Por Ligia Martins de Almeida em 6/5/2008
A proximidade do Dia das Mães já pode ser sentida na imprensa. Por enquanto, nos anúncios, que prometem eletrodomésticos, telefones celulares, TVs, carros a preços especiais para a mulher que já foi a "rainha do lar" e hoje é dissecada em pesquisas que procuram determinar que tipo de consumidora ela é. Os cadernos femininos capricham na lista de presentes, que vão de louças e roupa de cama a artigos de moda para as mães "clássicas", "moderninhas", "bacanas" e outras.
Mas não duvide que Carolina, a mãe de Isabella Nardoni, vai ser a personagem principal, a mãe-símbolo em todos os jornais. Embora o assunto já tenha esfriado – não é todo dia que um ídolo como Ronaldo (o fenômeno) é envolvido num belo escândalo –, a imprensa não vai perder essa chance de voltar ao crime do ano. E assim, entre o melhor presente e a imagem da jovem mãe que perdeu a filha num crime que ainda vai dar muito que falar, teremos mais um dia para o comércio comemorar suas vendas extraordinárias, previstas para esse período de economia farta como o que vivemos.
Vai faltar, como sempre, uma boa matéria discutindo a verdadeira situação da mãe trabalhadora, da mãe que não tem dinheiro para dar aos filhos e permita que eles possam entrar na roda do consumo, da mãe que, no máximo, vai ver, no programa do Faustão ou no Fantástico como foi o dia das mães das celebridades.
Anúncios e dinheiro
Em tempos em que se discute se o aborto deve – ou não – ser considerado crime e o governo cria um cadastro nacional de crianças adotáveis, para tornar o processo mais fácil, seria interessante discutir, com maior profundidade, o quanto mudou o papel da mãe na nossa sociedade. Afinal, é a própria imprensa que nos mostra o aumento da gravidez indesejada entre adolescentes, do planejamento familiar que as famílias de classe média já praticam e das mulheres que adiam a gravidez em função do desejo de construir uma carreira profissional sólida.
Maternidade vira assunto só quando uma criança é morta ou quando se torna um comportamento diferenciado – e envolvendo muito dinheiro –, como na matéria Gravidez a Soldo:
"No Brasil, o aluguel de uma barriga é permitido somente em ‘caráter solidário’. Ou seja, entre mulheres com algum vínculo afetivo e sem a presença de dinheiro. Assim determinam as normas dos Conselhos Regionais de Medicina. Na prática, porém, a história é outra. Dos 170 centros brasileiros de medicina reprodutiva, 10% oferecem a suas clientes um cadastro de mulheres dispostas a locar seu útero – e receber por isso. Uma única clínica de São Paulo, só no ano passado, intermediou doze transações do gênero. As incubadoras humanas também podem ser facilmente encontradas na internet, em sites gratuitos de classificados" (Veja, 04/05/2008).
Seria oportuno aproveitar o Dia das Mães para ir um pouco além da lista de presentes, de como foi o dia de mães famosas e das cifras que o comércio faturou com a data. Seria oportuno até mostrar a situação das crianças que agora vão fazer parte do cadastro nacional. E a situação das mulheres que abortam ou doam os filhos porque não têm condições de criar e educar crianças. Seria oportuno, enfim, ver, na mídia, o lado não comercial desta data que rende tantos anúncios e gera tanto dinheiro.
O texto original encontra-se no Observatório da Imprensa, é só clicar aqui para conferir.
A proximidade do Dia das Mães já pode ser sentida na imprensa. Por enquanto, nos anúncios, que prometem eletrodomésticos, telefones celulares, TVs, carros a preços especiais para a mulher que já foi a "rainha do lar" e hoje é dissecada em pesquisas que procuram determinar que tipo de consumidora ela é. Os cadernos femininos capricham na lista de presentes, que vão de louças e roupa de cama a artigos de moda para as mães "clássicas", "moderninhas", "bacanas" e outras.
Mas não duvide que Carolina, a mãe de Isabella Nardoni, vai ser a personagem principal, a mãe-símbolo em todos os jornais. Embora o assunto já tenha esfriado – não é todo dia que um ídolo como Ronaldo (o fenômeno) é envolvido num belo escândalo –, a imprensa não vai perder essa chance de voltar ao crime do ano. E assim, entre o melhor presente e a imagem da jovem mãe que perdeu a filha num crime que ainda vai dar muito que falar, teremos mais um dia para o comércio comemorar suas vendas extraordinárias, previstas para esse período de economia farta como o que vivemos.
Vai faltar, como sempre, uma boa matéria discutindo a verdadeira situação da mãe trabalhadora, da mãe que não tem dinheiro para dar aos filhos e permita que eles possam entrar na roda do consumo, da mãe que, no máximo, vai ver, no programa do Faustão ou no Fantástico como foi o dia das mães das celebridades.
Anúncios e dinheiro
Em tempos em que se discute se o aborto deve – ou não – ser considerado crime e o governo cria um cadastro nacional de crianças adotáveis, para tornar o processo mais fácil, seria interessante discutir, com maior profundidade, o quanto mudou o papel da mãe na nossa sociedade. Afinal, é a própria imprensa que nos mostra o aumento da gravidez indesejada entre adolescentes, do planejamento familiar que as famílias de classe média já praticam e das mulheres que adiam a gravidez em função do desejo de construir uma carreira profissional sólida.
Maternidade vira assunto só quando uma criança é morta ou quando se torna um comportamento diferenciado – e envolvendo muito dinheiro –, como na matéria Gravidez a Soldo:
"No Brasil, o aluguel de uma barriga é permitido somente em ‘caráter solidário’. Ou seja, entre mulheres com algum vínculo afetivo e sem a presença de dinheiro. Assim determinam as normas dos Conselhos Regionais de Medicina. Na prática, porém, a história é outra. Dos 170 centros brasileiros de medicina reprodutiva, 10% oferecem a suas clientes um cadastro de mulheres dispostas a locar seu útero – e receber por isso. Uma única clínica de São Paulo, só no ano passado, intermediou doze transações do gênero. As incubadoras humanas também podem ser facilmente encontradas na internet, em sites gratuitos de classificados" (Veja, 04/05/2008).
Seria oportuno aproveitar o Dia das Mães para ir um pouco além da lista de presentes, de como foi o dia de mães famosas e das cifras que o comércio faturou com a data. Seria oportuno até mostrar a situação das crianças que agora vão fazer parte do cadastro nacional. E a situação das mulheres que abortam ou doam os filhos porque não têm condições de criar e educar crianças. Seria oportuno, enfim, ver, na mídia, o lado não comercial desta data que rende tantos anúncios e gera tanto dinheiro.
O texto original encontra-se no Observatório da Imprensa, é só clicar aqui para conferir.
3 comentários:
Que o dia das mães é mais um dia do comérico é fato, mas vai explicar isso pra sua mãe. É complicado.
As grande festas deixaram faz tempo de ser motivo de reflexão e de preocupação com o próximo. Tudo ficou reduzido a capacidade de comprar bigigangas e babilaques.
Até que eu consigo explicar, não só pra minha mãe, mas e principalmente para o meu filho...
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