Como temia aquele personagem do Asterix: "o mundo está desabando sobre nossas cabeças".
Antes que comecem a nos ameaçar com o fantasma do aquecimento global, convem algumas observações de cunho geográfico.
Outro dia disse no tuiter que o problema não é a natureza, mas a falta dela. Claro que não dá para explicar em 140 caracteres, tentemos aqui então.
A região atingida mais gravemente no atual verão pelas chuvas, como Angra dos Reis (RJ) e São Luiz do Paraitinga (SP), sem esquecer a capital paulista, pertence ao domínio morfoclimático dos Mares de Morros (1). Este domínio caracteriza-se por apresentar relevo íngreme, com acentuadas declividades e grande quantidade de chuva no verão. Originalmente era tomado pela floresta da Mata Atlântica.
Essa caracterização é encontrada em qualquer livro de Geografia do Brasil e consta do programa de ensino da escola básica para a área de ciências humanas.
Meus alunos devem lembrar que quando tratamos disso, tratamos também do impacto da degradação da vegetação – começou mais ou menos em 1500 – e também da ocupação desordenada do solo, fruto da especulação imobiliária e da ausência de políticas públicas para combater as desigualdades sociais.
Essa ausência de planejamento urbano levou a ocupação das encostas e das várzeas, lugares para os quais a natureza determinou papeis importantes, além de compor a paisagem dos anúncios de condomínios e pousadas.
As várzeas servem para o transbordo dos rios na época das cheias – verão – sendo este o seu papel. A preservação destas áreas, bem como da mata ciliar, é condição para o equilíbrio e a sobrevivência dos rios.
Vejam o caso da capital paulista. Várzeas ocupadas irregularmente, matas ciliares inexistentes, leitos assoreados e canalizados. Tudo o que não se pode fazer com um curso d’água fizemos com os rios, córregos e riachos da capital paulista.
Some-se isso a impermeabilização do solo – concreto e asfalto – e temos o resultado catastrófico.
Os bairros que surgem nas margens dos rios quase sempre são fruto da especulação imobiliária e da completa ausência do Estado na organização do uso e ocupação do solo urbano.
O primeiro instrumento de planejamento integrado da Região Metropolitana da Grande São Paulo (RMSP) é de 1971. Ele e todos os outros posteriores tornaram-se letra morta perante os interesses das forças políticas e econômicas que sempre comandaram essa cidade, com exceção de raros e curtos períodos.
No próximo texto abordarei Angra dos Reis e São Luiz do Paraitinga.
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