2.7.11

As fusões, o monopólio e a concorrência

A minha ignorância em assuntos econômicos não me impediu de compreender que a concorrência é essencial para que nós – os consumidores – tenhamos um pouco de vantagem dentro do capitalismo.
Assim, já nos ensinava Adam Smith, cabe ao Estado zelar pelos mecanismos que garantam a existência da dita cuja.
Pois bem, no que as fusões de empresas, como vem ocorrendo ultimamente, contribuem para o ambiente concorrencial?
Numa primeira e rápida leitura, parece-me que o governo quer patrocinar e incentiva a criação de “empresas fortes” – global players no jargão globalizante –, evitando assim que setores importantes e estratégicos repousem nas mãos de grupos estrangeiros.
Foi assim com a BrOi, com a Friboi, com a Brasil Foods (Perdigão + Sadia) etc. e tal.

Mas como garantir que essas fusões não levem ao monopólio?
Fonte: Fonte: http://convergenciadigital.uol.com.br/
Essas empresas gigantescas sufocam a concorrência e passam a dominar largas fatias do mercado, gerando sobre os fornecedores uma pressão absurda e para os consumidores uma enorme ausência de alternativas.
A mais globalizada das empresas brasileiras, segundo maior grupo privado do país e a maior do mundo em proteína animal realiza estudos regulares com a Datastore para avaliar imagem da marca, potencial de mercado e posicionamento da sua linha de produtos. Os estudos recomendam medidas para ampliar ainda mais a participação de mercado e a satisfação dos consumidores de cortes especiais de carne.(...)

Para nós simples mortais – que ignoramos os mistérios dominados pelos iniciados em Economia –, soa muito estranho a posição do governo.
Num dado instante o BNDES – banco de desenvolvimento controlado pelo Estado – incentiva as fusões e participa delas com capital, de modo a viabilizá-las.
Depois vem o CADE – Conselho Administrativo de Defesa Econômica – autarquia vinculada ao Ministério da Justiça vetando a tal fusão.
Vai entender...
No caso que agitou a semana – fusão do Pão de Açúcar com o Carrefour – tratamos de um setor vital para a economia: distribuição de alimentos, além do comércio de eletroeletrônicos.
Quais as consequências para os consumidores que uma fusão de tal porte traria?
E para os trabalhadores destas empresas?
Qual a fatia de mercado abocanharia?
Por que o BNDESPar deve aportar capital nessa fusão?
As três primeiras respostas são fundamentais. A depender delas a quarta poderá ou não ser feita.

5 comentários:

Renato Couto disse...

Professor, questões sobre monopólio são complexas. Vide que podemos ter os dois lados da moeda, seja um monopólio estatal (Petrobrás) ou privado (Anbev). Serão os dois bons? Ruins? Ou serão monopólios diferentes, não do ponto de vista econômico (irrefutável monopólio), mas político? Lembraste bem de Adam Simith! Porém ele escreveu para a sua época, querendo estipular uma doutrina para dirigir um império e principalmente analisar as causas e naturezas do crescimento econômico, vide o próprio título de sua obra seminal: “A Riqueza das Nações – Investigação sobre sua natureza e suas causas”, não (como se pensa comumente) sendo um mero apologista do burguês empreendedor, mas estando Smith preocupado em promover a riqueza da nação como um todo e não para uma classe específica. Uma determinada classe, esta sim, acostumada a apropriar-se do trabalho alheio (veremos mais adiante a mais-valia), é que através do tempo, se “apropriou” das idéias de Smith, um grande pensador, transformando este injustamente em ideólogo do capitalismo, via habitual e já conhecida manipulação de idéias e mídia.
Smith basicamente era contra a interferência do governo no mecanismo de mercado, sendo contra as restrições as importações e os subsídios às exportações e outras quaisquer interferências possíveis de viés econômico, sendo seu grande “inimigo” o monopólio sob qualquer forma:
“As pessoas do mesmo ramo de negócios...quando se encontram...conspiração contra o povo ou...aumentar os preços”.
Grosso modo, Smith coloca que o livre desenvolvimento de forças individuais no terreno econômico dá lugar à constituição e ao desenvolvimento da sociedade como um todo, visando sistematicamente reduzir o número e o peso dos excluídos. Sim! Ele acreditava piamente nisso. Sabemos hoje, que o mercado deixado ao seu bel prazer, dá no que deu, porém, não julguemos as idéias de um homem, sem considerá-las dentro do seu próprio tempo. Nos dias de hoje temos um nome para Smith e essa turma mais "antiga": economistas utópicos.
Putz! Acabei não defendendo nem atacando os monopólios em questão, apenas transformei o comentário em defesa do velho Smith, que acredito, seja muitas vezes mal interpretado (ou tenha as idéias distorcidas em favor de alguns interesses)... Também, quem mandou escrever um livro daquele tamanho (e chato, que gasta muitas páginas descrevendo uma fábrica de alfinetes...)!Abraços!

Anônimo disse...

Bom o comentario acima. Elucide nos pobres mortais, ainda mais quem menos sabe de economia.

Abrax

Roy

Prof Toni disse...

Roy, compensa visitá-lo, é só clicar no Se 1 ler tá bom, aí ao lado...

Renato Couto disse...

Professor, retorno ao tema, respondendo as perguntas finais do post com outra pergunta: Com quem (ou o que) se preocupa o capitalismo? Seria com os consumidores (da primeira pergunta)? Com os trabalhadores (da segunda)? Com o equilíbrio do mercado (da terceira)? Com o dinheiro público (da quarta)? Vou te responder, com auxílio luxuoso do “mouro”, que observou ser a passagem do capitalismo competitivo ao monopólio (na verdade ele anteviu, já que em sua época não havia estes) apenas uma forma do sistema retornar ao seu equilíbrio (dele, sistema – ou seja, apesar da “forma”, o sistema é o mesmo, seja livre concorrência ou monopólio), perdido em eventual crise, isto é, do modo pelo qual se livra do excesso de capital, existente. Sim! Neste caso excesso atrapalha e sempre haverá uma nova forma de se estabelecer um novo ciclo de valorização deste (capital). “As crises sistêmicas não são uma “falha” de mercado e sim são o modo pelo qual o mercado funciona”. Este brilhante insight é de Schumpeter, que junto com Keynes, completa minha santíssima trindade...Abraços!

Anônimo disse...

Concordo com seu ponto principal.

Abrax

Roy