10.2.07

Crimes que comovem

A história se repete! Cada vez que um crime bárbaro como este que chocou o país nesta semana acontece, a sociedade se mobiliza, nem sempre primando pela racionalidade.
A solidariedade é importante, embora nada mais seja do que solidariedade. Por mais que amplos setores da sociedade a expressem, o garoto João Hélio Fernandes de apenas 6 anos, não voltará aos braços daqueles que o amaram em vida.
Claro que não podemos nos esquecer do papel de parte da mídia que transforma a dor e o sofrimento alheio em espetáculo.
Nem mesmo dos políticos salafrários que, de maneira oportunista, tentam amealhar simpatias nestes momentos.
Mas não podemos fechar corações e mentes para a dor da família.
Por outro lado por mais ódio que tenhamos dos criminosos, que de maneira covarde e sem sentido tiraram esse garoto dos braços dos seus pais, também não mudaremos a história de suas vidas e muito menos as condições que os levaram a embrutecer-se e nem aos próximos que tomarão o mesmo caminho, somente com ódio.
A sociedade brasileira precisa de uma reflexão profunda sobre a violência que nos cerca por todos os lados, de maneira brutal, banal e corriqueira.
Novamente alguns políticos vêm com a lengalenga da maioridade penal, querendo reduzi-la, com o argumento tosco de que os crimes cometidos por menores de 18 anos só acontecem em razão da maioridade penal. Se a maioridade penal for reduzida para 16 os criminosos passarão a ter 15 anos, está claro.
O buraco está mais embaixo.
Ele reside numa elite perversa e egoísta, estúpida e provinciana, que não aceita a redistribuição da renda, apenas quer mais privilégios, numa ostentação sem fim, agressiva aos olhos e aos corações daqueles que nada possuem.
Você começa a embrutecer uma criança quando coloca a sua disposição um mundo de desejos de consumo e conforto inatingíveis para ela.
Quando destrói os seus sonhos mais puros ao lhe negar escola, saúde, moradia e dignidade.
Claro que nem todo pobre vira criminoso automaticamente, mas à medida que o tempo passa, que a urbanização e os apelos de consumo invadem todos os recantos, esse quadro se agrava.
Não adianta diminuir a maioridade penal se medidas de justiça social não forem tomadas, com urgência.
Assim como não é correto atribuir a brutalidade desse assassinato as questões sociais apenas, também não podemos imaginar que ele seja fruto apenas da iniciativa maldosa de três jovens bandidos.
Tenho certeza de que teremos marchas pela paz durante uns dois meses, comunidades no Orkut lamentarão o ocorrido e pedirão orações pela criança e suas famílias, outras pedirão pena de morte para os bandidos, muitos discursos serão pronunciados!
Tudo isso logo depois cairá no esquecimento e só voltará às manchetes quando outro crime semelhante ocorrer.
Tem sido assim.
Parece que nossa sociedade está falida, não temos capacidade de organizadamente reagir, de maneira racional.

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