27.5.24

Os crimes nossos de cada dia

As leis brasileiras são boas, quase sempre, mas, ao se prender em detalhes deixa o cobertor curto. Isso se aplica aos casos mais simples e outros mais complexos.

No caso dos crimes de trânsito a aplicação da gravidade (ou não) depende da classe social do criminoso e da vítima, representado tipo e modelo de carro do criminoso. Tal fato reflete-se na cobertura da mídia, como no caso recente onde um  “Porsche” virou o assassino de um motorista de aplicativo, como se o carro tivesse vontade própria e resolvesse dirigir a 150 km por hora numa via limitada a 50 km por hora.

Outros crimes tendem a ser desprezados, como os crimes eleitorais e ambientais, para ficar em apenas dois exemplos.

Então se tolera o abuso do poder econômico numa eleição, rebaixando-o a um crime menor e sem importância, fato que fere frontalmente o processo democrático, dando privilégios aqueles que tem mais recursos em detrimento daqueles que não possuem tais recursos.

Da mesma forma os crimes ambientais são tratados, quase sempre com base em questões econômicas, afirmando que a proteção ambiental prejudica as atividades econômicas, tais como a pecuária extensiva ou as monoculturas exportadoras.

Em todos esses casos as consequências são danosas para as pessoas e para a sociedade.

16.5.24

Rio Grande do Sul: quem é responsável? (Parte III)

"A natureza não deve ser nossa inimiga. Cabe, portanto, reestabelecer uma relação harmônica, visando o bem-estar da população e um meio geográfico adequado. No nosso país urge, igualmente, reduzir as desigualdades econômicas, pois os mais pobres são geralmente os mais afetados pela crise ambiental.”

Geografia: uma possibilidade de saída para a crise que enfrentamos

Esse trecho da carta aberta da comunidade de professores do Departamento de Geografia da UFRGS sobre a calamidade climática de maio de 2024, publicada em 10/05/2024, pode ser considerado um guia para orientar os políticos do Rio Grande do Sul e do Brasil, desde que passem a confiar na ciência e levem a sério a construção de um projeto de nação que abarque todos os brasileiros e os que aqui vivem.

Também ressalta a importância de resolvermos a crise ambiental, de forma urgente.

Precisamos atentar que tal crise climática é fruto de uma sociedade de consumo sem limites e da consequente busca incessante do lucro.

Fonte: Mídia Ninja - Crise Climática ocasiona maior enchente do Rio Grande do Sul • 14/05/2024 • Porto Alegre (RS)


Precisamos de regramentos econômicos que , primordialmente, se preocupem com a vida humana, por isso a necessidade de não apoiar, como se faz hoje, o agronegócio, mas sim a agroecologia.

Mas como fazer isso com um Congresso como esse que elegemos? Como fazer isso num governo de coalisão, no qual o dito Congresso se apropriou do Orçamento da União. E pior: como retirar da administração pública pessoas tão ruins e pessimamente preparadas?

No episódio que ocorre no Rio Grande do Sul, mas não só, há um show de horrores. Vereador propondo retirar a cobertura vegetal, alegando que o peso das árvores faz com que haja queda de barreiras, prefeito que não aparece na cena da catástrofe, governador que elabora mensagem para barrar a solidariedade do país para com o seu povo...

Esse, pelo menos, pediu desculpas pelas bobagens proferidas.


O jornal Congresso em foco fez uma matéria elencando 28 medidas que tramitam no Congresso prejudiciais ao ambiente, dentre elas uma “reforma” no Código Florestal e o auto licenciamento ambiental. O que já é ruim vai piorar muito!


Podemos dizer, sem medo de errar, que dentro do capitalismo não resolveremos essa crise e as outras que virão.

 

 

15.5.24

Rio Grande do Sul: quem é responsável? (Parte II)

Então está claro que temos responsáveis, por despreparo ou por ideologia, de prefeitos e governador do Estado, além, obviamente, do sistema.

Vamos colocar exemplos, que foram estampados na mídia, de questões que combinam o neoliberalismo com questões do cotidiano da população.

O primeiro exemplo vem de Eldorado do Sul, onde o prefeito Ernani Gonçalves(PDT) terraplanou um terreno de Área de Proteção Ambiental (APA), às margens do rio Jacuí, obra realizada por uma empresa da família do prefeito.


Fonte: ICL Notícias – 15/05/24

Um crime que cometido nesse local contribui imensamente para a enchente no município e em toda a região. Não é culpa exclusiva, mas ofereceu contribuição decisiva para o conjunto da obra.

Outro exemplo gritante é o de Porto Alegre.

De acordo com o jornal Sul 21 os “ex-diretores do Departamento Municipal de Água e Esgoto (Dmae), do extinto Departamento de Esgotos Pluviais (DEP) e da recém-privatizada Corsan  em conjunto com outros especialistas na área, assinam um manifesto em que sugerem uma série de medidas a serem adotadas para reforçar o Sistema de Proteção Contra Inundações de Porto Alegre e facilitar o processo de vazão da atual inundação que atinge a cidade. Na abertura do manifesto, os signatários defendem que o atual sistema é “robusto, eficiente e fácil de operar e manter”, mas que não está operando adequadamente pela falta de manutenção.”

Podemos deduzir que o sistema não funcionou por obsolescência e por descaso da administração municipal.


Porto Alegre inundada pelas águas do Guaíba. Foto: Isabelle Rieger/Sul21 – 14/05/24

Já no que diz respeito ao governo do Estado vimos ontem (14) um pronunciamento confuso do governador, afirmando que as doações, de certa forma, atrapalham o comércio local.

Reparem, a população do Rio Grande do Sul depende das doações que chegam do país e até do exterior, para sobreviver. São toneladas de alimentos, roupas, água, cobertores etc. e o governador faz esse tipo de alerta. O que será que ele espera que aconteça a partir daí?

A mensagem parece clara: não doem mais nada, comprem do comércio local, mesmo que ele esteja destruído e embaixo d’água.


“X” – 14/05/24.

14.5.24

Rio Grande do Sul: quem é responsável? (Parte I)

 

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/d/d0/Bacias-hidrograficas.jpg/950px-Bacias-hidrograficas.jpg?20180910014339

Neste momento o mais importante é a solidariedade e o socorro às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul.

No entanto, não podemos e não devemos partidarizar as discussões, mas isso não significa não politizar tais questões. A discussão política e, particularmente, de políticas públicas envolvendo as questões ambientais e de prevenção aos desastres é fundamental.

É muito difícil hierarquizar os problemas envolvidos, por isso escolhi, em primeiro lugar, os responsáveis diretos pelo socorro em primeira mão: os prefeitos e prefeitas.

Atuam na ponta, em contato direto com a comunidade e respondem por elementos fundamentais, como podemos observar pelo caso de Porto Alegre, com as comportas de contenção do Guaíba enferrujadas e sem manutenção adequada.

Some-se a isso a incapacidade de lidar com o fenômeno apresentado, até por não ser esse primeiro episódio de enchentes monumentais, não faz um ano que aconteceu algo muito semelhante.

Ficando ainda com o caso de Porto Alegre vimos um show de incapacidade técnica, liderança e despreparo do prefeito.

Isso se repetiu, em maior ou menor grau, em todos os municípios afetados pelas enchentes.

Depois temos o governo estadual, que cuidou de mutilar as leis ambientais do Estado, advogando em prol do agronegócio e da especulação imobiliária, que, sedentos de lucros, ignoraram a ciência completamente.

Outra característica desse governo foi o total desprezo aos movimentos sociais, dentre eles os ambientalistas.

Nesse campo temos que responsabilizar também o legislativo estadual, que, com as honrosas exceções dos partidos de esquerda, cuidaram de apoiar o governador e buscar apoio aos grandes latifundiários das suas bases eleitorais, financiadores de suas campanhas.

Falta ainda a fatia que cabe ao Congresso Nacional, com destaque para a direita e extrema-direita, que sempre coloca à frente os interesses da economia em detrimento dos seres humanos.

Nesse sentido temos assistido a deputados e senadores mais preocupados em lacrar na Internet do que em aprovar leis que beneficiem a população.

Na ponta disso tudo temos os eleitores, que se deixaram levar pelas fakenews e caíram na conversa do estado mínimo, criando no seu imaginário que tudo que é público é ruim e o setor privado tudo resolve.

6.5.24

A mídia e a 3ª via

Faz tempo que a mídia nativa vem buscando uma “3ª Via” na tentativa de derrubar Lula e um projeto de centro-esquerda para o país.

Esse esforço da mídia e o equívoco da pouca atenção estratégica às eleições legislativas vem forçando uma composição cada vez mais a direita por parte do PT e do seu candidato.

Para refrescar a memória, tivemos Collor de Mello – o caçador de marajás –, depois Lula derrotou José Serra, dando início a um período de polarização entre PT e PSDB, marcando uma derrota ímpar da mídia hegemônica que se dividiu.


Na reeleição de 2006 houve maior equilíbrio por parte da mídia, pois o Lula não se mostrou tão feio assim no primeiro mandato, embora cercado pelo escândalo do chamado mensalão, ainda assim a eleição foi decidida no segundo turno, com Lula obtendo pouco mais de 60% dos votos no segundo turno derrotando o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin.

Quando Lula indicou Dilma para sua sucessão a mídia resolveu se mexer e escolheu José Serra como a melhor opção para o Brasil. Foi ungido como a melhor alternativa para o Brasil pós Lula. Não deu certo. Dilma venceu com 55% dos votos válidos.



Para a sucessão de Dilma a mídia resolveu mudar de assunto, mas não muito e buscou uma alternativa dentro do PSDB mesmo, o herdeiro de Trancredo Neves foi o escolhido e o nomde de Aécio Neves passa a fazer parte do cenário nacional.

Também não deu certo. Dilma venceu com 51,5% dos votos e Aécio deu voz a necessidade de impossibilitar um novo governo do PT. Acabou aí a convivência civilizada da polarização até então existente.


Apoiado por um Congresso horrível, que só perde para o atual, Eduardo Cunha começou com as pautas bombas, inviabilizando de fato o governo, levando ao impeachment da presidenta.

Veio o Temer, seguido por Bolsonaro e, depois de 2022, Lula voltou. Novamente num governo de frente ampla, tendo que recorrer ao fisiologismo do Congresso, com o agravamento da conquista de parte importante do Orçamento da União por parte dos senhores deputados e senadores.

Todos esses momentos apresentaram um dado em comum: o pavor das elites conservadoras ao Lula e a busca, às vezes desesperadas, por uma alternativa democrática de direita!

Embora ainda faltem mais de 2 anos para a próxima eleição presidencial a cena se repete: a direita busca um representante “confiável”, perfumado e que saiba usar talheres à mesa.

O nome da vez é o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas. O governador que não sabe andar pela capital de São Paulo, que nunca morou em São Paulo e que foi escolhido pelo povo paulista como seu governador.

Bolsonarista moderado, como a mídia quer vende-lo, não existe! Se é bolsonarista, por definição, não pode ser moderado.

Será que a imprensa corporativa vai cometer esse equívoco novamente?

2.5.24

Professora agredida por corrigir aluna

Ontem (23/04) a mídia estampou a seguinte notícia:

“Aluna diz que Moraes acabou com leis, professora corrige e é ameaçada

Professora recebeu atestado médico para ficar afastada das atividades por um mês, e família da estudante pediu transferência da aluna

Alan Rios

24/04/2024 11:47, atualizado 24/04/2024 13:17

Uma professora de escola pública do Distrito Federal foi ameaçada após corrigir uma aluna que escreveu em uma redação que o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes havia acabado com as leis no país. A mãe da estudante disse que não aceitaria que a filha fosse “doutrinada” e que “esfregaria o celular na cara” da educadora para mostrar que a docente estava errada.”

A noticia acima se encontra no portal Metrópoles.

Vejam, a aluna registra num documento escolar uma informação incorreta, é corrigida, de forma muito assertiva pela professora, liga para mãe reclamando da professora e esta é ameaçada de agressão física pela genitora.

Vamos por partes. Por que isso acontece? Por que um bando de moleques mimados e incultos foram empoderados no distante ano de 2013, no auge da prática que ficou conhecida como antipolítica, que se manifestou “contra tudo isso que está aí”, embora ninguém soubesse precisar o que fosse isso.

Esses moleques imberbes e birrentos atendiam por diversos nome, tais como MBL e Vem pra rua, para ficarmos em dois exemplos que tantos prejuízos trouxeram à nossa vida política.

Parece-me que o excesso de tolerância com os MBLs e afins começa a apresentar a conta. A insegurança dos professores, obrigados a prática da autocensura e vivendo sob risco de eterna perseguição, está gerando mais doença, nessa categoria profissional que já se encontra no limite da saúde mental.

Deveriam ser proibidos? Não. Deveriam ter fóruns de manifestação, limitados as suas qualificações (?) para que pudessem intervir, só isso. Poderiam participar dos Conselhos de Escola, por exemplo, fazendo ali as disputas políticas no âmbito da unidade escolar, desde que limitados às suas funções e capacidades específicas.