25.7.08

13% ao ano

A nova taxa SELIC (clique aqui para saber o que é isso) pode significar um tiro no pé do país. Mesmo que não trave o crescimento, inibe a sua velocidade, o que é muito ruim, uma vez que precisamos de crescimento para diminuir o desemprego e melhorar o padrão de renda da população.
Clique aqui para saber quem ganha com os juros altos.
Somente lastreado numa sólida política de crescimento econômico os agentes políticos poderão brigar por desenvolvimento, quanto menor ou mais lento esse crescimento, pior para os agentes menos organizados e com menor poder de “fogo político”.
O texto que segue foi retirado do blog do Luis Nassif. Como sempre uma análise clara, responsável e recheada de bom senso.


O samba do Copom

O Banco da Inglaterra tem que administrar dois problemas: a inflação e o crescimento. Esta semana, os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) de lá não conseguiram de forma alguma chegar a um consenso. Se sobem os juros, combatem a inflação mas afetam o crescimento; se reduzem os juros, estimulam o crescimento mas aquecem a inflação.
Houve um racha total entre os que propunham aumento, redução e manutenção dos juros.

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O Copom (Comitê de Política Monetária) brasileiro tem um problema adicional, que não existe para o Banco da Inglaterra: as contas externas. A libra é moeda conversível. O câmbio tem importância para regular atividade econômica e/ou preços. Como os juros estão baixos, aumentos adicionais não trazem forte impacto sobre as contas públicas.
Mesmo assim, os sábios ingleses não conseguiram chegar a um consenso para definir os rumos da taxa.

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No Brasil, os jovens do Copom não têm o menor vacilo: em qualquer hipótese, sobem os juros. Mesmo tendo de administrar quatro problemas: inflação, crescimento, dívida pública e contas externas. Não há avaliação da relação custo-benefício de uma pancada de 0,75 ponto na taxa Selic.

Olha o custo:

1. Em termos de dívida pública, significa R$ 4,8 bilhões adicionais em pagamento de juros. É quase meia Bolsa Família.
2. Em relação às contas externas, significará derrubar mais ainda o dólar, em um momento de franca deterioração do déficit externo.
3. Em relação ao próprio combate à inflação, significa tornar muito mais virulenta o refluxo do câmbio. Quanto maior a queda, agora, mais intensa será a desvalorização quando o mercado perceber a não sustentabilidade do déficit.

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O terrível nessa história é a incapacidade do BC de apostar na dinâmica da economia. Suponha um doente, com uma infecção qualquer. O médico receita antibiótico e acompanha a evolução da doença. Quando sente que o pior já passou, trata de reduzir a dosagem para evitar seqüelas no organismo.
Há inúmeros sinais de que o pico da inflação já pode estar chegando ao fim.
O último dado da FGV mostra uma menor pressão do preço dos alimentos. Suponha que os preços internacionais de commodities mantenham o mesmo nível atual – já que é quase impossível supor altas adicionais nas cotações. Significará, no mínimo, que não haverá inflação de alimentos no segundo semestre.

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Caso ocorra uma valorização do dólar, haverá tendência de queda nas commodities, reduzindo um dos principais fatores de pressão sobre a inflação.
No campo do crédito, os bancos estão trabalhando com cuidado redobrado para evitar uma explosão da inadimplência. E há indicadores da própria FGV e da Serasa mostrando menor propensão das indústrias a investimentos adicionais.

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Se houve a senhor idade e a competência do Banco da Inglaterra, nossos jovens do Copom no mínimo manteriam a taxa Selic no nível atual. Aguardariam mais algum tempo observando o desenrolar desses processos.
Principalmente porque há uma defasagem de tempo entre alta de juros e reflexos na economia.
Mas só conhecem o samba de uma nota só: aumentar juros.

Fonte: Luis Nassif Online – 25/7/06.

Um comentário:

Renato Couto disse...

Nassif é um craque e volta e meia, falo isso, quando disse que o "BC não aposta na dinâmica da economia", realmente não aposta, mas não aposta por que? Por faltar conhecimento técnico ou por outros interesses? Como a turma que "toca" a economia nacional a varios anos é composta também por "feras", vai daí a pergunta, qual o interesse de manter esta política (economica)? Simples fidelidade aos argumentos de Keynes? O estudo economico é dinâmico (por isso volta e meia falo contra a teoria de valor de Marx, mas isso é assunto pra um outro dia...) e inflação não é o "aumento generalizado nos preços", como dizem nas faculdades e manuais, mas sim a depreciação do poder de compra da unidade monetária - algo bem diverso, portanto. Dessa forma, o que causa a depreciação no poder de compra da moeda, será mesmo agente causador da inflação, então caminhamos e chegamos ao aumento na oferta de unidades monetárias (Juscelino foi uma caso clássico). E quem pode fazer isto? o Estado, que é o monopolista da impressão de dinheiro. Em um contexto de livre mercado, onde não há expansão artificial da moeda, um aumento de preços setorial (digamos nos alimentos) não implica inflação, mas sim em aumento RELATIVO no preço dos produtos alimentícios. Todos os demais produtos da economia permanecem os mesmos. Porém, agora, as pessoas demandarão mais recursos para adquirir a mesma quantia de alimentos que antes, o que necessariamente implicará uma redução de consumo dos outros bens, pressionando seus preços para baixo, havendo, por fim, um ajustamento que não implicará num "aumento generalizado nos preços", simplesmente porque não ocorreu um aumento na OFERTA DE MOEDA. Porém, se o Estado quiser "salvar" a economia (como rezam os keynesianos), mantendo a prosperidade através da emissão de moeda, isto acarretará em inflação. Caso haja continuidade desta política, necessariamente decorrerá um período de expansão artificial (pois o crescimento não é sustentado em poupança, mas em notas de dinheiro pintado). Cedo ou tarde, o governo terá que rever este artificialismo com o aumento dos juros para refrear o conjunto de investimentos insustentáveis, por causa da própria inflação, que passa a corroer o poder de compra da moeda. Uma situação como esta de caos monetário acaba por refletir em todos os setores "reais" da economia e leva-a, necessariamente, à depressão.Como o médico que receita Dimeticona para reduzir uma dor abdominal, por causa de uma gastrite e o paciente sendo estremamente alérgico a este composto acaba todo "empipocado", tendo que tomar Cloridrato de Fexofenadina, senão corre o risco de um Edema de Glote. Não,não sou médico, apenas já sofri na pele, (literalmente) a coçeira interminável de uma alergia...
Resumo da ópera: Começaram por um caminho errado e agora fica difícil voltar a estrada certa.Putz!Professor, comecei na economia, entrei na alergia e hoje é sábado, deixa eu ver se tem algum filme bom no cinema. Ah! Me estiquei tanto que vou aproveitar e postar isso no blog!Abraços...