasil, Venezuela, Bolívia, Equador, Nicarágua, Cuba.
Cria-se a Telesur, a ALBA (Alternativa Bolivariana para as Américas) em oposição à falecida ALCA, o Banco do Sul, a Petrocaribe, onde países pobres caribenhos podem comprar petróleo da Venezuela a preço mais barato. Um pouco de solidariedade invade os números frios do comércio feito de trocas que só beneficia um dos lados, o mais rico.
Preocupado com os conflitos militares no Iraque e no Afeganistão, com as ameaças ao Irã, com a manutenção de Israel como Estado polícia no Oriente Médio, os Estados Unidos da América perceberam que, a rigor, contam apenas com um governo totalmente submisso na América do Sul: a Colômbia. E talvez já não contem, aqui no seu antigo quintal, só com os “meios diplomáticos” para conseguir o seu petróleo seguro e barato.
Como explicar para o mundo que a invasão do território do Equador pelas Forças Armadas da Colômbia, a que se pretendeu dar um caráter de surpresa, era uma ação preventiva de defesa do território colombiano? E apresentar rapidamente como prova alguns documentos “recuperados” do laptop de um líder guerrilheiro, onde se inferia que 300 milhões de dólares foram dados por Hugo Chávez às FARC, que os guerrilheiros iriam comprar 50 quilos de urânio, que Rafael Correa e Chávez tinham acordos secretos com as FARC, um vídeo onde um soldado, em plano muito fechado, conta dólares supostamente encontrados no acampamento guerrilheiro.
Afinal, tudo isso justificaria a ação em território equatoriano. E era preciso que o mundo repercutisse toda a montagem da farsa rapidamente. Rádio, televisão, jornais, internet deveriam espalhar o mais rapidamente possível para as principais capitais européias e para os países da América Latina, em particular, que a Colômbia agiu contra terroristas que até urânio já queriam comprar... (Alguém aí se lembra das armas de destruição em massa de Sadam Hussein?).
A mídia foi acionada como arma de guerra, como tem sido usual nos últimos tempos. E com tal violência e precisão que confunde a cabeça de muitos de nós... E chegamos a duvidar das nossas próprias convicções. Mas em dúvida, sempre podemos nos perguntar:
De onde partiram os aviões e helicópteros que participaram da invasão do território equatoriano e que, pela posição dos disparos, vieram do próprio território do Equador? Seriam da base norte-americana de Manta, cujo contrato não será renovado por Rafael Correa no final de 2008?
Quem dispõe de sofisticada tecnologia de satélites para identificar eventuais telefonemas dados pelo líder guerrilheiro Raul Reyes?
O que foi fazer em Bogotá, dois dias antes do bombardeio ao acampamento guerrilheiro, o contra-almirante Joseph Nimmich, comandante da Força Tarefa do Sul dos EUA?
Onde estaria localizado o laboratório das FARC para enriquecimento de urânio nas selvas colombianas?
Os 300 milhões de dólares que Chávez entregou às FARC teriam sido em cheque ou escondidos em caixas de uísque?
Por que a imprensa não deu o devido destaque à declaração de um dos últimos reféns soltos pelas FARC, em fevereiro, de que Ingrid Bettencourt, uma vez libertada, se candidataria à presidência da Colômbia?
Teria Uribe e o Departamento de Estado norte-americano interesse na libertação de Ingrid Bettencourt?
É preciso ter paciência diante de tanta mentira e farsa. Recomenda-se a leitura do livro O Senhor das Sombras, de Joseph Contreras, sobre Álvaro Uribe.

Izaias Almada é autor, entre outros, do livro "Venezuela Povo e Forças Armadas",
Editora Caros Amigos.

17.3.08

Os problemas de brasileiros na Espanha

A imprensa tem dado destaque aos problemas que brasileiros têm enfrentado na Espanha, mesmo quando fazem apenas conexões para outros países.
O governo espanhol alega cumprir normas da União Européia, mas relatos de brasileiros dão conta de que há discriminação e tratamento ruim por parte das autoridades espanholas.
Não podemos esquecer que muitos brasileiros tentam chegar ilegalmente à Terra Prometida do capitalismo, seja ela a Europa ou Estados Unidos da América. É legítimo, portanto, que os países resguardem seus direitos e façam cumprir suas leis.
Por outro lado não podemos aceitar esse tratamento de forma generalizada.
Tivemos casos recentes de estudantes e professores que se apresentariam em congressos e seminários em Portugal, por exemplo, que foram barrados na Espanha e submetidos a maus tratos.
Recentemente os jornais apresentaram também casos de empresários brasileiros que tiveram que fazer meia volta do próprio aeroporto, com status de “deportados”.
Não se trata de abrir uma “guerra” contra a Espanha e os espanhóis, mas algumas coisas devem ser consideradas:

1) Se existe uma rede de aliciamento de prostitutas brasileiras para trabalhar na Europa que se punam os aliciadores, que com certeza não são brasileiros, é bom avisar que nem toda mulher brasileira – mesmo que “mulata gostosa” e boa de samba, não é prostituta;
2) Que a documentação exigida para entrar em solo europeu seja listada de forma clara e inequívoca, com ampla divulgação pela imprensa e que tais documentos sejam fiscalizados primeiro pelas empresas aéreas;
3) Que as autoridades brasileiras cumpram as leis de entrada e permanência em solo brasileiro para todas as nacionalidades e não só para os espanhóis como a mídia tem mostrado nas últimas semanas;
4) E, finalmente, que todos os brasileiros que desejem visitar a Europa evitem a Espanha, já que não somos bem vindos por lá.

Além do Itamaraty seria conveniente uma manifestação do Ministério do Turismo sobre o assunto.

Leia sobre o tema:
Espanha deporta brasileira que ia para congresso em Portugal
'Me senti como se fosse bandida', conta brasileira barrada na Espanha
Brasileira espera ser deportada
Mãe de brasileira impedida de entrar na Espanha afirma que filha sofreu preconceito
BRASILEIROS DEPORTADOS - Passagem de volta Espanha-Brasil
Governo espanhol alerta sobre risco de viajar ao Brasil

15.3.08

Frei Betto entrevistado pelo UOL

Frei Betto concedeu entrevista ao UOL. Lúcido como sempre, vai ao ponto na crítica aos programas sociais do governo.
Penso que merece ser copiada na íntegra e mais, merece muita reflexão de todos as sábias palavras do velho combatente.


Frei Betto critica assistencialismo e pede reformas por "democracia econômica"
Vicente Toledo Jr.
Em São Paulo

O frade dominicano Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, foi um dos líderes do Fome Zero, principal programa social do primeiro mandato do presidente Lula. Durante dois anos, foi assessor especial da presidência e coordenador de mobilização social para o Fome Zero.
Teólogo e escritor ligado à esquerda - foi preso durante a ditadura militar e acusado de apoiar guerrilheiros como Carlos Marighella -, Frei Betto deixou o governo no final de 2004 incomodado com os rumos da política econômica e criticando a burocracia que emperrava o andamento dos programa sociais.
De longe, viu o Fome Zero perder o posto de "carro-chefe" para o Bolsa-Família, que completou quatro anos nesta semana com direito a comemoração em Brasília. Em entrevista ao UOL, Frei Betto lamenta a substituição de um programa "emancipatório" por um "assistencialista" e pede reformas estruturais para que o Brasil alcance a "democracia econômica".
UOL - O governo federal tem motivos para comemorar esse aniversário de quatro anos do Bolsa-Família?
Frei Betto - Por que o governo federal não comemora cinco anos do Fome Zero e sim quatro do Bolsa Família? É uma pena que um programa muito mais amplo, e de perfil emancipatório, formatado pelo próprio governo Lula, e tido como prioritário, tenha sido substituído pelo Bolsa Família, que tem caráter mais assistencialista. É claro que o governo tem motivos para comemorar, afinal, depois da Previdência Social, o Bolsa Família é o maior programa de distribuição de renda existente no Brasil. E também a maior usina de votos favoráveis ao governo. Espero, entretanto, que o resgate de uma importante medida do Fome Zero - estabelecer prazo para as famílias se emanciparem do programa - venha a imprimir ao Bolsa Família um caráter mais educativo, de promoção cidadã. É preciso que os beneficiários produzam sua própria renda, sem depender do poder público nem correr o risco de retornar à miséria.
UOL - Quando o senhor deixou o governo, fez críticas à burocracia, que atrapalhava o andamento do Fome Zero. De lá para cá, mudou alguma coisa? Houve melhoras na execução dos programas sociais?
FB - Quanto ao Bolsa Família, houve evidente melhora, sem dúvida, graças ao empenho do ministro Patrus Ananias. Porém, me pergunto pelos outros programas que faziam parte da cesta emancipatória do Fome Zero: onde estão os cursos profissionalizantes? A formação de cooperativas? Os restaurantes populares? Os bancos de alimentos? Os comitês gestores? Por que conceder facilidades de acesso ao crédito se já existia, no Banco do Brasil e na Caixa Econômica Federal, iniciativas, como o Banco Popular (que fim levou?) nesse sentido?
UOL - Que balanço o senhor faz hoje dos programas de combate à fome e do Bolsa-Família?
FB - Em geral, positivos, mas provisórios enquanto as medidas assistencialistas não forem respaldadas por reformas de estrutura. De que adianta distribuir renda a quem aspira que se distribua terra? Como é possível ter êxito no combate à fome sem reforma agrária? Como se explica as famílias pobres terem mais acesso à renda e ao consumo e, ao mesmo tempo, sofrerem a ameaça de dengue e febre amarela? O governo combate, de fato, a miséria, mas não a desigualdade social, pois teme mexer nas estruturas arcaicas do país e desagradar os que se enriquecem graças à injustiça estrutural.
UOL - Que avaliação o senhor faz das medidas anunciadas nesta semana? Qual impacto elas terão sobre a vida dos beneficiários?
FB - É muito cedo para avaliá-las. Quanto ao impacto, é claro: o governo já iniciou sua campanha pelas eleições municipais.
UOL - O senhor vê uso eleitoral do Bolsa-Família? Acha isso inevitável em ano de eleição?
FB - Em política tudo tem uso eleitoral, do contrário o poder não seria motivo de tanta cobiça. Ainda que haja motivação eleitoreira, importa-me saber se os mais pobres são beneficiados. E isso tem ocorrido, embora sem o caráter emancipatório a que me referi.
UOL - O senhor acredita que o pagamento de renda pelo governo a essas famílias possa causar algum tipo de dependência?
FB - A dependência é clara, pois onde há dinheiro, há dependência. O próprio governo é consciente disso, tanto que agora retomou um critério do Fome Zero: estabelecer prazo de permanência no programa. A questão é saber se, após os dois anos como beneficiária, a família encontrará de fato sua porta de saída, conquistando autonomia para produzir sua própria renda.
UOL - Esse tipo de programa vira um caminho sem volta? Como fazer com que essas pessoas "caminhem com as próprias pernas"?
FB - Só se pode "caminhar com as próprias pernas" quando se vive num país cujas estruturas sócio-econômicas não produzem tanta desigualdade e, portanto, oferecem à maioria acesso razoavelmente igualitário aos direitos de cidadania. O povo brasileiro, em sua maioria, jamais "caminhará com as próprias pernas", sem ter que apelar ao poder público, às instituições filantrópicas, ao trabalho informal, à contravenção como o narcotráfico, enquanto não houver aqui reforma agrária e leis que, de um lado, impeçam que se criem as condições de miséria e, de outro, o enriquecimento abusivo. Não temos ainda democracia econômica.
UOL - Por fim, o senhor considera o programa vulnerável a fraudes?
FB - Lamento que o programa seja monitorado pelas prefeituras, onde há freqüentes indícios de corrupção, e não pelos comitês gestores, formados por representantes da sociedade civil, como se propôs na fase inicial do Fome Zero. Sem a sociedade civil fiscalizar, pressionar e cobrar, o poder público costuma cair em tentação.

Fonte: UOL – Últimas Notícias – 15/3/08.

14.3.08

Ivan Valente critica educação em São Paulo

O deputado Ivan Valente publicou o artigo que segue abaixo na Folha de S.Paulo de hoje, sexta-feira, 14/3/08.
Faz críticas acertadas aos governos estadual e federal quanto à educação, particularmente com relação à entrevista da Secretária de Educação do Estado de São Paulo, Maria Helena Castro, concedida recentemente à revista Veja (clique aqui para ler a entrevista).
No aspecto relativo às avaliações gostaria de salientar que estas, sejam estaduais ou federais, pecam por não dizer claramente, com exceção do ENEM, o que será avaliado.
A possibilidade premiações individualizadas soa totalmente absurda e antidemocrática. Atribuir ao professor a responsabilidade única pelo sucesso ou fracasso do aluno é coisa de gente doida ou muito mal intencionada.


Premiação e castigo na educação
IVAN VALENTE

A política de avaliações sucessivas e de bolsas e bônus de baixo valor não resolverá a grave crise da educação e poderá agravá-la

AS MEDIDAS adotadas pela Secretaria de Educação do Estado de São Paulo têm sido ungidas como a "salvação da lavoura", particularmente a premiação com bônus financeiro para diretores, professores e funcionários, com base especialmente em exames de avaliação de alunos, como o Saresp.
A secretária Maria Helena Castro, em entrevista à revista "Veja", disse que é preciso liquidar alguns mitos na educação. Para ela são mitos: que deve haver isonomia salarial entre professores, que melhores salários levam à melhoria do ensino, que o número de alunos por sala de aula interfere na qualidade do aprendizado, que a escola pública é carente de recursos. Para a secretária, nossos educadores ganham bem, e os recursos educacionais são suficientes. Maria Helena sentenciou que fecharia todas as faculdades de pedagogia do país, inclusive USP e Unicamp, porque elas se prestam ao "desserviço" de divulgar esses mitos.
Os tucanos estiveram oito anos no governo central e governam São Paulo há 13. FHC vetou o dispositivo do Plano Nacional de Educação que elevava o gasto público com educação de 3,7% para 7% do PIB. Criaram um pseudo-sistema nacional de avaliação para esconder a política de corte dos recursos. Seu objetivo sempre foi diminuir o papel do Estado e atribuir-lhe papel apenas regulatório.
Que resultado o país pode exibir nesses últimos 13 anos que não seja a constatação da péssima qualidade do nosso ensino, da degradação das condições de nossos educadores, do retrato cruel do analfabetismo funcional de 60 milhões de brasileiros? As políticas de fundos para a educação de FHC e de Lula não passam de socialização da miséria. Alguém acredita que o suplemento da União a Estados e municípios, de apenas R$1 bilhão ao ano de recursos novos nos próximos quatro anos, para um universo de 50 milhões de estudantes da educação básica, resultará em algum impacto real na qualidade de ensino?
Podemos nos fiar que a instituição de um piso salarial para o magistério brasileiro de pouco mais de R$ 450 por 20 horas semanais estimule a carreira? Enquanto isso, o país desembolsa R$160 bilhões por ano em juros da dívida pública.
Maria Helena, ao afirmar que o número de alunos por sala de aula é irrelevante para a qualidade da aprendizagem, lembra-nos o documento do Banco Mundial, sua bíblia, que afirma que "nos países de baixa e média renda é necessário diminuir o número de professores, aumentar o número de alunos em sala de aula e utilizar novas tecnologias educacionais". Em São Paulo, há até 65 alunos por sala de aula, quando o recomendado pela Unesco é de no máximo 35 alunos. Para o Banco Mundial, professor é encargo.
Só quem não conhece a realidade da sala de aula e suas brutais precariedades pode achar que os problemas centrais da educação pública são falta de liderança, falhas de gestão e professores faltosos. Esses problemas certamente existem e devem ser atacados e ter suas causas buscadas. Por isso, não dá para sofismar: não há melhora qualitativa na educação sem investimento público pesado na formação continuada de professores, salários dignos que resgatem sua auto-estima, infra-estrutura adequada e participação da comunidade nos rumos educacionais.
Essa política do governo Serra, hoje também aplicada em âmbito federal, de realizar avaliações sucessivas e superpostas com provas, provinhas e provões e, posteriormente, oferecer bolsas, bolsinhas e bônus de baixo valor, estabelecendo concorrência entre escolas e entre professores, numa lógica de mercado, não resolverá em absoluto nossa grave crise educacional – possivelmente, a agravará.
Alguns efeitos previsíveis dessa política de premiação e punição devem se revelar. A vinculação dos recursos ao desempenho dos alunos tende a afastar das escolas que atendem a alunos mais carentes os melhores professores, pois estes sabem que essas crianças apresentam pior desempenho em testes padronizados. Outro efeito é que tenderá a haver uma corrida para as escolas com melhor desempenho da parte de alunos com notas mais elevadas, cuja presença é benéfica para o conjunto da turma. Fica explícito, assim, que esse tipo de política só tende a aumentar a distância dos desempenhos obtidos pelos alunos da mesma rede.
Mito mesmo é acreditar que o papel do Estado é estimular a produção de qualidade por meio de comparação, classificação e seleção, cujo efeito é produzir mais exclusão. Algo incompatível com o dito constitucional: Educação é dever do Estado e direito do cidadão.


--------------------------------------------------------------------------------
IVAN VALENTE, 61, engenheiro mecânico, é deputado federal pelo PSOL-SP e membro da Comissão de Educação, Cultura e Desporto da Câmara dos Deputados.

13.3.08

Nem o embaixador da Suíça é notícia

"Em nome do governo do meu país, eu quero pedir desculpas". Foi com essas palavras que o embaixador da Suíça, Rudolf Bärfuss, terminou a reunião com uma comissão de mulheres da Via
Você, leitor bem informado pelas corporações de mídia, tomou conhecimento desta informação pelas vias tradicionais?
Não?
Então quer dizer que o representante maior da Suíça no país pede desculpas a uma comissão de mulheres da Via Campesina e ninguém publica nada? Isto não seria um fato jornalístico?
Segue abaixo a íntegra da nota divulgada hoje pela assessoria do MST, que também desmentiu a versão da Vale do Rio Doce de que o movimento teria feito reféns ontem durante o bloqueio de uma ferrovia que serve para escoar a riqueza brasileira para o exterior:
"Em nome do governo do meu país, eu quero pedir desculpas". Foi com essas palavras que o embaixador da Suíça, Rudolf Bärfuss, terminou a reunião com uma comissão de mulheres da Via Campesina ocorrida nesta sexta-feira (7/4), em Brasília.
O pedido foi direcionado a Íris Oliveira, esposa de Valmir Mota de Oliveira - conhecido como Keno, morto em outubro de 2007, durante um ataque armado à área de experimento transgênico da transnacional suíça Syngenta no Paraná, ocupada pacificamente pela Via Campesina como forma de denúncia.
Emocionada, Íris entregou uma carta ao embaixador, exigindo que o governo Suíço ajude a punir a Syngenta pelo ato de violência e pelos crimes ambientais dos quais é acusada. "Peço que a embaixada se mobilize para ajudar a retirar a Syngenta do país e impedir que outros crimes como o que vitimou Keno voltem a acontecer. Ele foi morto de uma maneira covarde por jagunços que chegaram atirando violentamente", disse. Em resposta, Bärfuss afirmou querer que a Justiça brasileira investigue o caso o mais rapidamente possível. "Irei acompanhar o caso para exigir uma resposta para tal crime, pois nada justifica uma execução como essa, da forma violenta como ocorreu".
Para Maria da Costa, do Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o pedido de desculpas do embaixador não foi suficiente. "Queremos a responsabilização da Syngenta pelos crimes que ela comete no Brasil descritos na pauta de reivindicações. Em muitos lugares do país, as mulheres estão mobilizadas contra as transnacionais que massacram, violentam e assassinam homens e mulheres em todo o mundo. Queremos garantir que isto não acontecerá novamente".
Trocando em miúdos, quando se trata de preservar interesses políticos e econômicos, nem o embaixador da Suíça é notícia para essa mídia. Pelo contrário, o que eles publicam como verdade são as mentiras de um diretor da Vale. E tem gente que ainda acredita nas corporações brasileiras de mídia.
Por Marcelo Salles
do Fazendo Média (clique aqui para ver a publicação original)

UM VELHO FILME DA GUERRA FRIA - Uribe e as guerras preventivas

Para aqueles que aceitaram de modo acrítico a fábula pós-moderna do fim dos Estados e dos conflitos que marcaram o século passado, a surpresa foi tão grande quanto para aqueles que pensavam que o governo de George W. Bush não estava presente no dia-a-dia do seu antigo "quintal dos fundos".
Carlos Abel Suárez -Sinpermiso
A crise iniciada na semana passada entre o Equador e a Colômbia –que parece ter chegado a uma trégua depois da reunião de cúpula do Grupo do Rio, realizada em Santo Domingo— foi uma rápida olhada retrospectiva em um velho filme da Guerra Fria.Para aqueles que aceitaram de modo acrítico a fábula pós-moderna do fim dos Estados e dos conflitos que marcaram o século passado, a surpresa foi tão grande quanto para aqueles que pensavam que o governo de George W. Bush, enfrentando um impasse no Iraque e no Afeganistão, não estava presente no dia-a-dia do seu antigo "quintal dos fundos".A violação do território equatoriano por uma patrulha colombiana nos lembrou imediatamente a impunidade com que, por meio do Plano Condor, as ditaduras do Cone Sul realizavam seqüestros, roubos e assassinatos, passando de um país para outro sem maiores problemas. Há uma extensa literatura sobre o tema e sobre a maneira em que estes "grupos de tarefas" foram educados pela CIA e pela Escola das Américas.Todos esses "protocolos", a prática dos quais consiste em violações aberrantes dos direitos humanos e em crimes de lesa humanidade, foram atualizados pela atual administração norte-americana com o uso de modernas tecnologias, depois do 11 de setembro de 2001. Bush acaba de vetar uma lei que proibia a aplicação de tortura a prisioneiros (supostos terroristas), uma iniciativa legislativa que votaram democratas e republicanos e que, inclusive, teve o apoio de alguns funcionários da CIA.No caso da América Latina a justificativa destas ações de "guerra infinita" ou de "guerra preventiva" vem de longe, muito mais longe que os tempos da ameaça "comunista" da Guerra Fria. José Luis Fiori vem nos lembrando, nestas colunas, a origem e o curso que foram tomando as relações dos Estados Unidos com a região a partir da formulação da Doutrina Monroe, alicerce da posterior estratégia geopolítica de Washington.As ações de Álvaro Uribe constituem uma atualização desses métodos e mesmo da retórica do Departamento de Estado. Segundo fontes equatorianas oficiais, para detectar e eliminar Raúl Reyes, foi utilizado um míssil que segue, por sinal de satélite, a freqüência do telefone celular. Uma tecnologia norte-americana que foi passada para Israel, para ajudar a executar sem julgamento prévio qualquer um que eles queiram qualificar como "terrorista" ou "indesejável". Ao mesmo tempo, aviões colombianos e helicópteros artilheiros bombardeiam, de noite, no território de outro país, um suposto acampamento de terroristas, que foram mortos enquanto dormiam. Entre eles estava Reyes, mas também estudantes de outros países, sobre os quais não existem provas de que estivessem nas FARC. E como esses há numerosos exemplos. Todos confirmados pelas únicas autoridades legítimas, as equatorianas, na jurisdição onde ocorreram os fatos, e que podem ser rotulados como ações ilegais, violatórias do direito internacional e dos direitos humanos.Qual é o argumento de Uribe? Agimos "em legítima defesa". As mesmas palavras, "agimos em legítima defesa", que usava Ronald Reagan para justificar o financiamento e cobertura dada pelos Estados Unidos para a formação de um exército clandestino para atacar a Nicarágua nos anos 80. Reagan chamava os "contras" –que foram financiados, em aberta violação das próprias leis norte-americanas, traficando com armas e drogas— de "combatentes pela liberdade"."Os Estados Unidos têm o direito de operar clandestinamente em qualquer lugar do mundo e de espiar em países amigos", afirmou William Colby, diretor da CIA, em 1976, diante de parlamentares da oposição e organismos de Direitos Humanos que investigavam o golpe militar no Chile.Ou seja, a luta contra o "império do mal" não é uma frase de Bush; é uma velha consigna da "Nova direita" norte-americana, faz parte da sua história. Basta repassar por um momento os documentos públicos da Heritage Fundation ou do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais da Universidade de Georgetown, em Washington, entre outras instituições promotoras dos conservadores norte-americanos.A Colômbia, é claro, cai como anel no dedo para a elaboração destas políticas. Um território que vive há mais de meio século em um clima de violência que se retroalimenta, ao mesmo tempo que, para a geopolítica do Departamento de Estado, faz parte do seu mar interior, junto com a Venezuela e os países do Caribe.Ao acompanhar com detalhe todas as tentativas de paz, durante todos esses anos, nota-se sem muito esforço que a classe dirigente colombiana está em simbiose com a guerra. Vive com e da guerra. Passou todas as crises e recessões, que fizeram tremer o continente, sem grandes sobressaltos. O narcotráfico e a "assistência" militar constituem ótimas bóias ou alimentadores de bolhas financeiras e especulativas.A Associação Nacional de Instituições Financeiras (ANIF) em seu relatório anual prognosticava um bom ano econômico para 2001. Admitia, contudo, que tinham sido registrados, no ano anterior, 26.540 homicídios e 3.306 seqüestros, a maior taxa de mortos por violência do mundo. Isso não foi um problema para que a Colômbia fosse um dos maiores receptadores de investimentos diretos norte-americanos, nessa época e em todos os anos seguintes.É uma certeza que ninguém pode se acostumar a viver eternamente entre estes entulhos, e vem dai que a sociedade colombiana esteja farta de violência. Ainda que, curiosamente, algumas sondagens mostram que o belicismo ajuda à imagem de Uribe e, ao mesmo tempo, ele perde para a esquerda nas eleições municipais.Desde o início das negociações para a libertação dos reféns, no fim do ano passado, Uribe e a classe dirigente colombiana advertiram que esse não era um bom caminho para eles. O governo dos Estados Unidos também não gosta do protagonismo de Hugo Chávez e do resto dos mandatários "populistas" em um futuro processo de pacificação da Colômbia.As acusações dos familiares dos reféns e da diplomacia francesa contra Uribe são contundentes. Asseguram que Uribe está boicotando as ações humanitárias. Pesam mais os 600 milhões (declarados) de assistência militar norte-americana, os interesses corporativos do exército melhor armado da América Latina, os diversos grupos parapoliciais e paramilitares, os narcotraficantes e as FARC, todos atores de uma lógica de guerra.A história da Colômbia nas últimas décadas está atravessada por numerosas pantomimas de trégua e de projetos de pacificação que terminaram em verdadeiros massacres. Não só para aqueles que haviam deposto as armas, mas para milhares e milhares de dirigentes e lutadores sociais. Existem milhões de "deslocados", todos vítimas desta guerra civil latente.Mas vejamos; para além das desculpas apresentadas por Uribe ao Grupo do Rio, tudo indica que ele vai persistir na saída "militar", bem respaldado por políticos e empresários colombianos, a maioria deles recebendo do narcotráfico ou da narcolavagem, que às vezes têm diferentes operadores. Os segundos se consideram como os mais limpinhos do negócio.Pelo contrário, o caminho da paz teria que ser o objetivo fundamental dos governos progressistas da América Latina, fazendo causa comum com o povo colombiano.Para os falcões de todos os tempos vale o que lembrava Alejandro Nadal a propósito dos 40 anos da ofensiva do Tet. E não só no Vietnã, mas também na Argélia acreditavam em uma solução militar; e quando nos gabinetes militares davam a guerra como ganha para o exército colonial francês, tudo veio abaixo. Senhores: é a política, ou melhor, é a economia política, no sentido clássico. Bismarck teve uma brilhante idéia referente a "uma guerra preventiva". Disse que era como o suicídio, que se comete com a única finalidade de prevenir a morte. Essas palavras iam dirigidas à classe dominante alemã da época, que como mais tarde demonstraria Guilherme II, o imperador da Alemanha, ficou entusiasmada nos albores do século XX com a idéia de uma "guerra preventiva". Uma classe dirigente que não escutou o bom conselho e foi parar na lixeira da história.Uma lição oportuna também para Uribe e para seus amigos de Washington e Londres, que vão ganhando a guerra preventiva no Iraque e no Afeganistão.
Carlos Abel Suárez é membro do Conselho de Redação de SINPERMISO
Tradução: Naila Freitas / Verso Tradutores
Artigo publicado na Agência Carta Maior em 11/3/08.

11.3.08

Viagem de formatura - por Rosely Sayão

11/03/2008
Viagem de formatura
Alguns internautas solicitaram abordar o tema das viagens de formatura. Apesar de, como observou uma leitora, eu já ter escrito sobre o assunto, vamos analisar sob outra perspectiva hoje.
Ante de tudo quero fazer um alerta aos pais e escolas: algumas – eu realmente não sei se algumas ou muitas – agências de turismo, que coordenam e organizam essas viagens, têm agido de modo nada adequado com os adolescentes. Algumas procuram saber quem são os alunos representantes ou líderes de sala e os aliciam – tanto no sentido de seduzir quanto no de oferecer suborno - para que façam o trabalho de convencer os colegas a querer o passeio.
Os recursos que elas oferecem são, pelo menos os que chegaram ao meu conhecimento: dar brindes de todos os tipos, oferecer a viagem de graça para quem consegue convencer certa quantidade de colegas a se inscreverem para a viagem, dar presentes e mordomias chamadas VIPs etc. Quando não dão esse passo, os agentes esperam os alunos na saída da aula e chegam com um discurso pra lá de persuasivo e sedutor. Vamos falar a verdade: fica bem difícil confiar filhos a agências que agem dessa maneira com os jovens, não é verdade?
Outra coisa: os monitores são muito jovens. Quase tão jovens quanto os próprios estudantes. Segundo um funcionário de uma das agências, isso é muito bom porque eles têm energia suficiente para acompanhar a moçada que adora virar a noite acordada. Com monitores tão novos os estudantes ficam bem à vontade e quase sem contenção alguma para seus impulsos e tentações.
Agora, vamos pensar na viagem em si como comemoração do fim de um ciclo. Festejar a finalização de uma etapa nos estudos é bem interessante, quase um rito de passagem: despedida de pessoas que conviveram por vários anos, confraternização com professores, comemoração com a família que tanto colaborou nesse trajeto etc. Mas a viagem não promove nada disso: é uma festa apenas para os colegas. Que, por sinal, vão para a viagem a fim de farrear. E só.
Sabemos que os ritos de passagem são cerimônias que ajudam no crescimento e amadurecimento de jovens que vencem etapas na vida porque apontam o que está por vir e facilitam a transição. As viagens, do modo como têm sido programadas, parece que colaboram para que os estudantes só vejam o que acabou e queiram se esbaldar nisso. Está mais para despedida de solteiro, que faz o homem desfrutar sem medida tudo o que está a renunciar, não é mesmo?
Creio que essas viagens só fazem sucesso porque nossa sociedade simplesmente aboliu os ritos de passagem tão úteis aos mais novos. Talvez seja este um bom momento para repensarmos nosso papel nessa questão.

Fonte: Blog da Rosely Sayão (clique aqui para ler na fonte)

10.3.08

O Brasil e a América do Sul

O portal da BBC Brasil faz uma interessante discussão sobre a capacidade de o Brasil liderar a América do Sul.
Na verdade ela produz um Especial com o título de BRASIL: GIGANTE VIZINHO. Uma série de matérias – textos e vídeos – sobre o papel do Brasil no subcontinente.
Material de primeira qualidade, vejam:


Para América do Sul, liderança brasileira ainda é promessa

Com metade do PIB do continente e uma extensão territorial que lhe garante fronteira com nove dos seus 11 vizinhos, o Brasil é visto na América do Sul como um potencial líder da região. Mas essa liderança brasileira, intencional ou não, é considerada apenas uma promessa.
"Eu acho que o Brasil tem o papel de grande integrador", diz o ministro do Exterior do Peru, José António Garcia Belaunde, que acrescenta: o país "poderia fazer mais (…) com mais iniciativa e, obviamente, mais investimento".
As palavras do ministro peruano sintetizam um sentimento generalizado identificado pela reportagem da BBC Brasil, que esteve nos outros 11 países da América do Sul para ouvir de políticos, empresários e cidadãos comuns o que eles pensam do seu gigante vizinho.
Há quem considere difícil o Brasil aumentar sua influência regional, mas é comum a opinião de que a maior potência sul-americana deveria fazer mais pelo continente, idéia defendida pelo ex-ministro da Defesa colombiano Rafael Pardo.
"Francamente (as aspirações de liderança brasileira), deveriam ser mais ativas. A idéia da união sul-americana ficou débil, o Brasil parece ter perdido o entusiasmo em relação a essa idéia, e acho que é necessário entusiasmo para a América do Sul ter um processo de integração mais dinâmico do que o tem tido até agora", avalia.
A posição de liderança e a própria necessidade de um líder regional são ainda tabus para o governo brasileiro. Em 2003, no início do seu primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse, em um discurso diante de novos diretores da hidrelétrica de Itaipu, que o continente pedia por uma liderança vinda de Brasília. "É impressionante como todos esses países estão quase a exigir que o Brasil lidere a América do Sul."

Cobrança
Mas a frase causou um certo mal-estar, já que, desde que começou a trabalhar por um projeto de integração sul-americana, no início dos anos 90, a diplomacia brasileira tem negado uma intenção explícita de liderar a região – uma idéia que poderia desagradar a vizinhos e atrapalhar o processo. Hoje o próprio Lula evita qualquer menção a uma liderança brasileira e sempre que pode repete que a América do Sul "não precisa de um líder".
Porém o fato é que a maior parte das nações sul-americanas continua a ver o Brasil como o país com o maior potencial para promover a integração regional, apesar de considerar que tal potencial ainda não esteja sendo totalmente aproveitado.

Pilares
A integração sul-americana passa atualmente passa pela construção de dois grandes pilares: o econômico e o político. Do ponto de vista econômico, uma das questões que mais geram críticas ao Brasil é a relação comercial.
O mercado de consumo brasileiro é cobiçado por todos os vizinhos e apontado como um dos fatores que mais poderiam favorecer a união regional. No entanto, o Brasil ainda é um dos países mais fechados da região e mantém superávits comerciais com praticamente todo os outros países sul-americanos.
"Em 1991, pensávamos que o nosso acesso a um mercado ampliado permitiria que várias empresas de outras partes do mundo se instalassem no Uruguai", diz José Manuel Quijano, diretor da Comissão Setorial para Mercosul do Uruguai. "Mas isso não se concretizou."
Para Quijano, uma das explicações para a frustração uruguaia está na incerteza em relação ao acesso ao mercado brasileiro. Apesar de ter sustentado déficits com o Uruguai por vários anos desde o início da década de 90, o Brasil tem apresentado superávit com sua antiga Província Cisplatina desde 2004. Em 2006, o Brasil vendeu ao Uruguai quase o dobro do que importou: US$ 1 bilhão contra US$ 640 milhões.
Esse é um processo que se repete na relação com a maioria dos outros países. Hoje o Brasil vende quase dez vezes mais do que compra da Venezuela e quase cinco vezes mais do que importa da Colômbia. Desde problemas de regulamentação alfandegária até a barreira com a língua e a infra-estrutura são apontados como empecilho para se vender mais ao gigante vizinho.
Da ótica de vários especialistas, políticos e diplomatas de outros países da região, a balança comercial é apenas uma das faces do problema. Alguns acreditam que o Brasil não pode se dedicar mais à solução de problemas regionais por causa dos seus próprios desafios.
"O dilema político do Brasil é que (o país) tem todas as condições para ser um líder regional e, em muitos casos, exerce essa liderança no nível político", diz Dante Sica, presidente da consultoria argentina Abeceb, especializada nas relações entre os dois maiores países da região. "Porém o país não tem todos os atributos de um líder, porque tem muitos problemas internos."

Problemas
Na opinião de Sica, tais problemas afetam a capacidade brasileira de investir na região. Para ele, é difícil para o Brasil tomar a decisão política de colocar a mão no bolso para acabar com assimetrias com alguns vizinhos menores. “Como Lula pode ajudar o Paraguai (…) e não dar dinheiro para o Nordeste?”, pergunta.
Como resultado, muitos vêem o Brasil como uma espécie de tigre sem dentes: uma nação que deveria colocar mais dinheiro nas estradas do Peru, pagar mais pela energia comprada dos vizinhos, ajudar em projetos de desenvolvimento sustentável no Equador, mas que não consegue, ou não quer, fazer isso.

Espaços vazios
Nessa espécie de vácuo deixado pelo Brasil, pela primeira vez desde o fortalecimento da idéia de integração um país passou a ocupar espaços na busca por liderança. Com os cofres cheios de petrodólares, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, tem feito em relação a alguns países da região aquilo que o gigante do continente não consegue.
“Acredito que Lula compreendeu apenas recentemente que não pode deixar o cenário latino-americano (e a América Sul) coberto somente pela vigorosa figura de Hugo Chávez”, afirma o ex-ministro do Planejamento venezuelano Teodoro Petkoff, opositor a Chávez.
Para ele, a capacidade do presidente da Venezuela de ameaçar a posição brasileira na integração regional é superdimensionada, especialmente pelos Estados Unidos. Mas ele acredita que o Brasil precisa se dedicar mais para servir de contraponto à posição de Chávez.
A dúvida de muitos é se Venezuela e Brasil disputam uma posição de liderança ou podem trabalhar juntos para o bem da região. Com a chegada ao poder de Luiz Inácio Lula da Silva, havia quem esperasse ou temesse uma maior aproximação entre os dois países.
Mas a mais recente crise política envolvendo Equador e Colômbia mostrou diferenças claras de ação entre Brasil e Venezuela: o governo brasileiro acionou sua diplomacia, enquanto Caracas mobilizou tropas.

O alívio da crise, obtido no âmbito de negociações na Organização dos Estados Americanos (OEA), também mostrou que o Brasil não é uma superpotência que pode impor soluções sozinha, posição que o próprio governo brasileiro diz nunca ter buscado.
Além disso, na reunião do Grupo do Rio, que selou definitivamente o fim da crise, Lula não estava presente, tendo enviado o ministro Celso Amorim para representá-lo. Coube à argentina Cristina Kirchner e a Hugo Chávez o papel de mediadores na reunião de chefes de governo.
Confrontado com as demandas, o governo brasileiro cita o que considera sucessos e avanços na integração e na atuação brasileira na América do Sul. Dessa lista fazem parte a evolução, mesmo que lenta, da infra-estrutura física, a conclusão de acordos de livre comércio, a criação da Comunidade Sul-Americana das Nações, hoje Unasul, e a criação do Banco do Sul – uma proposta de Chávez abraçada com relutância pelo Brasil.
Aos críticos, a resposta brasileira é que uma integração continental não acontece rapidamente nem sem percalços. Mas inúmeras vozes na América do Sul dizem que, após quase duas décadas de esforços para integrar a região, a liderança brasileira, assim como a formação de um bloco sul-americano, continua no campo das promessas.

* Colaboraram Alessandra Correa (Bolívia e Paraguai), Andrea Wellbaum (Argentina e Uruguai), Daniel Gallas (Venezuela), Márcia Freitas (Peru e Chile) e Pablo Uchoa (Colômbia e Equador)

Veja mais no portal da BBC Brasil.

8.3.08

Crise na América do Sul

A invasão que a Colômbia promoveu em território equatoriano foi flagrante desrespeito às normas jurídicas internacionais sob qualquer ponto de vista.
A alegação de defesa soa como ofensa a inteligência, por mais mediana que esta seja.
O que quer Uribe?
Parece claro: desmerecer e inviabilizar a mediação que Hugo Chávez promove junto à FARC para a libertação de reféns, mesmo que para isso tenha que sacrificar a vida de Ingrid Betancourt.
Ao atacar o Equador ele cria um fato contra um outro país que não a Venezuela, mas por acaso, aliado de Chávez.
A mídia brasileira, ou grande parte da grande mídia, passa a ecoar os documentos e declarações colombianas, como se fossem a mais absoluta expressão da verdade.
Vale lembrar que, embora isolado dentro da América do Sul, Álvaro Uribe conquistou importante visibilidade interna, inclusive junto à mídia, fato que poderá levá-lo a retumbante vitória política, pois agora tem uma quantidade enorme de informações sobre as FARC e vai liberá-las seletivamente, ao seu gosto e de acordo com suas necessidades.
O que nossa mídia não informa:
- infinidade de crimes cometidos pelo governo, exército e paramilitares (clique
aqui para ler algumas denúncias);
- que Álvaro Uribe já foi acusado pelos EUA de envolvimento com o narcotráfico e com o Cartel de Medellín (clique
aqui para ler);
- o presidente Uribe também se envolveu com os paramilitares de direita da AUC (clique
aqui para saber mais), assim como membros do seu governo (leia aqui).
Penso que este episódio, isoladamente, não apresenta perigo de evoluir para um conflito armado. O recrudescimento das ações da Colômbia em países vizinhos poderá agravar a situação, aumentando esse risco.


Leituras recomendadas:
Uribe e Bush, enfim sós
A história de um massacre (texto imperdível do Le Monde Diplomatique)

7.3.08

As razões para não suportar a revista Veja

A revista eletrônica Nova-e preparou um revival sobre tudo que já foi publicado sobre o péssimo jornalismo de Veja.
Tem uma parte do texto com algumas capas de maldita que vale por uma tese.
No link abaixo você encontra muita coisa esclarecedora, talvez ajude aqueles que não entendem minha ojeriza à Veja. É só clicar:


Alguns trechos:

Veja aderiu à imprensa marrom
Alberto Dines
Veja é que não tem o direito de achincalhar seus quase 40 anos de história incorporando com tanto gosto a depravação que Diogo Mainardi espalha em seus escritos.

Falácias da Revista Veja: análise da questão racial brasileira
Ana Paula Maravalho*
“O livro de Ali Kamel já nasce anacrônico e deficiente em seus argumentos. Pode-se ser contra as cotas por vários motivos. Negar a existência do racismo no Brasil, no entanto, beira o revisionismo”, escreve a conselheira gestora do Observatório Negro, Ana Paula Maravalho.

Racistas controlam a revista Veja
Altamiro Borges
Mas as relações alienígenas da revista Veja não são recentes nem se dão apenas com os racistas da África do Sul. Até recentemente, ela sofria forte influência na sua linha editorial das corporações dos EUA.

O jornalismo covarde de Veja e o silêncio profissional
Por Renato Rovai
Vi esse Mainardi, que mentiu na sua coluna, encostado no fundo do plenário, por horas, falando baixinho e olhando pro chão. Parecia ter medo que alguém lhe fosse cobrar honestidade ou coisa do gênero.

A "última" da Veja
Dom Cappio merece o nosso respeito
Por Antonio Bicarato
Muito além da polêmica sobre o São Francisco, a revista Veja deveria ter a mesma dignidade de Dom Cappio.

Revista Veja
Laboratório de invenções da elite
Por Anselmo Massad, da revista Fórum
Um movimento popular ganhava atenção e simpatia da opinião pública fazia dois anos. Era preciso desmoralizá-los. Em junho de 1998, a capa da revista semanal com maior tiragem do país enquadrava uma das lideranças do movimento com uma iluminação avermelhada produzida nas telas de um computador sobre o rosto com uma expressão tensa. A chamada não deixava dúvidas: “A esquerda com raiva”. O rosto demonizado era de João Pedro Stédile, líder do movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), e a publicação, Veja.

Breve aula de História e Geopolítica

Breve aula de História e Geopolítica proferida pelo professor José Luís Fiori e estampada na página da Agência Carta Maior:


Cuba

Do ponto de vista dos EUA, Cuba lhes pertence, e está incluída na sua “zona de segurança”. Além disto, aos seus olhos, a posição soberana dos cubanos transforma a ilha num aliado potencial dos países que se propõem a exercer influência no continente americano, de forma competitiva com os Estados Unidos.

José Luís Fiori

Foi logo depois da conquista da Flórida, em 1819. Os Estados Unidos só tinham 40 anos de idade, e seu território não ia além do Rio Mississipi. James Monroe era o presidente dos Estados Unidos, mas foi seu Secretário de Estado, John Quincy Adams, quem falou, pela primeira vez, da atração norte-americana por Cuba. Quando disse, numa reunião ministerial do governo Monroe, que “existem leis na vida política que são iguais às da física gravitacional: e por isto, se uma maçã for cortada de sua árvore nativa - pela tempestade - não terá outra escolha senão cair no chão; da mesma forma que Cuba, quando se separar da Espanha, não terá outra alternativa senão gravitar na direção da União Norte Americana. E por esta mesma lei da natureza, os americanos não poderão afastá-la do seu peito”. Naquele momento, o desejo de Quincy Adams ainda não era conquistar a ilha, era preservá-la, e por isso deu ordem ao seu embaixador em Madrid, que comunicasse ao governo espanhol a “repugnância americana à qualquer tipo de transferência de Cuba para as mãos de outra Potência”.
Em 1819, a capacidade americana de projetar seu poder para fora de suas fronteiras nacionais, ainda era muito pequena, mas a declaração de Quincy Adams explicitou um desejo e antecipou um projeto, que se realizaria plenamente, a partir de 1890. Logo no início da década, o almirante Alfred Thayer Mahan, publicou um livro clássico, que exerceu imensa influencia sobre a elite dirigente norte-americana. Sobre a importância do poder naval, e das ilhas do Caribe e do Pacífico para o controle dos oceanos e a expansão das grandes potências. Logo em seguida, os Estados Unidos anexaram o Hawaii, em 1897, e venceram a Guerra Hispano-Americana, em 1898, conquistando Cuba, Filipinas e algumas outras ilhas caribenhas, onde estabeleceram um sistema de “protetorados”, como forma de governo compartido destes territórios.
Logo depois da sua vitória contra a Espanha, o presidente William McKinley repetiu, frente ao Congresso Americano, em dezembro de 1889, a velha tese de Quincy Adams: “a nova Cuba precisa estar ligada a nós americanos, por laços de particular intimidade e força, para assegurar de forma duradoura, o seu bem estar” . E foi isto que aconteceu: os cubanos aprovaram sua primeira Constituição independente, em 1902, mas tiveram que anexar ao seu texto, uma lei aprovada pelo Congresso Americano e imposta aos cubanos, em 1901 – The Platt Amendement – que definia os limites e as condições de exercício da independência dos islenhos.
Os Estados Unidos mantinham sob seu controle a política externa e a política econômica de Cuba, e ficava assegurado o direito de intervenção dos norte-americanos na ilha, em “caso de ameaça à vida, a propriedade e à liberdade individual dos cubanos”. Em 1934, a Emenda Platt foi abolida, e foi substituída por um novo tratado entre os dois países, que assegurou o controle americano da Base Naval de Guantanamo, e garantiu a tutela dos Estados Unidos sobre o longo período de poder de Fulgêncio Batista, que assumiu o governo de Cuba, em 1933, a bordo de um cruzador norte-americano, e depois governou Cuba, de forma direta ou indireta, até 1959.
Depois da Revolução Cubana de 1959, entretanto, a ilha deixou de ser a “maçã” de Quincy Adams, sem deixar de ser o “objeto do desejo” dos norte-americanos. O novo governo revolucionário assumiu o comando da sua economia e da sua política externa, e provocou a reação imediata e violenta dos Estados Unidos. Primeiro foi o “embargo econômico”, imposto pela administração Eisenhower, em 1960, e logo depois, a ruptura das relações diplomáticas, em 1961. Em seguida, foi a administração Kennedy, que promoveu e apoiou a frustrada invasão da Bahia dos Porcos, a expulsão cubana da Organização dos Estados Americanos, e vários atentados contra dirigentes cubanos.
No início, os Estados Unidos justificaram sua reação, como defesa das propriedades norte-americanas expropriadas pelo governo cubano, em 1960, e como contenção da ameaça comunista, situada a 145 quilômetros do seu território. Mas depois de 1991, e do fim da URSS e da Guerra Fria, os Estados Unidos mantiveram e ampliaram sua ofensiva contra Cuba, só que agora, em nome da democracia, apesar de que mantenham relações amistosas com o Vietnã e a China. No auge da crise econômica provocada pelo fim de suas relações preferenciais com a economia soviética, entre 1989 e 1993, os governos de George Bush e Bill Clinton, tentaram um xeque-mate contra Cuba, proibindo as empresas transacionais norte-americanas, instaladas no exterior, de negociarem com os cubanos, e depois, impondo penalidades às empresas estrangeiras que tivessem negócios com a ilha, através da Lei Helms-Burton, de 1996.
Esta atração precoce e a obsessão permanente dos Estados Unidos não autorizam grandes ilusões, neste momento de mudanças nos dois países. Do ponto de vista americano, Cuba lhes pertence, e está incluída na sua “zona de segurança”. Além disto, aos seus olhos, a posição soberana dos cubanos transforma a ilha num aliado potencial dos países que se propõem exercer influencia no continente americano, de forma competitiva com os Estados Unidos. Por fim, Cuba já se transformou num símbolo e numa resistência que é intolerável por si mesma, para os seus vizinhos norte-americanos. Por isto, o objetivo principal dos Estados Unidos, em qualquer negociação futura, será sempre o de fragilizar e destruir o núcleo duro do poder cubano. Por sua vez, Cuba não tem como abrir mão do poder que acumulou a partir de sua posição defensiva, e de sua resistência vitoriosa. A hipótese de uma “saída chinesa” para Cuba, é improvável, porque se trata de um país pequeno, com baixa densidade demográfica, e com uma economia que não dispõe da massa crítica indispensável para uma relação complementar e competitiva, com os norte-americanos. Por isto, apesar da mobilização internacional a favor de mudanças nas relações entre os dois países, o mais provável é que os Estados Unidos mantenham sua obsessão de punir e enquadrar Cuba; e que Cuba se mantenha na defensiva e lutando contra a lei da gravidade, formulada por John Quincy Adams, em 1819.

José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Publicação original: Agência Carta Maior.

6.3.08

Caros Amigos especial sobre Cuba

Imperdível!

Vejam o sumário:

4 PERFIL- Fidel Quixote
12 POVO - O charme discreto do povão
14 SAÚDE - Os Estados Unidos se curvam
18 EDUCAÇÃO - Um professor para cada dez alunos
19 DIVERSÃO - Um povo de esportistas
20 ESTUDANTES - Os filhos de Fidel
22 24 DRAMA - Caso de amor entre uma americana e um cubano
25 CINEMA - O salto cinematográfico
26 SISTEMA POLÍTICO - “Democracia socialista é uma redundância”
29 ARTIGO - É preciso conhecer o país – Alessandra Silvestri-Levy

Corra até a banca mais próxima e encomende o seu exemplar!


5.3.08

Arthur Virgílio: senador dos contos do vigário

O senador Arthur Virgílio é um arremedo de incendiário. Sonha em ser Carlos Lacerda um dia (clique aqui se você não sabe de quem estou falando), mas falta-lhe carismo e, acima de qualquer coisa, inteligência.
No papel de reprodutor das notícias encomendadas na grande mídia parece um ator canastrão, daqueles em fim de carreira.
A bola da vez é o ataque gratuito à Venezuela, Hugo Chávez por tabela, mas tentanto alvejar Lula, mesmo que para isso tenha que arrastar empresas do porte da TAM.
Parece aqueles personagens de antigamente que viviam de conto do vigário.
Bem fez a população do seu Estado que lhe negou o voto nas últimas eleições!
Sobre o seu mais recente destempero Luiz Carlos Azenha publicou no blog Vi o Mundo:
A NOTA DA TAM E UM IRRESPONSÁVEL CHAMADO ARTHUR VIRGÍLIO
Atualizado em 05 de março de 2008 às 12:10 Publicado em 05 de março de 2008 às 12:04
Um senador da República irresponsável. É Arthur Virgílio. Diz qualquer coisa para atingir seus objetivos políticos, ainda que no processo prejudique o Brasil em escala internacional. Não faz mal. Desde que ele consiga faturar um pontinho. Mais uma para desmoralizar completamente o pilar da oposição brasileira:
São Paulo, 04 de março de 2008 – Sobre declaração feita hoje no Senado sobre suposto transporte secreto de armamento para a Venezuela, a TAM esclarece:
1. A companhia não realiza “vôos secretos” à Venezuela ou a qualquer outro destino. A TAM mantém vôo regular diário para Caracas, de passageiros e cargas, desde setembro de 2007;
2. A pedido do Ministério da Defesa, a companhia realizou, em caráter de urgência, uma pesquisa em seus registros dos últimos 15 dias, sem encontrar nenhuma exportação de armas, e repassou essa informação às autoridades. Em seguida, iniciou buscas nos dias anteriores, localizando uma exportação de uma carga de revólveres Taurus para um importador venezuelano, totalizando 1.329,4 kg.
3. A exportação, que seguiu todos os trâmites legais, contou com as autorizações oficiais devidas, e o transporte desse tipo de carga pela TAM é autorizado pelo Exército (Certificado de Registro nº 34704, de 11.10.2006, válido até 30.09.2008), que também emitiu a permissão ao exportador (Guia de Tráfego nº 000319/2008, de 15.01.2008).
4. O transporte regular de exportações da Taurus também é feito para países como os EUA e Argentina, sempre cumprindo todos os requisitos previstos em lei.

A Taurus foi uma das grandes financiadoras da campanha contra o desarmamento no Brasil. Espero que Arthur Virgílio, com apoio da Veja, inicie uma campanha para banir a fabricação de armas no país.

Acesse aqui a publicação original.