6.5.09

MEC propõe reformulações para o Ensino Médio

A imprensa tem noticiado ao longo da semana a intenção do MEC em promover uma reformulação no Ensino Médio.
Numa primeira olhada, uma vez que não temos nenhum documento mais completo ainda, só o noticiário da mídia, parece-me que tem a cara dos PCNs dos anos 90.
Eu mesmo participei de uma experiência que trilhava esse caminho, mas na educação de adultos, no NEA-USP (Núcleo de Educação de Adultos), por volta de 1998/99. Se assim for a novidade já tem 10 anos e a dificuldade reside em implementá-la.
Dos textos que circularam na semana, escolhi os que seguem abaixo por serem sucintos. Antes de republicá-los aqui os enviei para alguns colegas de labuta no magistério. Assim que as opiniões chegarem, vou colocá-las nos “comentários”.

Folha de São Paulo, segunda-feira, 04 de maio de 2009

MEC quer trocar matérias por áreas temáticas
A intenção é eliminar a atual divisão do conteúdo em 12 disciplinas no ensino médio e criar quatro grupos mais amplos

Proposta será discutida hoje pelo Conselho Nacional de Educação; União planeja incentivos financeiros para obter adesão dos Estados

FÁBIO TAKAHASHI - DA REPORTAGEM LOCAL

O Ministério da Educação pretende acabar com a divisão por disciplinas presente no atual currículo do ensino médio, o antigo colegial. A proposta do governo é distribuir o conteúdo das atuais 12 matérias em quatro grupos mais amplos (línguas; matemática; humanas; e exatas e biológicas).
Na visão do MEC, hoje o currículo é muito fragmentado e o aluno não vê aplicabilidade no programa ministrado, o que reduz o interesse do jovem pela escola e a qualidade do ensino.
A mudança ocorrerá por meio de incentivo financeiro e técnico do MEC aos Estados (responsáveis pela etapa), pois a União não pode impor o sistema. O Conselho Nacional de Educação aprecia a proposta hoje e amanhã e deve aprová-la em junho (rito obrigatório).
O novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), que deverá substituir o vestibular das universidades federais, será outro indutor, pois também não terá divisão por disciplinas.

Liberdade
Segundo a proposta, as escolas terão liberdade para organizar seus currículos, desde que sigam as diretrizes federais e uma base comum. Poderão decidir a forma de distribuição dos conteúdos das disciplinas nos grupos e também o foco do programa (trabalho, ciência, tecnologia ou cultura).
Assim, espera-se que o ensino seja mais ajustado às necessidades dos estudantes.
O antigo colegial é considerado pelo governo como a etapa mais problemática do sistema educacional. Resultados do Enem mostram que 60% dos alunos do país estudam em escolas abaixo da média nacional.
O governo Lula pretende que já no ano que vem, último ano da gestão, algumas redes adotem o programa, de forma experimental. No médio prazo, espera que esteja no país todo.
"A ideia é não oferecer mais um currículo enciclopédico, com 12 disciplinas, em que os meninos dominam pouco a leitura, o entorno, a vida prática", disse a secretária de Educação Básica do MEC, Maria do Pilar.
Está previsto também o aumento da carga horária (de 2.400 horas para 3.000 horas, acréscimo de 25%).
"A mudança é positiva. Hoje, as disciplinas não conversam entre si", afirmou Mozart Neves, membro do Conselho Nacional de Educação e presidente-executivo do movimento Todos pela Educação.
"A análise de uma folha de árvore, por exemplo, pode envolver conhecimentos de biologia, química e física. O aluno pode ver sentido no que está aprendendo", disse Neves.
A implementação, no entanto, será complexa, diz o educador. "Precisa reorganizar espaços das escolas e, o que é mais difícil, mudar a cabeça do professor. Eles foram preparados para ensinar em disciplinas. Vai exigir muito treinamento."
O MEC afirma que neste momento trabalha apenas o desenho conceitual. Não há definição de detalhes da implementação ou dos custos.
O relator do processo no conselho, Francisco Cordão, disse que dará parecer favorável. "Talvez seja preciso alguns ajustes. Mas é uma boa ideia. Hoje o aluno não vê motivo para fazer o ensino médio."

Modelo de blocos já é adotado em cursos da Unifesp
DA REPORTAGEM LOCAL
A organização do ensino sem a divisão rígida de disciplinas tem sido adotada no ensino superior e em projetos especiais da educação básica no país.
No campus da Baixada Santista (litoral sul de SP) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), em vez de disciplinas, foram criados quatro blocos de ensino. Um curso tradicional na instituição tem cerca de 40 matérias. A unidade foi inaugurada em 2006.
A intenção foi integrar melhor os conteúdos apresentados. No ensino superior geralmente há concentração de matérias teóricas no início do curso e práticas no final.
Nas escolas do Procentro (Programa de Desenvolvimento dos Centros de Ensino Experimental), em PE, parte do currículo une diversas matérias. Cerca de 19 mil alunos participam do programa, que une o Estado e a iniciativa privada.
A média no Enem 2007 de uma das escolas do projeto foi superior à do Rio Grande do Sul, a maior do país (62 e 58).

5 comentários:

Prof Toni disse...

Toni,

Lembrei muito do NEA, juntar os professores de geografia e história, física e matemática, biologia e química, inglês e Português era um grande desafio e muito engraçado...
Sou favorável por tratar de uma visão sistemica do conhecimento e dentro dos novos paradigmas da ciência (diferente da visão cartesiana).
Além da necessidade urgente de mexer com o ensino médio que não sabe qual a sua finalidade: ensinar para vestibular, para o mercado de trabalho ou para um curso técnico (formaçao profissional, e acaba não fazendo nada disso...
Quero ver acabar com os feudos ...
No entanto, não será somente esta mudança que vai melhorar a qualidade do ensino, muita coisa ainda deve ser feita ...

Abs,
Marcos Galini

Prof Toni disse...

Toni,
eu li os artigos na folha, mas não tenho ainda uma opinião definida. Até porque ainda não há a definição de como isto será feito na prática. Mas sinceramente ainda acredito que uma melhora na educação só vira com melhores profissionais o que passa por melhores salários. Não acredsito em grandes mudanças como solução. É certo que o sistema atual não é o melhor, mas apenas a simples alteração do sistema não resolve o problema. Agora que tal marcarmos uma cerveja para discutirmos isso, pode ser na sua casa, convidando um grupo seleto de educadores (nós é claro), com direito a uma piticinha...

Elias

Prof Toni disse...

Toni, li com bastante atenção os textos postados no blog e tenho acompanhado razoavelmente a mídia sobre o assunto Reformulação do Ensino Médio. Falando como professor dos cursos de Pedagogia e Letras, creio que a questão central estaria em oferecer, ainda na graduação, momentos de interdisciplinaridade, darei um exemplo:
hoje se discute a função de se ensinar gramática normativa sem conexão com seu uso prático na produção de texto ou em sua análise no ensino de literatura no Fundamental II e no Médio. Pois bem, esta mesma discussão é válida para os estudantes do curso de Pedagogia, pois a maneira que irão alfabetizar e encaminhar seus alunos para o universo do conhecimento linguístico implicará a continuidade de formação do aluno nos próximos segmentos. Ou seja, a possível união de áreas disciplinares afins, depende de uma formação prévia ainda do profissional em formação. A mudança de cultura deveria começar daí e, aí sim, continuar com os profissionais que estão hoje na ativa. Em Geografia, por exemplo, não seria fundamental os estudantes conhecerem o que os alunos do Fundamental I aprendem e poder opinar sobre isso. Estão sendo "alfabetizados cartograficamente"?, que conhecimentos sociais e espaciais são trabalhados?
Creio que a questão está em enxergar o currículo integrado da Educação Infantil ao Médio e que nas respectivas licenciaturas, se forme o estudante (futuro professor) para também enxergar este universo de possibilidades.
Um forte abraço, Guilherme S. Jacobik

Prof Toni disse...

Considero o princípio interessante; seria uma forma de lidar com essa compartimentalização exagerada, que acaba confundindo os alunos. Nunca me esqueço de um aluno meu de 8ª série: eu estava falando em capitalismo , e ele perguntou se o capitalismo do qual eu estava falando era o mesmo que o professor de História falava... Mas também me preocupo com a implementação. Como fazer com os cursos de formação, por exemplo? Acredito que é um caminho longo, que requer muito planejamento e boa vontade, o que , pelo que sabemos deste país, não é muito simples...

Profª Cláudia

Fabiana disse...

Recentemente não foi discutida a intenção do governo do estado de São Paulo de alterar o currículo do Ensino Médio, oferecendo 20% da carga horária por meio de Cursos a Distância? Como não acompanho muito de perto o que ocorre nesse nível do ensino brasileiro, não sei a quantas anda esta discussão, mas se permanece, soa estranha essa proposta do MEC de aumentar a carga horária em 25%.
... corrigindo, não há nada de estranho... estranho seria se houvesse alguma coerência nas propostas para a educação advindas do poder público, em qualquer esfera...
Mas vejamos, as propostas de organização do currículo escolar por áreas e não por disciplinas me soa sempre muito interessante, mas isso deveria ser pensado para o Ensino Fundamental antes do Médio. Aliás, na minha humilde opinião, não há como reformar o ensino brasileiro enquanto não olharmos mais atentamente para os níveis elementares.
O governo Lula, e o de Fernando Henrique idem, parece que só conseguiram enxergar problemas no nível superior e no Ensino Médio, como se os problemas da Educação Infantil e Fundamental estivessem todos resolvidos. Enquanto estes últimos não forem, de fato, seriamente, alvo de atenção do poder público, os alunos continuarão chegando semi analfabetos no Médio e no Superior, e assim não há reforma que dê jeito na situação nos níveis mais elevados.
O exemplo da “análise da folha de árvore” é um fato... mas pensemos... não conseguimos garantir nem que os pequeninos tenham a oportunidade de analisar folhas de árvores ou o que quer que seja do ponto de vista “interdisciplinar”!.
De fato, mudar a cabeça do professor não é nada fácil, mas como seria bom se o problema fosse só esse!! Da forma como as escolas estão organizadas, com o número de alunos que temos em sala de aula, com a falta de espaços (laboratórios, salas de arte, jardins, quadras decentes) que não sejam abarrotados de carteiras, com a pobreza de materiais e recursos das escolas... fica fácil culpar o professor... e olha que eu nem acho que este seja inocente!
Enfim... pensar os problemas da educação brasileira é mais que necessário, buscar alternativas para o modelo de escola que temos é fundamental... “apagar os incêndios” em todos os níveis é urgente. Se forem boas propostas, que venham. Mas nós, educadores, precisamos estar atentos às análises unilaterais... pelo menos nós, precisamos tentar observar os vários lados da situação.

Bjssss
Fabi