27.10.14

Explode o preconceito nas redes sociais. Qual a minha culpa nisso?



O amigo de labuta Tiago Fuoco levantou uma questão pra lá de interessante: o que nós, professores de Humanas, estamos fazendo das nossas aulas?
Ele parte do princípio de que o fato dos nossos alunos e alunas externarem seus preconceitos, destilando ódio por todos os poros nas redes sociais, é também nossa responsabilidade, uma vez que esses jovens chegam a passar três anos, ou até mais, conosco.
Não quero carregar mais essa cruz para a profissão. Devo lembrar que nosso tempo de aula é bastante restrito quando o comparamos com o tempo de convivência familiar, comunitária e roda de amigos dos nossos alunos e alunas.
Mas que Tiago colocou-me algumas pulgas na orelha, isso colocou. Talvez tenhamos que repensar o currículo de Humanas. Sem consultar dados, mas apenas apelando à memória, digo que sempre que se apresenta uma nova disciplina no Ensino Médio sacrifica-se a carga horária de Geografia e História.
Outro dia alguém publicou um artigo, não vou procurá-lo agora, dizendo que se todas as “novas disciplinas” propostas pelos congressistas fossem aprovadas, o Ensino Médio teria pelo menos 20 horas de aula por dia, seis dias por semana!
            Por outro lado, lembro ao Tiago e demais colegas de labuta, que muitos professores fazem coro aos alunos nas lamúrias racistas e preconceituosas, inclusive nas redes sociais!
            Isso é estarrecedor! Pensar que um sujeito ou sujeita passou quatro anos numa universidade preparando-se para lecionar e sai por aí atacando nordestinos, gays, pretos, religiões de matriz africana etc. é o fim da picada!
            Em conjunto com os colegas que ensinam Português precisamos trabalhar com clareza a questão da liberdade de expressão, inclusive os limites legais para o seu exercício, precisamos também trabalhar mais política em sala de aula.
            Esses jovens precisam saber o que faz um vereador, um deputado, um senador um prefeito e assim por diante; necessitam entender a divisão dos três poderes, sabendo o papel de cada um deles na tal democracia representativa.
            Várias vezes os alunos me lançaram perguntas fora do “programa da FUVEST”, do tipo: “como se funda um partido político?”; “por que o prefeito não coloca mais polícia na rua?”; “por que a Dilma não prende os corruptos então?”; perguntas lógicas e necessárias, mas se paramos para respondê-las sempre haverá alguém dizendo que estamos praticando “embromation”.
            A escola precisa, como um corpo, tomar pra si essas reflexões, inclusive junto aos docentes. Não é possível que um professor racista, seja de Matemática, Física ou Geografia, esteja em sala à frente de dezenas de jovens.
            Os partidos políticos precisam fazer-se presentes no cotidiano desses jovens, não é possível apostar tudo na propaganda de TV e transformar projetos, quando os tem, em sabonete.
            Claro que estamos diante de uma novidade. É a primeira eleição que usamos as redes sociais com essa intensidade, com a presença forte de uma geração que não conheceu o terror da Ditadura, o desemprego dos Planos Cruzado, Collor e Real, que só conhece o evento das privatizações pela Veja.
            Os órgãos de imprensa devem ser chamados à responsabilidade e atuarem no combate ao preconceito, seja ele de qualquer tipo. Não precisamos do assombro da ditadura do politicamente correto, mas não dá pra aceitar humoristas (?) oferecendo bananas aos negros, ou diminuindo um ser humano por causa do seu sexo ou orientação sexual!
            Esse fenômeno de intolerância que aflorou agora nas eleições, principalmente em São Paulo, tem muito o dedo da grande mídia, mas outros fatores não podem ser desprezados, como a escola, as igrejas...

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