25.8.08

Brasil Transgênico

CTNBio libera plantio comercial de algodão da Bayer

Resistente ao herbicida glufosinato, considerado pela ANVISA como de alto risco para a saúde humana, algodão Liberty Link é aprovado na comissão. Essa já é a sexta liberação de transgênico concedida pela CTNBio, e outros oito pedidos estão na fila.

Maurício Thuswohl

RIO DE JANEIRO – De grão modificado em grão modificado, o Brasil vai enchendo o papo como um país liberal para o cultivo de transgênicos. Na contramão de recentes resoluções restritivas tomadas por União Européia, Suíça, Canadá e Japão, o governo brasileiro segue liberando novas variedades de organismos transgênicos para testes, plantio e comercialização. O trampolim de lançamento dos transgênicos no país continua sendo a polêmica Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), órgão subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT) e politicamente controlado pelo lobby pró-transgênicos.
Em sua última reunião, realizada na quinta-feira (21) em Brasília, a CTNBio aprovou para plantio comercial em solo brasileiro uma variedade de algodão transgênico conhecida como Liberty Link, que foi desenvolvida e é produzida pela transnacional do setor de biotecnologia Bayer CropScience. Com essa, já são seis as liberações de variedades transgênicas para plantio (três de milho, duas de algodão e uma de soja) concedidas pela CTNBio, ritmo intensificado desde que o quorum para aprovações na comissão foi reduzido de dois terços para maioria simples no ano passado.
Pelo menos outros oito pedidos de liberação de variedades transgênicas já estão na pauta de votações da CTNBio, e tudo indica que serão aprovadas. Além da Bayer, já se beneficiaram ou podem se beneficiar com as decisões da comissão empresas transnacionais como a Monsanto, a Syngenta e a DuPont, entre outras. A votação que liberou o algodão Liberty Link mostra a correlação de forças na CTNBio: dezoito votos favoráveis, três votos contrários e duas abstenções.
Os representantes do Ministério do Meio Ambiente (MMA), Paulo Kageyama, do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Leonardo Melgarejo, e o especialista ambiental Paulo Brack apresentaram pareceres contrários e, posteriormente, votaram contra a aprovação do algodão transgênico da Bayer. Durante sua intervenção, Kageyama, que é geneticista e professor da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), afirmou que o algodão transgênico Liberty Link “é uma grande ameaça a espécies e variedades silvestres em todos os seis biomas brasileiros”.
O algodão desenvolvido pela Bayer foi modificado geneticamente para resistir a um herbicida conhecido como glufosinato, veneno considerado altamente nocivo à saúde humana e dos animais e com grande capacidade de contaminação do solo. No Brasil, desde maio do ano passado _ quando a CTNBio liberou uma variedade de milho transgênico da Bayer resistente ao mesmo herbicida _ a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), órgão vinculado ao Ministério da Saúde, já vem alertando o governo sobre os riscos do glufosinato.
Segundo a ANVISA, a ingestão de glufosinato, ainda que em pequenas doses, traz graves riscos à saúde de gestantes, recém-nascidos e bebês em fase de amamentação. A agência alerta também que a resistência do algodão transgênico ao glufosinato fará, como é comum nesses casos, com que cada vez sejam aplicadas doses maiores do herbicida. Isso acarretará um aumento do nível de contaminação do fio e também do óleo de algodão, que está na base de fabricação de diversos produtos industrializados.

A fila é grande
A última aprovação de uma variedade transgênica para plantio comercial pela CTNBio aconteceu em setembro do ano passado, quando foi liberado o milho bt11 desenvolvido pela transnacional Syngenta. Também em 2007, foram liberados os milhos Liberty Link, da Bayer, e Guardian, da Monsanto. O algodão bt, desenvolvido pela Monsanto, foi liberado em 2005. A primeira liberação concedida pela CTNBio foi a da polêmica soja Roundup Ready, também da Monsanto, que foi introduzida ilegalmente no país por agricultores do Rio Grande do Sul.
Segundo o presidente da CTNBio, Walter Colli, nas próximas reuniões a comissão pretende analisar os pedidos de liberação do arroz e da soja Liberty Link (Bayer), do milho e do algodão Roundup Ready e do algodão Bollgard 2 (Monsanto), do milho GA21 resistente a insetos (Syngenta), do algodão Dow (Dow Chemical) e do milho Herculex (DuPont). Se for levado em conta o desempenho da CTNBio nas últimas votações, todos esses produtos devem estar em breve “ao alcance” do consumidor brasileiro. Difícil será identificá-los, já que a rotulagem de produtos que contém transgênicos no Brasil, prevista na Lei de Biossegurança, ainda é precariamente respeitada no país.

Fonte: Agência Carta Maior – 24/8/08.

2 comentários:

Anônimo disse...

A agência Carta Maior tem de esquerda o que a veja tem de direita!
Aonde está a imparcialidade?
A essência é a mesma, mudamse os lados, apenas. A agência só não é criticada como a Veja por vossa senhoria porque compartilhas da mesma idiotice de ambas as mídias: a cegueira ideológica!

Prof Toni disse...

Ora, vejam só que primor de argumentação. Sabemos que Agência Carta Maior é composta sim por pessoas de esquerda, mas que não escondem tal condição. Neste texto ela critica o governo Lula, será que o corajoso anônimo deseja defendê-lo? Se sim, faça-o, agora não chova no molhado.