Demorei um tempinho para escrever sobre o falecimento
de Jô Soares.
Um dos meus ídolos da juventude, quando ainda me
permitia ter ídolos.
Durante minha adolescência ele fez muito bem para a
minha autoestima. Sempre fui gordo e, óbvio, motivo de chacota por isso. Até o
momento que começaram a ver alguma semelhança com ele.
Lógico que isso não fazia o mínimo sentido. Gordo,
bonachão e metido a engraçadinho. Eram essas as semelhanças.
Acompanhei toda a trajetória dele na TV, desde a
saudosa Família Trapo, passando por Satiricom e os outros espetáculos da Globo.
Quando retornei para São Paulo, em 1981, a primeira
coisa que fiz foi ir a um espetáculo do Jô Soares. Fiquei encantado pelo
carisma, presença de palco e vocação para o improviso.
No teatro fui em três espetáculos dele, o último acompanhado
de minha namorada, hoje esposa, e saímos com as mandíbulas tronchas de tanto
rir.
Gostava muito das crônicas que publicou em jornais. Li
seus livros e, para ser bem sincero, não gostei de alguns.
Os programas de entrevistas foram imbatíveis. Algumas
inesquecíveis, como uma com o Zeca Pagodinho, outra com Hebe Camargo, Lolita
Rodrigues e Nair Belo, além daquela que fez com a presidenta Dilma quando a
mídia a massacrava.
Pensando bem acho que sempre invejei o Jô, na verdade
eu queria ter sido um subJô. Mas talento não é para quem quer, é para quem tem.
Durante minha vida “herdei” apelidos dos seus
personagens: Capitão Gay, Bô Francineide, Rochinha... Curti todos e me
envaideciam.
Foi uma pessoa brilhante, com um ego maior do que ele,
que já era “grande”.
Nunca teve medo de se posicionar.
Nesses tempos bicudos, com o crescimento do fascismo,
deu voz ao libertário que existia nele, opondo-se ao fascismo em voga e
apoiando, como sempre o fez, artistas, famosos e o nem tanto.
Mais uma pessoa dessa geração brilhante que se vai.
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