13.9.07

Depois de Renam, o quê?

Diante da ABSOLVIÇÃO de Renan Calheiros, presidente do senado – e do CONGRESSO NACIONAL – acredito que muitos dos que lêem esse texto, assim como eu, estão pasmos, perplexos e indignados com o sistema político nacional.
Renan é atualmente alvo de três representações (afinal, por uma já foi absolvido) no conselho de ética do senado e no próprio senado federal.
A primeira, da qual foi absolvido, dizia respeito ao fato de ter tido despesas pessoais pagas por um lobista. As outras:
- Ter usado "laranjas" para comprar empresas de comunicação em Alagoas;
- O segundo processo diz respeito ao suposto favorecimento de Renan à indústria de bebidas Schincariol, em troca de vantagens financeiras aos negócios da família Calheiros com uma fábrica de bebidas em Alagoas.
- A mais recente, levada à mesa diretora pelo PSOL, levanta suspeita de vários crimes cometidos por Renan, incluindo tráfico de influência, corrupção ativa, exploração de prestígio, formação de quadrilha, intermediação de interesses privados, abusos das prerrogativas de parlamentar e recebimento de vantagens indevidas.
Quem tem acompanhado mais de perto todo o imbróglio deve se lembrar de que há algumas semanas, quando levantada a suspeita da compra de empresas de comunicação em Alagoas, o ex-sócio de Renan (outro homem de reputação duvidosa) veio a público dizer que estava disposto a esclarecer como se davam essas atividades ilegais. Nessa oportunidade, ambos trocaram farpas e "elogios" sobre suas posições éticas e atividades comerciais e políticas. Lembro-me bem de quando Renan chegou a dizer que sempre considerou seu ex-sócio, o ex-deputado João Lyra (PTB-AL), um bandido, um homem sem escrúpulos, além de outros belos e taxativos nomes.
A pergunta que ficou em minha cabeça era: como um homem que pretende representar a nação no congresso – e mais tarde ser o presidente do mesmo – associa-se com outro o qual considera "bandido" e "sem-escrúpulos"? Apenas por essa afirmação do próprio Renan, já se teria motivos suficientes para depô-lo de seu cargo por falta de decoro parlamentar, pois não pode um senador – ainda menos o presidente do congresso – se associar a um bandido.
Mas, para voltar à vaca fria (isso não foi uma piada, mas poderia ser), hoje nosso ilustre representante foi absolvido. Algo me parece estar muito errado com nosso sistema dito democrático. Ainda que fiquemos revoltados com a decisão de nosso corpo de representantes no senado por terem absolvido Renan, o problema é ainda anterior ao fato.
Vejamos:
Espero que esteja repetindo o que todos já sabem, mas a votação não foi aberta, foi secreta. E, pior, a SESSÃO foi secreta. TODOS, a não ser 13 deputados (que, aliás, se engajaram numa briga de corpo às portas do senado) de porte de sentença do STF puderam presenciar a sessão.
Mas o que isso significa afinal? Bem, espero que esteja chovendo no molhado mais uma vez, significa que NENHUM cidadão pôde acompanhar as discussões dos senadores, avaliar suas opiniões e, acima de tudo, não pôde também saber qual foi a decisão que o senador tomou EM NOME DE QUEM ELE REPRESENTA, os eleitores, os cidadãos, o povo, os representados, nós, como quiserem. Fomos todos impedidos de saber o que se decidiu em nosso nome, no caso, em favor de um político de índole, para dizer o mínimo, duvidosa.
Que tipo de representação política é essa na qual somos proibidos de saber que decisões são tomadas em nosso nome?
Chegamos a um ponto tal que o respeito ao cidadão e à Res Publica foi degradado ao ponto mais extremo. Numa democracia, nos impedem o direito de saber quem decide o que em nosso nome? Desrespeitam nossa moral, nossa inteligência e nosso estatus de cidadão!
Gostaria que essa carta não fosse um mero desabafo. Gostaria que isso pudesse gerar algum tipo de manifestação (ainda que possa ser inútil), mas não podemos ficar "sentados na poltrona com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar". Acredito que uma das diferenças entre um POVO – e não um país – desenvolvido e um subdesenvolvido seja a vontade de se fazer ouvido e de se fazer, de fato, representado. Enquanto estivermos indignados apenas, não será suficiente para mudar coisa alguma.
Vejo os argentinos, motivo de chacotas dos brasileiros, irem às ruas e fazerem um panelaço; Europeus vão às ruas por motivos muito menores. Isso porque está claro a cada um deles que a política – e, obviamente, os políticos – estão lá a serviço do povo. Do povo que os elegeu.
Visto dessa forma, não podemos aceitar que escondam de nós suas decisões e opiniões políticas, simplesmente porque sabem que se o público souber a estirpe da decisão que tomam, em pouco tempo estaria acabada sua vida política. Estaria acabada, pois fazem escolhas visando interesses próprios, escolhas que beneficiam apenas a eles e não ao povo que representam, não ao país.
Gostaria, verdadeiramente, que esta carta possa despertar em alguns a vontade que tenho em mim de nos fazermos ouvidos, de não permitir que decisões esdrúxulas como a absolvição de mais um Renan no futuro deteriorem ainda mais um sistema político já deturpado e corrompido como o brasileiro. Espero que esta carta desperte a vontade de fazermos desse país um lugar onde a justiça seja realmente feita às claras e NÃO À PORTAS FECHADAS, ESCONDENDO AS DECISÕES QUE MAIS DIZEM RESPEITO AO POVO, ESCONDENDO INTERESSES DETURPADOS, SUJOS, ANTIÉTICOS E ANTIDEMOCRÁTICOS.
Peço aos que tiveram paciência de ler até o fim esta carta que se mobilizem de qualquer maneira que esteja ao seu alcance. Não é tarefa fácil, é desgastante. Mas, com certeza, nada que vale a pena nessa vida é fácil. Se cada um de nós fizer um pequeno movimento na direção que desejamos, na direção de uma política mais limpa e ética, o resultado será extremamente positivo.
Se conseguirmos fazer pequenas movimentações, essas movimentações crescerão e seremos ouvidos. Em qualquer lugar que estivermos, podemos ser ouvidos. Só não podemos permanecer estáticos diante de situações como essas.

Éric Afonso Secco Marcos - ericmarcos@gmail.com
Escola de Economia de São Paulo - Fundação Getúlio Vargas - SP

2 comentários:

Anônimo disse...

Numca pensei que nosso País pudesse chegar a esse nível. Estamos sendo xingados de palhaços...

Mesmo com o voto secreto, e todas as atitudes tomadas para impedir que fossemos atras dos "corajosos" votadores da Absolvição de Calheiros, nos deparamos com uma nova mentira desses Expléndidos senadores de nosso país. Segundo uma pesquisa do G1, 46 dos 81 senadores declararam voto na cassação.

Me desculpem, mais temos aí 11 senadores que por algum motivo sentiram-se envergonhados de assumir seus votos!

É o CÚMULO DA PALHAÇADA !!!!!!

DUVIDO que manifestações (que conseguiram algum resultado grandioso) irão ocorrer .... foram poucos (comparado com o dever de todos) os que souberam me informar se Renen havia ou não sido absolvido, mas grande parte sabia o resultado do jogo Brasil X México.

Na minha opinião, mais do que nunca, o que realmente importa para os brasileiros é essa idéia de individualismo... Grande parte de nós abandonamos a cidadania a partir do ponto em que não estavamos mais lutando por direitos e sim por PRIVILÉGIOS !!!

A banalização de nossa sociedade esta beirando seu clímax, mais essa tendência não se modificará apartir do foto de que nenhum "cachorro grande" está sofrendo com toda essa crise moral e sem graça.

Att,

vinicius_tome@hotmail.com

Prof Toni disse...

Vinicius, acho que você matou a pau: a busca e manutenção de privilégios!