Estava colocando minhas leituras em dia quando me deparei com o texto que segue abaixo, de autoria do grande Ferréz, escrevendo diretamente do Capão Redondo.
Ele mostra a indignação com matéria veiculada no programa "A Liga" sobre o Capão. Embora trate de um caso em particular, o Capão Redondo, a grande mídia retrata a periferia de maneira a construir estereótipos medonhos.
Não tenho por hábito ver esse tipo de jornalismo. Aliás, com exceção do Profissão Repórter, não acompanho mais nada na TV aberta, só lixo, a começar pelo maior deles: CQC!
Esses programas precisam tomar uma decisão: são humorísticos ou jornalísticos? Esse limbo no qual transitam é bastante conveniente, pois quando tem que responder como jornalistas alegam estar fazendo humor e quando são rejeitados como humoristas alegam fazer jornalismo.
Fiquem com o texto do Ferréz:
A liga, liga nóis?
Assistindo o programa "jornalistico" da Bandeirantes A Liga, eu me constrangi, não só como ativista no bairro, mas como pai de família.
Conforme a matéria avançava, minha esposa saia e voltava não querendo mais ver, minha filha de apenas quatro anos perguntou, - isso é aqui pai?
Triste, muito triste mesmo, ver o que fizeram com o bairro.
Tem funk? toda periferia tem e todo salão burguês tem, tem bebida? toda porta de faculdade tem.
Tem ponto cultural? tem sarau? tem samba? tem festa popular? tem projeto cultural? tem uma área comercial gigantesca? parece que não.
O cemitério agrada mais do que o bar do Saldanha.
O assassinato agrada mais que o Ensaiaço na Grisson, o Sarau da Cooperifa, o Sarau do Binho, o Sarau da Coopermusp, o Cinema da laje, o trabalho de permacultura da Interferência.
O córrego traz mais audiência que o trabalho do Janga+Ação, o protesto dos punks da região, o movimento rock e suas bandas de garagem, a grife exclusiva do bairro, as quermesses populares, os shows de forró, o trabalho com a terceira idade, a Fábrica de Criatividade, o Capão Cidadão, A biblioteca Êxodus, a fanfarra do Euclides da Cunha, o jornal do bairro de Marcus Kawada, a cooperativa de mulheres, o trabalho do Senhor Pedrinho no jardim comercial, A oficina do espaço digital, e mais centenas de coisas positivas.
uma matéria gravada quase que totalmente de noite, com um tom de turismo, com muita ironia e despretenção de ver todos os lados, que é o que o jornalismo tinha que fazer.
Agora entendo quando entraram em contato comigo, e após eu dizer que queria falar de literatura e cultura, nunca mais voltaram.
Mentiram quando diziam que os entrevistados moravam aqui, muitos são turistas, e quem está dentro da comunidade sabe o que estou falando.
Tenho um grande orgulho, das dezenas de moradores que me procuraram e disseram: - aqui não tá assim.
A palavra na reportagem, Lugar violento, foi repetida muitas vezes, mas não engana o povo que enche os ônibus para ir trabalhar, e para voltar para um bom lugar.
Prestenção, respeita nossa quebrada, porque usuário de crack tem, mas você tem que procurar, no meio dos becos, entre homens e mulheres que ralam todo dia por uma vida melhor, você tem que vasculhar bastante para achar um meliante no meio de tanta gente escrevendo, grafitando, recitando, cantando, e produzindo um bairro melhor.
Os moradores lutam todo dia para terem orgulho daqui, pois ao contrário de quem produziu as matérias, agente não tem outra vida não, o nosso berço quando temos um é fixo.
Se você quer opiniar, faça desse blog um grito, pois muita gente do bairro entra nesse espaço.
Conforme a matéria avançava, minha esposa saia e voltava não querendo mais ver, minha filha de apenas quatro anos perguntou, - isso é aqui pai?
Triste, muito triste mesmo, ver o que fizeram com o bairro.
Tem funk? toda periferia tem e todo salão burguês tem, tem bebida? toda porta de faculdade tem.
Tem ponto cultural? tem sarau? tem samba? tem festa popular? tem projeto cultural? tem uma área comercial gigantesca? parece que não.
O cemitério agrada mais do que o bar do Saldanha.
O assassinato agrada mais que o Ensaiaço na Grisson, o Sarau da Cooperifa, o Sarau do Binho, o Sarau da Coopermusp, o Cinema da laje, o trabalho de permacultura da Interferência.
O córrego traz mais audiência que o trabalho do Janga+Ação, o protesto dos punks da região, o movimento rock e suas bandas de garagem, a grife exclusiva do bairro, as quermesses populares, os shows de forró, o trabalho com a terceira idade, a Fábrica de Criatividade, o Capão Cidadão, A biblioteca Êxodus, a fanfarra do Euclides da Cunha, o jornal do bairro de Marcus Kawada, a cooperativa de mulheres, o trabalho do Senhor Pedrinho no jardim comercial, A oficina do espaço digital, e mais centenas de coisas positivas.
uma matéria gravada quase que totalmente de noite, com um tom de turismo, com muita ironia e despretenção de ver todos os lados, que é o que o jornalismo tinha que fazer.
Agora entendo quando entraram em contato comigo, e após eu dizer que queria falar de literatura e cultura, nunca mais voltaram.
Mentiram quando diziam que os entrevistados moravam aqui, muitos são turistas, e quem está dentro da comunidade sabe o que estou falando.
Tenho um grande orgulho, das dezenas de moradores que me procuraram e disseram: - aqui não tá assim.
A palavra na reportagem, Lugar violento, foi repetida muitas vezes, mas não engana o povo que enche os ônibus para ir trabalhar, e para voltar para um bom lugar.
Prestenção, respeita nossa quebrada, porque usuário de crack tem, mas você tem que procurar, no meio dos becos, entre homens e mulheres que ralam todo dia por uma vida melhor, você tem que vasculhar bastante para achar um meliante no meio de tanta gente escrevendo, grafitando, recitando, cantando, e produzindo um bairro melhor.
Os moradores lutam todo dia para terem orgulho daqui, pois ao contrário de quem produziu as matérias, agente não tem outra vida não, o nosso berço quando temos um é fixo.
Se você quer opiniar, faça desse blog um grito, pois muita gente do bairro entra nesse espaço.
Fonte: Ferréz
Um comentário:
Concordo, Toni, em gênero, número e grau.
Confesso que já vi matérias interessantes e até engraçadas do CQC tempos atrás, e mesmo assim, trechos do Youtube, e não pela TV, que definitivamente não assisto, não só pq não gosto mas também pq não tenho tempo pra isso.
Essa onda de "politicamente incorreto" é pra lá de absurda. E esse jornalismo moderninho esconde um baita conservadorismo que já se evidenciou em quilos de pseudopiadas...
É um grande desserviço que agrada muita gente, e ao invés de desmistificar e ajudar a eliminar o preconceito em relação ao bairro, o programa simplesmente reforça todos os estereótipos possíveis.
Mas não me surpreende, infelizmente, não consigo esperar outra coisa da televisão.
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