Tal pergunta sempre me intrigou. Quando temos um problema de saúde pública no país a imprensa ouve o Ministro da Saúde e também médicos. Quando ocorrem os "deslizamentos" de terra no verão eles ouvem o prefeito e alguém da área de Geografia, Geologia ou Engenharia. Sempre buscam os especialistas.
Mas, quando o assunto é educação, até a Miriam Leitão opina!
Sobre isso o cientista Miguel Nicolelis, brilhante como sempre, concedeu uma entrevista para Conceição Lemes, registrada no site Vi o Mundo do jornalista Luiz Carlos Azenha.
Vejam a introdução da matéria:
Nicolelis: Só no Brasil a educação é discutida por comentarista esportivo
por Conceição Lemes
Desde o último final de semana, o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Ministério da Educação (MEC) estão sob bombardeio midiático.
Estavam inscritos 4,6 milhões estudantes, e 3,4 milhões submeteram-se às provas. O exame foi aplicado em 1.698 cidades, 11.646 locais e 128.200 salas. Foram impressos 5 milhões de provas para o sábado e outros 5 milhões para o domingo. Ou seja, o total de inscritos mais de 10% de reserva técnica.
No teste do sábado, ocorreram dois erros distintos. Um foi assumido pela gráfica encarregada da impressão. Na montagem, algumas provas do caderno de cor amarela tiveram questões repetidas, ou numeradas incorretamente ou que faltaram. Cálculos preliminares do MEC indicavam que essa falha tivesse afetado cerca de 2 mil alunos. Mas o balanço diário tem demonstrado, até agora, que são bem menos: aproximadamente 200.
O outro erro, de responsabilidade do Inep, foi no cabeçalho do cartão-resposta. Por falta de revisão adequada, inverteram-se os títulos. O de Ciências da Natureza apareceu no lugar de Ciências Humanas e vice-versa. Os fiscais de sala foram orientados a pedir aos alunos que preenchessem o cartão, de acordo com a numeração de cada questão, independentemente do cabeçalho. Inep é o Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais, órgão do MEC encarregado de realizar o Enem.
“Nenhum aluno será prejudicado. Aqueles que tiveram problemas poderão fazer a prova em outra data”, tem garantido desde o início o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Isso é possível porque o Enem aplica a teoria da resposta ao item (TRI), que permite que exames feitos em ocasiões diferentes tenham o mesmo grau de dificuldade.”
Interesses poderosos, porém, amplificaram ENORMEMENTE os erros para destruir a credibilidade do Enem. Afinal, a nota no exame é um dos componentes utilizados em várias universidades públicas do país para aprovação de candidatos, além de servir de avaliação parabolsa do PRO-UNI.
“Só os donos de cursinhos e aqueles que não querem a democratização do acesso à universidade podem ter algo contra o Enem”, afirma, indignado, ao Viomundo o neurocientista Miguel Nicolelis, professor da Universidade de Duke, nos EUA, e fundador do Instituto Internacional de Neurociências de Natal, no Rio Grande do Norte. “Eu vi a entrevista do ministro Fernando Haddad ao Bom Dia Brasil, TV Globo. Que loucura! Como jornalistas que num dia falam de incêndio, no outro, de escola de samba, no outro, ainda, de esporte, podem se arvorar em discutir um assunto tão delicado como sistema educacional? Pior é que ainda se acham entendedores. Só no Brasil educação é discutida por comentarista esportivo!”
Nicolelis é um dos maiores neurocientistas do mundo. Vive há 20 anos nos Estados Unidos, onde há décadas existe o SAT (standart admissions test), que é muito parecido com o Enem. Tem três filhos. Os três já passaram pelo Enem americano.
Para ler a entrevista na íntegra clique aqui.
3 comentários:
Cara,
acabei de postar um palpite sobre esse assunto. Coincidentemente disse também o que você questiona: até mau jornalista fala de educação...rs...
Abraço
Acho que todo mundo fala de educação porque todo mundo foi/é aluno, muitos são pais/mães. Acho que todo mundo tem que falar de educação, saúde, comunicação, legislação, forças armadas...
E não reconheço a menor necessidade de qualquer pessoa falar de futebol.
Jean, verdade, principalmente por que nos afeta, o problema não é esse, mas a qualidade "dos especialistas" que o PIG convoca para palpitar. Se temos uma epidemia, chamam um médico, se é um desfile de moda chamam um feshion designer (é assim que escreve?) e por aí vai... Mas para falar sobre educação não dão voz aos professores, qualquer mané vai e faz pose de "dotô"...
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