1989 - Uma derrota inesquecível
Não há como negar que as eleições de 1989 marcaram a vida de todos que dela participaram.
A última vez que o povo brasileiro havia escolhido seu presidente fora em 1960, sendo eleitos Jânio Quadros – que renunciaria 8 meses após a posse – tendo como vice-presidente João Goulart, derrubado por uma quartelada cívico-militar em 1964.
Era, portanto a primeira vez que eu poderia, e toda uma geração, escolher livremente o presidente da República.
Desde a minha primeira eleição, em 1982, aos vinte anos votei no PT e nos seus candidatos.
Além disso, sempre estive ao lado das candidaturas mais à esquerda dentro do Partido.
Vendi camisetas, broches, fiz rifas entre os amigos, ajudei a vender convites para almoços, bailes e shows.
Era assim, de maneira apaixonada e entregue que fazíamos as campanhas.
Aquela eleição era por demais especial. Tinha claro que a simples conquista do Executivo não faria nada mudar, mas pensava no poder de educação política que tal conquista nos traria. Na fantástica mobilização dos militantes e eleitores, isso sim capaz de forjar um novo tempo, mesmo que a luta fosse dura e demorada.
A Rede Globo fabricou o caçador de marajás, Fernando Collor, obscuro político alagoano. Teve até Globo Repórter para ele. Claro que rendeu capa de Veja.
Brizola era um candidato forte, bom de palanque e bom de TV, mas ainda com um discurso à moda antiga.
Lula representava o novo nesse cenário todo. Sindicalista de origem, com um Partido vigoroso, ainda imune as denúncias de corrupção, recheado de intelectuais, artistas e lideranças sindicais.
As armadilhas foram imensas, tanto no primeiro quanto no segundo turno.
Mas a campanha era feita com garra e mesmo os profissionais que trabalhavam nela eram, antes de tudo, militantes, ativistas e acreditavam no que faziam.
Dentre os artistas famosos lembro-me de Marília Pera, para minha decepção, alinhando-se com Collor. Eu estava na passeata que ladeou o teatro onde ela estava em temporada, se não me engano era o Jardel Filho. Lembro-me também que nós mesmos organizamos um cordão de proteção para que não houvesse nenhum ato mais atabalhoado ou de provocação.
O golpe mais duro foi o aparecimento da Miriam Cordeiro no programa do Collor. Lula ganhou minha admiração quando não permitiu a exposição da filha na contrapropaganda.
E, finalmente, para nossa tristeza veio o desempenho pífio no último debate. Nada demais, pois o Collor era muito ruim de cena, mas claro que a Rede Globo deu uma força, editou o debate para os jornais e transformou um empate em terrível derrota.
A frustração com a derrota foi imensa. Meu desejo era ir embora desse país, não conseguia entender como o povo pode escolher Collor, um ser artificial, produzido pela mídia como nos pastelões do cinema, típico ator charlatão, em detrimento do operário.
Naquela eleição o projeto que fez nascer o PT foi sepultado, dali em diante guinadas pragmáticas levaram-no ao governo, vagarosamente.
Mas tenho saudade daqueles tempos. As discussões políticas eram freqüentes, a campanha muito politizada, as pessoas se expressando livremente, um desejo imenso de participar e de se fazer ouvir.
Eram outros tempos.
Rede Povo
Sem medo de ser feliz
2º Turno
Um comentário:
Salve, Toni!
Muito bom rever, rever-nos. Recordar é estar vivo, e meia vitória, ou tardia, é melhor que nenhuma.
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