Não me entendam mal, mas, às vezes, sinto saudades das aulas de OSPB. Não a matéria criada pela ditadura, mas aquela que se lecionava nas escolas pública no final dos anos de 1980, especialmente do livro assinado pelo Frei Beto, conforme mencionado no texto abaixo.
Em 2016 publiquei nesse blog o texto abaixo, que trata da necessidade de educação política nas escolas, além dos outros espaços coletivos.
Claro que
hoje teríamos outros espaços para essa educação, mas a ideia continua presente.
Enquanto não
construirmos um sólido conhecimento na área estaremos suscetíveis aos governos
como este que nos apavora e que tantas coisas ruins têm produzido na sociedade.
Educação
política
Vivemos uma crise na nossa sociedade. Penso que essa crise tenha começado aí por volta de 1500.
Agora ela
está totalmente exposta, seja na política de alta rapinagem seja no cotidiano.
Do deputado
safado ao flanelinha que pratica extorsão, passando pelo árbitro de futebol que
arruma os resultados dos jogos em benefício de alguns apostadores.
Não é, portanto,
uma crise política apenas. Às vezes tenho a impressão de que as pessoas que
reclamam, a maioria pelo menos, o fazem por não se beneficiar das maracutaias.
Por outro
lado, percebo uma dificuldade muito grande em imputar as responsabilidades
pertinentes, mesmo por parte daquelas pessoas razoavelmente informadas e com
bom nível de educação formal.
A educação
política acontece, prioritariamente, dentro dos sindicatos, partidos políticos,
ONGs, associações comunitárias, centros acadêmicos etc. e com o próprio
amadurecimento do indivíduo.
É fácil
perceber, no entanto que o individualismo presente no nosso modo de vida afasta
as pessoas dessas instituições participativas.
Entendo que a
ação política, o exercício da cidadania, independe da escolarização, mas, por
outro lado, sinto que a escola poderia contribuir decisivamente com a formação
política dos nossos jovens.
Não no
aspecto partidário, mas no conhecimento da Constituição, por exemplo, assim
como dos demais aspectos legais da defesa do cidadão, do conjunto de deveres e
direitos pertinentes ao exercício da cidadania, além da história dos partidos
políticos, do sindicalismo, do movimento estudantil, enfim das inúmeras
oportunidades que, ao longo da história, fizeram do povo protagonista do seu
próprio destino, sem depender dos heróis, fabricados ou verdadeiros.
Talvez uma
disciplina escolar, calcada nas relações interdisciplinares, que retome o que
havia de bom numa matéria imposta pela ditadura militar, OSPB (Organização
Social e Política Brasileira), que foi brilhantemente reformulada numa coleção
didática escrita por Frei Betto. Teríamos então um grande encontro da História
e da Geografia, mediado pelo Português, com o apoio das outras disciplinas
escolares para, num esforço conjunto, oferecer ao aluno possibilidades de
leitura do mundo que o capacite ao pleno exercício de sua cidadania,
entregando-lhe um arsenal adequado para a leitura da grande mídia sem cair na
armadilha do sensacionalismo barato das notícias frugais.
Temas como
crise política, reforma política, América Latina, ambiente, mídias, saúde
(física, mental, sexual), enfim um amontoado de temas que, repito, em conjunto
com as outras disciplinas escolares, poderia ser abordado de acordo com os
anseios da comunidade escolar e do contexto que lhe diz respeito.
Claro que tal
proposta não pode se distanciar de uma melhoria no sistema educacional, com
melhores salários e capacitação para os profissionais envolvidos na sua
execução.
Texto publicado em 2/09/2016
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