26.6.12

A foto que doeu na alma

A Ditadura Cívico-Militar que vigorou no nosso país nas décadas de 1960 a 1980 deixou inúmeras marcas.
A primeira: destruiu a educação pública! Sim e fez com esmero, de maneira a dificultar ao extremo sua recuperação. Contribuiu ainda para que as pessoas deixassem de ler. Temos como resultado um exército de analfabetos funcionais.
Só por isso deveriam ser condenados para sempre e lembrados como vendilhões da pátria!
Mas eles assassinaram também! E torturaram! Costumo dizer aos meus alunos que este é o pior dos crimes. Entendo a coisa da seguinte maneira: se eu me armar e resolver combater o governo de plantão, sei que posso matar e também morrer. Digamos que há certa legitimidade morrer na ação, no confronto com o inimigo. Mas quando a pessoa está presa, dominada e encarcerada não pode haver assassinato – é esse nome – ou mesmo violência física.
O crime é considerado imprescritível perante os tribunais da ONU. Para ele não cabe perdão, apenas julgamento, com amplo direito de defesa, e punição quando for o caso. Só isso!
E a Ditadura matou e torturou. Pessoas desapareceram, temos mães que não tem os corpos dos filhos e filhas para pranteá-los. Filhos e filhas que mal conheceram seus pais e mães por que foram assassinados por dementes de farda, a serviço do Estado.
Não podemos esquecer que os militares tiveram grande contribuição de civis: políticos, empresários, jornalistas e até empresas, isso mesmo, pessoas jurídicas – Grupo Folha, Rede Globo, Grupo Estado, isso para mencionar apenas os grupos midiáticos.
Dentre os políticos alguns nasceram, cresceram e se fizeram na Ditadura. Um dos maiores símbolos desses canalhas é o Sr. Paulo Salim Maluf.
Quando no poder aqui em São Paulo, Maluf foi um dos articuladores da Operação Bandeirantes – OBAN – que matou, torturou, financiou grupos de extermínio, que premiava os agentes da repressão pelas prisões e mortes efetuadas.
Inúmeros foram os desmandos nos vários cargos que ele ocupou, sempre protegido pelos militares de plantão.
Por isso ele encarnou como poucos a Ditadura Militar, até por não ser militar.
Quando da redemocratização do país continuou sua caminhada política. Desmandos, acusações de roubo, superfaturamento, cenas de autoritarismo explícito foram sempre sua marca.
Virou verbo: malufar, no sentido de aderir a roubalheira. Manteve sempre um eleitorado cativo na capital e no estado de São Paulo, tal qual o PSDB dos dias de hoje.
Voltei para São Paulo em 1981. Comecei minha militância política no Partidão, então atuando no MDB. No início de 1982 me filiei ao PT, permanecendo filiado até 1995. Participei de todas as campanhas subsequentes, sempre apoiando a coligação liderada pelo Partido dos Trabalhadores.
Convivi com pessoas que reputo íntegras, como Florestan Fernandes e Luiza Erundina e conheci outros que não ouso aproximar minha mão da mais tênue chama. Neste segundo grupo existem os desonestos, que buscam auferir vantagens para si e seus apaniguados e existem aqueles que buscam vantagem para o Partido, o chamado “caixa 2”, praga maior do nosso sistema político.
Há outra turma que pensa que os fins justificam os meios, quaisquer que sejam esses meios.
Algumas coligações do governo Lula, feitas em nome da governabilidade, foram engolidas de maneira muito amarga. O pragmatismo político e a necessidade do apoio do Congresso justificaram tais coligações. Eram feitas no plano institucional, partido com partido, com compromissos formais entre eles e – podemos intuir – outros compromissos inconfessáveis, como acontece com todos na política.
Lula conseguiu conduzir dois mandatos, com algumas atribulações sérias causadas por alguns dos aliados e conseguiu – talvez sua maior façanha – eleger sua sucessora a presidenta Dilma.
No plano federal os acordos continuam da mesma maneira, apenas a presidenta parece ser menos tolerante com desgastes e acusações públicas.
Estamos às portas de uma eleição municipal. São Paulo sempre foi o calcanhar de Aquiles do PT. Desta vez o presidente Lula ungiu – assim mesmo, como se fosse o sumo sacerdote – Fernando Haddad, aparentemente o melhor nome do Partido para concorrer ao cargo de prefeito da maior cidade do país.
As coisas caminhavam até bem, com exceção da deserção da Marta Suplicy da campanha do Haddad. Aprovado na convenção do Partido começam as articulações das alianças políticas. Mais do que plano de governo e afinidade de projeto – se é que algum Partido o possui – valem os preciosos minutos televisivos. Neste segmento duas coisas importam: somar tempo ao seu candidato e subtrair do principal opositor.
Nesta operação o PT tentou reproduzir parte da aliança que se tem no plano nacional. Com algumas defecções como o PMDB que tem candidato próprio na capital paulista.
Ao buscar somar os partidos que apoiam o governo da presidenta Dilma o PP é somado. Na base de sustentação política da presidenta ele é tido como um dos que dá menos trabalho e não cria dificuldades para ela, como fazem o PMDB, PDT e outros.
O problema está na sua principal liderança, praticamente o dono do partido, em São Paulo: Paulo Salim Maluf. O mesmo que virou verbo, sinônimo de roubalheira, pouco caso com a população, político que só se preocupa em sair-se bem e o povo, ora o povo que se exploda, como diria o personagem do humorístico da TV.
Tal dificuldade poderia ser razoavelmente contornada se tal aliança fosse institucional, se os partidos se reunissem e selassem tal anomalia lá entre eles, trocando um ou outro cargo pelos preciosos 1 minuto e 40 segundos do tempo de TV. Seria de embrulhar o estômago, de dar nojo, causar repugnância, mas, se essa é a regra do jogo e o objetivo maior é derrotar os tucanos na capital...
O problema não parou por aí. O Maluf, aquele que virou verbo, exigiu a presença de Lula e Haddad em sua casa para um autêntico beija mão à moda antiga.
Fotos nas primeiras páginas de sites, jornais e revistas!
Discussão entre a militância petista, escárnio dos antipetistas.
A imagem é muito forte e carregada de significados. O homem procurado pela Interpol, premiado com uma citação no hall da corrupção recentemente anunciado pelo Banco Mundial, apertando a mão do operário-presidente, do líder das greves do ABC no final dos anos de 1970. Um aperto de mão entre desafetos políticos que nunca imaginaríamos partilhando um encontro político.
O líder dos operários do ABC, o operário-presidente, odiado pelas elites nativas, repudiado pela mídia comercial apertando a mão do articulador da OBAN, do serviçal da ditadura, do representante maior de todos os males causados por um grupo de assassinos fardados e financiados por empresários inescrupulosos.
De um lado o líder que inspirou sonhos de um Brasil mais justo e igualitário, do outro um procurado pela polícia, acusado de corrupção!
O aperto de mão foi ruim, mas a foto doeu na alma!

2 comentários:

Gustavo disse...

Ótimo texto que mostra exatamente que o brasileiro, além de analfabeto, tem memória fraca. E mais triste é ver que todos são farinha do mesmo saco, que por interesses pseudo políticos se juntam sem pensar nas conseqüências.
O aclamado Lula, aplaudido de pé por diversas vezes, mostra que para se manter no "jogo" se alia até ao Diabo.
E essa foto resume bem o que é política no Brasil. Enquanto muitos tentam, a grande maioria apenas se aproveita.
Para resolver, só passando o rodo nesse pessoal e começando do zero...

Prof Toni disse...

Mas quem irá começar?