25.12.23

Sobre o Forte Apache que ganhei de Natal

Amigos e amigas, não estou fazendo "publi" do Forte Apache, nem da Gulliver, mas esse presente de Natal dado pelo meu filho, Jaime Mello, está repleto de significados para mim.

Vamos a história.

Quando ele era criança sempre deixei claro que ele, um dia, faria as suas próprias escolhas e quando esse dia chegasse, ele jamais poderia negar de onde vinha: filho de trabalhadores, neto de trabalhadores com origem no campo e por aí vai.

Então, muito cedo, cuidei de desmistificar uma série de coisas. Um pouco antes de completar três anos ele soube por mim que o papai noel era uma fraude capitalista e que quem dava os presentes eram os pais, avós, tios e tias etc.

Fui duramente criticado por parte da família, mas não desisti de deixar claro que o dinheiro que nos permitia existir não era uma dádiva do patrão, mas sim fruto do empenho e da dedicação, o que nos impedia de ficar mais tempo com ele.

E continuei contando histórias para que ele entendesse sempre.

Numa dessas, não lembro exatamente quando, contei que quando criança meu pai enfrentou muitas dificuldades financeiras, sempre procurando não deixar faltar o básico para mim e minha irmã, mas sem poder atender nossos desejos.

Entendi isso muito cedo, sem que houvesse a necessidade de ser comunicado.

Nunca pedi presentes de Natal ou aniversário, mas claro que desejava o que a TV nos mostrava na época, principalmente o Autorama e o Ferrorama da Estrela, mas meus olhos brilhavam mesmo com o Forte Apache.

Aliás não compreendia a razão de sempre torcer para os índios, isso só ficou claro bem mais tarde, quando percebi a importância de ficar do lado dos mais fracos e oprimidos.

Foram muitas histórias ao longo desses 24 anos. Minhas e dos meus amigos, algumas aconteceram, outras, tenho certeza, que nasceram da minha imaginação.

Eu só não imaginava o Forte Apache ficaria tão gravado na memória dele e que, com parte do seu primeiro salário como Desenhista da Prefeitura de Assis, emprego que ele conquistou por meio de um concurso público ele me compraria o dito cujo.

Imaginem um senhorzinho, bem capenga, recebendo um presente de Natal, que ele desejava desde a infância, aos 62 anos!

Não canso de ficar emocionado toda hora que olho pra aquela caixa da Gulliver.

Claro que nossa situação financeira melhorou um pouco.

Hoje conseguimos atender também alguns desejos, com dificuldades aqui e ali, mas conseguimos.

Mas sempre faço questão de lembrar, para que não reste ilusões: somos trabalhadores, filhos de trabalhadores com origem no campo. Estamos de um lado na luta de classes e os donos do capital do outro, por mais bonzinhos que sejam.

 

 



 

 

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