3.8.12

Momento olímpico

Como de hábito estamos num momento de mobilização desportiva. A mídia oferece generosos espaços para todos os esportes, as pessoas comentam nas ruas, escolas, bares, redes sociais etc. e tal sobre todas as modalidades em disputa na distante Londres.
A torcida, ensandecida, clama por medalhas, como aquele personagem do desenho animado que só sabia falar: medalhas, medalhas...
Somos acostumados aos talentos que brotam, ora numa modalidade, ora noutra. Invejamos o desempenho de países como EUA, China, Coréia do Sul, dentre outros e não nos damos conta de como é o processo para que alcancem tal sucesso.
Não gosto do jeitão dos chineses, lembra-me um pouco o jeito estalinista de criar campeões. Partilho da visão do Dr. Sócrates, que infelizmente não está mais entre nós, que afirmava que o esporte deve ser parte integrante da política educacional e de saúde. Deve ser massificado com campeonatos escolares nos municípios e estados da federação, culminando com grandes torneios nacionais.
Assim, dessa enorme quantidade, conseguiríamos apurar os talentos e ganhar em qualidade. Os centros de treinamento deveriam ser nas escolas e, talvez por região ou estados, deveriam ser construídos centros de excelência, com equipamentos, médicos, fisiologistas, laboratórios e tudo o mais que fosse necessário.
É necessário reconhecer que o trabalho tem sido mais efetivo e o Brasil tem realizado alguns avanços. O “bolsa atleta” é um deles, mas é uma gota d’água no oceano.
O emaranhado de federações, comandados por cartolas de honestidade duvidosa, suga boa parte das verbas, sem que elas alcancem de fato os verdadeiros merecedores: atletas, técnicos e equipe de apoio.
Os resultados não aparecerão do dia para a noite, preparar um atleta de alto rendimento demanda tempo e paciência, mas o trabalho deve ser permanente, inclusive para se garantir a renovação.
O caso do futebol feminino é emblemático. A falta de apoio dentro do país impede a renovação. A seleção nacional que acaba de ser eliminada foi a última para grande parte das jogadoras. E o trabalho de base?
O judô parece viver um ciclo de excelência. Novos e promissores atletas surgem a cada ciclo olímpico, talvez fosse um modelo a ser estudado.
O atletismo também tem presenciado o surgimento de novos atletas, muito promissores.
Na ginástica a aposentadoria de uma equipe feminina muito talentosa não aparenta ter substitutas a altura. Ao contrário da equipe masculina que vê surgir jovens ranqueados entre os melhores do mundo, embora não tenham conquistado medalhas.
A natação brasileira também tem evoluído, com nadadores competitivos em todos os torneios olímpicos, mais o time masculino do que o feminino.
O atletismo, que começou hoje, parece ter também se renovado, além de alguns veteranos em boas condições de competir.
Nos esportes coletivos o basquete masculino ressurgiu das cinzas, embora com os jogadores, quase todos, atuando nos EUA ou na Europa, fato que pode colocar em risco a renovação. Infelizmente o feminino não teve a mesma sorte.
O vôlei paga o preço de uma hegemonia duradoura. Parece que o time masculino se cansou de ganhar ou chegou ao limite de sua evolução. O feminino oscila muito emocionalmente, mas parece garantir certo padrão de renovação, com exceção de substitutas para Fernanda Venturini e Fofão, nossas levantadoras durante décadas.
O futebol masculino aparece com chances reais de buscar a medalha de ouro, inédita, só torcer para que nenhuma zebra aparecer.
O público precisa ser educado para apreciar e torcer pelos esportes que não sejam o futebol, basquete e vôlei.
Para um nadador ficar entre os 10 melhores do mundo numa competição olímpica é um feito incrível. Conquistar uma medalha de bronze então é um grande honraria. E o que dizer daquele que fica em quarto lugar por diferença de décimos de segundo? É um fracassado? Não, principalmente se considerarmos nossa realidade, tal atleta tem que ser tratado como herói!
Isso se aplica a todos os demais esportes. Infelizmente a mídia não colabora muito com esse movimento de educação do telespectador/torcedor. Em dado momento um ufanismo exagerado, talvez para amealhar maior assistência e agradar mais os patrocinadores, soa muito distante da realidade do nosso esporte. A esse ufanismo, sucede um desapontamento com os insucessos daqueles prognósticos antes realizados. Sem contar a desinformação e os equívocos, principalmente da TV aberta.
É uma pena que a totalidade da população não tenha acesso às transmissões da ESPN. Não que ela seja isenta de erro ou bobagens, mas a qualidade dela é infinitamente superior às outras emissoras, quer sejam a cabo ou abertas.
Não sou otimista nem pessimista com relação ao desempenho dos nossos atletas. Creio que ficaremos no mesmo patamar dos Jogos de Pequim, talvez um pouco abaixo ou um pouco acima.
O surgimento de jovens talentos aponta para uma participação melhor nos Jogos do Rio em 2016.
Mas precisamos mudar a política de esportes no Brasil. O dinheiro do Estado deve ser mais bem empregado. Os atletas, técnicos e equipes de apoio devem ser os grandes protagonistas e não os dirigentes.

3 comentários:

Buque disse...

Assino em baixo, Toni. Belo texto.

Renato Couto disse...

Também assino. Sem o papel do Estado como indutor, não há esporte que floresça, com excessão daqueles onde há o inexorável ganho capitalista, como o nosso futebol ou basquete americano. Medalhas são a ponta do iceberg, de belos projetos que vez ou outra acontecem, como a Vila Olímpica aqui na Mangueira no Rio de Janeiro.

Prof Toni disse...

É isso rapazes. Deveríamos pressionar para que as coisas caminhassem nessa direção. Parece-me que uma galera que trabalhou na ESPN Brasil durante as Olimpíadas fará algo nesse sentido, junto com a própria ESPN. Torcer pra dar certo.