28.10.07

Advogado: Padre Julio "cedeu à extorsão"

O texto abaixo está publicado no blog do Luis Carlos Azenha: Vi o mundo.


Advogado: Padre Julio "cedeu à extorsão"
Ganhei o prêmio Embratel de reportagem investigativa, em 2007. Doei o valor que me coube ao padre Julio Lancelloti. Ele tem crédito com a sociedade brasileira e merece, no mínimo, ter amplo direito de resposta às acusações que sofreu.
Reproduzo o texto do advogado Rildo Marques de Oliveira, que recebi por e-mail:

"Recentemente tive contato com várias pessoas que acompanham os trabalhos de Pe. Julio Lancellotti e soube de questões ainda desconhecidas da população porque a imprensa não tem o cuidado de noticiá-las.

1 – É público e notório que Pe Julio, ao longo de sua vida, foi um profeta em prol dos desfavorecidos e desvalidos, assumindo a ponta de projetos cuja proposta tinha como enfoque o ser humano e não o sistema, e, com êxito, conseguiu, em muitos casos, resgatar seres humanos vítimas de um sistema vil e voraz, no qual as políticas públicas e aparelhos de Estado apenas aumentaram a exclusão desses seres;
2 – É público e notório que, muitas vezes, para poder comprovar, na prática, que políticas públicas adequadas e voltadas aos seres humanos, quando bem realizadas, podem obter resultados positivos, o Pe. Julio teve que enfrentar os Barões do Poder, digladiar com os "príncipes" donos da opinião pública e, muitas vezes, desentender-se com acadêmicos, mas, sobretudo, indispor-se com chefes do Poder Executivo no que tange à condução da FEBEM e à Segurança Pública;
3 – Pe. Julio é tido como inimigo público número um dos defensores da pena de morte e dos cúmplices da tortura;
4 - É pública e notória a admiração que o Pe. Julio construiu em torno de si pelos segmentos humanitários e também a repulsa obtida pelos contrários à propagação dos direitos humanos;
5 – É publico e notório que a postura do Pe. Julio sempre foi a de viver o evangelho ecumenicamente e, para isso, adotar posturas humanas incompreensíveis aos cidadãos comuns;
Com isso, Pe. Julio passou a ser odiado por funcionários da FEBEM quando eram por ele denunciados pelas torturas e práticas abusivas da dignidade humana, e milhares de jovens vivenciaram o resultado de sua proteção, de proferir discursos e empreender práticas na defesa da integridade dessas pessoas.
Pe. Julio sempre prestou assistência às presas e presos de São Paulo e, não obstante, também denunciou os desmandos e violências do sistema prisional. Pe. Julio denunciou muitos policiais que cometiam abusos de direito, com tortura, extorsão e ameaças aos meninos e meninas desfavorecidos.
Sempre esteve à frente de lutas pela moradia, pela povo da rua, pelas crianças e adolescentes, denunciando todo e qualquer tipo de violação dos direitos humanos, desde o menino espancado por monitores na Febem até a falta de material escolar na rede de ensino pública.
Muita gente do Poder não gosta do Pe. Julio. No entanto, ao lidar com meninos, muitas vezes perigosos (infratores contumazes) e com muita dificuldade de apreender sob a égide de uma pedagogia do amor, da benevolência e da compaixão, Pe. Julio se sentia isolado com esta técnica de compreender o outro, com a técnica da não-violência e, por isso, enfrentou, sozinho, um desafio, a despeito da descrença até de seus colaboradores.
Quando se viu envolvido numa trama, acuado em seu próprio projeto, contemplando a ruína de seu próprio desafio, Pe. Julio preferiu tentar e tentar até as últimas possibilidades de sua força humana. Os episódios que ocorreram antes da compra do carro do Anderson foram três assaltos à casa do Pe. Julio, nos quais, por duas vezes, sua mãe, de quase 80 anos, foi agredida na rua.
Essa foi apenas uma entre outras ameaças contumazes feitas ao Pe. Julio. Ele sabia quem eram as pessoas que coordenavam as intimidações, motivo pelo qual decidiu ceder recursos para proteger não só sua mãe, mas também a si, ao seu projeto e aos seus colaboradores, pois todos estavam na mira dos delinqüentes.
Pe. Julio não podia mais ver seu próprio projeto voltando-se contra a proposta de vida e pedagógica e, mais do que isso, voltando-se contra sua equipe e sua família. Seria derrotado em seus objetivos, não pelos poderosos, mas pelo seu próprio meio. A dor da solidão e da amargura de ver ruir anos de construção pedagógica o fez tomar atitude isolada que apenas o comprometeu: ele cedeu à extorsão.
No entanto, Pe. Julio não quis revelar que a mulher de Anderson estava envolvida com atividades ilícitas, certamente com acertos com homens do Poder, da Segurança Pública. Não quis revelar, tampouco, os crimes que Anderson ainda cometia, até pelo sigilo que deve manter como sacerdote;
Quanto à denuncia de abuso sexual contra um adolescente, a mentira aparecerá por dois motivos:
1 – porque a denunciante tem ligação com monitores da FEBEM que há anos coordenaram espancamentos e outros crimes no interior da FEBEM, espancamentos que eram combatidos veementemente por nós;
2 – porque jamais essa pessoa poderia ingressar na Casa Vida à noite sem que alguém lhe abrisse a porta do prédio por dentro;
3 – A pessoa supostamente abusada, segundo a denunciante, está sendo localizada para desmentir esta senhora, que deverá ser presa por denunciação caluniosa e responderá por danos morais. Outro fato que nos chama muito a atenção é o de que uma semana antes de o caso sair na imprensa, Pe. Julio foi escoltado por veículo da Presidência da República para ir a um evento e foi notada a presença de veículos estranhos na porta de seu trabalho;
Semanas antes, a agente de direitos humanos Valdenia Paulino (Sapopemba), com histórico semelhante ao de Pe. Julio nas denúncias a policiais civis e militares e monitores da FEBEM, foi acusada na imprensa de ser ligada ao PCC. Meses antes, defensores de direitos humanos denunciantes de policiais militares e civis na zona Norte, como Cícero Pinheiro Nascimento, também foram acusados de guardar armas do PCC.
Tudo para dizer que defensores de direitos humanos possuem estreita ligações com o crime organizado, quando, na verdade, sabemos que quem tem essas ligações são certos policiais. Nos parece que todos os agentes de direitos humanos que denunciam policiais civis, militares e atacam as idéias e projetos do Governo do Estado e da Prefeitura de SP e são simpatizantes do Governo Federal estão sofrendo algum tipo de perseguição na imprensa com ilações de ligações com o PCC e outros crimes. Será coincidência? Saberemos em breve... São algumas questões iniciais.
Muitas coisas ainda serão esclarecidas, mas faço estes esclarecimentos iniciais para que vocês possam entender melhor algumas questões. Quem quiser apoiar ao Pe. Julio, pode enviar mensagem a mim que farei chegar até a ele. Meu e-mail é centroezequiel@uol.com.br
Atenciosamente
Rildo Marques de Oliveira
Advogado."

Publicado em 28 de outubro de 2007

Um comentário:

Dona Zuka disse...

Sabe, eu não duvido da honestidade das pessoas, nem na bondade do ser humano, mas também não duvido da mente psicótica, nem da maldade inerente... Acho tão difícil colocar a mão no fogo por alguém. Somos todos errantes e errados. Às vezes, nem mesmo a fé é suficiente. Tenho sérias dúvidas sobre o que é passível de ser corropido. Você não tem?