30.10.07

Contra a ONU os EUA continuam a bloquear Cuba

Segue um texto, publicado hoje pela Agência Carta Maior, demonstrando os sentimentos “democráticos” e de “respeito à ordem internacional” por parte da nação mais poderosa do Planeta. O desumano bloqueio exercido contra a pequena Cuba já dura 45 anos, praticado com a arrogância dos mandatários do mundo, daqueles que acreditam possuir o poder de dar a vida ou a morte a todos os povos do mundo.

Pela 16ª vez, ONU pede o fim do bloqueio a Cuba

Marco Aurélio Weissheimer - Carta Maior

A Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) votou, nesta terça-feira, pelo 16° ano consecutivo, uma resolução para pressionar os Estados Unidos a suspender seu embargo de quatro décadas contra Cuba. Intitulada de “necessidade de encerrar o embargo econômico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos da América a Cuba”, a resolução foi aprovada com 184 votos a favor, quatro contra e uma abstenção.
A medida não teve nenhum impacto na política norte-americana nas ocasiões anteriores e o mesmo deve ocorrer agora. Na semana passada, o presidente George W. Bush rejeitou qualquer relaxamento das sanções sem que haja o que denominou de “transição democrática completa no país”. Segundo Bush, o fim das sanções apenas incentivaria a permanência do atual governo no comando da ilha.

"Arrogância unilateral"
O relator especial de Direito à Alimentação da ONU, Jean Ziegler, condenou o embargo realizado pelos EUA contra Cuba, qualificando-o como uma “arrogância unilateral” e um ataque à ordem internacional. Em matéria de alimentação, destacou Ziegler, Cuba lida “com muita criatividade com as limitações e com o sofrimento que o bloqueio ocasionou”, o qual, segundo dados do governo cubano, já provocou perdas de 89 bilhões de dólares em mais de 45 anos de vigência.
O bloqueio total do comércio entre EUA e Cuba foi decretado formalmente mediante uma ordem executiva do presidente John F. Kennedy, no dia 3 de fevereiro de 1962. No entanto, as medidas punitivas contra a ilha começaram poucas semanas depois o triunfo da Revolução Cubana, em 1° de janeiro de 1959. No dia 12 de fevereiro daquele ano, os EUA negaram a concessão de um crédito para Cuba manter a estabilidade da moeda nacional.
Posteriormente, foram sendo aplicadas outras medidas como a restrição do fornecimento de combustível pelas empresas transnacionais norte-americanas, a paralisação de plantas industriais, a proibição de exportações a Cuba e a supressão parcial, e depois total, da quota de açúcar. Todas essas medidas tinham como objetivo asfixiar economicamente a recém-nascida revolução cubana.
Em função do bloqueio, Cuba não pode, entre outras restrições, exportar nenhum produto para o mercado norte-americano, nem receber turistas vindos dos EUA. Além disso, não tem acesso a créditos e nem pode utilizar o dólar em suas transações com o exterior. Os navios e aviões cubanos estão proibidos de tocar portos e aeroportos dos EUA. Essa política tem um caráter extraterritorial, uma vez que impede importações de subsidiárias norte-americanas instaladas em outros países e sanciona investimentos estrangeiros em Cuba.

Os aliados dos EUA: Israel, Palau e Ilhas Marshall
A resolução aprovada pela ONU exortou “mais uma vez todos os Estados a absterem-se de promulgar ou aplicar o embargo e aos que o aplicam a deixar de o fazer, em conformidade com as obrigações que lhes impõem a Carta (das Nações Unidas) e o direito internacional que, nomeadamente, consagram a liberdade de comércio e de navegação”. Como ocorreu em 2006, além dos EUA, Israel, Palau e ilhas Marshall votaram contra a resolução. Já a abstenção ficou por conta da Micronésia.
As resoluções da Assembléia Geral da ONU não têm efeito vinculativo. No caso do bloqueio a Cuba, refletem a crescente e majoritária oposição internacional à política patrocinada pelos EUA. A cada ano que passa o bloqueio vem sendo condenado por uma maioria crescente de Estados. Quando a primeira resolução foi apresentada, em 1992, obteve apenas 59 votos a favor. Subiu para 179 em 2004 e 183 em 2006.
Representantes de vários países manifestaram-se contra o bloqueio. O embaixador da Venezuela, Jorge Valero, disse que as recentes manifestações de Bush, rejeitando o fim do bloqueio e defendendo a mudança de regime na ilha, representam uma “nova e vã tentativa de derrotar a revolução e reconquistar Cuba”. Já o representante do Egito, Maged Abdelaziz, falando em nome dos países não-alinhados, disse que o embargo “além de ser unilateral e contrário à Carta da ONU, ao direito internacional e ao princípio da boa vizinhança, está causando danos materiais e econômicos ao povo de Cuba”.
O grupo dos 77, através do representante paquistanês Farukh Amil, também pediu que os EUA “substituam a política de embargo pelo diálogo e pela cooperação”. O Brasil também votou favoravelmente ao fim do bloqueio comercial contra a ilha.


Fonte: Agência Carta Maior

29.10.07

Zeca Baleiro o rolex do Huck

Texto na Folha de S.Paulo de hoje, seção Tendências/Debates, clique aqui (mas só assinantes) para conferir o original.
Primoroso!
O rolo do Rolex
ZECA BALEIRO

NO INÍCIO do mês, o apresentador Luciano Huck escreveu um texto sobre o roubo de seu Rolex. O artigo gerou uma avalanche de cartas ao jornal, entre as quais uma escrita por mim. Não me considero um polemista, pelo menos não no sentido espetaculoso da palavra. Temo, por ser público, parecer alguém em busca de autopromoção, algo que abomino. Por outro lado, não arredo pé de uma boa discussão, o que sempre me parece salutar. Por isso resolvi aceitar o convite a expor minha opinião, já distorcida desde então.
Reconheço que minha carta, curta, grossa e escrita num instante emocionado, num impulso, não é um primor de clareza e sabia que corria o risco de interpretações toscas. Mas há momentos em que me parece necessário botar a boca no trombone, nem que seja para não poluir o fígado com rancores inúteis. Como uma provocação.
Foi o que fiz. Foi o que fez Huck, revoltado ao ver lesado seu patrimônio, sentimento, aliás, legítimo. Eu também reclamaria caso roubassem algo comprado com o suor do rosto. Reclamaria na mesa de bar, em família, na roda de amigos. Nunca num jornal.
Esse argumento, apesar de prosaico, é pra mim o xis da questão. Por que um cidadão vem a público mostrar sua revolta com a situação do país, alardeando senso de justiça social, só quando é roubado? Lançando mão de privilégio dado a personalidades, utiliza um espaço de debates políticos e adultos para reclamações pessoais (sim, não fez mais que isso), escorado em argumentos quase infantis, como "sou cidadão, pago meus impostos". Dias depois, Ferréz, um porta-voz da periferia, escreveu texto no mesmo espaço, "romanceando" o ocorrido. Foi acusado de glamourizar o roubo e de fazer apologia do crime.
Antes que me acusem de ressentido ou revanchista, friso que lamento a violência sofrida por Huck. Não tenho nada pessoalmente contra ele, de quem não sei muito. Considero-o um bom profissional, alguém dotado de certa sensibilidade para lidar com o grande público, o que por si só me parece admirável. À distância, sei de sua rápida ascensão na TV. É, portanto, o que os mitificadores gostam de chamar de "vencedor". Alguém que conquista seu espaço à custa de trabalho me parece digno de admiração.
E-mails de leitores que chegaram até mim (os mais brandos me chamavam de "marxista babaca" e "comunista de museu") revelam uma confusão terrível de conceitos (e preconceitos) e idéias mal formuladas (há raras exceções) e me fizeram reafirmar minha triste tese de botequim de que o pensamento do nosso tempo está embotado, e as pessoas, desarticuladas.
Vi dois pobres estereótipos serem fortemente reiterados. Os que espinafraram Huck eram "comunistas", "petistas", "fascistas". Os que o apoiavam eram "burgueses", "elite", palavra que desafortunadamente usei em minha carta. Elite é palavra perigosa e, de tão levianamente usada, esquecemos seu real sentido. Recorro ao "Houaiss": "Elite - 1. o que há de mais valorizado e de melhor qualidade, especialmente em um grupo social [este sentido não se aplica à grande maioria dos ricos brasileiros]; 2. minoria que detém o prestígio e o domínio sobre o grupo social [este, sim]".
A surpreendente repercussão do fato revela que a disparidade social é um calo no pé de nossa sociedade, para o qual não parece haver remédio -desfilaram intolerância e ódio à flor da pele, a destacar o espantoso texto de Reinaldo Azevedo, colunista da revista "Veja", notório reduto da ultradireita caricata, mas nem por isso menos perigosa. Amparado em uma hipócrita "consciência democrática", propõe vetar o direito à expressão (represália a Ferréz), uma das maiores conquistas do nosso ralo processo democrático. Não cabendo em si, dispara esta pérola: "Sem ela [a propriedade privada], estaríamos de tacape na mão, puxando as moças pelos cabelos". Confesso que me peguei a imaginar esse sr. de tacape em mãos, lutando por seu lugar à sombra sem o escudo de uma revista fascistóide. Os idiotas devem ter direito à expressão, sim, sr. Reinaldo. Seu texto é prova disso.
Igual direito de expressão foi dado a Huck e Ferréz. Do imbróglio, sobram-me duas parcas conclusões. A exclusão social não justifica a delinqüência ou o pendor ao crime, mas ninguém poderá negar que alguém sem direito à escola, que cresce num cenário de miséria e abandono, está mais vulnerável aos apelos da vida bandida. Por seu turno, pessoas públicas não são blindadas (seus carros podem ser) e estão sujeitas a roubos, violências ou à desaprovação de leitores, especialmente se cometem textos fúteis sobre questões tão críticas como essa ora em debate.
Por fim, devo dizer que sempre pensei a existência como algo muito mais complexo do que um mero embate entre ricos e pobres, esquerda e direita, conservadores e progressistas, excluídos e privilegiados. O tosco debate em torno do desabafo nervoso de Huck pôs novas pulgas na minha orelha. Ao que parece, desde as priscas eras, o problema do mundo é mesmo um só -uma luta de classes cruel e sem fim.

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JOSÉ DE RIBAMAR COELHO SANTOS, 41, o Zeca Baleiro, é cantor e compositor maranhense. Tem sete discos lançados, entre eles, "Pet Shop Mundo Cão".

28.10.07

Advogado: Padre Julio "cedeu à extorsão"

O texto abaixo está publicado no blog do Luis Carlos Azenha: Vi o mundo.


Advogado: Padre Julio "cedeu à extorsão"
Ganhei o prêmio Embratel de reportagem investigativa, em 2007. Doei o valor que me coube ao padre Julio Lancelloti. Ele tem crédito com a sociedade brasileira e merece, no mínimo, ter amplo direito de resposta às acusações que sofreu.
Reproduzo o texto do advogado Rildo Marques de Oliveira, que recebi por e-mail:

"Recentemente tive contato com várias pessoas que acompanham os trabalhos de Pe. Julio Lancellotti e soube de questões ainda desconhecidas da população porque a imprensa não tem o cuidado de noticiá-las.

1 – É público e notório que Pe Julio, ao longo de sua vida, foi um profeta em prol dos desfavorecidos e desvalidos, assumindo a ponta de projetos cuja proposta tinha como enfoque o ser humano e não o sistema, e, com êxito, conseguiu, em muitos casos, resgatar seres humanos vítimas de um sistema vil e voraz, no qual as políticas públicas e aparelhos de Estado apenas aumentaram a exclusão desses seres;
2 – É público e notório que, muitas vezes, para poder comprovar, na prática, que políticas públicas adequadas e voltadas aos seres humanos, quando bem realizadas, podem obter resultados positivos, o Pe. Julio teve que enfrentar os Barões do Poder, digladiar com os "príncipes" donos da opinião pública e, muitas vezes, desentender-se com acadêmicos, mas, sobretudo, indispor-se com chefes do Poder Executivo no que tange à condução da FEBEM e à Segurança Pública;
3 – Pe. Julio é tido como inimigo público número um dos defensores da pena de morte e dos cúmplices da tortura;
4 - É pública e notória a admiração que o Pe. Julio construiu em torno de si pelos segmentos humanitários e também a repulsa obtida pelos contrários à propagação dos direitos humanos;
5 – É publico e notório que a postura do Pe. Julio sempre foi a de viver o evangelho ecumenicamente e, para isso, adotar posturas humanas incompreensíveis aos cidadãos comuns;
Com isso, Pe. Julio passou a ser odiado por funcionários da FEBEM quando eram por ele denunciados pelas torturas e práticas abusivas da dignidade humana, e milhares de jovens vivenciaram o resultado de sua proteção, de proferir discursos e empreender práticas na defesa da integridade dessas pessoas.
Pe. Julio sempre prestou assistência às presas e presos de São Paulo e, não obstante, também denunciou os desmandos e violências do sistema prisional. Pe. Julio denunciou muitos policiais que cometiam abusos de direito, com tortura, extorsão e ameaças aos meninos e meninas desfavorecidos.
Sempre esteve à frente de lutas pela moradia, pela povo da rua, pelas crianças e adolescentes, denunciando todo e qualquer tipo de violação dos direitos humanos, desde o menino espancado por monitores na Febem até a falta de material escolar na rede de ensino pública.
Muita gente do Poder não gosta do Pe. Julio. No entanto, ao lidar com meninos, muitas vezes perigosos (infratores contumazes) e com muita dificuldade de apreender sob a égide de uma pedagogia do amor, da benevolência e da compaixão, Pe. Julio se sentia isolado com esta técnica de compreender o outro, com a técnica da não-violência e, por isso, enfrentou, sozinho, um desafio, a despeito da descrença até de seus colaboradores.
Quando se viu envolvido numa trama, acuado em seu próprio projeto, contemplando a ruína de seu próprio desafio, Pe. Julio preferiu tentar e tentar até as últimas possibilidades de sua força humana. Os episódios que ocorreram antes da compra do carro do Anderson foram três assaltos à casa do Pe. Julio, nos quais, por duas vezes, sua mãe, de quase 80 anos, foi agredida na rua.
Essa foi apenas uma entre outras ameaças contumazes feitas ao Pe. Julio. Ele sabia quem eram as pessoas que coordenavam as intimidações, motivo pelo qual decidiu ceder recursos para proteger não só sua mãe, mas também a si, ao seu projeto e aos seus colaboradores, pois todos estavam na mira dos delinqüentes.
Pe. Julio não podia mais ver seu próprio projeto voltando-se contra a proposta de vida e pedagógica e, mais do que isso, voltando-se contra sua equipe e sua família. Seria derrotado em seus objetivos, não pelos poderosos, mas pelo seu próprio meio. A dor da solidão e da amargura de ver ruir anos de construção pedagógica o fez tomar atitude isolada que apenas o comprometeu: ele cedeu à extorsão.
No entanto, Pe. Julio não quis revelar que a mulher de Anderson estava envolvida com atividades ilícitas, certamente com acertos com homens do Poder, da Segurança Pública. Não quis revelar, tampouco, os crimes que Anderson ainda cometia, até pelo sigilo que deve manter como sacerdote;
Quanto à denuncia de abuso sexual contra um adolescente, a mentira aparecerá por dois motivos:
1 – porque a denunciante tem ligação com monitores da FEBEM que há anos coordenaram espancamentos e outros crimes no interior da FEBEM, espancamentos que eram combatidos veementemente por nós;
2 – porque jamais essa pessoa poderia ingressar na Casa Vida à noite sem que alguém lhe abrisse a porta do prédio por dentro;
3 – A pessoa supostamente abusada, segundo a denunciante, está sendo localizada para desmentir esta senhora, que deverá ser presa por denunciação caluniosa e responderá por danos morais. Outro fato que nos chama muito a atenção é o de que uma semana antes de o caso sair na imprensa, Pe. Julio foi escoltado por veículo da Presidência da República para ir a um evento e foi notada a presença de veículos estranhos na porta de seu trabalho;
Semanas antes, a agente de direitos humanos Valdenia Paulino (Sapopemba), com histórico semelhante ao de Pe. Julio nas denúncias a policiais civis e militares e monitores da FEBEM, foi acusada na imprensa de ser ligada ao PCC. Meses antes, defensores de direitos humanos denunciantes de policiais militares e civis na zona Norte, como Cícero Pinheiro Nascimento, também foram acusados de guardar armas do PCC.
Tudo para dizer que defensores de direitos humanos possuem estreita ligações com o crime organizado, quando, na verdade, sabemos que quem tem essas ligações são certos policiais. Nos parece que todos os agentes de direitos humanos que denunciam policiais civis, militares e atacam as idéias e projetos do Governo do Estado e da Prefeitura de SP e são simpatizantes do Governo Federal estão sofrendo algum tipo de perseguição na imprensa com ilações de ligações com o PCC e outros crimes. Será coincidência? Saberemos em breve... São algumas questões iniciais.
Muitas coisas ainda serão esclarecidas, mas faço estes esclarecimentos iniciais para que vocês possam entender melhor algumas questões. Quem quiser apoiar ao Pe. Julio, pode enviar mensagem a mim que farei chegar até a ele. Meu e-mail é centroezequiel@uol.com.br
Atenciosamente
Rildo Marques de Oliveira
Advogado."

Publicado em 28 de outubro de 2007

26.10.07

A questão curda

A Turquia posicionou milhares de soldados na fronteira com o Iraque e ameaça uma operação de grande escala no país vizinho. O objetivo seria combater os integrantes do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), que lutam por independência. Segundo a agência de notícias Anatólia, as Forças Armadas da Turquia já estariam realizando “ataques mirados” no Curdistão iraquiano desde o último domingo. No início de outubro, 13 soldados turcos foram mortos por guerrilheiros curdos. Dez dias depois, o Parlamento turco autorizou ações militares no norte do Iraque, local apontado como “base de adestramento de terroristas”. Em seguida, um confronto no sudeste da Turquia causou a morte de 12 soldados turcos e de 32 curdos. Outros 16 soldados ficaram feridos e oito estariam seqüestrados. Para Murat Karayilan, um dos principais líderes do PKK, o que está por trás da guerra iminente é a necessidade da Turquia de eliminar a autonomia curda no Iraque, “porque o Estado turco sabe que, enquanto existir uma federação curda no sul, será impossível controlar os curdos no norte”. A morte dos militares gerou um clima de comoção nacional e a população turca pressiona o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan para que opte pela via militar. O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, disse publicamente ser contrário à invasão, porém, segundo o jornal turco Hurriyet, Washington estaria planejando uma operação em conjunto com Ancara. Os guerrilheiros do PKK afirmaram que, em caso de ataque, irão sabotar os oleodutos da região. Caros Amigos esteve no Curdistão, em março deste ano, para contar a saga do povo curdo, para entender o que está por trás de uma guerra silenciada que já dura mais de duas décadas e que já matou mais de 30 mil pessoas.

Leia a seguir a reportagem de Fernando Evangelista, publicada na edição 122 de Caros Amigos de maio de 2007(basta clicar no título):


Curdos: A Guerra Silenciosa

25.10.07

Artigo de Paulo Nogueira Batista Jr.

O dinossauro se moveu
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.

"O DINOSSAURO se moveu", declarou o ministro Mantega durante a reunião anual do FMI e do Banco Mundial, ocorrida há poucos dias. De fato, o Fundo é uma instituição pesada e bastante antiquada em muitos aspectos. Mostra dificuldades de adaptação à evolução do mundo, em especial ao crescente peso dos países emergentes.
Mas o dinossauro se moveu um pouco nessa reunião. O Brasil, em aliança com outros países, lutou para que a criatura começasse a vencer a inércia. Pela primeira vez, o comunicado final da reunião registrou o reconhecimento geral de que um aumento do poder de voto no FMI do conjunto dos países em desenvolvimento deverá ser um resultado da reforma em curso. Aceitou-se, também, que o PIB será a variável mais importante na nova fórmula de cálculo das quotas e que o PIB, medido em paridade de poder de compra, desempenhará um papel na reforma, critério que favorece os países em desenvolvimento.
O Brasil atuou em várias frentes. Coordenou, por exemplo, o encontro prévio do G4 (África do Sul, Brasil, China e Índia) em preparação à reunião do Fundo e aos próximos encontros do G20 financeiro, que trata principalmente de temas da agenda financeira mundial e inclui os dez principais países desenvolvidos e os dez principais emergentes.
Não deve ser confundido com o G20 que atua na OMC, sob coordenação do Brasil e da Índia. O Brasil assumirá a presidência do G20 financeiro em 2008 e terá, portanto, uma posição mais forte para influir sobre temas internacionais.
O Brasil reiterou também a sua posição em favor da ampliação do G7. Essa ampliação seria um reconhecimento da influência dos principais países emergentes, que deveriam ser incluídos como membros plenos, nos níveis político e econômico. Alguns integrantes do G7, notadamente a França, parecem inclinados a aceitar essa ampliação, que traria para a principal mesa de discussão o Brasil, a China, a Índia e a África do Sul. A Rússia já faz parte do grupo na parte política, mas é excluída da agenda econômica.
Na véspera da reunião anual, causaram impacto as críticas do presidente do Brasil ao Fundo e ao Banco Mundial. Durante a sua visita ao Congo, o presidente Lula afirmou que os países em desenvolvimento precisam criar mecanismos próprios de financiamento, como o Banco do Sul. "Não podemos ficar dependendo do FMI e do Banco Mundial, instituições que não dirigimos", disse.
A delegação brasileira chegou a Washington sob certa expectativa. E não decepcionou. O ministro da Fazenda criticou a atuação dos países desenvolvidos, que estão no epicentro da crise financeira recente, e ressaltou a cautela com que o Fundo apresenta recomendações quando os problemas surgem nas nações poderosas, um contraste notável com a rapidez com que se dispõe a ditar regras a países pobres em crise. A repercussão foi grande. "O Brasil deu o tom", era o comentário que se ouvia nos bastidores. Os documentos que expressam a posição brasileira, assim como o comunicado final da reunião anual, estão disponíveis no site do FMI. Posso indicar o caminho ou enviá-los diretamente aos leitores interessados.
"O que está em jogo hoje talvez seja a própria existência do FMI como principal instituição provedora de estabilidade financeira para o mundo", reconheceu o diretor-gerente eleito do Fundo, Dominique Strauss-Kahn. Declaração forte, mas não exagerada. O Fundo atravessa crise financeira e de legitimidade. A impossibilidade de adaptação à mudança do ambiente foi a causa da extinção dos dinossauros...

PAULO NOGUEIRA BATISTA JR., 52, escreve às quintas-feiras nesta coluna. Diretor-executivo no FMI, representa um grupo de nove países (Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Haiti, Panamá, República Dominicana, Suriname e Trinidad e Tobago).
pnbjr@attglobal.net

Publicado na Folha de S. Paulo – 25/10/07 (clique aqui para acessar o artigo original, mas só para assinantes da Folha ou do UOL).

24.10.07

Leituras da Semana

O blog do Eduardo Guimarães continua dando show de bola. Hoje ele escreveu um artigo supimpa, como diria vovó, sobre a Venezuela. Leiam um trecho a seguir:

A franquia midiática internacional de direita está veiculando mais uma das incontáveis mentiras que contam na mídia internacional sobre a situação política na Venezuela. Fotos manipuladas como a que se vê acima, publicada hoje (sexta) pela Folha de São Paulo, tentam passar às pessoas a idéia de que no país caribenho há uma maioria contra o governo Chávez. Não é verdade. Chávez dispõe do apoio de uma maioria expressiva dos venezuelanos. Estive na Venezuela há cerca de dois meses e, portanto, posso afirmar isso, pois me dispus a ir aos bairros pobres de Caracas, afastados do centro anti-chavista da capital venezuelana, para ver, in loco, a realidade social do país e, portanto, posso explicar, detalhadamente, por que não é verdade que a maioria dos venezuelanos - e, nas democracias, quem diz o que é ditadura e o que não é são as maiorias, supõe-se - apóia tanto a Chávez. Direi isso a despeito da relativização que se faz das maiorias dos povos na América Latina quando a questão é pôr gente no poder. O fato é que tudo que a mídia fala sobre isso não passa de golpismo "terceiro-mundista-histórico-de-direita" do mais reles que há.

Clique aqui para ler a obra completa, compensa!

A Rede Blogo continua no ar e está discutindo o mesmo assunto que o Eduardo Guimarães: Venezuela!
Leiam um trecho:
Na Flórida, um americano mandou instalar um outdoor com a mensagem acima: "Não compre gasolina deste bunda". A CITGO pertence à PDVSA, controlada pelo governo da Venezuela. A empresa já anunciou que vai continuar contribuindo com uma ONG americana que fornece óleo diesel para famílias pobres dos Estados Unidos para aquecer a casa durante o inverno. O outdoor provocou polêmica: como a palavra "ass" é considerada um palavrão, o homem que encomendou a mensagem pediu que ela fosse coberta com a imagem de um asno - também "ass" em inglês. A CITGO tem centenas de postos de gasolina nos Estados Unidos.

Clicando aqui você acessa a Rede Blogo.


No Fazendo Média o artigo da Adriana Facina está excelente! Vejam:

Guerras necessárias, humanos supérfluos

Não há como deixar de comentar o espetáculo midático mais aterrorizante da semana. O helicóptero da polícia sobrevoando a favela da Coréia, atirando em dois rapazes que tentavam fugir pelo matagal. Execuções sumárias, sem julgamento, de supostos bandidos. Imagens de guerra exaustivamente veiculadas nos noticiários, invadindo as casas na hora das refeições, interpelando os que chegavam ou partiam para o trabalho. Uma guerra cuidadosamente construída pela mídia e pela indústria do entretenimento. A pergunta é: estamos realmente em guerra?

Quer ler a versão integral do artigo? Clique aqui.
No blog do Luiz Carlos Azenha, Vi o Mundo, tem uma entrevista batuta com o Rodrigo Vianna, aquele repórter que perdeu o emprego na Rede Globo por não concordar com a cobertura eleitoral do ano passado. Ela começa assim:

Rodrigo Vianna, aquele repórter que não serve para a TV Globo, ganhou o prêmio Vladimir Herzog de Direitos Humanos. Dia desses trocamos farpas virtuais neste espaço. Eu disse que a privatização das ferrovias no Brasil havia fracassado. O Rodrigo disse que não, que deu o resultado que os concessionários esperavam. Como ele esteve lá, fazendo reportagem, enquanto eu dei palpite confortavelmente sentado em meu aquário - de chefe deste site -, fico com a opinião do repórter.

Clique aqui para lê-la na íntegra.

Boas leituras!

O Brasil de hoje é fruto do golpe de 1964

por Hamilton Octavio de Souza

O golpe militar de 1964 impôs não apenas 21 anos de ditadura, mas também o ambiente político e cultural que possibilitou – no período da “redemocratização” – ao neoliberalismo aportar com tudo no território brasileiro, estimulado pelas elites empresariais, saudado pelas classes médias e engolido pelos trabalhadores sem maiores resistências.
Em plena Guerra Fria, com o imperialismo norte-americano jogando pesado contra os blocos socialista e terceiro-mundista, o golpe interrompeu o processo de reformas de base articulado por lideranças trabalhistas como o governo João Goulart. As reformas faziam sentido no bojo do desenvolvimento industrial das décadas de 40 e 50, e representavam a justa cobrança dos trabalhadores no acerto de contas com o capital, especialmente para virar a página do atraso oligárquico.
Com o golpe, a experiência educacional transformadora foi duramente reprimida e todo o sistema passou a ser controlado de cima para baixo, com rígida vigilância. Tanto é que inúmeros professores e projetos educacionais foram banidos. Ao mesmo tempo acelerou-se o processo de privatização do ensino superior. Foram criadas as “fundações sem fins lucrativos” que enriqueceram tanta gente. As fábricas de diplomas ganharam status de faculdades e universidades. O sistema criado na ditadura permanece intacto, não apenas vigora até hoje, como é um dos pilares de formação e sustentação intelectual do neoliberalismo.
O projeto de reforma agrária de Celso Furtado, que o governo João Goulart ensaiava colocar em prática, previa a desapropriação de todas as terras ao longo das rodovias e ferrovias, de forma que se pudessem assentar rapidamente todas as famílias que quisessem trabalhar na terra. O golpe de 1964 abortou a reforma agrária e até hoje o Brasil não conseguiu resolver a secular questão agrária e nem criar um modelo para o desenvolvimento da agricultura familiar, a produção de alimentos e a proteção ambiental. Ao contrário, o Brasil agora convive com o latifúndio improdutivo e com o latifúndio do agronegócio – a concentração da terra voltada para a exportação (soja, eucalipto, cana e pecuária), altamente destruidora das reservas florestais, dos recursos hídricos e do meio ambiente.
Nem bem o Brasil saiu da ditadura militar, em 1985, e as elites brasileiras já estavam salivando para privatizar o patrimônio público acumulado nos anos de centralização e de estatização, quando os gestores do regime endividaram o País e o povo brasileiro com inúmeros projetos faraônicos. A ditadura acelerou a destruição da Amazônia com a rodovia Transamazônica e os projetos fracassados de colonização; a ditadura acelerou a destruição dos recursos hídricos com os projetos de grandes hidrelétricas; a ditadura acelerou a destruição cultural do Brasil com os seus projetos autoritários de educação e comunicações. O apoio da ditadura à TV Globo e às demais redes de televisão foi decisivo para “formar” gerações alienadas com a cabeça no consumo e no circo. O sistema de controle da informação e da cultura montado pela ditadura continua intacto até hoje – sob o domínio de alguns grupos empresariais e coronéis eletrônicos espalhados no território nacional.
Nem bem saiu da ditadura e ingressou no neoliberalismo, as elites brasileiras avançaram sobre os direitos dos trabalhadores, retiraram conquistas de décadas, investiram pesado nas “flexibilizações” e “desregulamentações” da legislação trabalhista e social, passaram a arrochar sistematicamente os salários, colocaram milhões na informalidade e multiplicaram várias vezes o exército de reserva – também chamado de desemprego estrutural. Isso só foi possível porque a sociedade brasileira moldada pelos 21 anos de ditadura apagou da memória e da história oficial as lutas feitas e as reformas sonhadas antes de 1964. Depois do último embate, nas eleições de 1989, quando as forças democráticas e populares foram derrotadas – em “eleições livres” – pelo neo-coronelismo apoiado pela velha imprensa empresarial e pelo aparato televisivo construído pelo regime militar, a resistência democrática e popular entrou em declínio, importantes setores da esquerda se renderam ou foram cooptados pelo modelo político-econômico, as propostas transformadoras e socializantes desapareceram dos sindicatos e das universidades. É nesse quadro que o movimento social ainda tenta se reerguer – com muita dificuldade.
Basta lembrar que toda a imprensa brasileira – com exceção do jornal Ultima Hora – apoiou o golpe militar de 1964, na defesa dos interesses dos fazendeiros, do capital industrial nacional e do capital estrangeiro. Da mesma forma, hoje, a grande maioria da imprensa brasileira defende ardentemente os postulados do neoliberalismo, apóia a entrada desenfreada do capital estrangeiro, o sistema financeiro concentrado em grandes bancos e a concentração da terra para o agronegócio. Os motivos de fundo para o golpe de 1964 constituem ainda hoje o programa em vigor das elites dominantes. Isso significa que o golpe de 1964 pode ser considerado completamente vitorioso, pois interrompeu de forma duradoura – há 43 anos – o que estava sendo ensaiado de transformações em favor das classes trabalhadoras. Desde então os trabalhadores não vivenciaram mais nenhum processo de reformas que pudesse mudar as estruturas do País. O Brasil é hoje mais capitalista do que já foi em toda a sua história. Com todos os problemas que esse sistema produz.

Hamilton Octavio de Souza é jornalista e professor da PUC-SP.

Publicado em Caros Amigos (http://carosamigos.terra.com.br/nova/ed127/so_no_site_geral_hamilton.asp)

Sobre o Imposto Sindical

Já foi aprovado na Câmara dos Deputados e enviado para o Senado o PL 1990/07, que reconhece as Centrais Sindicais e lhe dá financiamento, remetendo-lhes 10% da arrecadação do imposto sindical. Clique aqui para ler o PL.
Historicamente o nascimento da CUT (Central Única dos Trabalhadores) tem como uma de suas principais bandeiras o fim do tal imposto, bem como o combate à unicidade sindical (um único sindicato por categoria em determinada base territorial).
Já a Força Sindical sempre gostou desse imposto.
A alegação da CUT era que o tal imposto atrelava os sindicatos aos desejos do governo, permitindo-lhe a tutela sobre os mesmos. O que é a mais pura verdade!
Por outro lado acomoda aqueles falsos representantes com as benesses de uma arrecadação compulsória, independente da vontade do trabalhador e da representatividade do tal sindicato.
Parece que a CUT não pensa exatamente assim. Clique aqui para ler sobre a posição da CUT e aqui para conhecer a opinião da Força Sindical sobre o tema.
De minha parte considero que o fim do imposto sindical, bem como qualquer outra cobrança que independa da vontade clara e explícita do trabalhador é uma deformidade. A representação dos trabalhadores deve buscar a legitimidade política e não o reconhecimento oficial.

22.10.07

Veja e a estrela vermelha do Che

Vejam com seus próprios olhos!

Aqui tem uma estrela vermelha! (Veja - 2007)


A estrela aqui é bem diferente! (Veja - 1997)

Esta é a foto oficial.

21.10.07

Mais uma guerra a caminho no Oriente Médio

E o atoleiro que os EUA criaram no Iraque começa a se expandir.
O Iraque concebido pelas forças invasoras será pior e mais conflituoso do que aquele do Sadam Hussein.
Esse é o resultado da obra dos “falcões” e o seu desespero para garantir fornecimento de petróleo.

Ao menos 49 morrem em conflito entre turcos e curdos
da Folha Online

Ao menos 49 separatistas curdos e militares turcos morreram em confrontos no sudeste da Turquia neste domingo, segundo o governo turco.
Separatistas curdos mataram 17 militares turcos e feriram outros 16 em uma emboscada neste domingo. O incidente deu início a discussões em Ancara para definir se o país deve dar início a uma operação militar contra bases dos rebeldes no Iraque.
O Exército da Turquia afirmou que 32 rebeldes morreram em combates com as tropas turcas no sudeste do país.
O ataque, realizado pelo Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), ocorreu quatro dias após a decisão do Parlamento turco autorizando ações militares no território iraquiano.
Ancara afirma que cerca de 3.500 rebeldes do PKK encontram refúgio na região autônoma do Curdistão iraquiano, que faz fronteira com a Turquia, onde preparam ataques a serem perpetrados na Turquia.

Para ler a matéria na íntegra clique aqui.

Luciano Huck e o seu rolex, Férrez e os "correria"

Já que baixou a poeira, todas as capas foram dadas, resolvi falar do episódio.
Luciano Huck publicou um texto na Folha de S.Paulo lastimando o assalto sofrido.
Leia o texto clicando aqui.
Começa o artigo num tom ficcional, anunciando a própria morte, como reproduzido a seguir:

Luciano Huck foi assassinado. Manchete do "Jornal Nacional" de ontem. E eu, algumas páginas à frente neste diário, provavelmente no caderno policial. E, quem sabe, uma homenagem póstuma no caderno de cultura. Não veria meu segundo filho. Deixaria órfã uma inocente criança. Uma jovem viúva. Uma família destroçada. Uma multidão bastante triste. Um governador envergonhado. Um presidente em silêncio.
Por quê? Por causa de um relógio.


No dia seguinte o escritor Férrez, publicou outro texto, como que respondendo às preocupações do apresentador de TV. O texto do Férrez pode ser lido aqui.
O artigo do jovem escritor, morador do Capão Redondo, começa assim:

ELE ME olha, cumprimenta rápido e vai pra padaria. Acordou cedo, tratou de acordar o amigo que vai ser seu garupa e foi tomar café. A mãe já está na padaria também, pedindo dinheiro pra alguém pra tomar mais uma dose de cachaça. Ele finge não vê-la, toma seu café de um gole só e sai pra missão, que é como todos chamam fazer um assalto. Se voltar com algo, seu filho, seus irmãos, sua mãe, sua tia, seu padrasto, todos vão gastar o dinheiro com ele, sem exigir de onde veio, sem nota fiscal, sem gerar impostos. Quando o filho chora de fome, moral não vai ajudar. A selva de pedra criou suas leis, vidro escuro pra não ver dentro do carro, cada qual com sua vida, cada qual com seus problemas, sem tempo pra sentimentalismo. O menino no farol não consegue pedir dinheiro, o vidro escuro não deixa mostrar nada.

Obviamente que o primeiro texto começa num tom ficcional para depois despejar-se em lamúrias pela perda do rolex. Sorte do Luciano Huck que pode choramingar na Folha de S.Paulo, em espaço tão nobre. Se todos os moradores de São Paulo que são assaltados tivessem a mesma oportunidade, faltariam árvores para tanto papel. E olha que as reclamações não seriam de rolex roubados, mas de vales-transporte, vales-refeição, botijão de gás, tênis ...
No texto do Férrez a ficção é começo, meio e fim. Com a privilegiada visão de quem conhece a periferia por ter nascido, crescido e sempre morado no Capão Redondo, ele não doura a pílula, não é bonzinho e nem caridoso.
Férrez fala daquilo que conhece, não por visitar esporadicamente, nem por dedicar uma pequena porcentagem de sua fortuna pessoal (para posterior abatimento no imposto de renda) para os desafortunados.
O rebotalho do jornalismo transformou o texto dele, uma obra de ficção, em defesa do criminoso e da criminalidade. Um intelectual chegou a ver no texto pretensões de distribuição de renda e justiça social e atacou o jovem escritor sem dó nem piedade.
Onde será que essa turma aprendeu a ler?
Será mera ignorância ou mais um sinal de preconceito?
Afinal deve ser duro ver um “favelado” enfrentando um representante da nossa mais refinada elite nas páginas dos jornais, usando o cérebro e não um 38.
Férrez tem um texto lúcido, lúdico e um trabalho maravilhoso.
Quem quiser pode conferir um pouco desse trabalho clicando aqui.

19.10.07

Recuperador de calor economiza no chuveiro

Está na Revista Fapesp deste mês uma matéria que merece destaque: um tecnólogo mineiro inventa um “recuperador de calor”, leia abaixo um trecho da matéria:

Chuveiro esperto
Empresa mineira desenvolve sistema que recupera calor da água do banho
Marcos de Oliveira
Edição Impressa Outubro 2007

Plataforma com tapete e a espiral de alumínio que aquece a água
Foi em pleno banho ao lavar os pés sujos de terra avermelhada que o tecnólogo José Geraldo de Magalhães teve uma idéia ao perceber a água quente se esvaindo pelo ralo. Pensou em desperdício e começou a imaginar um sistema que aproveitasse esse calor para ajudar a esquentar a própria água do chuveiro. Sete anos depois daquele dia na sua cidade natal, em Rio Vermelho, no Vale do Jequitinhonha, Minas Gerais, Magalhães acompanha, desde setembro, a distribuição gratuita de um lote de 7 mil peças de seu invento para pessoas carentes da Região Metropolitana de Belo Horizonte num programa elaborado e financiado pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). Chamado de recuperador de calor para chuveiros elétricos, o sistema possibilita uma redução de 44% no gasto de energia elétrica de uma residência. O recuperador é produzido pela empresa Rewatt Ecológica, da qual Magalhães é um dos sócios.

Clique aqui para ler o restante do texto.

18.10.07

Refugiados palestinos chegam ao Brasil

Homens, mulheres e crianças sem pátria buscam no Brasil sua nova vida. É assim que vejo a chegada ao nosso país de algumas dezenas de palestinos deserdados de sua terra. Refugiaram-se no Iraque e de lá foram para a Jordânia em razão das perseguições promovidas pelas milícias xiitas.
A BBCBrasil fez uma cobertura bem razoável desse episódio, é só clicar aqui para ler a matéria sobre o tema.

16.10.07

Qual é a razão do ódio contra Hugo Chávez?

A direita nativa destila ódio por todos os poros quando ouve o nome do presidente da Venezuela, mas não é só ela.
Leia abaixo excelente artigo do Emir Sader, publicado na Agência Carta Maior, em 14/10/07:
Uma "democracia puta"?
O diário ABC Color, do Paraguai, publicou um editorial de primeira página, no dia 7 de outubro, com esse grosseiro título: “Uma democracia puta”.Não se referia à ditadura do Partido Colorado, que há sete décadas controla o poder e perpetua o Paraguai como um dos países mais pobres do continente. Nem à reconversão dessa ditadura para uma forma “democrática” dessa ditadura, que fez com que a viúva do ex-ditador Alfredo Stroessner comentasse, singelamente: “Só falta o Alfredo”.Não. Referia-se à Venezuela, um regime que teve seu presidente eleito e reeleito várias vezes, submetido à confirmação do voto popular no meio do seu mandato, com um mecanismo de controle dos eleitores sobre os eleitos, que nenhum outro país do continente possui.O ABC Color é o principal jornal do Paraguai. Não é necessário um exercício de memória muito grande para imaginar sua convivência com a ditadura do partido-Estado Colorado. Agora dizem que apóia a Lino Oviedo, recém libertado para tentar bloquear a possibilidade de vitória de Fernando Lugo, derrotando pela primeira vez ao Partido Colorado. O candidato de preferência do jornal foi condenado em trs processos, um deles por participação na morte do ex-vice presidente Luis Argaña, outro deles por tentativa de golpe militar.Esse jornal se atreve a julgar o caráter democrático do regime venezuelano, para tentar bloquear o ingresso da Venezuela no Mercosul. “Se nossos presidentes do Mercosul, mesmo sabendo qual é sua obrigação histórica com a defesa dos princípios e dos valores políticos que iluminam nossos povos, são capazes de se vender ou de ligar-se mediante uma relação adúltera com um ditador megalômano surgido das catacumbas de um passado sinistro, teremos que convir que nossas democracias se vendem como autênticas putas” – diz o editorial do jornal paraguaio.Antes desse final, o jornal fez um apelo aos parlamentares do Paraguai e do Brasil, para que impeçam o ingresso da Venezuela ao Mercosul – porque disso se trata, essa é a operação política que a direita do continente trata de armar. São os aliados paraguaios dos parlamentares da direita brasileira que igualmente se opõem à entrada da Venezuela no Mercosul.Até julho de 2006, o Mercosul se limitava aos conflitos comerciais entre as grandes corporações privadas da Argentina e do Brasil, na disputa de mercados, relegando o Uruguai e o Paraguai a coadjuvantes sem importância. A participação da Venezuela e da Bolívia, posteriormente do Equador e a aproximação de Cuba, permitem romper esse crculo vicioso.Acontece que todos aqueles que continuam identificados com os interesses dos EUA, do chamado “livre comércio”, que se opõem à consolidação e à extensão da integração latino-americana, buscam deter a entrada da Venezuela, com todo o dinamismo e a ampliação de temas que a incorporação do governo de Hugo Chavez representa. Se opoem ao gasoduto continental, se opõem ao Banco do Sul. Se opõem à autonomia do continente diante da hegemonia imperial dos EUA.São esses os que tentam atrasar a integração continental, representando os interesses do império na região. No Paraguai, como no Brasil, são esses os que resistem ao Mercosul, à integração regional, como agentes do “livre comércio”, do FMI, da OMC e do Banco Mundial. Par isso não poupam nem esforços, nem vocabulário grosseiro. São resquícios de um passado que, embora resistindo – como o Partido Colorado – tem seus dias contados.

Leia a publicação no original clicando aqui.

15.10.07

Che morreu de pé

A versão nos é apresentada em ótima matéria da revista CartaCapital, edição 466 que está circulando nas bancas.
Essa versão não foi ouvida de um companheiro de luta de Che ou de algum familiar, mas ela é retirada de documentos estadunidenses liberados para pesquisa no Departamento de Estado dos
EUA.
Talvez aquela revista dos Civita apareça com alguma matéria dizendo que o PT conseguiu infiltrar-se no Departamento de Estado, ou que a meiga Condolezza foi comprada pelos dólares de Cuba, troco daqueles enviados para a campanha de Lula. Nunca se sabe, afinal daquele panfleto a gente pode esperar qualquer coisa!
Veja parte da matéria abaixo:

Che morreu de pé
por Maurício Dias
Relatório do Exército americano conta que líder guerrilheiro, de mãos atadas, desafiou seu assassino antes de ser fuzilado

Documentos inéditos dos arquivos americanos, saídos principalmente das estantes do Departamento de Estado, são fundamentais para a reconstrução da história da fracassada guerrilha liderada por Che Guevara na Bolívia.
Os papéis consolidam algumas versões, derrubam outras, e deixam entrever que, 40 anos depois da morte do líder guerrilheiro, a verdade, para surgir inteira, terá de aguardar a liberação de informações ainda embargadas aos pesquisadores.
Mas já se sabe agora, por exemplo, como foi o cerco militar, armado no dia 8 de outubro, que antecedeu a prisão de Che e de outros guerrilheiros na província de La Higuera, descrito em um longo e detalhado relatório elaborado pelo Exército dos EUA.
O documento, de 28 de novembro de 1967, mostra a versão dos americanos para o momento da execução de Guevara, no começo da tarde de 9 de outubro de 1967. Che não tremeu na hora de morrer com oito tiros de carabina M2, sustenta a insuspeita versão norte-americana: “Saiba que está matando um homem”, disse o prisioneiro para o algoz, um sargento chamado Mario Terán.
Segundo o Exército dos EUA, três soldados – Encinos, Choque e Balboa – “foram os primeiros bolivianos a colocar as mãos em Che”. Nenhum deles falou sobre a reação de Che Guevara na hora da prisão. Não se sabe de onde surgiu a versão de que Guevara pediu clemência aos militares.
Ainda neste relatório do Exército surge uma informação que compromete a versão publicada no livro do agente da CIA, o cubano Félix Rodríguez, no qual ele conta que tentou evitar o assassinato de Che. A proposta teria sido recusada pelo coronel Joaquín Zenteno, comandante militar da região onde o líder da guerrilha foi capturado.
Está anotado no documento: “Zenteno havia deixado ordens para que os prisioneiros fossem mantidos vivos”. “Os oficiais não sabiam de onde provinham as ordens (da execução), mas acreditavam que tivessem sido dadas pelos escalões mais altos do Exército”, diz o relatório do Exército dos Estados Unidos.
É uma suposição. A outra é de que a CIA tramou a execução. Sobre as duas versões há evidências aqui e acolá. Mas não há base factual capaz de sustentar um veredicto final.

Para ler o restante da matéria só comprando a revista!

14.10.07

A concessão de rodovias federais

Reproduzo abaixo parte da coluna do Elio Gaspari de hoje na Folha de São Paulo:
ELIO GASPARI

Dilma detonou a privataria dos pedágios

Nos anos 90, falava-se em cobrar R$ 10 para cada 100 quilômetros; Nosso Guia baixou para R$ 2,70

NA TARDE DE terça-feira concluiu-se no salão da Bolsa de São Paulo um bonito episódio de competência administrativa e de triunfo das regras do capitalismo sobre os interesses da privataria e contubérnios incestuosos de burocratas. Depois de dez anos de idas e vindas, o governo federal leiloou as concessões de sete estradas (2,6 mil km). Para se ter uma medida do tamanho do êxito, um percurso que custaria R$ 10 de acordo com as planilhas dos anos 90, saiu por R$ 2,70.
No ano que vem, quando a empresa espanhola OHL começar a cobrar pedágio na Fernão Dias, que liga Belo Horizonte a São Paulo, cada 100 quilômetros rodados custarão R$ 1,42. Se o cidadão quiser viajar em direção ao passado, tomará a Dutra, pagando R$ 7,58 pelos mesmos 100 quilômetros. Caso vá para Santos, serão R$ 13,10. Não haverá no mundo disparidade semelhante.
Se essa não foi a maior demonstração de competência do governo de Nosso Guia, certamente será lembrada como uma das maiores. Sua história mostra que o Estado brasileiro tem meios para defender a patuléia, desde que esteja interessado nisso. Mostra também que se deve tomar enorme cuidado com o discurso da modernidade de um bom pedaço do empresariado. Nele, não se vende gato por lebre. É gato por gato mesmo.
O lote das sete rodovias entrou no programa de desestatização do tucanato em 1997. Desde então, desenhavam-se editais restringindo a disputa a empresas de engenharia nacionais. No final de 2002, após uma trombada com o Tribunal de Contas da União, o caso foi para a mesa de FFHH. O monarca desconfiou da pressa e deixou o assunto para o novo governo. Em 2003, o ministro dos Transportes, Anderson Adauto, armou outra concorrência. Nova trombada com o TCU. Alguns preços baseavam-se em custos do mercado paulista, o mais caro do país. O tribunal determinou que o ministério largasse o osso, entregando-o à Agência Nacional de Transportes Terrestres. Ela achou R$ 300 milhões de gordura nas planilhas, y otras cositas más.
Em meados de 2005, o governo quebrou a cláusula da reserva de mercado para empresas nacionais. Anunciou um leilão, aberto a quaisquer interessados. Além disso, chegou a xerife. A ministra Dilma Rousseff, a ANTT e o Tribunal de Contas discutiram o projeto e conseguiu-se uma redução de 56% no preço estimado para os pedágios. A taxa de retorno dos concessionários, que inicialmente era de 18% anuais, caiu para 13%. Dilma queria, no máximo, um retorno de 9%. Argumentava que as empresas estavam lucrando algo em torno de 25% ao ano. Em janeiro passado, o leilão das concessões foi suspenso.
O "Financial Times" viu na iniciativa um viés de inépcia, talvez estatizante, a la Hugo Chávez. Confundiu-se deliberadamente adiamento com cancelamento. Vale relembrar a gritaria: "Retrocesso. Se isso (o fim do leilão) acontecer, os recursos internos e externos serão aplicados em outros países. (...) Se há distorções, elas têm de ser corrigidas, mas com base em avaliações técnicas, não ideológicas." (Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústria de Base, a Abdib. "O Brasil corre o risco de ficar na contramão dos Estados Unidos, Europa, Chile e México." (Renato Vale, presidente da CCR, concessionária de 1,4 mil quilômetros de estradas brasileiras.) "É um equívoco, porque o Brasil não tem capacidade de investimento." (Geraldo Alckmin).
Não havia equívoco, não se corria risco, nem havia ideologia no lance. O governo cansou de explicar que não estava cancelando coisa alguma. Disse aos empresários, e eles entenderam, que pretendia apenas discutir a relação. Diante de números que encolheram à metade a partir das avaliações técnicas, sentira-se o cheiro de queimado. Não adiantava, a sabedoria convencional ensina que, se o governo de Nosso Guia não cumpre as agendas das empreiteiras, isso reflete más intenções ou preconceitos esquerdistas que afugentam capitais e travam o progresso.
Durante oito meses, uma força-tarefa da Casa Civil e da ANTT trabalharam no caso. A ministra lembrava que os juros tinham baixado e a economia brasileira de 2007 não era a de 2002. Murmurava-se que o projeto era inviável, sonho de guerrilheira, pois não apareceriam candidatos.
Na terça feira, quando o leilão começou, havia 30 empresas na disputa. Três horas depois, os sete lotes de estradas estavam vendidos. Nenhum dos clientes tradicionais conseguira emplacar sua oferta e o grupo espanhol OHL ganhou os cinco trechos que disputou, tornando-se o maior concessionário de estradas do país, com 3.225 km. Quando ele arrematou a Fernão Dias, oferecendo um pedágio de R$ 1,42 para cada 100 quilômetros houve espanto no salão. A ANTT fixara um teto de R$ 4,00, a segunda colocada pedira R$ 2,21 e as demais, em torno de R$ 3,57. Os cavaleiros do Apocalipse micaram, triturados pela lógica da competição internacional.
Esse resultado só aconteceu porque o governo não se deixou encurralar pelo alarmismo. Trocou a mão invisível de Brasília pela de Adam Smith.
Fica agora o tucanato paulista numa enrascada. Tem no colo um pacote de cinco leilões de rodovias estaduais num modelo que produziu os pedágios mais caros do país. Isso deriva de um conjunto de fatores. Um deles é o de se exigir dos concessionários um pagamento chamado de outorga. A empresa explora a rodovia, mas adianta um prêmio ao erário, em obras ou em dinheiro. Lula seguiu a escrita de FFHH, que não cobrou esse tipo de dote nas concessões da ponte Rio-Niterói e da Dutra. Será difícil provar que ambos fizeram besteira.

Folha de S.Paulo – 14/10/07.

11.10.07

Crise da hegemonia americana?

Artigo de José Luís Fiori, publicado na Agência Carta Maior em 10/10/07. Sensacional, compensa uma leitura demorada e muita reflexão!
Crise da hegemonia americana?

O "poder global"

José Luís Fiori

“A esperança e a previsão, embora inseparáveis, não são a mesma coisa, e toda previsão sobre o mundo real tem que repousar em algum tipo de inferência sobre o futuro, a partir daquilo que aconteceu no passado, ou seja, a partir da história.”
Eric Hobsbawm, Sobre a História, Companhia das Letras, p:67

Na década de 70, do século XX, discutiu-se muito sobre a “crise da hegemonia americana”. Foi no tempo da derrota dos EUA, no Vietnã, da crise do “padrão dólar”, da subida do preço do petróleo e do fim do crescimento econômico acelerado do pós-guerra. E foi também, no tempo da Revolução Sandinista, da Nicarágua, da revolução islâmica, do Irã, e da invasão soviética, do Afeganistão, consideradas, na época, grandes derrotas da política externa norte-americana. Hoje, quase quarenta anos depois, volta-se a falar com insistência, do declínio do poder mundial dos Estados Unidos.
O historiador inglês, Eric Hobsbawm, afirmou numa entrevista recente, que o “projeto americano está falindo”, e que a “superioridade dos Estados Unidos é um fenômeno temporário”. Quase na mesma linha do economista italiano, Giovanni Arrighi, que defende a tese que a “hegemonia americana” está vivendo uma “crise terminal”, depois do “fracasso do projeto neo-conservador no Iraque”, e depois que “os Estados Unidos deixaram de ser um estado hegemônico que criava ordem, para se tornarem uma força do caos e da desordem” . No caso do sociólogo norte-americano, Immanuel Wallerstein, a previsão é ainda mais radical: o que está em crise e deve acabar até a metade do Século XXI, não é apenas a hegemonia americana, é o próprio “sistema mundial moderno” que se formou a partir da Europa, depois do século XVI. Mas nenhum destes autores consegue definir com precisão o que seja uma “crise terminal”, do poder e da superioridade americana, ou do próprio “sistema mundial moderno”, de que fala Wallerstein.
Por que se trataria de uma “crise terminal”, e não apenas de uma crise cíclica ou passageira? E, além disto, mesmo que fosse “terminal”, qual seria a sua duração e o seu desfecho? E o que é mais importante, o que passaria no mundo, durante este período de transição e de espera do “juízo final”?
Na verdade, o ponto fraco de todas estas previsões não está na sua análise da conjuntura internacional, está na teoria em que se apóiam suas projeções de longo prazo: a hipótese de que o “sistema mundial moderno” requer a existência de “potências hegemônicas” sucessivas, para manter a sua ordem política e o bom funcionamento da sua economia internacional. Dentro desta teoria das “sucessões hegemônicas”, o “líder” ou “hegemon” aparece na história como uma espécie de “resposta funcional” ao problema da “ingovernabilidade” de um sistema que é anárquico, porque é formado por estados nacionais soberanos. Por isto, em geral, esta teoria destaca as contribuições positivas do hegemon, para o bom funcionamento e para “governança global” do sistema, sem dar maior atenção à dinâmica contraditória das relações existentes entre o “hegemon” e os demais estados que participam do sistema mundial.
Por isto também, esta teoria funcional e evolucionista da “hegemonia”, não consegue dar conta do movimento contínuo de competição, luta e expansão dos estados e economias nacionais que já conquistaram a condição de “grandes potências”, e fazem parte do “núcleo central” de todo o sistema, mas seguem competindo entre si, mesmo nos períodos que aparentam uma alta “tranqüilidade hegemônica”. Daí sua dificuldade para compreender situações de conflito e de ruptura, e a pressa com que estas análises e previsões, anunciam “crises terminais”, a cada nova turbulência econômica, guerra, ou derrota do “hegemon”, sem considerar a possibilidade que estas crises e guerras possam fazer parte do processo de reprodução e expansão do poder e riqueza do próprio “hegemon”, que não foi eleito para ser representante, nem para cuidar dos interesses gerais da humanidade.
A crítica desta teoria da “hegemonia mundial”, e destas previsões baseadas na hipótese dos “ciclos hegemônicos”, está na origem do conceito e da pesquisa sobre o “poder global”: um modo de olhar e analisar o sistema político mundial e suas relações com a internacionalização capitalista, que privilegia o conflito e as contradições do sistema mais do que suas relações funcionais. Da perspectiva do “poder global”, o sistema mundial é uma “máquina de acumulação de poder e riqueza”, e seu motor é a competição e a guerra, entre seus estados e economias nacionais. Dentro deste “sistema mundial”, não existem países satisfeitos, todos estão sempre se propondo aumentar seu poder e sua riqueza, e neste sentido, todos são expansivos, em particular, as “grandes potências” que já ocupam o topo da hierarquia do poder e da riqueza mundiais.
Por isto, este sistema pode ser comparado com um “universo” em expansão contínua, onde todas as potências que lutam pelo poder global, estão sempre criando, ao mesmo tempo, ordem e desordem, expansão e crise, paz e guerra. E como conseqüência, se pode afirmar com toda certeza que dentro deste universo, ou seja, dentro do “sistema mundial moderno”, nunca houve nem haverá “paz perpétua”, nem hegemonia estável. Pelo contrário, do nosso ponto de vista, o que ordena e “estabiliza” as relações hierárquicas internas do sistema mundial, paradoxalmente, é a existência de “eixos conflitivos crônicos”, junto com a permanente possibilidade de uma nova guerra, entre as grandes potências.
Por isto, do ponto de vista do “poder global”, desordem, crise e guerra não são, por si mesmos, um anúncio do “fim”, são uma parte necessária do movimento de expansão do sistema mundial. E deste mesmo ponto de vista, falar de uma “crise terminal”, com data marcada, de um poder hegemônico, ou do próprio “sistema mundial moderno” é um absurdo teórico e histórico. Até porque, no tempo de espera da “hora final”, o mais provável é que o sistema siga enfrentando e superando crises econômicas, como em toda a história da internacionalização capitalista, e situações de guerra, como em toda a história geopolítica das nações, inaugurada pela Paz de Westfália, em 1648. E, portanto, com relação a este tempo de espera, todas estas previsões “terminais”, são absolutamente inúteis.

Fonte: Agência Carta Maior – 10/10/07.

10.10.07

ONG Movimento dos Sem Mídia

Depois da manifestação em frente ao jornal Folha de S. Paulo e a repercussão das ações do blogueiro Eduardo Guimarães (Cidadania.com), eis que surge a ONG:
Assembléia para fundação do Movimento dos Sem-Mídia, que ocorrerá no próximo sábado, dia 13 de outubro de 2007, a partir das 10 horas da manhã no auditório da Sociedade de Usuários de Informática e Telecomunicações de São Paulo (Sucesu-SP), situado na Rua Tabapuã, nº. 627, bairro do Itaim Bibi, em São Paulo (SP), telefone (11) 3556-6666.

40 anos da morte de Che Guevara

Reproduzo abaixo o informe Letraviva, do MST, do dia de ontem:


Estimado amigo e amiga do MST,

Hoje completam 40 anos da morte do revolucionário Ernesto Che Guevara. Em vários países do mundo, e especialmente da América Latina, militantes de esquerda e movimentos sociais realizam homenagens ao homem que se transformou num dos maiores símbolos da luta pela liberdade dos povos latino-americanos, caribenhos e africanos.
Era certo que a burguesia e o imperialismo também não deixariam essa data passar despercebida. Para estas forças conservadoras, o frio assassinato que promoveram em La Higuera (Bolívia), em 1967, não foi suficiente para aplacar o ódio de classe que sentiam ao líder revolucionário. Além de assassinar o corpo, é necessário também assassinar a história. Coube à revista Veja, do Grupo Abril, ser mais uma vez, porta-voz das forças reacionárias e de praticar um jornalismo sem nenhum compromisso com os fatos.
Para nós, trabalhadores e trabalhadoras, o mês de outubro é um período de resgatar a história, os ensinamentos e o exemplo de Ernesto Che Guevara. Por que recordar o Che? Porque ele dedicou sua vida para a causa do povo. Deixou-nos um legado de solidariedade incondicional com todos os oprimidos e de compromisso com as lutas pela libertação dos povos.
Fidel, ao referir-se a Che, disse: “nos deixou seu pensamento revolucionário, nos deixou suas virtudes revolucionárias, nos deixou seu caráter, sua vontade, sua tenacidade, seu espírito de trabalho. O homem que deve ser modelo para nosso povo”. Decididamente, a contribuição de Che, por suas idéias e exemplo, não se resumem a teses de estratégias militares ou de tomada de poder político. Nem devemos vê-lo como um super-homem, dotado de poderes sobrenaturais e infalíveis. E, tampouco exorcizá-lo, reduzindo-o a um mito.
Olhando sua obra falada, escrita e vivida, podemos identificar em toda a trajetória um profundo humanismo. O ser humano era o centro de todas as suas preocupações. A admiração e o respeito devem ser direcionados a sua vida, sua capacidade dialética de sempre aprender, sua persistência em lutar contra qualquer forma de injustiça, sua capacidade dirigente e sua humildade. Ele mesmo nunca permitiu que o transformassem em um mito.
Che é para nós um exemplo de superação dos próprios limites e de um profundo amor à humanidade.
“Permita-me dizer-lhes, com o risco de parecer ridículo, que o revolucionário é movido por grandes sentimentos de amor [...] todos os dias é preciso lutar para que esse amor à humanidade viva se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo de mobilização” (Che Guevara).
A indignação contra qualquer injustiça social e sua revolta às políticas imperialistas, implementadas em qualquer parte do mundo, era o que mais o motivava a lutar. Dizia ele “... cada vez que um país se desprende da árvore imperialista, ganha não só uma batalha parcial contra o inimigo fundamental, mas também contribui para o real enfraquecimento e dá um passo para a vitória definitiva”.
Sua persistência, não medindo esforços em quaisquer circunstâncias, mede-se por seu trabalho, suas lutas e, sobretudo, por seu exemplo prático. Mesmo como ministro de Estado, dirigente da Revolução Cubana, fazia trabalho solidário na construção de moradias populares, hospitais, escolas e no corte da cana. “No futuro, teremos todos que cumprir os nossos deveres revolucionários e que renunciar temporariamente a certos privilégios e direitos em benefício da coletividade”.
Defendia, com sua elaboração teórica e com sua prática, o princípio de que os problemas do povo somente se resolvem se todo o povo participar ativamente na busca e na implementação das soluções dos seus próprios problemas. Acreditava no poder e na necessidade do povo ser protagonista de sua própria história. Para ele, uma revolução social se caracteriza, fundamentalmente, pelo fato de o povo assumir seu próprio destino, participar de todas as decisões políticas da sociedade.
Sempre defendeu a integração completa dos dirigentes políticos com a população. Combatia, dessa forma, os populismos demagógicos. E assim mesclava a força das massas organizadas com o papel dos dirigentes, dos militantes, praticando aquilo que Gramsci já havia caracterizado como a função do intelectual orgânico coletivo.
Teve uma vida simples e despojada. Nunca se apegou a bens materiais. Denunciava o fetiche do consumismo, defendia com ardor a necessidade de elevar permanentemente o nível de conhecimento e de cultura de todo o povo. Por isso, Cuba foi o primeiro país a eliminar o analfabetismo e, na América Latina, a alcançar o maior índice de ensino superior.
O conhecimento e a cultura eram para ele os principais valores e bens a serem cultivados. “No dia em que deixamos de aprender, que acreditarmos saber tudo ou que tivermos perdido nossa capacidade de intercambio com os povos, será o dia em que teremos deixado de ser revolucionários”, afirmava ele. E, acrescentava: “a sociedade em seu conjunto deve se converter em uma gigantesca escola”.
Para nós, o conhecimento e a experiência deixados por Che Guevara são apreendidos todos os dias, em nossas atividades cotidianas, na nossa formação, no nosso empenho pela educação, no nosso enfrentamento com o imperialismo e com a burguesia brasileira, que abandonou a idéia de construir uma Nação em nosso país. Há mais de 500 anos, a elite do nosso país preocupa-se unicamente em reforçar uma política de sermos subalternos aos interesses do mercado internacional e de facilitar a exploração das nossas riquezas naturais e do nosso povo. Mais do que nunca, as idéias e os ideais de Ernesto Che Guevara estão presentes, junto à classe trabalhadora brasileira.
No mês de outubro, o resgate aos ensinamentos de Che se transforma em homenagens. Mas também, em ações práticas que se espalham por todo o país por meio da Jornada de Solidariedade e Trabalho Voluntário. Em sua memória vamos estudar, praticar ações solidárias e celebrá-lo em todas as áreas de Reforma Agrária, acampamentos e assentamentos.
Sabemos que é preciso seguir pela trilha dos seus passos, buscando cada dia ser melhor na prática militante, nos estudos e na convivência com os outros. Acreditar em Che, relembrar o Che hoje é, acima de tudo, cultivar esses valores da prática revolucionária que ele nos deixou como legado. A burguesia queria matar o Che. Levou seu corpo, mas imortalizou seu exemplo.

Che vive! Viva o Che!

Direção Nacional do MST

“Temos um caminho difícil a percorrer. A nossa força reside na unidade dos operários e camponeses, de todas as classes necessitadas, que devem marchar para o futuro”.
Ernesto Che Guevara

8.10.07

Record Entrevista - Mundo

Acabo de ter uma boa surpresa na Record News: Record Entrevista Mundo. Programa comandado pelo jornalista Rodrigo Vianna – aquele mesmo que ousou discordar da cobertura que a Globo fez das eleições do ano passado – tendo como debatedores o professor Christian Lohbauer e o historiador Gilberto Maringoni.
O tema, não podia ser melhor: a esquerda na América Latina.
Com dois antagonistas de peso o programa tratou de Hugo Chávez e da Venezuela, da Bolívia e do Equador de forma mais demorada, mas também se falou de Chile, Peru, Colômbia e Argentina, tudo isso ligado à política externa do governo Lula.
Defendendo posições conservadoras, o professor Christian Lohbauer (clique aqui para acessar o seu site), atacou Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa, bem como a política externa do governo Lula sem dó nem piedade. Rasgou elogios a Colômbia do presidente Uribe, inclusive salientando o principal diferencial da elite colombiana quando comparada às outras da América Latina: “ela é espanhola, formada em Harvard...”.
Gilberto Maringoni (clique aqui para ler sobre ele) por sua vez assumiu a defesa da onda “anti-neoliberal” que varreu a América Latina, defendendo a legitimidade do governo Chávez na Venezuela, de Morales na Bolívia e Correa no Equador. Elogiou a política externa do governo Lula e criticou duramente o governo Uribe na Colômbia, inclusive citando o grande número de sindicalistas mortos no ano passado, a perseguição aos jornalistas e órgãos de imprensa independente. Em contraposição mostrou que na Venezuela não existe censura, ao contrário do que querem fazer crer os conservadores e mesmo a RCTV, que não teve a sua concessão renovada pelo governo, continua transmitindo por cabo e pela Internet.
Pena que o programa durou só meia hora.
Para ficar melhor ele poderia alonga-se um pouco mais, pelo menos uma hora e construir um mecanismo de participação do telespectador, como no Roda Viva da TV Cultura.

7.10.07

Recomendações de leituras

Adicionei novos links no menu lateral.
O primeiro é o Guia Época Vestibular 2008. Trata-se de um blog, administrado por mim, que serve como apoio a leitura dos fascículos do mesmo nome, que estão circulando com a revista Época nas bancas. Nele você pode discutir questões sobre os assuntos de atualidades voltados para o Vestibular, buscar esclarecimentos com os autores e escolher o tema do 11º fascículo, que estará disponível apenas na Internet. A disputa está acirrada entre Biotecnologia/Células-tronco e Globalização/Organizações Multilaterais.
Outro link é do blog Crítica do Direito e do Estado, com ótimas propostas de leituras sobre os temas que dão título à publicação.
E, finalmente, uma grande blogueira lá do Sul de volta a rede: Neurótika.com. São textos de uma delicadeza ímpar, deliciosos de serem lidos.

6.10.07

Mianmar livre!

Ilustração do Latuff na Nova-e:

Entrevista com Ariano Suassuna na Caros Amigos

No site da revista Caros Amigos tem uma obra prima: entrevista com Ariano Suassuna, realizada em 2003, para a edição de junho.
A chamada é assim:

“Eu não faço concessão nenhuma”

A entrevista começou com um não. “Com a revista Caras eu não falo, não. Que me respeitem!” Essa foi a resposta de Ariano Suassuna ao não entender bem o recado deixado pela Caros Amigos em sua secretária eletrônica. Desfeito o engano, o polêmico escritor recebeu os jornalistas em seu casarão, um verdadeiro monumento à cultura brasileira, no bairro de Casa Forte, às margens do rio Capiberibe. Assim como seu engraçado personagem Chicó, de O Auto da Compadecida, Ariano é um grande contador de histórias, entremeando suas opiniões com causos e contos populares. Apesar de toda a poesia nas entrelinhas, ele diz tudo na bucha. Até porque, como ele mesmo gosta de lembrar, não é “homem de ficar em cima do muro”.

Leia a entrevista clicando aqui.

5.10.07

Artistas da periferia de São Paulo lançam sua própria Semana de Arte Moderna

Manifesto da Antropofagia Periférica

A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor. Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, querem substituir os barracos de madeira.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que, armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.
Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior. Miami pra eles? “Me ame pra nós!”.
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.


É TUDO NOSSO!
Sérgio Vaz
Poeta da Periferia


Leiam excelente matéria publicada na revista Época sobre a literatura produzida na e pela periferia! Lindo! Exuberante!
Clique aqui para ler.

4.10.07

Che Guevara e os mimos da família Civita

Aquela revista que vive da farsa da notícia, nego-me a reproduzir o nome da dita cuja aqui, passou da conta na última semana! Desceu a lenha no Che Guevara. Pensei em escrever sobre o tema, mas, confesso, me senti muito desconfortável, pois Che é um exemplo de revolucionário e estadista para mim, portanto escreveria apenas com ódio daquela turma, ou seja, ficaria do mesmo tamanho que eles.
Mas eis que encontro na Agência Carta Maior um texto primoroso do Gilberto Maringoni, que reproduzo a seguir:

Che Guevara e os mimos da família Civita

Dar a patinha, rolar no chão e falar mal de tudo que cheire a povo são as eternas gracinhas da pet shop chamada Veja. Os Civita adoram mascotes. Têm vários.

Gilberto Maringoni

A humanidade sempre gostou de animais de estimação, mas agora o costume virou moda. Pet shops tomam conta das cidades brasileiras e roupas, brinquedos e alimentos especiais para bichinhos disputam um mercado crescente. Escolas especiais pipocam por toda parte, sofisticando a pedagogia caseira de ensinar mascotes a sentar, dar a patinha ou buscar objetos atirados ao longe. Todos gostam dessas companhias domésticas. Fazem a alegria das crianças.
Há uma família em São Paulo que parece adorar mascotes. É um clã de origem italiana, aqui radicado há décadas. Não se sabe bem o porquê, mas alguns de seus membros exibem socialmente um inconfundível acento novaiorquino. Manias, quem sabe. Trata-se da turma dos Civita, gente boa, com negócios para os lados da marginal Pinheiros.
Os Civita adoram mascotes. Têm vários. Um dos orgulhos de sua casa de negócios atende pelo nome de Diogo. Aliás, são dois os Diogos amestrados daquele – chamemos assim – lar da marginal. Vamos falar de um deles, o Diogo Schelp (tem o Mainardi, mas este fica para outra hora). O Schelp é um espécime reluzente. Dá a patinha, busca o que o dono mandar e não gosta do que os Civita não gostam. Coisa bonita de se ver. Diogo Schelp deve andar aí pela casa dos trinta anos. Tem futuro.

Cuba, Venezuela, MST etc.
Os Civita detestam tudo que cheire a povo. Externam especial repulsa por coisas como Cuba, Venezuela, MST e quejandos. Quando precisam propalar aos quatro ventos seus desapreços, chamam um dos Diogos. “Vem, Diogo, vem”. E Diogo – qualquer um deles – faz a alegria da família. “Vem, Diogo, vem, desce o chanfralho no Chávez, vem!”. E lá vai Diogo, correndo, mostrar o serviço.
Como toda boa família, os Civita têm sua sala de visitas, onde exibem tudo do bom e do melhor. A sala de visitas tem até nome. Chama-se Veja. Toda semana apresenta uma decoração nova, todas diferentes, mas iguais às anteriores, se é que dá para entender.
Diogo é um fenômeno, dizíamos. É bom também não confundi-lo com Dioguinho, apelido de Diogo da Rocha Vieira, famoso bandido e salteador que aterrorizou os sertões da Mogiana, entre o final do século XIX e inícios do XX. Dioguinho era bandido de aluguel, que agia em troca de bom soldo. Diogo, o Schelp não aterroriza ninguém.
Pois não é que depois de fazer das suas por várias vezes, exibindo língua solta contra a Venezuela e Cuba o Diogo resolveu voltar-se contra Che Guevara. Certamente fez isso depois de dar a patinha, rolar no tapete e pedir papinha, pois a vida não anda fácil.

Pérolas e olfatos
Diogo é uma graça. Ganhou uma capa – é capa da tal sala de visitas, a Veja – e mais um monte de espaço. Sua pérola chama-se “Che. Há quarenta anos morria o homem, nascia a farsa”. A obra é hercúlea. Diogo contou com a ajuda de outro civitete de estimação, um serzinho chamado Duda Teixeira. Para fazer das suas, foram falar com vários cubanos que, segundo ambos, conviveram com Che Guevara. Não foram a Cuba, mas entrevistaram quatro que moram na mais reluzente cidade latino-americana, chamada Miami. Tem uma comunidade cubana lá que é do balacobaco. Ajudaram a eleger George e seu irmão Jeb Bush. Gente fina.
Entre citações dos tais cubanos e sacadas próprias, a dupla DD (Diogo e Duda) saiu-se com estas:
“Che foi um ser desprezível”.
“Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro”.
"Sua vida foi uma seqüência de fracassos".
Como a vida da dupla DD é uma seqüência de sucessos, eles podem dizer esta última frase de boca cheia. Certamente ambos vão revelar proximamente terem feito algo mais grandioso do que uma revolução nas barbas do império (desculpem o uso da expressão antiquada) ou de terem dado a vida defendendo o que pensam.
O mais legal é a especialidade olfativa dos DD. Sabem de cada uma. Vejam esta:
“Che (...) não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido".
Cheiro de rim fervido! Alguém sabe como é? Os DD, pelo visto, cultivam o salutar hábito de experimentar odores em busca de comparações espirituosas a pedido dos Civita.
E tem mais. Como estão fazendo graça, dando a patinha e tal, os DD não se preocupam nem mesmo em dizer uma coisa no início da matéria e desdizer a mesma coisa linhas abaixo. Pois vejam só:
“Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro”.
Lá adiante, a dupla do barulho fala assim:
“Che também se tornou crítico feroz da União Soviética”.
Os Civita devem adorar. Os Civita gostam de dinheiro, poder e publicidade oficial, da qual suas revistas andam cheias. O governo deve gostar muito dos Civita e de seus mascotes, para dar esse ajutório todo.
Mas deve haver uma hora que os DD cansam um pouco a família lá da marginal. Mesmo vivendo toda hora na sala e se exibindo para as visitas, há sempre um perigo maior.
O de fazer xixi no tapete.
Foi o que aconteceu agora. Graça demais não tem muita graça não.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Carta Maior, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
Clique aqui para ler o artigo original.

Manifestações pela democratização da mídia

Reproduzindo direto da Rede Blogo:

REDE BLOGO: RESGATANDO A HISTÓRIA

EDIÇÃO DE 28 DE SETEMBRO A 10 DE OUTUBRO DE 2007

Especial sobre as concessões de rádio e TV no Brasil

PROGRAMA NACIONAL DE MANIFESTAÇÕES:
Brasília (DF)
Excepcionalmente em Brasília, o ato será no dia 4, por conta do calendário da capital federal. As organizações vão realizar um julgamento popular das concessões que irão vencer e do sistema de concessões em frente ao Ministério das Comunicações, às 14h. Será entregue ao ministro Hélio Costa a pauta de reivindicações da campanha. Também serão convidadas para o ato representantes da Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados, que receberão as propostas de mudanças referentes à legislação brasileira para o tema.

São Paulo (SP)
O ato acontecerá no dia 5, na Avenida Paulista. A concentração terá início às 12h, em frente ao prédio da Gazeta (av.Paulista, 900), passará pelo Masp e terminará em frente ao prédio do Grupo CBS (esquina da Paulista com a Rua Augusta), onde ficam as rádios Scalla, Kiss, Mundial, Terra e Tupi – quatro delas estão com outorgas vencidas. As entidades entregarão às emissoras um contrato popular, com uma relação de compromissos que acreditam que todas as empresas de radiodifusão deveriam assumir, como a não criminalização de movimentos sociais e a garantia de liberdade de expressão para todos e todas.

Vitória (ES)
Dia 5: exibição do filme Muito Além do Cidadão Kane, às 18h30min, no Cemuni 5, UFES, com debate em seguida.
Ao longo da semana, haverá panfletagem sobre concessões para os sindicatos, organizações e movimentos sociais. O panfleto é também um convite aos parceiros para uma atividade que será realizada no dia 6.

Dia 6: espaço de formação sobre concessões promovido pelo Intervozes para movimentos sociais e organizações parceiras. Os militantes do estado farão exposição sobre o tema e depois será aberto o debate. A atividade ocorrerá no Espaço Conexões dos Saberes (em cima do Cine Metrópolis), às 14h30.

Recife (PE)
Dia 5: O Fórum Pernambucano de Comunicação (Fopecom), do qual o Intervozes participa, promoverá ato pela transparência e democracia nas concessões de rádio e TV, com concentração às 14h, na Praça do Diário, Centro do Recife. A Comissão Estadual dos Quilombolas soma-se ao ato em protesto contra os ataques da Rede Globo ao movimento.

Curitiba (PR)
Dia 5: A partir das 12h, na Boca Maldita, Centro de Curitiba, será realizada panfletagem sobre concessões. Às 18h, no Festival de Cultura da UFPR, no gramado do Centro Politécnico, será exibido o filme Muito Além do Cidadão Kane. As atividades estão sendo organizadas por Intervozes, CUT, CMS, Terra de Direitos, DCE UFPR, Sindicato dos Bancários, Coletivo Soy Loco por ti, UBES e Centro de Formação Irmã Araújo (Cefuria).

São Luis (MA)
Dia 5: Às 07h30min, o representante do Intervozes no Estado, Luciano Nascimento, participará de debate no programa Rádio Opinião, da Rádio Universidade (106,9 FM), sobre concessões de rádio e TV. A partir das 8h da manhã, será realizado um ato na Praça Deodoro, com apresentação de grupos de teatro que farão esquetes sobre concessões. Às 17h30, no auditório do Centro de Ciências Sociais (CCSO), da UFMA, acontecerá debate sobre concessões com a participação do Intervozes e de grupos de estudo da Universidade.

Belo Horizonte (MG)
No dia 5, acontece uma manifestação pela democratização e a liberdade de imprensa em Minas Gerais, com concentração às 9h na Praça da Liberdade, com caminhada até a Praça Sete.
Dia 8 - Debate - Ditadura da Mídia: até quando?
Venício Artur de Lima (UnB), Altamiro Borges (PCdoB), Mozahir Salomão (PUC-MG)
19h - Sindicato dos Jornalistas - Av. Álvares Cabral 400.

Dia 9 - Audiência Pública - Democratização dos Meios de Comunicação
Berenice Mendes (FNDC), Zé Guilherme (Abraço), João Brant (Intervozes), Regina Mota (UFMG), Beto Almeida (Telesur)
Assembléia Legislativa 9h

Dia 9 - Che Guevara, 40 anos sin perder la ternura.
Casa dos Jornalistas, 20h.

Manaus (AM)
Dia 5: A partir das 7h30, haverá panfletagem sobre concessões em terminais de ônibus e em quatro semáforos da rotatória "Bola do Coroado", que fica próxima às sedes das retransmissoras das Redes Globo e Record.

Salvador (BA)
Dia 5: Na UFBA, haverá exibição do filme “A revolução não será televisionada”, às 11h, no auditório da Facom, com debate sobre concessões em seguida. Na UNIFACS, será exibido o filme "Muito Além do Cidadão Kane", às 10h30. E na FIB, haverá uma caminhada do Campus Gilberto Gil (Stiep) até o Jornal A Tarde, às 10h, e à noite, às 19h, será realizado um debate sobre concessões.

Porto Alegre (RS)
Dia 5: Às 17h, organizações e movimentos sociais realizam “Ato popular por transparência e democracia nas concessões públicas de rádio e TV”. A manifestação ocorrerá em frente ao prédio da RBS, na Av. Érico Veríssimo. Convocam o ato Campanha por Transparência e Democracia nas Concessões de Rádio e
TV, Comitê do Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação – RS, Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social, Núcleo Piratininga de Comunicação, Central de Movimentos Populares, Abraço - RS, Conrad/RS, CUT-RS, Sinttel/Fittel e ENJUNE/RS.

Rio de Janeiro, Niterói e Barra Mansa (RJ)
No Rio de Janeiro, os militantes aproveitaram as mobilizações em torno do dia 5 para antecipar a Semana pela Democratização da Comunicação. Confira a programação:
Dia 3, quarta
9h - Abertura da Semana com a realização de programa, ao vivo, na rádio comunitária do Morro do Estado, em Niterói, e vídeo cabine.
13h - Debate sobre Políticas de Comunicação nos pilotis da PUC/RJ, na Gávea, com Marcos Dantas (PUC), Adilson Cabral (7 Pontos) e ENECOS.
19h - Exibição do filme Tapete Vermelho seguido de debate com Adriana Facina (Observatório da Indústria Cultural) e Movimento de Niterói para salvar o Cine Icaraí. Local: Teatro do DCE-UFF, Centro de Niterói.

Dia 4, quinta
17h - Debate UFF- Mestrado Ciência da Arte – Concessões e sua relação com a produção da teledramaturgia – IACS 2 (Rua Tiradentes, 148, Ingá).
20h - Exibição de programa na TV Universitária de Niterói com a participação de diversos movimentos sociais. Local: Estúdio grande da Unitevê, IACS – Rua Lara Vilela, 126, Ingá, Niterói. A produção do programa começa 19h.

Dia 5, sexta
21h - Ato em Defesa da Transparência das Concessões de Rádio e TV, no Sest-Senat de Barra Mansa

Dia 7, domingo
12h - Panfletagem de jornais alternativos na Praia de Ipanema - Posto 9

Dia 8, segunda-feira
17h - Panfletagem de jornais alternativos na Central do Brasil – na saída do metrô

Dia 09 de outubro – terça-feira
14h - Debate sobre a contribuição das rádios comunitárias para o desenvolvimento social - Local: IACS – Rua Lara Vilela, 126.
19h - Reunião de articulação do movimento pela democratização da comunicação do Rio. Local: Rua Joaquim Silva, 56, 9º andar, Lapa.
21h - Programa Especial de Encerramento da Semana de Democratização da Comunicação na TV Comunitária do Rio.

3.10.07

Um país sem educação

Está na página do Terra de hoje:

SP: pais pedem na Justiça que filho seja reprovado

Em Jundiaí, no interior de São Paulo, o desempenho escolar de uma criança virou tema para a Justiça. Os pais de um aluno da quarta série do Ensino Fundamental recorreram ao Judiciário para pedir a reprovação de seu filho. Segundo a Folha de S.Paulo, o casal alega que o aluno teria recebido um ensino precário em uma escola municipal e não poderia ser aprovado.
Ainda que o caso corra em segredo de Justiça, a Folha registra o comentário do promotor da Infância e da Juventude Mauro Vaz de Lima: "Os pais perceberam que a criança não havia aprendido o suficiente para passar de ano. Eles até pensaram em fazer com que o aluno fosse reprovado pelo número excessivo de faltas. Mas neste caso a família é que seria chamada para dar explicações".

O promotor informou ao jornal que haveria outros dois pedidos de repetência vindos de pais de alunos de escolas públicas - um da rede municipal e outro da estadual.

1.10.07

Além do Cidadão Kane

Além do Cidadão Kane
BBC de Londres
1 hr 33 min 2 sec - Feb 13, 2006

Além do Cidadão Kane é um documentário produzido pela BBC de Londres - proibido no Brasil desde a estréia, em 1993, por decisão judicial - que trata das relações sombrias entre a Rede Globo de Televisão, na pessoa de Roberto Marinho, com o cenário político brasileiro.
- Os cortes e manipulações efetuados na edição do último debate entre Luiz Inácio da Silva e Fernando Collor de Mello, que influenciaram a eleição de 1989.
- Apoio à ditadura militar e censura a artistas, como Chico Buarque que por anos foi proibido de ter seu nome divulgado na emissora.
- Criação de mitos culturalmente questionáveis, veiculação de notícias frívolas e alienação humana.
- Depoimentos de Leonel Brizola, Chico Buarque, Washington Olivetto, entre outros jornalistas, historiadores e estudiosos da sociedade brasileira.
"Todo brasileiro deveria ver Além do Cidadão Kane"

Clique aqui para ter acesso ao documentário.
Caso não consiga,
aqui também tem.