Luis Nassif expõe com muito didatismo a gênese do processo que assola o país. Claro que a figura do político corrupto, tão presente no noticiário e no anedotário popular, é a cereja do bolo, mas é de fácil percepção que, independente dos políticos, a máquina de corrupção e de criminalidade viceja na iniciativa privada, principalmente nas rodas de finanças.
Se desejar conferir o artigo na publicação original, clique aqui, se tiver preguiça de ir até o blog Luis Nassif Online leia-a abaixo:
O Estado brasileiro contra o crime
Coluna Econômica: 10/07/2008
A operação que prendeu Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta é simbólica – até pelo perfil dos três prisioneiros. Chegou-se ao centro do crime organizado, não especificamente pelos nomes envolvidos, mas pelas inter-relações que permeiam esse mundo complexo das finanças internacionais.
A primeira vez que se chegou perto desse mundo foi na CPI dos Precatórios. Inicialmente foi montada para senadores poderem atacar inimigos estaduais. Quando evoluiu, se percebeu que estava enveredando por terras nunca antes percorridas: o grande submundo do crime. Aí, a CPI recuou. O tema voltou a ser tangenciado na CPI do Banestado e volta agora, com essa operação da Polícia Federal.
Esse mundo começou a se formar a partir da grande liberalização financeira iniciada no início dos anos 70. Ganhou corpo nos anos 80 e maioridade nos anos 90. Em meu livro “Os Cabeças de Planilha” tento descrever esse processo.
O modelo foi baseado em alguns atores. Primeiro, o livre fluxo de capitais. Depois, a disseminação de paraísos fiscal. Finalmente, a possibilidade de criação de fundos off-shore – sediados nesses paraísos – em que a propriedade do capital era escondida.
O modelo permitiu juntar de tudo no mesmo balaio. Dinheiro de narcotráfico, petrodólares, corrupção política, caixa 2, comércio de jogadores de futebol, jogadas financeiras, junto com recursos de procedência legal.
Os Estados nacionais acabaram perdendo o controle sobre esses processos. O crime organizado avançou como nunca se vira antes.
O que se viu nos anos 90 foi uma esbórnia, similar – mas com muito maior intensidade – que a ocorrida no primeiro grande processo de universalização financeira, que pega as três últimas décadas do século 19 e vai até a Primeira Guerra.
Cria-se uma cadeia com muitos agentes. Há o agente público corrupto – no caso, o ex-prefeito Celso Pitta. Depois, o operador, o homem que sabe pensar os grandes negócios e remunerar o agente – no caso, Naji Nahas. Esse processo de sair e entrar com dinheiro exige know how. Passa por doleiros, por operações financeiras sofisticadas para “esquentar” ou “esfriar” dinheiro, por conhecimentos internacionais.
Finalmente, tem a figura do banqueiro de investimento, o gestor de fundos, o sujeito que junta esse dinheiro da contravenção com dinheiro oficial e passa a buscar investimentos na economia formal. Aí entra Daniel Dantas, personagem que misturava o banqueiro que tratava com dinheiro clandestino e corruptor.
Gradativamente, os Estados nacionais começam a enquadrar esse modelo. Anos atrás, após os escândalos da Enron, o Congresso americano aprovou uma lei severíssima, que acabou inibindo o jogo nas grandes corporações. Se se lembrar, até Citigroup e IBM andaram se envolvendo com corrupção na América Latina.
Depois, os Departamentos de Receita avançaram, atuando em conjunto com as forças anti-crime organizado. Casos como da Asltom, ou a abertura de inquérito contra o UBS em Nova York marcam esse novo movimento.
A prisão dos três personagens joga o Brasil, finalmente, na linha de frente da atuação contra o crime organizado.
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O Estado brasileiro contra o crime
Coluna Econômica: 10/07/2008
A operação que prendeu Daniel Dantas, Naji Nahas e Celso Pitta é simbólica – até pelo perfil dos três prisioneiros. Chegou-se ao centro do crime organizado, não especificamente pelos nomes envolvidos, mas pelas inter-relações que permeiam esse mundo complexo das finanças internacionais.
A primeira vez que se chegou perto desse mundo foi na CPI dos Precatórios. Inicialmente foi montada para senadores poderem atacar inimigos estaduais. Quando evoluiu, se percebeu que estava enveredando por terras nunca antes percorridas: o grande submundo do crime. Aí, a CPI recuou. O tema voltou a ser tangenciado na CPI do Banestado e volta agora, com essa operação da Polícia Federal.
Esse mundo começou a se formar a partir da grande liberalização financeira iniciada no início dos anos 70. Ganhou corpo nos anos 80 e maioridade nos anos 90. Em meu livro “Os Cabeças de Planilha” tento descrever esse processo.
O modelo foi baseado em alguns atores. Primeiro, o livre fluxo de capitais. Depois, a disseminação de paraísos fiscal. Finalmente, a possibilidade de criação de fundos off-shore – sediados nesses paraísos – em que a propriedade do capital era escondida.
O modelo permitiu juntar de tudo no mesmo balaio. Dinheiro de narcotráfico, petrodólares, corrupção política, caixa 2, comércio de jogadores de futebol, jogadas financeiras, junto com recursos de procedência legal.
Os Estados nacionais acabaram perdendo o controle sobre esses processos. O crime organizado avançou como nunca se vira antes.
O que se viu nos anos 90 foi uma esbórnia, similar – mas com muito maior intensidade – que a ocorrida no primeiro grande processo de universalização financeira, que pega as três últimas décadas do século 19 e vai até a Primeira Guerra.
Cria-se uma cadeia com muitos agentes. Há o agente público corrupto – no caso, o ex-prefeito Celso Pitta. Depois, o operador, o homem que sabe pensar os grandes negócios e remunerar o agente – no caso, Naji Nahas. Esse processo de sair e entrar com dinheiro exige know how. Passa por doleiros, por operações financeiras sofisticadas para “esquentar” ou “esfriar” dinheiro, por conhecimentos internacionais.
Finalmente, tem a figura do banqueiro de investimento, o gestor de fundos, o sujeito que junta esse dinheiro da contravenção com dinheiro oficial e passa a buscar investimentos na economia formal. Aí entra Daniel Dantas, personagem que misturava o banqueiro que tratava com dinheiro clandestino e corruptor.
Gradativamente, os Estados nacionais começam a enquadrar esse modelo. Anos atrás, após os escândalos da Enron, o Congresso americano aprovou uma lei severíssima, que acabou inibindo o jogo nas grandes corporações. Se se lembrar, até Citigroup e IBM andaram se envolvendo com corrupção na América Latina.
Depois, os Departamentos de Receita avançaram, atuando em conjunto com as forças anti-crime organizado. Casos como da Asltom, ou a abertura de inquérito contra o UBS em Nova York marcam esse novo movimento.
A prisão dos três personagens joga o Brasil, finalmente, na linha de frente da atuação contra o crime organizado.
Um comentário:
Luis Nassif, é sem dúvida um craque, com ele martelo a questão da liberdade do fluxo de capitais, que coincidentemente abordo na minha última postagem blogueira, (junto aos JUROS, câncer nacional) ressaltando também o perigo da entrada de capitais voláteis, meramente especulativos, isso somente para colocar a questão no campo da economia, se entrarmos no campo da contravenção, dará muito mais pano, pra muitas mangas, mangas só não, vários ternos.
Abraços,
Renato Couto
www.seumlertabom.blogspot.com
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