28.8.07

Politicagem e oportunismo no Largo São Francisco

Entristeceram-me e muito os acontecimentos ocorridos dentre os dias 21 e 22 desse mês na minha faculdade. Basicamente, houve uma ocupação do espaço por um grupo de manifestantes dos mais diversos movimentos sociais (UNE, MST, Educafro dentre outros). Os alunos, desavisados e retirados de suas salas de aula, entraram em pânico ao ver um bando de pessoas pobres e mal vestidas – coisa que não se vê todos os dias dentro da faculdade – e saíram correndo, encontrando barreiras que os impediram, por aproximadamente vinte minutos, de voltar para suas casas.
Passado o pânico inicial, os motivos da invasão começaram a ficar mais claros: eram 18 reivindicações, que além de pedirem o fim do analfabetismo e aumento do número de vagas nas faculdades públicas, queriam o fim do vestibular e as tão controversas cotas para ingresso nas universidades públicas. Todas válidas, porém nenhuma imediata, que justificasse uma ocupação com direito a barricadas e interrupção de aulas.
Após conversas com os poucos alunos que restaram na faculdade, negociações com a diretoria e entrada de policiais para verificar algum dano em patrimônio público que poderia ter sido causado (o que não ocorreu), o diretor Rodas autorizou a entrada da tropa de choque para expulsar os invasores. Sessenta policiais armados tiraram à força alunos e manifestantes, os levaram à delegacia e nisso ficou. Atitude no mínimo, exagerada.
Não só exagerada, mas com enorme simbologia: a faculdade teve presença de militares apenas uma vez antes da ocasião, foi centro de combate à ditadura e sempre representou território livre para debates. Classes mais pobres em território público sendo expulsas por forças policiais em favor de pessoas privilegiadas também não é uma idéia que me agrada.
Um movimento ocupacional liderado por políticos profissionais oportunistas, uma massa da “elite intelectual” pouco se importando com o que ocorria, uma diretoria indisposta a negociar e utilizando-se de métodos completamente desproporcionais. Quando todo o podre parecia estar revelado, surge mais um elemento: O Centro Acadêmico XI de Agosto, cuja atual gestão é do partido Fórum da Esquerda, não só já sabia do movimento e não avisou os alunos, como parecia apoiar os manifestantes sem o consentimento de seus representados.
Essa é a perspectiva do modo de fazer política para nosso país nos próximos anos.
O objetivo do movimento, chamar atenção para os problemas na educação pública no país (objetivo muito nobre e necessário, por sinal), foi o último a ser alcançado. A mídia de uma forma geral tratou do evento como algo parecido com a ocupação da reitoria da USP há alguns meses, e parece ter agradado o fato que dessa vez, os policiais entraram para expulsar os “vagabundos”. As conseqüências dentro da faculdade foram debates mesquinhos visando às eleições desse ano para o Centro Acadêmico.
As Arcadas do Largo São Francisco estão de luto.

Riccardo Silva – Estudante de Direito – USP

4 comentários:

Marco Antonio disse...

Só por estas palavras: "...ver um bando de pessoas pobres e mal vestidas – coisa que não se vê todos os dias dentro da faculdade – e saíram correndo, encontrando barreiras que os impediram, por aproximadamente vinte minutos, de voltar para suas casas." todo o resto de seu comentário já demonstram o preconceito que do digno autor tem para com movimentos sociais!

Anônimo disse...

Com todo o respeito, marco antnio, vc não entendeu o texto.
Me parece que o autor e meu colega de Arcadas quis mostrar o pensamento de alguns franciscanos, com os quais ele e eu não concordamos. Ainda com base no texto, e sendo aluno das Arcadas, devo dizer que; (1)mesmo entre aqueles que são contra a ocupação esse pensamento é de apenas um grupo bastante restrito, (2) que a atitude da direção do CA contribuiu para esse clima de tensão, uma vez que não consultou tão pouco avisou os alunos, (3) que fora pontos mais genéricos e incontrovérsos como "melhoria da edução" a pauta desses movimentos em questões mais específicas como "cotas" e "fim do vestibular" não encontram respaldo entre os estudantes do Largo São Francisco, e, (4) que não houve de início oposição a ocupação, esta se deu apenas posteriormente tendo em vista a atitude desses grupos, socialmente legítimos, de encarcerar alunos e funcionários, ainda que tivesse sido por um segundo.
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A Tradição das Arcadas não foi desrespeitada pela invasão, posto que continua sendo um território livre para debates, que sendo território livre, não faz o menor sentido trancar aqueles que simplimente querem ir embora.
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O que há de reprovável na conduta do CA, não é ter apoiado a invassão, em si. Deveria o CA ter consultado os alunos antes e eventualmente negociar as reinvidicações com os manifestantes, e assumir uma possição ativa, não apoiar incondicionalmente os manifestantes.
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A invasão da polícia, visita normamente indesejáda nas Arcadas, entrou lá muito mais por culpa do CA, dos Manifestantes e do Diretor, do que pelos alunos e funcionários, que estão agora sendo crusificados por alguns, por não terem aderido em massa a uma manifestação da qual eles não concordam com seus "pleitos".

Anônimo disse...

A invasão da polícia para retirar os manifestantes deveria ter acontecido apenas na hipótese - que não se confirmou - de destruição de patrimônio ou clara tentativa de usurpar propriedade publica para fins privados - ops!, isto acontece com as fundações de direito privado -, ainda que se possa reprovar a maneira como foi feita a manifestação, sem o conhecimento dos alunos e com o cerceamento da liberdade destes e de quaisquer outros, promovendo meios de impedir que isto aconteça no futuro.

Prof Toni disse...

Marco, acho que o texto do Alex esclarece bastante. Guilherme, é isso! Com a palavra Riccardo, caso queira é claro!