28.11.14

Campeões de Matemática e da vida



Recentemente, os jornais e a TV apresentaram ao Brasil a pequena Cocal dos Alves, cidade do norte do Piauí, com aproximadamente 7 mil habitantes, que ostenta um dos piores Índices de Desenvolvimento Humano do país. A localidade é muito carente de recursos, os salários são baixos e a renda média da comunidade é próxima de 1 salário mínimo.
O sonho da maioria de seus habitantes era migrar para o Rio de Janeiro e lá conseguir um emprego que possibilitasse sua sobrevivência. Para aqueles que permanecessem na cidade, os empregos estavam no campo, no pequeno comércio ou na prefeitura.
Esse sonho tem mudado. Hoje, muitos jovens estão em Teresina, capital do estado, cursando a universidade; alguns já alcançaram o mestrado. O destino do sonho da maioria desses jovens foi invertido: desejam voltar para sua comunidade e ajudar a transformá-la.
Em Cocal dos Alves, floresceu uma experiência educacional que está dando o que falar: uma escola pública que consegue obter resultados expressivos no Enem, nos vestibulares das universidades públicas e nas olimpíadas de Matemática, seu grande, mas não único caso de sucesso no cenário educacional. Estamos falando da Escola de Ensino Médio Augustinho Brandão.
Como explicar tamanho sucesso se tudo conspirava contra a escola? Segundo a diretora Aurilene Vieira Brito, esse trabalho frutificou por meio de dedicação e comprometimento do corpo docente, que, com sua garra e vontade, conseguiu envolver o corpo discente na tarefa do aprendizado.
Ainda segundo ela, a intensificação do trabalho em sala de aula e o acompanhamento focado no aprendizado do aluno fez com que os resultados aparecessem. Com esses resultados em mãos, a comunidade começou a pressionar o Estado para melhorar a infraestrutura. Isso explica o prédio novo e em boas condições, os novos laboratórios, o acesso à internet e a implantação do ensino em período integral.
O professor de Matemática Antonio Amaral, responsável pelo sucesso na Olimpíada Brasileira de Matemática das Escolas Públicas (Obmep), divide com a equipe pedagógica – composta por 10 professores, a diretora e um coordenador pedagógico – as vitórias obtidas.
A escola soma 153 medalhas na Obmep, além de várias menções honrosas, tem premiação também nas Olimpíadas de Química, Astronomia, de Foguetes, além de desempenho excelente em redações, como as do Concurso Jovem Senador e a redação do Enem.
Em sua página do Facebook, a escola noticia com indisfarçável orgulho que sua aluna Maria Isadora, do 6º ano, está entre os 38 finalistas da Olimpíada Brasileira de Língua Portuguesa.
O sucesso acadêmico dessa escola põe por terra as teses daqueles que defendem o “determinismo social” e, ao mesmo tempo, reafirma que uma boa gestão e pessoas comprometidas podem sim fazer uma educação de boa qualidade.
            Tal constatação não isenta o Estado, pelo contrário, de investir em melhor estrutura das unidades educacionais, na formação do corpo docente e em sua boa remuneração.
É notório, em comunidades como a de Cocal dos Alves, que as famílias depositam as fichas de um futuro melhor para seus filhos na escola, enquanto que nas localidades com mais oportunidades, a escola implora por maior participação e apoio das famílias dos educandos no processo de ensino-aprendizagem.
Claro que não se trata de querer que a escola de Ensino Médio Augustinho Brandão seja copiada Brasil afora, mas é um caso que merece ser estudado pelos pesquisadores da Educação, tanto pelo sucesso pedagógico, obtido nas avaliações externas, como pelo processo de gestão, pois aparentemente os recursos, que são poucos, são muito bem aplicados e geridos. Outro fator interessante é a forma como os docentes estimulam a ligação dos educandos com a comunidade, a ponto destes desejarem a ela retornar para aplicar os conhecimentos obtidos na capital.
            Um dos exemplos desse vínculo é o jovem Izael de Brito Araújo, que alcançou fama nacional há alguns anos, quando ganhou um prêmio de R$ 100 mil num programa de TV. Ele foi convidado a cursar o Ensino Médio como bolsista no melhor colégio particular de Teresina, mas preferiu ficar em Cocal dos Alves, na Escola de Ensino Médio Augustinho Brandão.
Em 2013, Izael, que cursava o 2º ano do Ensino Médio, voltou a ser destaque na mídia: foi aprovado para o curso de medicina na Universidade Estadual do Piauí.
Os educadores dessa escola, na pequena e pobre cidade do norte do Piauí, fazem valer um ensinamento do mestre Paulo Freire: “Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas transformam o mundo”.

Fonte: Edições SM – Canal Somos Mestres – Notícias da Educação. Disponível em: www.edicoessm.com.br/#!/somosmestres/noticia-detalhes?news=37

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