Aquela revista que vive da farsa da notícia, nego-me a reproduzir o nome da dita cuja aqui, passou da conta na última semana! Desceu a lenha no Che Guevara. Pensei em escrever sobre o tema, mas, confesso, me senti muito desconfortável, pois Che é um exemplo de revolucionário e estadista para mim, portanto escreveria apenas com ódio daquela turma, ou seja, ficaria do mesmo tamanho que eles.
Mas eis que encontro na Agência Carta Maior um texto primoroso do Gilberto Maringoni, que reproduzo a seguir:
Che Guevara e os mimos da família Civita
Dar a patinha, rolar no chão e falar mal de tudo que cheire a povo são as eternas gracinhas da pet shop chamada Veja. Os Civita adoram mascotes. Têm vários.
Gilberto Maringoni
A humanidade sempre gostou de animais de estimação, mas agora o costume virou moda. Pet shops tomam conta das cidades brasileiras e roupas, brinquedos e alimentos especiais para bichinhos disputam um mercado crescente. Escolas especiais pipocam por toda parte, sofisticando a pedagogia caseira de ensinar mascotes a sentar, dar a patinha ou buscar objetos atirados ao longe. Todos gostam dessas companhias domésticas. Fazem a alegria das crianças.
Há uma família em São Paulo que parece adorar mascotes. É um clã de origem italiana, aqui radicado há décadas. Não se sabe bem o porquê, mas alguns de seus membros exibem socialmente um inconfundível acento novaiorquino. Manias, quem sabe. Trata-se da turma dos Civita, gente boa, com negócios para os lados da marginal Pinheiros.
Os Civita adoram mascotes. Têm vários. Um dos orgulhos de sua casa de negócios atende pelo nome de Diogo. Aliás, são dois os Diogos amestrados daquele – chamemos assim – lar da marginal. Vamos falar de um deles, o Diogo Schelp (tem o Mainardi, mas este fica para outra hora). O Schelp é um espécime reluzente. Dá a patinha, busca o que o dono mandar e não gosta do que os Civita não gostam. Coisa bonita de se ver. Diogo Schelp deve andar aí pela casa dos trinta anos. Tem futuro.
Cuba, Venezuela, MST etc.
Os Civita detestam tudo que cheire a povo. Externam especial repulsa por coisas como Cuba, Venezuela, MST e quejandos. Quando precisam propalar aos quatro ventos seus desapreços, chamam um dos Diogos. “Vem, Diogo, vem”. E Diogo – qualquer um deles – faz a alegria da família. “Vem, Diogo, vem, desce o chanfralho no Chávez, vem!”. E lá vai Diogo, correndo, mostrar o serviço.
Como toda boa família, os Civita têm sua sala de visitas, onde exibem tudo do bom e do melhor. A sala de visitas tem até nome. Chama-se Veja. Toda semana apresenta uma decoração nova, todas diferentes, mas iguais às anteriores, se é que dá para entender.
Diogo é um fenômeno, dizíamos. É bom também não confundi-lo com Dioguinho, apelido de Diogo da Rocha Vieira, famoso bandido e salteador que aterrorizou os sertões da Mogiana, entre o final do século XIX e inícios do XX. Dioguinho era bandido de aluguel, que agia em troca de bom soldo. Diogo, o Schelp não aterroriza ninguém.
Pois não é que depois de fazer das suas por várias vezes, exibindo língua solta contra a Venezuela e Cuba o Diogo resolveu voltar-se contra Che Guevara. Certamente fez isso depois de dar a patinha, rolar no tapete e pedir papinha, pois a vida não anda fácil.
Pérolas e olfatos
Diogo é uma graça. Ganhou uma capa – é capa da tal sala de visitas, a Veja – e mais um monte de espaço. Sua pérola chama-se “Che. Há quarenta anos morria o homem, nascia a farsa”. A obra é hercúlea. Diogo contou com a ajuda de outro civitete de estimação, um serzinho chamado Duda Teixeira. Para fazer das suas, foram falar com vários cubanos que, segundo ambos, conviveram com Che Guevara. Não foram a Cuba, mas entrevistaram quatro que moram na mais reluzente cidade latino-americana, chamada Miami. Tem uma comunidade cubana lá que é do balacobaco. Ajudaram a eleger George e seu irmão Jeb Bush. Gente fina.
Entre citações dos tais cubanos e sacadas próprias, a dupla DD (Diogo e Duda) saiu-se com estas:
“Che foi um ser desprezível”.
“Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro”.
"Sua vida foi uma seqüência de fracassos".
Como a vida da dupla DD é uma seqüência de sucessos, eles podem dizer esta última frase de boca cheia. Certamente ambos vão revelar proximamente terem feito algo mais grandioso do que uma revolução nas barbas do império (desculpem o uso da expressão antiquada) ou de terem dado a vida defendendo o que pensam.
O mais legal é a especialidade olfativa dos DD. Sabem de cada uma. Vejam esta:
“Che (...) não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido".
Cheiro de rim fervido! Alguém sabe como é? Os DD, pelo visto, cultivam o salutar hábito de experimentar odores em busca de comparações espirituosas a pedido dos Civita.
E tem mais. Como estão fazendo graça, dando a patinha e tal, os DD não se preocupam nem mesmo em dizer uma coisa no início da matéria e desdizer a mesma coisa linhas abaixo. Pois vejam só:
“Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro”.
Lá adiante, a dupla do barulho fala assim:
“Che também se tornou crítico feroz da União Soviética”.
Os Civita devem adorar. Os Civita gostam de dinheiro, poder e publicidade oficial, da qual suas revistas andam cheias. O governo deve gostar muito dos Civita e de seus mascotes, para dar esse ajutório todo.
Mas deve haver uma hora que os DD cansam um pouco a família lá da marginal. Mesmo vivendo toda hora na sala e se exibindo para as visitas, há sempre um perigo maior.
O de fazer xixi no tapete.
Foi o que aconteceu agora. Graça demais não tem muita graça não.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Carta Maior, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
Mas eis que encontro na Agência Carta Maior um texto primoroso do Gilberto Maringoni, que reproduzo a seguir:
Che Guevara e os mimos da família Civita
Dar a patinha, rolar no chão e falar mal de tudo que cheire a povo são as eternas gracinhas da pet shop chamada Veja. Os Civita adoram mascotes. Têm vários.
Gilberto Maringoni
A humanidade sempre gostou de animais de estimação, mas agora o costume virou moda. Pet shops tomam conta das cidades brasileiras e roupas, brinquedos e alimentos especiais para bichinhos disputam um mercado crescente. Escolas especiais pipocam por toda parte, sofisticando a pedagogia caseira de ensinar mascotes a sentar, dar a patinha ou buscar objetos atirados ao longe. Todos gostam dessas companhias domésticas. Fazem a alegria das crianças.
Há uma família em São Paulo que parece adorar mascotes. É um clã de origem italiana, aqui radicado há décadas. Não se sabe bem o porquê, mas alguns de seus membros exibem socialmente um inconfundível acento novaiorquino. Manias, quem sabe. Trata-se da turma dos Civita, gente boa, com negócios para os lados da marginal Pinheiros.
Os Civita adoram mascotes. Têm vários. Um dos orgulhos de sua casa de negócios atende pelo nome de Diogo. Aliás, são dois os Diogos amestrados daquele – chamemos assim – lar da marginal. Vamos falar de um deles, o Diogo Schelp (tem o Mainardi, mas este fica para outra hora). O Schelp é um espécime reluzente. Dá a patinha, busca o que o dono mandar e não gosta do que os Civita não gostam. Coisa bonita de se ver. Diogo Schelp deve andar aí pela casa dos trinta anos. Tem futuro.
Cuba, Venezuela, MST etc.
Os Civita detestam tudo que cheire a povo. Externam especial repulsa por coisas como Cuba, Venezuela, MST e quejandos. Quando precisam propalar aos quatro ventos seus desapreços, chamam um dos Diogos. “Vem, Diogo, vem”. E Diogo – qualquer um deles – faz a alegria da família. “Vem, Diogo, vem, desce o chanfralho no Chávez, vem!”. E lá vai Diogo, correndo, mostrar o serviço.
Como toda boa família, os Civita têm sua sala de visitas, onde exibem tudo do bom e do melhor. A sala de visitas tem até nome. Chama-se Veja. Toda semana apresenta uma decoração nova, todas diferentes, mas iguais às anteriores, se é que dá para entender.
Diogo é um fenômeno, dizíamos. É bom também não confundi-lo com Dioguinho, apelido de Diogo da Rocha Vieira, famoso bandido e salteador que aterrorizou os sertões da Mogiana, entre o final do século XIX e inícios do XX. Dioguinho era bandido de aluguel, que agia em troca de bom soldo. Diogo, o Schelp não aterroriza ninguém.
Pois não é que depois de fazer das suas por várias vezes, exibindo língua solta contra a Venezuela e Cuba o Diogo resolveu voltar-se contra Che Guevara. Certamente fez isso depois de dar a patinha, rolar no tapete e pedir papinha, pois a vida não anda fácil.
Pérolas e olfatos
Diogo é uma graça. Ganhou uma capa – é capa da tal sala de visitas, a Veja – e mais um monte de espaço. Sua pérola chama-se “Che. Há quarenta anos morria o homem, nascia a farsa”. A obra é hercúlea. Diogo contou com a ajuda de outro civitete de estimação, um serzinho chamado Duda Teixeira. Para fazer das suas, foram falar com vários cubanos que, segundo ambos, conviveram com Che Guevara. Não foram a Cuba, mas entrevistaram quatro que moram na mais reluzente cidade latino-americana, chamada Miami. Tem uma comunidade cubana lá que é do balacobaco. Ajudaram a eleger George e seu irmão Jeb Bush. Gente fina.
Entre citações dos tais cubanos e sacadas próprias, a dupla DD (Diogo e Duda) saiu-se com estas:
“Che foi um ser desprezível”.
“Che tem seu lugar assegurado na mesma lata de lixo onde a história já arremessou há tempos outros teóricos e práticos do comunismo, como Lenin, Stalin, Trotsky, Mao e Fidel Castro”.
"Sua vida foi uma seqüência de fracassos".
Como a vida da dupla DD é uma seqüência de sucessos, eles podem dizer esta última frase de boca cheia. Certamente ambos vão revelar proximamente terem feito algo mais grandioso do que uma revolução nas barbas do império (desculpem o uso da expressão antiquada) ou de terem dado a vida defendendo o que pensam.
O mais legal é a especialidade olfativa dos DD. Sabem de cada uma. Vejam esta:
“Che (...) não gostava de banho e tinha cheiro de rim fervido".
Cheiro de rim fervido! Alguém sabe como é? Os DD, pelo visto, cultivam o salutar hábito de experimentar odores em busca de comparações espirituosas a pedido dos Civita.
E tem mais. Como estão fazendo graça, dando a patinha e tal, os DD não se preocupam nem mesmo em dizer uma coisa no início da matéria e desdizer a mesma coisa linhas abaixo. Pois vejam só:
“Desde o início, Che representou a linha dura pró-soviética, ao lado do irmão de Fidel, Raul Castro”.
Lá adiante, a dupla do barulho fala assim:
“Che também se tornou crítico feroz da União Soviética”.
Os Civita devem adorar. Os Civita gostam de dinheiro, poder e publicidade oficial, da qual suas revistas andam cheias. O governo deve gostar muito dos Civita e de seus mascotes, para dar esse ajutório todo.
Mas deve haver uma hora que os DD cansam um pouco a família lá da marginal. Mesmo vivendo toda hora na sala e se exibindo para as visitas, há sempre um perigo maior.
O de fazer xixi no tapete.
Foi o que aconteceu agora. Graça demais não tem muita graça não.
Gilberto Maringoni, jornalista e cartunista da Carta Maior, é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP) e autor de “A Venezuela que se inventa – poder, petróleo e intriga nos tempos de Chávez” (Editora Fundação Perseu Abramo).
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2 comentários:
Prof. Toni
Sou frequentador assiduo de seu blog. Parabens.
Compartilho de sua admiraçao pelo Che. Tenho muitos livros sobre o Comandante. Biografias de autores admiradores e autores ofensivos. Em nenhuma delas o rancor FACISTA da Veja se mostrou espelho.
É lamentavel a existencia de uma revista cujo mote é destruir qualquer coisa que cheire a Socialismo...
Proibi em minha clinica esta revista. Cancelei minha assinatura da revista saude do mesmo grupo abril e declarei o motivo.
Todos devemos nos mobilizar e fazer o mesmo. Somos muitos, um a um, somando seremos muitos...
Eles tem medo de nós, os blogueiros e ,no meu caso, bloguista....Eles tem medo de qualquer coisa que ouse pensar..
Um abraço
Miguel, por isso apóio a rede blogos criado pelo Azenha (Vi o mundo, Sivuca) e também o Cidadania.com. O que a Veja faz é desrespeito com a inteligência alheia, pena que tem uma galera que uma vez picada pela mosca marrom dessa imprensa asquerosa, não consegue se libertar do veneno. Abraço.
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