Como
de hábito estamos num momento de mobilização desportiva. A mídia oferece
generosos espaços para todos os esportes, as pessoas comentam nas ruas,
escolas, bares, redes sociais etc. e tal sobre todas as modalidades em disputa
na distante Londres.
A
torcida, ensandecida, clama por medalhas, como aquele personagem do desenho
animado que só sabia falar: medalhas, medalhas...
Somos
acostumados aos talentos que brotam, ora numa modalidade, ora noutra. Invejamos
o desempenho de países como EUA, China, Coréia do Sul, dentre outros e não nos
damos conta de como é o processo para que alcancem tal sucesso.
Não
gosto do jeitão dos chineses, lembra-me um pouco o jeito estalinista de criar
campeões. Partilho da visão do Dr. Sócrates, que infelizmente não está mais entre
nós, que afirmava que o esporte deve ser parte integrante da política
educacional e de saúde. Deve ser massificado com campeonatos escolares nos
municípios e estados da federação, culminando com grandes torneios nacionais.
Assim,
dessa enorme quantidade, conseguiríamos apurar os talentos e ganhar em
qualidade. Os centros de treinamento deveriam ser nas escolas e, talvez por
região ou estados, deveriam ser construídos centros de excelência, com
equipamentos, médicos, fisiologistas, laboratórios e tudo o mais que fosse
necessário.
É
necessário reconhecer que o trabalho tem sido mais efetivo e o Brasil tem
realizado alguns avanços. O “bolsa atleta” é um deles, mas é uma gota d’água no
oceano.
O
emaranhado de federações, comandados por cartolas de honestidade duvidosa, suga
boa parte das verbas, sem que elas alcancem de fato os verdadeiros merecedores:
atletas, técnicos e equipe de apoio.
Os
resultados não aparecerão do dia para a noite, preparar um atleta de alto
rendimento demanda tempo e paciência, mas o trabalho deve ser permanente,
inclusive para se garantir a renovação.
O
caso do futebol feminino é emblemático. A falta de apoio dentro do país impede
a renovação. A seleção nacional que acaba de ser eliminada foi a última para
grande parte das jogadoras. E o trabalho de base?
O
judô parece viver um ciclo de excelência. Novos e promissores atletas surgem a
cada ciclo olímpico, talvez fosse um modelo a ser estudado.
O
atletismo também tem presenciado o surgimento de novos atletas, muito
promissores.
Na
ginástica a aposentadoria de uma equipe feminina muito talentosa não aparenta
ter substitutas a altura. Ao contrário da equipe masculina que vê surgir jovens
ranqueados entre os melhores do mundo, embora não tenham conquistado medalhas.
A
natação brasileira também tem evoluído, com nadadores competitivos em todos os torneios
olímpicos, mais o time masculino do que o feminino.
O
atletismo, que começou hoje, parece ter também se renovado, além de alguns
veteranos em boas condições de competir.
Nos
esportes coletivos o basquete masculino ressurgiu das cinzas, embora com os
jogadores, quase todos, atuando nos EUA ou na Europa, fato que pode colocar em
risco a renovação. Infelizmente o feminino não teve a mesma sorte.
O
vôlei paga o preço de uma hegemonia duradoura. Parece que o time masculino se
cansou de ganhar ou chegou ao limite de sua evolução. O feminino oscila muito
emocionalmente, mas parece garantir certo padrão de renovação, com exceção de
substitutas para Fernanda Venturini e Fofão, nossas levantadoras durante
décadas.
O
futebol masculino aparece com chances reais de buscar a medalha de ouro,
inédita, só torcer para que nenhuma zebra aparecer.
O
público precisa ser educado para apreciar e torcer pelos esportes que não sejam
o futebol, basquete e vôlei.
Para
um nadador ficar entre os 10 melhores do mundo numa competição olímpica é um
feito incrível. Conquistar uma medalha de bronze então é um grande honraria. E
o que dizer daquele que fica em quarto lugar por diferença de décimos de
segundo? É um fracassado? Não, principalmente se considerarmos nossa realidade,
tal atleta tem que ser tratado como herói!
Isso
se aplica a todos os demais esportes. Infelizmente a mídia não colabora muito
com esse movimento de educação do telespectador/torcedor. Em dado momento um
ufanismo exagerado, talvez para amealhar maior assistência e agradar mais os
patrocinadores, soa muito distante da realidade do nosso esporte. A esse
ufanismo, sucede um desapontamento com os insucessos daqueles prognósticos
antes realizados. Sem contar a desinformação e os equívocos, principalmente da
TV aberta.
É
uma pena que a totalidade da população não tenha acesso às transmissões da
ESPN. Não que ela seja isenta de erro ou bobagens, mas a qualidade dela é
infinitamente superior às outras emissoras, quer sejam a cabo ou abertas.
Não
sou otimista nem pessimista com relação ao desempenho dos nossos atletas. Creio
que ficaremos no mesmo patamar dos Jogos de Pequim, talvez um pouco abaixo ou
um pouco acima.
O
surgimento de jovens talentos aponta para uma participação melhor nos Jogos do
Rio em 2016.
Mas
precisamos mudar a política de esportes no Brasil. O dinheiro do Estado deve
ser mais bem empregado. Os atletas, técnicos e equipes de apoio devem ser os
grandes protagonistas e não os dirigentes.
3 comentários:
Assino em baixo, Toni. Belo texto.
Também assino. Sem o papel do Estado como indutor, não há esporte que floresça, com excessão daqueles onde há o inexorável ganho capitalista, como o nosso futebol ou basquete americano. Medalhas são a ponta do iceberg, de belos projetos que vez ou outra acontecem, como a Vila Olímpica aqui na Mangueira no Rio de Janeiro.
É isso rapazes. Deveríamos pressionar para que as coisas caminhassem nessa direção. Parece-me que uma galera que trabalhou na ESPN Brasil durante as Olimpíadas fará algo nesse sentido, junto com a própria ESPN. Torcer pra dar certo.
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