17.5.07

Texto do blog do Nassif

Amigos e amigas, vocês sabem que não gosto de reproduzir textos na íntegra, penso que não seja essa a contribuição dos blogs, mas sim de apresentar breve um texto ou assunto, com links vários para aprofundar ou embasar a discussão.
Raras vezes opto pela reprodução, por isso permito-me reproduzir integralmente um dos textos do Blog do Luis Nassif (clique aqui se quiser conferir o texto original).
Por falar nele estou lendo o seu último livro, “Cabeças de Planilha”, assim que terminar comento-o aqui.

A retórica planilheira

Coluna Econômica – 17/05/2007

A discussão sobre o câmbio entrou no campo dos dogmas sagrados. Acho que é efeito da visita do Papa. Confira as verdades intocáveis.
1. A apreciação cambial era algo inevitável, e os líderes industriais que não prepararam seus associados para esse quadro ainda irão ser cobrados por sua omissão, como coloca meu amigo Celso Ming em sua coluna de ontem no “Estadão”.
Ora, inevitável para quem? Apreciação ou desvalorização cambial não é um dado absoluto, que afeta todas as moedas. Se uma moeda está se apreciando, é em relação a outra moeda que se desvalorizou. É evidente que desvalorizar ou valorizar moedas depende basicamente da maneira como a política econômica atua sobre os fatores de influência no câmbio.
2. Essa história de que medidas de controle de capitais “seria como explodir a panela de pressão, com o feijão indo parar no teto”, como diz o economista Paulo Leme em entrevista ao “Estadão”, faz parte dos clichês que comovem, e não tem base factual.
Há diversas maneiras de conter o fluxo de dólares: fixar tempo de permanência para o capital especulativo, reduzir o diferencial de juros, criar fundos de exportação para produtos primários. Se há excesso de dólares, como que a redução de parte desse fluxo iria explodir a panela de pressão? Pode explodir o negócio do Paulo Leme, que consiste em trazer dólares pelo mercado financeiro para obter ganhos fáceis no país. Mas explodir o país? Trata-se de uma caricatura para enganar trouxa. E tem trouxa para tudo.
3. O dólar vai obrigar a economia a ser competitiva, em uma forma benfazeja de “darwinismo” econômico, como foi dito ontem em evento do ABN-Real.
O que caracteriza a competitividade? Ter produtos de igual ou melhor qualidade que o estrangeiro, a um preço menor ou igual. Se uma empresa nacional tem 30% de ganho de produtividade, isto é, ficou 30% mais eficiente, e o real se valorizou em 30%, todo o aumento de eficiência foi anulado pelo câmbio. E a empresa voltou ao nível de competitividade anterior, comparado ao seu rival estrangeiro. Como dizer, então, que a apreciação do real vai tornar a economia mais competitiva?
4. Com o real apreciado só perdem os setores ineficientes, como diz a primeira página do “Globo” de ontem.
É falso! Perdem todos os fabricantes nacionais em comparação com seus concorrentes importados. Os menos eficientes morrem. Os mais eficientes perdem eficiência. Uma ou outra empresa pode melhorar individualmente, recorrendo à importação. Mas será à custa de seus fornecedores internos, destruindo sua cadeia produtiva e os empregos que gera.
Essa idéia do “darwinismo” econômico é uma das facetas mais cruéis desse financismo que tomou conta do país. Como é de extrema miopia a idéia de que o país passa por uma “reestruturação competitiva”. Setores nascem, crescem a duras penas, se consolidam, treinam seus trabalhadores, aprendem a inovar, a exportar. Quando ganham escala, conseguem investimentos.
No Brasil de hoje, assim como no das três primeiras décadas do século, esse processo natural está proibido. Quando os moveleiros, o setor têxtil, o de calçados conseguiu crescer, veio o câmbio de 1994 e quase os destruiu. Depois, anos para serem reconstruídos. Quando começam a respirar, outro golpe cambial. É a eterna sina do subdesenvolvimento e dos interesses específicos se sobrepondo a um projeto nacional.
Publicado em
Luis Nassif Online.

Um comentário:

Marconi Leal disse...

O pensamento único não admite contestação.