Basta que procurem um pouco, sem muito esforço, para encontrar várias críticas que fiz ao governo Lula neste blog.
Lembrarei algumas: o deslumbramento de alguns
companheiros com o poder (na base daquele velho ditado: quem nunca comeu
melado...); a ausência da reforma agrária; a lerdeza nas mudanças na educação;
a pouca eficiência do sistema de saúde; os lucros dos bancos (continuam sendo
recordistas – isso implica numa anomalia do sistema) e, finalmente, a ausência
de uma reforma que trouxesse novas práticas políticas, fazendo com o que o
antigo “é dando que se recebe” fosse substituído por algo digno no nome POLÍTICA.
Para que vocês compreendam meu atual estado de
espírito faz-se necessário recordar alguns eventos. Farei isso de forma breve,
sem recorrer a anotações ou pesquisas, o que poderá acarretar um ou outro
equívoco de datas ou nomes, mas a essência é a que segue.
Filiei-me ao PT em 1982, no diretório de Santo Amaro.
Neste mesmo ano participei ativamente da campanha eleitoral, tendo apoiado para
deputado federal o senhor Genoíno, para deputado estadual o senhor Fernando do
Ó e para vereadora (em São Paulo) a socióloga Caterina Koltai. Mesmo atuando na
coordenação da campanha na Zona Sul de São Paulo eu era apenas um fedelho, de
20 anos, que me surpreendia com a maneira como aqueles companheiros faziam
política, com alma e razão, sem dinheiro, mas com muita criatividade.
Naquele mesmo ano o grupo que apoiava Fernando do Ó
em Santo Amaro rompeu com Genoíno. Não concordávamos com determinadas práticas
políticas. Práticas essas restritas ao ato de fazer política, longe da
corrupção ou desvios éticos.
Continuei participando das campanhas eleitorais
subsequentes e algumas ações do PT em Santo Amaro e na região do M’boi Mirim
(Jardim Ângela, extremo pobre da Zona Sul).
Sofri muito com a derrota para o Collor em 1989 e
para FHC em 1994, mas nesta segunda oportunidade já carregava muita desilusão com
os caminhos do PT e do sindicalismo petista.
A derrota para FHC em 1994 implicou numa mudança de
rumos radical do PT, mudança essa que não me agradou. Em 1995 Zé Dirceu assume
a presidência do PT, marcando de forma indelével a alteração de percurso do
partido, várias práticas que eu considerava essenciais à formação política da
juventude, foram deixadas de lado.
Desde então restringi minhas participações às
campanhas eleitorais, mas sem grande entusiasmo e, a partir de 2000,
convenci-me de que não mais deveria votar, enquanto o voto fosse obrigatório,
uma das maiores excrescências da nossa “democracia”, juntamente com o
financiamento privado das campanhas.
Mesmo relutante votei em Lula em 2002. No final de
2003 estava muito frustrado com os resultados do primeiro ano de governo. Na
reeleição de 2006 fui convencido por diversos companheiros que a opção da
reeleição era melhor do que a oferecida pela eleição e, num segundo mandato,
Lula poderia radicalizar com algumas medidas como a reforma agrária, por
exemplo.
Ante a tentativa da mídia em golpear a candidatura de
Lula, cerrei fileiras com antigos e novos companheiros, pois meu caminho de
participação ficou limitado à Internet.
Voltei a exercer o “direito” de voto, mesmo que de
maneira relutante, e votar nas candidaturas de esquerda.
Nesse período, um pouco antes da reeleição, eclodiu o
escândalo do chamado mensalão. Nunca acreditei nessa hipótese, embora tenha
certeza de que houve por parte alguns crimes eleitorais, assim como houve em
outros governos e em vários níveis de poder.
Para embasar a minha descrença seguem breves indagações:
1 – Mensalão, na definição dos doutos juízes supremos
e da mídia de esgoto, consistiu em pagamentos mensais para parlamentares
votarem a favor do governo. Então quais eram esses projetos? Se isso é verdade
tais projetos devem ser anulados, bem como os seus efeitos, pois frutificaram a
partir de fraudes e atos de corrupção, não acham?
2 – Por que diabos um deputado do PT, como o João
Paulo, precisaria receber dinheiro (uma única vez de R$ 50.000) para votar
favoravelmente em projeto do governo do seu próprio partido?
3 – Quem financiou o tal mensalão? Sim, pois a grana
veio de algum lugar. O juiz sol, Joaquim Barbosa, afirma que veio da VISANET.
Se isso foi feito com dinheiro público por que não foi pedida a devolução dos
valores? E quem recebeu parte importante desse dinheiro, como a Rede Globo, não
vai devolver o que recebeu?
4 – Cadê os sinais exteriores de riqueza de Genoíno?
O cara continua com o patrimônio muito parecido com aquele de 1982. Pelo menos
indiquem onde está o dinheiro que ele apurou com os desvios dos quais é
acusado.
5 – Por que todos os réus foram julgados pelo STF, enquanto
em caso análogo, do chamado Mensalão Mineiro (que na verdade é do PSDB), os
réus comuns serão julgados pelo juiz de primeira instância e só os detentores
de mandatos eletivos serão julgados pelo STF (serão mesmo?)?
6 – O juiz sol nos explicou, para os leigos em
direito, que usaria o princípio do “domínio dos fatos” para julgar aqueles
políticos de elevado quilate envolvidos no mensalão. Aí vem o criador do “domínio
dos fatos” e diz que a coisa toda estava errada e que os juízes do STF não tinham
compreendido direito o “domínio dos fatos” etc. e tal. Este princípio será
aplicado em todos os casos análogos? Mesmo de forma equivocada?
7 – Por que a perícia da PF, que diz que não houve
dinheiro público nas operações analisadas, foi suprimida do processo?
8 – Como é possível que juízes da mais alta Corte, digam
com todas as letras, que estavam condenando este ou aquele réu, mesmo sem que
houvesse provas para tal? Isso está gravado, além de ter sido transmitido ao
vivo pela TV!
Não houve mensalão! Aqueles que estão condenados e
neste momento levados às prisões foram julgados ao arrepio da lei.
Alguns não cometeram crime algum, como foi o caso do
Gushiken que teve seu nome enlameado pela mídia e, apesar de todos os esforços,
não houve descaramento suficiente para envolvê-lo até o final do processo.
Creio que o mesmo ocorre com Genoíno.
Outros cometeram crimes eleitorais, crimes estes
cometidos em todas as campanhas, desde 1989, ou já esquecemos o que foi o
governo Collor? Ou esquecemos a compra de votos para o projeto da reeleição de
FHC? Os anões do orçamento? A máfia dos sanguessugas? Ou, para concluir, o
maior de todos os escândalos da República: o programa de privatização do
governo FHC, tão bem retratado e documentado no livro “A
privataria tucana”?
No cerne de todos esses problemas: um sistema
político remendado, com uma lógica perniciosa aos interesses públicos e
financiado pela iniciativa privada!
Por isso a necessidade da reforma política, mas não
aquela acertada pelas elites dominantes e carimbadas pela mídia, uma reforma
amplamente discutida pela sociedade, que traga uma nova maneira de fazer
política e que tenha financiamento público das campanhas.
Juntamente com tal reforma a sociedade tem que
estabelecer uma regulação da mídia, que garanta pluralidade e que não censure, mas
que imponha pesadas penas para a ofensa, destruição de reputações e outras
iniquidades praticadas pela mídia de esgoto, que ponteia em nosso país!
Um comentário:
Perfeito. E às essas perguntas, nem o STF, nem a Globo têm respostas. Sem esquecermos dos documento escondidos pelo "juiz Sol" nos inquéritos sigilosos 2454 e 2474.
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